História Coraline - Do Outro Lado da Porta - ANO 1 e ANO 2 - Lágrimas

- Como é que uma garotinha pode cometer uma tragédia dessas! Isso é um absurdo! – Exclamou o doutor.

- Mas não foi ela! Eu pensei que fosse, mas era alguém muito parecido com ela. Era uma mulher estranha! – Respondeu Wybie tão rápido quanto conseguia.

- Uma mulher? – Indagou o doutor passando a mão em sua barba.

- Esse garotinho não sabe o que fala, todos aqui são loucos, esqueceu, Doutor? – Disse a doutora rapidamente, demonstrando um certo desespero.

- Fique em silêncio! Agora, Wybie, me conte, quem você viu? Como foi que tudo aconteceu? – Perguntou o doutor.

- Era noite, minha avó assistia TV na sala naquele momento, eu me lembro que alguém bateu na porta e quando eu abri era Coraline, só que ela escondia os olhos com o capuz.

- Ela disse alguma coisa?

- Só disse que queria entrar. Depois fui pegar chá e biscoitos. Foi quando eu ouvi uma voz estranha dizendo: “você sabe de tudo! Você! Cadê a garota?! Não era a voz da Coraline, quando eu corri até a sala, Coraline levantava minha avó pelo pescoço, minha avó não conseguia respirar. Então eu prestei bem atenção e vi! No lugar dos olhos da Coraline tinha botões! E a Coraline se esticou até se transformar em uma mulher tão alta que batia no teto! E magra!

- Você está mentindo! Diga a verdade!

Nesse momento, a doutora, sorrateiramente, saiu da sala, deixando cair seu cigarro.

- Eu não estou mentindo! Aquela mulher fez isso em mim para que eu não pudesse contar nada que vi! – Disse Wybie exibindo as cicatrizes na boca – É por isso que vocês não conseguem acreditar, vocês não permitem acreditar que coisas assim podem existir, acontecer...

- Bobagem! Diga a verdade garoto!

- A porta! Vamos até o Palácio Cor-de-Rosa e eu mostrarei! De algum jeito aquela mulher conseguiu escapar, de alguma forma ela conseguiu pegar a chave!

- Porta?

- Sim, se vier comigo eu mostro que tudo que estou dizendo é verdade...

O Dr. Ross esperou um pouco e depois balançou a cabeça, concordando com Wybie.

Casa da mamãe/ Outro lado.

Molly e Nolan enfim chegaram na velha casa da mamãe. Ela parecia mais nova, as rachaduras nas paredes desapareceram, a porta apodrecida não existia mais, as janelas enferrujadas agora brilhavam e o vidro sujo estava translucido e bonito como a água.

As duas crianças, maravilhadas, não perderam tempo e entraram na casa. A porta quando abriram não rangia mais, e o longo corredor da casa não estava escuro e empoeirado como eles costumavam encontrar quando iam para lá depois da morte de sua mãe.

Eles correram até a sala e imediatamente lembraram do dia em que esperavam a mãe deles chegarem com biscoitos quentinhos enquanto assistiam TV. Lembraram com clareza a forma como ela sorria, e o jeito que ela acariciava a cabeça de cada um, dizendo: “Sabiam que eu amo vocês? ”

Não foi possível para os dois conterem as lágrimas, não foi possível também não se espantarem ao ouvir uma voz doce que vinha da cozinha, uma voz que eles conheciam bem, que disse:

- Quem está aí?

As crianças se olharam e correram até a cozinha. Quando chegaram até a cozinha, uma mulher se virou, deixando cair a bandeja que ela carregava, era a mãe deles, mas não era uma outra mãe, era realmente a mãe deles. Não possuía olhos de botões algum.

- Mamãe... – Disseram os dois, espantados.

No mesmo instante os três se deram um abraço tão forte, que aquele medo que sentiam, aquele medo que os perturbavam e que escorria pelos olhos, desapareceu. Sentiram-se protegidos e amados.

- Vocês sabiam que eu amo vocês? – Sussurrou a mãe, disparando um choro de felicidade, uma sensação tão maravilhosa que seu coração não apenas batia, ele vivia com ela, chorava com ela e sentia com ela toda a emoção de rever seus filhos.

Um abraço protege, conforta e demonstra sentimentos escondidos, assim como seu olhar, que deixa claro a verdade que ninguém quer mostrar e que também produz a parte mais pura de um ser humano, uma gota quente, carregada de sentimentos e segredos.