O som dos sapatos novos da doutora Grayson, batendo no chão constantemente sem quietação causava uma certa irritação ao dono do hospital psiquiátrico.
- Eu já disse, não sei onde eles estão, procuramos por toda cidade – Explicou o dono do hospital, um homem já velho e cego de um olho.
- E aquela garota insuportável? – Perguntou ela irritada, tragando o cigarro e soprando a fumaça na cara do velho.
- Coraline?
- Exatamente! Ela sempre foi o problema! Se encontrarmos ela, achamos os outros...
- Como tem tanta certeza disso?
- Porque não é óbvio, ela ajudou eles fugirem!
- Não sei...
- O Wybie me contou – Sua boca curvou-se, formando um sorriso perturbador.
- Impossível! Ele não fala! Chegou aqui com a boca costurada, ele mesmo fez isso.
- Ele descosturou a boca com as próprias mãos e disse tudo que sabia – Contou a doutora com um sorriso no rosto.
- Ele descosturou? – Perguntou o velho, ajeitando os óculos – Ou foi você?
- E isso é importante? O que importa é que ele contou tudo que sabia!
Palácio Cor-de-Rosa/ Outro Lado.
Do lado de fora da casa, pela primeira vez, estava claro. O sol nascia no horizonte ao norte, por trás das altas arvores velhas. Uma brisa fria arrepiava a espinha.
- Estranho... – Disse Coraline, com a mão sobre o queixo.
- O que é estranho? – Perguntou Chris.
- O sol.
- Ué, é dia, não deveria ter sol?
- Não, aqui não existia dia, só noite.
O gato, ao ouvir aquilo, pulou sobre uns troncos de arvore e dos troncos pulou no telhado. Encolheu-se como se possuísse ombros. Apertou os olhos e disse:
- Esse mundo está maior.
- O que? – Perguntou Coraline.
- Veja, menina, o mundo não acaba mais ali. Se lembra? Ali não tinha nada além de uma névoa branca, agora, tem montanhas, assim como o mundo real que conhecemos.
- É verdade!
- Não entendo mais nada – Disse Chris, sentando na escada em frente a porta da frente – Espera! – Exclamou – Isso quer dizer que eles podem estar em qualquer lugar, e não só por aqui por perto.
- Tem razão, vai ser mais difícil encontra-los – Disse Coraline.
O gato fechou os olhos lentamente balançando a cabeça, concordando com os dois.
- Ela quer nos atrasar – Disse o gato, descendo do telhado – É o joguinho dela.
- Como pode ter certeza disso? – Perguntou Coraline.
- Você não vê? Da última vez ela só construiu aquilo que sabia que iria agradar você, agora, ela constrói um mundo ainda maior para nos deixar confusos por onde começar. É claro que, as crianças, podem estar em um lugar bem óbvio, procurar aqui nos faria perder tempo.
- Ou não, e se for isso que ela quer que a gente pense? – Disse Coraline – Ir para bem longe achando que é isso que ela quer pode ser uma armadilha!
- Ou não! – Exclamou Chris – A casa da mamãe!
- O que? – Perguntou Coraline, virando-se.
- Quando mamãe morreu, nós nos mudamos para a casa da nova namorada do papai. Sempre que a nossa madrasta e o nosso pai brigavam por causa da gente, Molly e Nolan fugiam e iam até a casa da mamãe, e ficavam lá, escondidos. E se eles fugiram e foram para lá?
- Verdade, são crianças espertas – Disse o gato – Acho que devemos ir até lá.
- Coitado deles, devem estar com fome e com medo... – Disse Chris.
- Bom, só vamos saber se fomos até lá... Então, vamos? – Perguntou Coraline.
- Sim! – Respondeu os dois.
- Tudo bem, então vamos para Small Hill!
Hospital Psiquiátrico Doutor Ross/ Ala norte/ Quarto 03
- Wybie, olá, querido, está acordado? – Perguntou a Doutora Grayson, com uma doçura nas palavras que revelavam sua falsidade.
O Doutor Ross aproximava-se ajeitando os óculos.
Wibye estava encolhido no canto da parede, tampando o rosto com seu casaco de motoqueiro.
- O que aconteceu com ele? – Perguntou o Doutor.
- Depois que a sua avó foi assassinada, ele nunca mais falou, teve um surto e costurou a própria boca.
- Meu Deus...
- Saiam daqui... Eu já disse tudo... – Disse Wybie, ele tremia e respirava ofegante.
- Calma, garoto. Estamos aqui para ajudar – Disse o Doutor, passando a mão nas costas dele – Conte-me, quem matou sua avó?
Wybie nada respondeu.
- Será mais fácil ajuda-lo se contar para mim.
- Foi ela...
- Ela quem?
- Coraline.
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