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História Coraline - 02 - Seattle -Washington


Escrita por: Bella56

Capítulo 3 - 02 - Seattle -Washington


Fanfic / Fanfiction Coraline - 02 - Seattle -Washington

Sou colocada dentro do avião. Bia me da um sedativo antes da decolagem para que o estresse da viagem não piore meu estado. Ela avisa as aeromoças e então vem se despedir.
- Querida, Boa viagem, nos estaremos aqui sempre. Nos te amamos.
- Também amo vocês... - é tudo que consigo dizer antes de cair em sono profundo.

Acordo com o pouso e vejo que tem uma aeromoça do meu lado.
- Senhorita Hastings.
Ela se senta na grande poltrona ao meu lado.
- Oi. - resmungo ainda entorpecida.
- Eu sinto muito pelos seus país. Eu vi no jornal e... - ela parece perdida e comovida como todas as pessoas que chegam perto de mim - Sinto muito. - ela termina levantando rápido.
Ela é morena, tem os olhos castanhos e o cabelo preso.
- Obrigada. - digo meio grogue.
- Já estamos em Seattle, eu irei ajuda-la. - ela sorri fraco.
Ela chama um rapaz que me pega no colo. Posso ver todas as pessoas olhando e isso me faz ruborizar, mas o sedativo ainda está na minha corrente sanguínea. Depois de descer do avião ele me coloca em minha cadeira de rodas e me leva até um homem de uniforme com uma plaquinha escrita
"Senhorita Coraline Hastings de Alcântara".
Esse não é meu nome, meu nome não tem Alcântara.
- Está tudo bem com ela? - diz o homem em inglês, mas sua voz é de alguém preocupado.
- Sim senhor, é que a médica dela deu um sedativo para que os curativos e a saúde da moça não piorassem com o estresse no vôo, sabe como é né, os país morreram em um acidente. - diz o moço cochichando, mas consigo ouvir.
- Entendi. - o homem desconversa.
- As coisas dela já foram mandadas para o carro.
- Obrigada.
O homem empurra a cadeira passando por milhares de pessoas que me encarando. Fico com a cabeça baixa e as mãos juntas em meu colo.
Ouço a chuva lá fora e fico instintivamente em alerta, então o homem me pega no colo e me coloca no banco da frente.
- Vou colocar a senhorita aqui porque me pediram para ficar de olho. - ele disse em português com um sotaque bem forte.
É um homem um pouco velho, cabelos escuros e pele branca.
Ele coloca a cadeira na parte de traz do carro e entra.
Vejo ele todo molhado e isso me faz ter lembranças.
Olho para frente e vejo a rua cheia de carros e a chuva. Começo a chorar desesperadamente. Não consigo conter o nervosismo.
- Senhorita o que houve? - o homem tenta me socorrer.
Não consigo dizer. Só consigo chorar, o medo me paralisa e me da vontade de vomitar, o que não demora muito para acontecer.
O homem assustado sai cantando pneus do aeroporto me fazendo chorar mais ainda e então meu cérebro paraliza, meu corpo paraliza como se ele estivesse se auto desligando e então tudo fica escuro.

Abro meus olhos e estou deitada em uma cama enorme e macia. Não é de hospital mas tem um médico parado do lado da minha cama o que me deixa confusa.
- Oi senhorita Coraline. Eu sou seu médico, meu nome é Maxwell, mas pode me chamar de Max.
Olho para ele. Ele tem o cabelo meio loiro com castanho e os olhos claros. Seus olhos são verdes e ele parece ter no máximo uns 30 anos.
Apalpo a cama tentando reconhecer o lugar. Sinto cheiro de chuva e posso ouvir caindo lá fora. O quarto é escuro por causa das cortinas que estão fechadas. O quarto é enorme, maior que o meu no Brasil, a cama é grande e cabe várias pessoas, e tem travesseiros para várias pessoas também. Meu cabelo está solto. Um trovão lá fora faz com que uma lágrima role pelo meu rosto.
- Calma Senhorita Cora, me passaram sua ficha e seu histórico...
- A chuva... - o interrompo.
- Sim. Aqui em Seattle chove bastante. - ele diz sorrindo, mas eu deixo outra lágrima cair.
- O que foi Senhorita Cora? Está com alguma dor?
- A chuva... - todas as lembranças vem em minha mente. A chuva, a voz da minha mãe, a luz do caminhão o grito da minha mãe. Ser forte, ser forte, o que está acontecendo comigo?
O médico bonito pega uma pasta cheia de papéis encima de uma mesa e começa a ler. Vejo seu rosto petrificar ao olhar pra mim.
- Eu entendi. - ele diz acendendo uma luz no meio do quarto que não clareia tudo.
Ele pega fones de ouvido que eu trouxe e coloca em mim.
- Isso vai impedir que ouça a chuva.
Ele coloca certinho e eu não escuto mais nada. Então adormeço.

- Como ela está? - ouço uma voz firme ecoar no quarto. Não abro os olhos, não consigo abrir, ainda sinto que estou sobre o efeito de remédios e por isso não consigo acordar, mas posso ouvir.
- Senhor Alcântara. Ela está fisicamente estável, mas emocionalmente... - ouço a voz do médico bonito.
- O que há Doutor? - tento abrir os olhos para ver o tal homem, mas não consigo.
- Ela está com TEPT. Transtorno de Estresse Pós Traumático. O motorista disse que ela teve uma crise dentro do carro, vomitou e desmaiou e depois quando acordou aqui mostrou sinais chorando por causa da chuva.
- Mas...
- Li na ficha dela que os país morreram a um mês de acidente de carro, e verdade? - ele diz parecendo um pouco nervoso.
- Sim. Richard e Alícia morreram em um acidente, por isso a menina está machucada. - diz o homem com a voz fria.
- Estava chovendo?
- Acho que sim.
- Sempre que chover vai desencadear uma crise de Estresse na garota. E um médico do Brasil fez anotações em português aqui sobre isso. Senhor eu sou um médico, não sou psiquiatra e não sou psicólogo, não vou poder cuidar de sua sobrinha, só do corpo dela.
- Eu sei. Vou contratar um psiquiatra para ela.
- Mas o senhor...
- Eu não tenho tempo. Obrigada Dr. Maxwell.
- Disponha Dr. Alcântara.
Ouço passos saindo do quarto e fechando a porta. Depois de um tempo consigo abrir os olhos. O quarto está escuro, só tem um abajur aceso.
Não faço a mínima ideia de que horas são, em que bairro de Seattle estou ou quem é meu tio. Tento me levantar mas as dores ainda não me deixaram. Ouço a porta se abrir e então uma mulher de uniforme entra.
- Oi. - digo. Lembro que meu inglês está meio enferrujado.
Ela olha para mim espantada e sai do quarto rapidamente. Seu cabelo é loiro e ela parece nova.
- Gente doida... - digo para mim mesma e então o médico volta.
- Está se sentindo melhor Senhorita Cora. - ele diz sorrindo voltando sua atenção a mim.
- Sim. Por favor, me chame de Cora.
- Tudo bem Cora. Gostaria de jantar?
- Jantar? Eu não cheguei aqui de manhã? - pergunto colocando a mão na testa.
- Na manhã de terça Cora, hoje é quinta.
Ele diz chegando perto de mim e me examinando. Olho para baixo e vejo que estou usando uma camisola branca que eu nem tinha. Ela tem mangas curtas e um decote em U. Tem um laço de fita na lateral.
- Quem.... Quem me deu banho? - pergunto preocupada.
O médico ri.
- Não fui eu. Fique tranqüila. Foi a enfermeira. Que bom que a senhorita está falante. - diz ele rindo se aproximando com a cadeira de rodas.
Olho com vergonha para ele me lembrando do episódio da minha chegada.
- Quer comer aqui ou lá na mesa? - ele pergunta.
- Na mesa. - digo para aproveitar e conhecer o lugar.
Ele me pega no colo com cuidado e me coloca na cadeira de rodas, vai até a porta e chama a mulher que saio correndo do meu quarto.
- Kate. Ela quer ir comer na mesa.
A mulher arregala os olhos e tenta dizer algo mas o médico pega as coisas dele e sai.
Ela olha para mim como se tivesse medo de me tocar.
- Eu não estou tão machucada, pode me tocar. - digo de forma simpática.
- Desculpe senhorita Alcântara.
- Alcântara não, Hastings. Ou melhor, me chame de Coraline, ou Cora.
A mulher sorri, sorri mais que o normal, ela parece feliz. Ela vai até o closet enorme que tem em meu quarto. Vejo que minhas roupas já estão organizadas.
Ela pega um vestido que eu só usava para sair no Brasil. Ele é preto. Por baixo tem um pano preto e por cima é todo coberto com renda. As mangas são longas e de renda também e o decote é em forma de U mostrando meu colo.
- Nao vou comer em casa? - digo estrando as palavras "em casa".
- Vai sim senhorita.
- Por que me vestir assim então?
Ela ignora a minha pergunta e me ajuda a sentar para me vestir. Ter alguém vendo meu corpo nesse estado é muito incômodo, mas ela me ajuda a colocar o vestido com o máximo de delicadeza e carinho, como se estivesse vestindo uma boneca.
Ela me olha e solta meu cabelo jogando para frente tampando um pouco do decote. Meu cabelo apesar de liso é volumoso e longo. Vai até a cintura formando cachos nas pontas. Não parece a juba do rei leão, mas também não é escorrido.
Ela empurra a cadeira até o pé da escada onde tem um homem uniformizado esperando. Ele me pega no colo e depois de descer as escadas ele me coloca na cadeira de novo. Não preciso nem dizer o quanto isso é chato né?
Respiro fundo cansada de tudo aquilo. Se pelo menos eu tivesse morrido junto com os meus país...

A casa é mega espaçosa e exageradamente limpa e organizada. Eu não ouço barulho nenhum, só o de uma música que eu conheço tocando em um ambiente. Nessun Dorma (Turandot) de Puccini. Por um segundo meus olhos se enxem de lágrimas. Meus país gostavam muito dessa música. Ela é linda.
Os cômodos são bem abertos, algumas paredes são de vidro e eu posso ver lá fora várias árvores e mais árvores e o chão é de madeira.
Vejo então uma mesa enorme iluminada por um lustre logo acima e um homem sentado olhando para frente.
O homem que empurra minha cadeira se aproxima da mesa e eleva minha cadeira para que eu possa ficar em uma altura confortável a mesa.
O silêncio tirando a música me assusta, e não tenho coragem de levantar a cabeça e olhar para o homem ao meu lado. Sei que ele está ali, sei que está olhando pra mim, mas eu não consigo olhar.
Uma mulher começa a servir os pratos sem dizer nada e o silêncio está me enlouquecendo.
Respiro fundo e tomo coragem para olhar o senhor ao meu lado. A música toca baixinho no ambiente e a mulher que nos serve se retira. Vejo uma taça com vinho na frente do prato do homem e uma com suco de laranja na minha frente.
Pego a taça e fico olhando, perdida em pensamentos.
- Se não gosta de suco de laranja, posso pedir para trocar.
Estremeço ao ouvir a voz do homem ao meu lado. Não parece a voz de um senhor de idade, mas é a mesma voz que ouvi no meu quarto hoje mais cedo. Uma voz forte que gela meus ossos.
Olho devagar para ele, não sei porque estou com tanto medo ou receio, a música chega em seu ponto alto fazendo meu coração palpitar. Olho finalmente para o homem e fico pasma. Ele é bonito. Muito bonito. Sua pele é pálida como uma porcelana, ele está com um termo preto e seu cabelo está penteado para trás com gel. Seu cabelo é loiro, sua barba é um loiro escuro e mesmo ele parecendo novo, sua barba o deixa mais velho, e seus olhos são azuis, como os meus, como os do meu pai. Meus olhos se enxem de lágrimas e eu volto minha visão para a comida. Pego o garfo e fico com vergonha dos machucados em minhas mãos.
Jantamos em silêncio. Ninguém falou nada. A comida estava divina, os gostos explodiam na minha boca. E no fim, a mulher com o mesmo uniforme azul escuro da anterior trocou nossos pratos por outro menor que continha Petiti Gateau. Fico pasma.
- Me disseram que é sua sobremesa favorita. - o homem diz limpando a boca com um guardanapo que estava em seu colo.
- Obrigada. - digo baixinho olhando para o prato.
Não sei porque mas aquele homem me intimida. O jeito firme dele olhar. Os olhos são iguais os do meu pai, mas o jeito de olhar não é, é frio e calculista. Seu cabelo é loiro como o do meu pai, só que o dele é um pouco mais cumprido e seu rosto não parece com o rosto do meu pai, é um parecido diferente. Não trocamos mais palavras. Quando terminei me levaram para cima de novo.
Eleonor, a moça que cuida de mim, colocou outro pijama em mim. E então eu liguei a TV.
Os programas todos em inglês, um saco. Agora entendo porque meus país me obrigaram a fazer inglês desde pequena. Paro em um canal que está passando um filme de desenho, eu amo terror, mas acho que não estou pronta para ver ainda. Pego no sono rápido.

Ouço o barulho da chuva e quando abro os olhos estou no carro de novo. Tudo aquilo foi um sonho, minha mãe está dormindo a minha frente e meu pai dirigindo.
- Pai... - chamo sonolenta agradecendo por ter acordado. Meu pai não escuta.
- Pai.... - chamo de novo o cutucando. Quando olho o seu rosto, ele está pegando fogo e a minha mãe está em pedaços. Não consigo gritar, não consigo me mexer.

Coraline, Coraline, Coraline!!!

Acordo gritando com alguém me sacudindo. Olho para frente e vejo meu.... Tio, eu acho, parado com as duas mãos nos meus ombros. Sinto as lágrimas percorrerem meu rosto. Lucio acende o abajur do lado da minha cama.
- Você está melhor? - ele diz ainda com a sua voz firme, mas algo mudou em seu rosto, ele parecia preocupada.
- Eu estou melhor, desculpa.
Ouço o barulho da chuva lá fora e fecho os olhos com força tentando parar as lágrimas.
Abro os olhos e o homem está sentado na minha cama.
Ele não me diz nada, só arrasta uma cadeira e se senta ao lado da cama. Volto a deitar na cama e fico olhando para ele. Penso que ele vai segurar minha mão, mas só passa a mão pelos cabelos que estão meio soltos agora caindo algumas mechas na frente de seu rosto. Sua camisa está aberta mostrando um pouco de seu peito, ele ainda está com a calça do terno e meias.
Seu rosto estamos cansaço mas ele fica ali, parado, até que eu fecho os olhos e adormeço.



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