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História Coraline - 03


Escrita por: Bella56

Capítulo 4 - 03


Fanfic / Fanfiction Coraline - 03

Você está calada demais, eu fiz algo? - pergunta Max.
- Não. Eu só não tenho o que dizer.
Digo deitada na cama. Já se passaram uns 4 dias desde aquele jantar e desde então eu não vi mais meu tio.
- Me conta como era sua vida no Brasil. - diz Max tentando me fazer falar.
Max está medindo minha pressão. Seus olhos verdes estão brilhantes como sempre. Ele está com uma camisa azul, uma gravata escura e o jaleco por cima. O cabelo está liso e arrumado, mas não com gel. Ele, Eleonor e a Kate são minhas únicas companhias. Tem o John também que é o mordomo, mas ele não entra no meu quarto, só o vejo quando vou comer.
- Eu não tenho nada para falar da minha vida em São Paulo. - digo em meio a um suspiro fundo.
Max me olha nos olhos e por um segundo eu vejo ternura neles.
- Cora, você vai ter que voltar a viver. Daqui alguns dias sua perna vai estar normal.
- Eu não sinto vontade de voltar a viver. - digo baixo e de forma seca.
- É o processo do luto. A psiquiatra que seu tio contratou chega hoje. Ela veio de Londres para cá para cuidar de você.
- Por que? É tão ruim assim? - digo chateada.
- Não. Mas o seu tio tem amigos importantes em várias partes do mundo.
- Imagino que seja por isso que você sai do hospital e vem cuidar de mim aqui.
- Bom, no começo era por isso, mas agora tem também a sua companhia. - ele sorri para mim.
Se fosse antes eu estaria derretida e com um sorriso enorme, mas hoje eu não sinto quase nada.
- Cade o meu tio? - digo com o rosto virado para o outro lado da onde vem um pouco de claridade.
- Seu tio é um homem ocupada. Tem algumas empresas para comandar. Acho que ele chega amanhã. Tem tido pesadelo?
- Tenho. Mas Eleonor me ajuda as vezes.
- Se eu pudesse, dormiria aqui para te ajudar. - ele diz com um sorriso que me deixa confusa.
- Ta tudo bem. - digo olhando pra ele.
Ele termina e coloca as coisas em sua maleta.
- Quer dar uma volta no jardim?
- Você não tem que ir? - pergunto.
- Não. Eu tenho umas horinhas livre.
- Eu quero então.
Me sento na cama e Max me ajuda a ir para a cadeira. Ele joga uma manta em meu colo caso eu queira me cobrir e pela primeira vez eu saio dessa casa. A parte de fora é toda cheia de árvores. Eu confirmo minha suspeita de que a casa não é bem na cidade e sim em um lugar mais afastado. O lugar é lindo, tem verde para todo lado e a casa combina com o lugar. Max me leva até a área na parte de traz da casa onde tem uma piscina enorme e linda. O tempo está nublado como sempre e a chuva ainda tem sido uma tormenta para mim. Max encosta a cadeira perto de uma mesinha de ferro toda decorada e pintada de branco, e ele senta do meu lado.
Ficamos em silêncio um pouco até que ele quebra isso.
- Como está se sentindo?
Olho para ele de um jeito sarcástico.
- OK, eu não sou bom nisso. - ele diz rindo.
Volto a olhar pra frente. A verdade é que eu não sei o que sinto. Eu sei que estou triste, e o verdadeiro sentimento de tristeza é um vazio enorme que deixa um gosto amargo na boca.
- Você é muito corajosa sabia? - ele diz me olhando de novo.
- Corajosa? - deixo escapar uma risada sarcástica. - Eu tenho medo da chuva! - digo indignada.
- A coragem não é a ausência de medo, é seguir enfrente apesar do medo. E você não tem medo de chuva. A chuva desencadeia lembranças que seu cérebro reprimiu como forma de proteção.
- E quando isso vai acabar?
- Quando você enfrentar isso.
Olho pra ele. A dias não choro mais, só quando tenho pesadelos, mas agora, sinto meus olhos arderem.
Volto a olhar para frente e então fecho os olhos, eu tenho medo até disso. Covarde!
- Está esfriando Cora, vamos entrar? - Max se levanta de sua cadeira me tirando de meus pensamentos.
- Vamos.
Ele me leva lentamente para dentro, para que eu aproveite e veja toda a casa. Quando entramos e vamos passar pela sala vejo meu tio Lucio passando com uma mulher loira atrás de si. Os dois viram para mim.
- Onde estavam Dr. Maxwell? - diz Lucio com a voz firme, mas olhando para mim.
- A senhorita Coraline precisava de ar fresco, mas já estamos voltando. - diz Max.
- Quem é essa meu filho? - diz a senhora atrás de Lucio.
Seu cabelo é loiro, e penteado para traz em um coque. Ela está com um sobretudo preto e um salta preto também. Sua pele é pálida como a do filho mas seus olhos, seus olhos são como os do meu pai. Levo a mão a boca ao ver a semelhança dela com o meu pai.
- Essa é a filha de Richard. - ele diz de forma dura.
A mulher me encara, chega um pouco mais perto sem dizer nada.
- Cristine? - ela diz.
- Coraline. - repreende Lucio de forma dura.
Ela me olha e por um momento a vejo perdida em pensamentos, talvez recordações. Ela respira fundo acordando do transe então se vira e segue sozinha para dentro do que eu acredito ser o escritório do meu tio.
Todos ficam em silêncio. Aquela mulher é a mãe do meu pai. Deixo escapar uma lágrima fugitiva, Lucio e Max não dizem nada.
- Doutor, leve a Coraline para cima e se certifique que ela tem tudo que precisa.
Lucio passa os olhos mais uma vez em mim, se vira e sai para o mesmo lugar para onde a sua mãe foi.
Max chama John que pega a minha cadeira. Max me carrega até minha cama e me deita. Sinto um clima pesado entre a gente.
- Precisa de alguma coisa? - diz Max de forma doce.
- Não. Pode ir. Bom trabalho.
Ele olha para mim e sua mão toca a minha.
- Onde está seu celular?
- Ta ali. - aponto para uma mesinha.
Ele pega o celular e digita algo.
- Toma, esse é o meu número. Não exite em me ligar se você precisar. - ele diz me entregando meu celular.
- Pode deixar.
Ele sai do quarto fechando a porta e eu de novo fico sozinha aqui.
Pego meu telefone e ligo para Cloe.
- Coraline!!! - ela diz alto.
- Oi amiga.
- Por que não me ligou? Sabe o quão eu fiquei preocupada?
- Desculpa amiga, é que eu não estou muito bem ainda.
- Como é tudo ai? - ela pergunta animada.
- É diferente aqui.
- Você já saiu?
- Não.
- E seu tio, como ele é? Ele tem família? Você tem primos?
- Não. - minha voz fica embargada. - Ele não tem família. E eu mal o vejo.
Começo a chorar.
- O que foi Cora? - diz Cloe com aquela voz que me faz chorar mais ainda.
- Eu conheci a minha avó hoje.
- E como ela é? Ela é legal?
- Eu não sei. Ela me viu, mas não falou comigo.
- Aí amiga...
- Cloe, ela é bem parecida com o meu pai. - deixo escapar um soluço.
- E o seu tio?
- O meu tio é menos. Ele e loiro, alto, forte, mas os olhos são os mesmos.
- Alto e forte? Quantos anos ele tem ?
- Eu não sei. Ele é muito bonito amiga. - digo limpando as lágrimas.
- E não tem esposa nem namorada?
- Não que eu tenha visto. Mas como eu o vi umas três vezes só, não posso afirmar com certeza.
- Entendo.
- Eles são muito diferentes aqui amiga.
- Por que amiga?
- São frios, aqui só chove.
- Chove?
- Sim. Tem sido difícil dormir.
- Amiga, eu queria tanto você aqui.
- Eu também. Não sei se aguento morar aqui.
- Você fica sozinha aí?
- Não, tem o Max.
- Quem é Max?
- É meu médico. Ele é muito legal. Passa algum tempo comigo.
- E ele é bonito?
- Ele é. - digo me sentindo melhor.
- Ta na hora de eu te fazer uma visita amiga. - ela diz rindo.
Ouço alguém bater na porta.
- Amiga tenho que desligar.
- Que? Por que?
Não explico e desligo o telefone.
- Entra. - digo limpando as lágrimas.
Esqueço de respirar quando vejo Lucio entrar pela porta.
- Como se sente? - sua voz é firme.
- Bem. - digo olhando para ele e depois abaixando a cabeça.
- Sua médica vai chegar amanhã. - ele diz com a mão nas costas.
Olho para ele e ele está com os olhos sobre mim. Um silêncio constrangedor se instala agora. Sinto que não quero que ele vá, não sei dizer o por quê.
- Tem dormido?
- Não. - não consigo pensar em dizer mais nada.
- Você está tomando remédios ou não?
- Estou tomando. Mas mesmo assim, eu acordo no meio da noite. - a última parte quase não sai.
- A Doutora Hattway vai cuidar disso. - ele olha pra mim e seus olhos percorrem o quarto. Ele segue até a janela, olha e depois a fecha, fechando também a cortina. Na verdade não é uma janela e sim portas de correr que com certeza leva a alguma sacada, eu não sei.
Ele segue até a porta e vai saindo.
- Lucio. - ele se vira para mim. Posso ver sua expressão de espanto, mesmo que quase não visível. Sempre fui boa em ver o que as pessoas escondem.
- Vai jantar aqui hoje?
Ele olha para o relógio.
- Vou. Eu só preciso fazer uma coisa antes. - ele diz e fecha a porta.

Acordo suando. Mais um maldito pesadelo. Eu já não aguento mais. Meu coração está disparado e minha cabeça doi. Sinto o corte que tem nas minhas costas latejar.
- Kate... - chamo com a voz falha de dor.
Ninguém vem, e isso me deixa um pouco desesperada. Aperto um botão que tem no meu quarto para chamar alguém, vejo que já está tarde e escuro.
Aperto o botão de novo, mas ninguém vem. Minha respiração começa a ficar difícil e meu coração parece querer abrir um buraco no meu peito. Respiro fundo e resolve me levantar. Sinto uma pontada forte nas costas que me faz gritar, olho para onde estava deitada e vejo sangue. Lagrimas começam a sair involuntariamente. Eu não sou forte, não sou, meus país estavam enganados. Tento levantar me apoiando na mesinha do lado da cama. Minha perna pesa e minhas costas doem, me fazendo voltar para a cama. Procuro meu celular e o vejo encima da mesinha perto da TV. Droga! Sento no chão sentindo muito mais as minhas costas e a única luz que tenho é a do abajur.
Me arrasto até a mesinha e então um barulho de trovão me faz gritar. Agora não, por favor.
Lagrimas caem dos meus olhos e eu as vejo no chão, então Flashs do que aconteceu naquela noite bem na minha cabeça. As gotas da chuva no vidro do carro e a música. Vejo Leslie pegando fogo do meu lado e ela parece sentir muita dor. Eu tento fazer algo, grito os meus país só que estamos sozinhas ali. A chuva, a música, o clarão. Sinto o movimento do carro no meu corpo de novo. Mas então sinto mãos fortes em minha cintura e ouço meu nome ecoando na minha cabeça.

- Coraline!! - sinto alguém me puxar pela cintura.
Meus olhos estão embaçados de tantas lágrimas, a luz do quarto está acesa como poucas vezes acontece.
Vejo a imagem borrada de Lúcio na minha frente, ele me deita no chão e coloca a mão no meu rosto.
Seu rosto permanece frio, mas seus olhos, são iguais aos do meu pai. Um sorriso leve se forma em meu rosto, ele não é tão parecido com o meu paí, mas os seus olhos são os mesmos. Pisco e vejo a imagem do meu pai, ele está aqui.
- Pai. - digo levando a mão ao rosto dele.
O homem a minha frente mostra sinais de desespero, sinais fracos, mas perceptíveis por mim.
Ele me pega no colo e eu sinto o movimento brusco de ser levantada do chão. Minha cabeça doi demais, deixo ela cair sobre o peito do homem que me leva nos braços para fora do quarto. Vejo tudo embaçado, está frio, muito frio, e o corredor por onde ele me leva é escuro.
Ele entra em um quarto. Vejo a cama enorme bagunçada. Uma luz forte quase me cega me fazendo chorar. A luz.
- Não. Por favor, eu não quero ir.
- Coraline. - sinto alguém mexer meu rosto.
Lucio se abaixa e me coloca sentada no chão de um lugar claro, mal consigo abrir os olhos e nem firmar meu corpo.
Vejo a silhueta de Lucio abaixando. Ele é forte e está sem camiseta e com um moleton cinza claro. Ele olha para mim e me pega de novo. Ouço as gotas de água batendo em uma superfície cheia de água e percebo que ele vai me colocar em uma banheira. Fecho os olhos e me vejo deitada na grama, a chuva cai em torrentes e eu vejo uma sirene azul e vermelha bem longe.
- Coraline!
Ouço a voz de Lucio e abro os olhos. Percebo que estou agarrada a seu corpo e então me solto. Ele olha para mim, parece indeciso. Como são azuis os seus olhos, iguais aos do meu pai. Ouço o barulho de água e então sinto ela gelada em meu corpo. O choque térmico me faz ter leves espasmos. Abro os olhos e ainda vejo os olhos azuis me fitando. O frio me invade de vez e eu me encolho em seu colo.
- Se sente melhor? - sua voz ecoa na minha cabeça.
Movo a cabeça em sinal de positivo e a deixo cair sobre seu peito buscando algum calor corporal nele. Tento falar algo, mas nada sai, só gemidos baixos.
Ele pega um termômetro e coloca na minha boca. Sinto dor nas costas da água fria.
- O que houve com você? - ele diz mais para ele do que pra mim.
Começo a perder a consciência, mas Lucio joga água fria no meu rosto.
- Não se entrega Coraline. Você não pode dormir.

Ficamos ali por um bom tempo. Para mim pareceram horas, não consigo controlar meu corpo, ele treme ainda mais com a água fria. Minha consciência vai voltando aos poucos e eu já vejo seu rosto melhor. Ele parece cansado e com frio, sua boca treme, mas seus olhos não deixam os meus.
- Por que estou aqui?
Ele leva um susto com a minha voz.
- Estava com febre muito alta. - ele me olhando de um jeito enigmático.
E então se levanta comigo no colo. Só então percebo que ele esteve dentro da banheira me segurando nos braços o tempo todo. Um monte de água cai no chão.

Passa pela minha cabeça, e se ele escorregasse?

Ele me coloca sentada no vaso sanitário e eu me esforço para não cair.
Ele sai do banheiro e volta com toalhas e uma camisa.
- Ergua os braços. - ele manda de forma seca.
Meus braços pesam uma tonelada cada um, mas ele me ajuda a levanta-los. Percebo o que ele vai fazer e meu rosto esquenta. Ele tira a camiseta do meu pijama encharcada me deixando nua na parte de cima. Sua expressão não muda, seu rosto não fica nem um pouco vermelho. Ele pega a toalha e seca meus ombros e braços. Cruzo meus braços na frente dos seios, ele parece não ligar, seus olhos continuam normais. Sinto o ar gelado passar pelo meu corpo, e eu nao sei do que sinto mais vergonha, se é de estar com os seios parcialmente a mostra ou dos machucados que deixam vergões roxos na minha pele, uma coisa horrorosa.
Ele vira e pega a camisa e realmente não demonstra nenhum espanto, nojo ou interesse em mim.
Joga ela por cima de mim e coloca cada braço em uma manga. Me sinto exposta, a vergonha me paralisa, meu corpo se arrepia com suas mãos segurando meus braços. Mas ele faz isso tudo de maneira fria sem mostrar nenhum interesse no que está vendo. Ele abotoa a camisa e então puxa meu shorts junto com a minha calcinha de uma vez só. Tomo um susto na hora, mas foi algo rápido. A camisa cobre minhas partes íntimas e vai até metade das minhas coxas. Não consigo falar, só tremer e deixar gemidos baixos de dor e frio escapar.
Ele me pega no colo de novo. O gesso em minha perna pesa muito, mas não foi molhado.
Ele me deita em sua cama, levanta minha cabeça e coloca uma toalha por baixo dela.
- Não se mexa. - ele diz e vai até o closet.
Depois de alguns minutos vejo ele voltando com outra calça de moletom preta e uma camiseta preta também. Seu cabelo está molhado e bagunçado. Ele puxa o edredom embaixo de mim e me cobre. Sua cama é quente e macia, o calor começa a cobrir o meu corpo me fazendo relaxar. Ele coloca o termômetro em minha boca de novo e depois analisa. Respiro fundo e sinto a temperatura voltar, mas a dor nas costas ainda me incomoda muito.
- Obrigada. - digo baixo.
Ele olha para mim e não mostra nem um sinal de agradecimento ou reconhecimento.
- Eu tenho que virar você.
Ele diz e eu balanço a cabeça positivamente. Ele desabotoa a camisa sem abri-la e então me vira puxando a camisa para baixo e tirando a manga. Ele cobre minhas partes íntimas e analisa minhas costas.
- Merda! - ouço sair de sua boca e pela primeira vez em um mês sinto vontade de rir.
Ele se espanta e cobre.
- Quero que durma de barriga para baixo.
Ele abotoa de novo a camisa sem me vira de costas. Tira a toalha de baixo e coloca em meu cabelo.
- Não saia daqui.
Ele vai se afastando de mim.
- Lúcio.
Minha voz sai audível até demais.
- Coraline. - ele diz
- Fica. Por favor.
- Você precisa dormir.
- Eu não consigo. - digo mais baixo.
Ele abaixa a cabeça, respira fundo e então pega uma poltrona ali perto e encosta na cama.
- Agora durma.
Não consigo dormir. Sinto meu corpo dolorido e agitado pela presença dele aqui. Tento me mexer para amenizar a dor nas costas, mas não funciona.
- Fique quieta Coraline. - ele diz com a voz rouca e cansada.
- Desculpe, mas é que minhas costas estão doendo muito. - choramingo já exausta de sentir dor.
Ele acende o abajur do lado da cama e posso ver seus olhos apagados de sono. Ele enfia as mãos embaixo das cobertas me fazendo parar de respirar, e então sobe a camisa até o começo das minhas costas.
- Eu terei que trocar o curativo. - ele diz parecendo irritado.
Engulo em seco e fecho os olhos.
- O que houve? - pergunto.
- Inflamou. - ele rosna com raiva.
- Vai ter que chamar um médico? - digo com um pouco de medo.
Lucio respira fundo e abaixa a cabeça por um instante, depois ele se levanta e diz:
- Eu sou médico. - e então entra no banheiro.

Ele sai com uma maleta branca e meu coração dispara quando ele abre e eu vejo uma agulha. Sinto meus labios tremerem de medo.
- Não vou costurar você, vou só limpar e trocar o curativo.
Ele fica perto e posso sentir suas mãos quentes nas minhas costas. Sinto meu corpo inteiro arrepiar e fico com vergonha disso.
- Não se mexe. - ele disse.
- Me disseram que tem empresas, não que é médico.
- Eu não exerço mais a profissão.
- Por que?
- Para assumir as empresas. - sinto ele passar algo que faz arder minhas costas.
- Aquela era minha avó?
- Sim.
- Ela sabe que é minha avó?
- Sabe. - ele responde seco.
Minhas costas ardem demais. E juro que as respostas dele estão me irritando. Resolvo ficar quieta, está na cara que ele mão quer conversa.
Ficamos em silêncio até ele terminar. Ele abaixa a camisa e então meu corpo relaxa.
- Está chovendo? - pergunto sonolenta.
- Não. - ouço ele respirar fundo e se jogar na cadeira.
- Por que não se deita? - pergunto sem olhar pra ele, já deitada de olhos fechados.
- Não é apropriado. - ele ainda continua respondendo de forma mecânica.
- Me sinto culpada por estar acordado e cansado.
- A culpa não é sua. É da enfermeira. - ele diz de forma ríspida me arrepiando todo o corpo.
Ouço um trovão e meu corpo sofre um espasmo involuntário. Me afundo mais no colchão e minhas mãos apertam o lençol. A chuva está caindo lá fora, eu sei, eu só queria que parasse.
- Por favor, para. - digo baixinho para mim mesma tentando me acalmar.
Ouço Lucio respirar fundo mais uma vez e depois ouço passos. Quando abro os olhos vejo que ele deu a volta na cama e se deitou ao meu lado. Ele fica de barriga pra cima, posso ver seu peito subir e descer com a respiração que parecia mais forte. O sono é massacrante, mas uma parte do meu cérebro não quer desligar, a que está em alerta por causa da chuva.
- Você precisa dormir. - ele diz colocando a mão no rosto.
- Eu não consigo. - digo sussurrando sem motivo algum.
- Esqueça a chuva, pense em uma música que te acalma. - ele diz com a voz rouca de sono.
- Eu acho que meu cérebro não é tão fácil de ser enganado.
Pela primeira vez vejo algo que se parece com um sorriso breve, mas logo se desfaz. Talvez tenha sido só um vislumbre.
- Você está me torturando sabia? - Lucio respira fundo parecendo irritado. Sua voz vem direto da garganta, mas é baixo.
- Eu? Por que? - digo espantada com o que ele disse.
Vejo seu rosto virar para mim, mesmo no escuro.
- Desculpa. - digo em voz baixa.
- Tudo bem, eu gosto disso. - sua voz vem direto da garganta de novo.

Sim, todos os pelos do meu corpo ficaram inquietos, o calor pareceu aumentar e senti pequenos espasmos na região abaixo a cintura.
Ele se vira ficando de costas pra mim, e sem perceber solto um suspiro alto, mais parecido com um gemido. Percebo sua respiração falha, a minha também está, mas por motivos diferentes do dele, com certeza.
Em todos os 15 anos da minha vida jamais deitei com um homem que não fosse meu pai. Ele é meu tio, irmão do meu pai, meio tio, mas é tio, eu deveria me sentir segura, mas não, meu cérebro está em alerta.
Sinto vontade de toca-lo, é quase um comando do meu cérebro. Só pra ver como é. Ele é tão bonito, eu não deveria ter esse tipo de pensamento, sentir esse tipo de sensação. Como ele trocou o curativo eu posso trocar de posição ficando de lado, mesmo com dor, é melhor.
"Preciso toca-lo" por nada esse pensamento sai da minha cabeça. Sinto um nó na minha garganta, meu coração bate mais rápido e minha respiração se torna descontrolada, eu sei o que é, é um ataque de ansiedade.
Meu cérebro quer algo, mas eu sinto que é muito errado e isso me faz sentir medo, medo de mim, medo dessa situação. Droga, fecho os olhos e paro de respirar. Um, doi três...
Toco suas costas. Ele é quente, muito quente, sua respiração para e ele se vira de uma vez só e segura minha mão com força.
- O que está fazendo? - sua voz é alta me dando um susto.
Sinto algo bloquear minha garganta, esqueci como se respirar e meu coração bate tao forte que penso que ele pode ouvir. Minhas pernas amolecem. Seus olhos são visitantes em mim, eu sinto.
- Eu... Eu... - não consigo achar uma explicação lógica.
Ele solta a minha mão e o vejo virar o tronco para o meu lado. Meu Deus. O pavor toma conta de mim, meu cérebro entra em pânico.
Ele me puxa pela mão com tamanha força que me faz escorregar pelo lençol até perto dele, solto um gemido de dor. Sua respiração está descompassada e seus movimentos são aspetos e duros. Ele vira seu corpo e coloca sobre o meu. O calor se torna imenso. Sinto seu coração bater rápido e então algo úmido toca meus labios. Os labios dele são quentes. Ele me beija de forma agressiva como se fosse me destruir. Uma de suas mãos passa pela minha cintura e aperta me trazendo para mias junto dele. Seu corpo é definido e quente, e ele é forte. Não foi algo lógico e pensado, foi instinto, por instinto eu respondi a seus movimentos. Minhas pernas se prenderam a seu tronco e ele ficou no meio delas. A outra mão soltou a minha mão e se enroscou no meu cabelo me trazendo para mais perto de seu rosto onde ele devorou meus labios e explorou cada canto da minha boca com a sua língua. Quando pensei que ia morrer sem ar ele separa nosso labios. Ele respira fundo, não sei o que fazer. Eu nunca havia beijado assim antes. Tudo o que rolou comigo foi um selinho em um garoto do meu colégio uma vez.
Ele sai de cima de mim e pula da cama. Ele respira fundo e passa a mão pelo cabelo parecendo nervoso, como uma fera.
- Volte a dormir. - ele ordena quase que gritando, mas ainda se contendo.
Mal consigo respirar totalmente perdida no que aconteceu. Por que ele está agindo assim? Respiro alto e perdida e então ele olha pra mim e seu olhar amolece.
- Coraline, eu sinto muito, a culpa foi minha. Me perdoe por fazer isso com você, você é minha sobrinha e isso não está certo.
- Você é só meio irmão do meu pai. - digo com a voz apagada e ainda não entendendo o que houve.
- Mas ainda não me parece certo. - ele diz com a cabeça baixa.
Ele respira fundo, se aproxima da cama, tira algumas mechas do meu cabelo que estavam sobre meu rosto e beija minha testa fazendo meu corpo arrepiar todo.
- Durma bem Coraline. - ele diz baixo e então sai do quarto em passos firmes.
E eu, eu fico deitada, perdida, frustrada, me sentindo culpada, fui eu que o toquei e isso foi como uma provocação. Mesmo com ele tento razão sinto meu coração partido de novo, e eu pensei que ele só se partia uma vez, mas o gosto da frustração volta a minha boca, me fazendo chorar, chorar porque estou confusa e decepcionada, só não sei o por quê.



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