1. Spirit Fanfics >
  2. Coraline >
  3. 05

História Coraline - 05


Escrita por: Bella56

Notas do Autor


Pessoal, quando tiver tempo coloco as fotos dos personagens.

Capítulo 6 - 05


Fanfic / Fanfiction Coraline - 05

Acordo de um pesadelo sem ar. Olho instintivamente para a porta da sacada e vejo que já é dia, olho no celular e são 7:00 da manhã.
Respiro fundo e levanto com calma da cama. Sinto algumas pontadas na barriga cólica não, por favor, digo a mim mesma.
Fico sentada na beirada da cama tomando coragem para levantar e ter mais um dia daqueles. Olho para o colchão e me espanto dando um grito ao ver a mancha de sangue que tem onde eu estava deitada. Coloco a mão nas costas e sinto algo molhado e viscoso.
Droga!
No mesmo instante Kate entra no quarto.
- O que foi menina? - ela gela quando me vê.
- Meu Deus, você está coberta de sangue!!! Não se mexe, eu vou chamar o Doutor Lucio.
Ela sai do quarto batendo a porta e eu fico aqui, sentada, paralisada pela imagem da mancha de sangue no lençol e nos meus braços e mãos.
Até parece uma cena de crime. Flashs de memória vem em minha mente, algo que não consigo distinguir, mas é como se eu já tivesse vivido isso antes, como se eu estivesse de volta ao dia do acidente mesmo mão lembrando realmente do que ouve.
Não demora muito e Kate entra com uma caixa branca no quarto e Lucio vem atrás com uma camisa azul escuro apertada em seu corpo definido.
- Ela acordou assim Doutor. - diz Kate em um tom moderado e com um tipo de reverência estranha na voz.
Lucio chega mais perto.
- Deite-se de barriga para baixo.
O obedeço me deitando de vagar sentindo uma leve ardência.
Lucio dobra as mangas da camisa e se senta na beirada da cama. Ele abre a caixinha e pega algodão com um líquido que não sei identificar o que é, mas quando ele coloca nas minhas costas eu arfo de dor.
- Aí. - choramingo.
Ele levanta mais minha blusa e abaixa um pouco o meu shorts de dormir que está ensanguentado também.
Ele não diz nada, só limpa o machucado.
- Kate, ligue para o Doutor Maxwell e diga para ele vir aqui, os pontos de Coraline estão inflamados.
Kate logo se retira do quarto.
- Mas como....
- Falta de cuidado e higiene adequada.
- Mas eu...
- Não é o suficiente.
Me irrita com as interrupções dele. Sua indiferença é enorme, nem parece que somos da mesma família, ele me trata como se eu fosse uma de suas pacientes.
Sinto meu corpo esquentar e doer, fecho os olhos e choramingo com a dor.
Lucio só segura minha blusa.
- Quero tomar um banho.
- Kate já está vindo.
- Eu não preciso de acompanhantes no banho. - digo irritada.
- Com essa autoflagelação você não vai chegar a lugar nenhum.
Fico pasma com sua afirmação. Como ele pode achar que eu faço isso comigo mesmo!!!
- Eu não fiz isso. - grito me levantando e me colocando a sua frente em pé. Sinto uma fisgada de dor forte nas costas.
- Você fez. Você se machuca enquanto dorme. - ele disse em um tom firme.
Seus olhos azuis marcam bem seu rosto, sua barba ainda por fazer, seu cabelo meio bagunçado deixando alguns fios loiros fora do lugar.
Um homem muito atraente, porém um desgraçado.
- Mas não foi porque eu quis! - digo alto, mas não grito.
Paro um pouco a sua frente e fico curiosa.
- Como sabe que me machuco dormindo? - viro um pouco a cabeça em sinal de curiosidade.
- Eu vi. - ele diz simplesmente, sentado na cama.
- Você me observa enquanto durmo? - digo mais baixo.
- É minha responsabilidade o seu nem estar. - ele diz, mais baixo, parecendo seguro. Isso realmente faz sentido para ele. - Você se machuca enquanto dorme, tem pesadelos, terrores noturnos, convulsões, não confio mais em você depois do episódio de noite passada.
Dou um passo para trás perplexa. Do que será que ele está falando? Do mau estar que eu tive outra noite ou do que.... Fizemos?
Olho para o lado sentindo meu rosto corar. Eu não deveria confiar nele, ele é meu tio e me beijou mostrando que ele não tem senso de moral.
Sinto uma pontada no estômago e meu consciente grita hipócrita dentro da minha cabeça.
Você que começou.
Sinto a tristeza invadindo meu corpo. Eu não aguento mais, o que virou minha vida. Passo a mão no cabelo ainda em pé na frente de Lucio que me encara com seus olhos azuis, daria tudo para saber o que está pensando.

Respiro fundo e ando até o banheiro irritada, triste, frustrada, com dor nas costas e indícios de cólica menstrual só piorando a irritação em ebulição dentro de mim.
Ouço os passos firmes de Lucio e já dentro do banheiro me viro e o vejo do lado de fora.
- Eu disse não! - ele diz de modo firme, não sei porque mas um lado meu acha isso sexy, o outro se sente desafiado.
Olho para ele e líbero um sorriso maldoso. Tiro de uma vez a minha blusa deixando a parte de cima do meu corpo nu. Ele não vai intervir se me ver semi nua, não com os empregados aqui.
Sinto o frio passar pelos meus seios como beijos de leve. Vendo que ele fica parado na porta, presumo que ele está paralisado ou pensando no que fazer então me viro me dando por vencedora e caminho ate o chuveiro. Dois segundos depois sinto braços firmes me enlaçando por trás e eu choco contra o corpo dele. Sinto a dor do impacto e ele solto um pouco os braços, mas ainda me segura firme. Vejo que ele me enlaçou com uma toalha. Solto um grito de dor e ouço Lucio rir.
- Amadora. Achou que mostrando os seios para mim eu me daria por vencido? Não seja ingênua! - ele rosna na minha orelha.
Meu corpo se arrepia de medo com tamanha agressividade. Ele me arrasta até o quarto ainda presa em seus braços.
- Você é autodestrutiva, eu já percebi isso, mas eu prometi para seu pai que cuidaria de você e é isso que eu vou fazer. - ele grita.
Não consigo mexer meu corpo tamanho o medo. Sinto vontade de chorar, de gritar, de me jogar da sacada, tamanha a raiva, mas tudo que eu faço é deixar uma lágrima escapar dos meus olhos inchados.
Ainda enrolada na toalha, com o cabelo todo bagunçado em volta do meu corpo Lucio me vira para ele embaraçando todo meu cabelo em mim.
Ele olha direto para meu rosto e eu viro a cara.
Ele pega uma das mãos e me força a olhar para ele. Posso ver que está mais calmo, e mais próximo, sinto o calor do seu corpo bem perto do meu.
Ele enlaça seu braço, que antes estava em meu braço, em minha cintura e se encaixa em meu corpo ficando bem perto, mesmo sendo bem mais alto. Posso ouvir sua respiração e vejo seus olhos bem de perto agora, fico hipnotizada. Respiro fundo premeditando o que ele vai fazer e antes que eu me desvencilhe dele, ele invade meus lábios de forma dura. Seus lábios forçam a entrada de sua língua na minha boca, como se ele quisesse me fundir a ele. Meu gemido de dor parece mais um gemido de prazer, que o incentiva. Droga, a quem estou enganado, eu quero isso mais que tudo. Permito a passagem de sua língua que invade minha boca havidamente.
A mão que estava em meu rosto ele pega meu cabelo e eu levo minhas mãos com cuidado ao redor de seu corpo até suas costas. A toalha escorrega um pouco do meu corpo deixando meus seios a mostra. Tiro uma das mãos de suas costas e parto o beijo tentando me cobrir com a toalha mas ele se adianta e me cobre de novo levando seus lábios até meu pescoço e depositando um beijo. Meu corpo inteiro entra em colapso, eu não sei dizer o que senti, mas foi forte demais.
Ele se afasta de mim e respira fundo. Suas mãos estão sujas de sangue, do meu sangue, mas ele não se importa, só vira e sai.
Sento na cama pasma com o que aconteceu.
- Doutor Max já esta vindo. - Kate entra no quarto falando.
- Onde está o Doutor Lúcio?
Olho para ela paralisada, as palavras ainda estão se reorganizando em minha mente, eu até desaprendi momentaneamente a falar.
- Por que está enrolada nessa toalha toda ensanguentada? - Kate se aproxima.
- Eu preciso de um banho.
Digo levantando e indo até o chuveiro.
Depois do banho Max veio, mais apressado que de costume e cuidou de mim, conversamos um pouco e ele teve que voltar.

Mais tarde.....
Voltei para buscar as folhas de desenho e os lápis na sala, mas já não estavam lá.
- Kate. - grito.
Depois que Max foi embora eu troquei o pijama por um moletom cinza e uma blusa de algodão e alcinha rosa com renda no decote em V preto. A blusa é solta para não machucar minhas costas e no cabelo eu fiz uma trança.
Sim, está frio, mas eu já estou me acostumando, já nem sinto mais tanto frio.
Olho animada para a porta pensando ser a Kate a pessoa a entrar pela porta, mas não é, é a Doutora Rachel.
- Olá Coraline. - ela chega perto com a voz macia e se senta ao meu lado.
- Oi. - digo tímida e meio incomodada, meio não, super.
- Posso ficar aqui com você?
- Claro. - digo dando espaço para ela.
Ela me encara e eu fico sem graça.
- Como se sente? - ela cutuca bem lá na cicatriz sem dó.
- Me sinto...
- Não diga normal, não faz sentido. - ela diz e sorri. Era bem a palavra que eu estava pensando em dizer.
- Eu me sinto cansada. - digo.
- É normal. Não sei que remédios toma, mas imagino que sejam muitos e a maioria deles da sono. Falando em sono, você toma algum para dormir?
- Sim. As vezes eu me esqueço, mas na maioria das vezes eu tomo sim. - digo me sentando corretamente no sofá por causa da dor nas costas, ficando um pouco curvada.
- Como se sente quando os toma? Você dorme bem?
- Não. - digo abaixando a cabeça.
- O que foi Cora, posso te chamar assim? - mexo positivamente a cabeça.
- Pode. Nada não. - respiro fundo.
- Sabe que pode confiar em mim não é? Passaremos algum tempo juntas e eu vou tentar te ajudar com a mudança radical de ambiente, com o que sente e como isso afeta você. Prometo ser França com você sempre, mas isso tem que ser recíproco.
- Não acho que preciso de uma psiquiatra. - digo de uma vez.
- Não acha? - ela não se altera, continua calma, como o meu pai fazia.
- Não. Ta bom, eu tenho pesadelos, mas eu perdi meus país a um mês e meio, acho normal.
- Como sabe que é normal? Por favor Cora, tente não racionalizar, isso pode ser ruim.
- Meu pai era psiquiatra também. - digo baixo sentindo dor no peito ao lembrar.
- Soube que não tem dormido muito bem e tem acordado machucada. - ela diz com cuidado em cada palavra só que de um jeito amigável.
- Ele te contou? - digo com vergonha.
- O Lúcio é um colega nessa área, ele sabe que precisa de ajuda.
- Desculpe, mas eu acho super natural no processo de luto. - digo e ela respira fundo.
- Eu sei, e estou aqui para te ajudar a passar por isso e voltar ao convívio social aqui nos Estados Unidos.
- Meu lugar não é aqui.
- Não gosta de morar com seu tio?
- Não sei. - digo confusa e um pouco irritada. Tudo que eu queria nesse momento é ficar sozinha e desenhar.
- Tudo bem. Acho que você está indo muito bem. Como era sua vida lá no Brasil? - ela pergunta de forma calma. Sua saia de cós alto justa ao corpo vai até um pouco acima dos joelhos e ela está vestindo uma camisa de um pano fino a deixando ainda mais atraente. Seu cabelo castanho escuro cai sobre os ombros e acaba acima dos seios, ele cai em ondas.
- Eu estou cansada. - digo mudando de assunto.
- Eu entendo. - ela diz.
- Eu só quero... - fico indecisa se deveria dizer.
- Ficar sozinha não é? - ela diz sorrindo e eu faço um sinal tímido com a cabeça. A dor nas costas me incomoda, uma estranha querendo falar comigo sobre tudo que venho passando é muito estranho.
Ouço alguém abrir a porta e então a vejo, a mulher mais bonita que já vi, minha avó. Ela está com um coque armado com algumas mechas soltas de propósito deixando mais brilhoso seus cabelos loiros, seus olhos azuis logo penetram em Rachel me fazendo arrepiar. Sua postura é perfeita, seu jeito de andar é magnífico.
- Rachel. - ela diz em um tom seco.
- Senhora Alcântara.
- Hastings, por favor.
Ela anda até nós e me olha. Eu fico paralisada, é a mãe do meu pai.
- Acho que por hoje já chega, poderia nos deixar a sós? - ela diz de forma mais calma, mas autoritária.
- Estamos no meio de uma sessão. - Rachel não se mostra tão abalada.
- Tenho certeza de que não se importa em estar aqui por mais tempo que deveria, não é mesmo?
Fico s entender o que está acontecendo e qual o interesse repentino daquela mulher em mim.
Rachel me olha e vejo que ela está bem mais confusa que eu.
- Vou tomar um café. Gostaria que eu trouxesse algo Cora? - ela pergunta ignorando minha avó.
- Não. Eu estou bem, obrigada. - digo sem graça pela maneira que a mulher a nossa frente a tratou.
Rachel sai da sala e minha avó a acompanha com o olhar. Ela está com um vestido preto agarrado ao corpo, ninguém aqui sente frio.
- Aí esses médicos, sempre achando que estamos cheios de problemas. Como está? - ela pergunta ainda em pé, com uma intimidade estranha como se fossemos realmente avó e neta neste momento.
Não sei o que responder a ela. Cloe me disse várias vezes que a única pra quem ela contava tudo além de mim era para sua avó materna, mas eu acho que não seja o mesmo caso aqui.
- Melhorando. - redondo finalmente.
Me levanto e vou até perto da porta de vidro que da acesso ao jardim, o clima está tenso demais, preciso de ar. E no fundo eu só queria ficar sozinha. Não posso negar que a curiosidade sobre minha avó me faz querer fazer mil perguntas a ela, só que ela não parece do tipo doce que faz vários bolos e enfeites de crochê. Ela parece uma empresária, uma celebridade ou a primeira dama.
- Vejo que Lucio não tem cuidado de você. Sinceramente eu não sei onde seu pai estava com a cabeça quando deixou a sua guarda com seu tio, ele nunca cuidou nem mesmo de uma planta.- ela me olha dos pés a cabeça e deixa sua pequena bolsa preta sobre o sofá.
- Mas... - fico perdida e receosa - Ele não era médico?. - digo baixo.
- Exatamente, era... - ela diz.
- O que quer comigo? - tento não parecer grosseira ao perguntar.
- Bom, vim conhecer minha neta, orienta-la... - ela diz de forma normal, como se isso fosse normal.
- Orientar? - repito confusa.
- Sim. E por favor, pare de repetir o que eu falo se não essa conversa vai durar bastante. - ela diz com um leve sorriso. - Fiquei sabendo dos pequenos acidentes que tem ocorrido com você e isso não é coisa de um membro da família Hastings fazer. Pare de se fazer de vítima, não deixe que meu filho e a sua amiga psiquiatra manipulem você.
Abro a boca e depois fecho perplexa e sem ter o que dizer. Ela me fuzila com o olhar e com as palavras, mas eu não consigo deixar de admira-la por ser a pessoa mais franca e direta comigo até agora.
- Gostaria de se sentar? - digo mais firme olhando para ela para ganhar tempo para pensar.
- Claro. - ela se senta no sofá.
- Vá direto ao ponto. - fico parada na frente da janela, mantendo uma distancia aceitável. Resolvo jogar o jogo dela.
- Não sei como seus país te criaram, mas as mulheres da minha família não são fracas. Lucio me contou que você vem se machucando, quero que pare com isso.
Não consigo reorganizar meus pensamentos depois disso. Por que tanta hostilidade e preocupação agora?
- Bom, é o que o Lucio diz. Pode não ser verdade.
- Meu filho é um médico formado.
- Mas tem problemas de personalidade e não sabe cuidar nem de uma planta, como disse.- digo firme com raiva.
Ela respira fundo e vejo um leve sorriso se formar em seu rosto. Ela se levanta e vem até mim.
- Você é da nossa família, aja como tal. - ela diz colocando a mão em meu ombro.
- Como eu deveria agir? - desvio de seu toque. É muita informação.
- Não deixe que digam o que tem que fazer ou o que você é. Faça suas regras e alcance seus objetivos. Sei que está fisicamente machucada e que está de luto, mas não faça isso parecer pior do que é.
- Você não sabe como é. - digo com raiva.
Ela sorri pra mim. Um sorriso largo.
- Vejo que não precisou muito para mostrar como você puxou a essa família. Não quero que seja fraca como seu pai.
Abro a boca perplexa. Tenho vontade de bater nela, mas ainda a admiro e não sei porquê.
- Acho que ele foi mais forte do que Lucio. - digo com um sorriso falso no rosto a encarando. - Ele foi atrás do que ele queria, fez suas regras e não obedeceu as suas, é isso que é ser um Hastings não é?
Ela respira fundo e sorri.
- Me vejo em você garota. Mesmo com cabelos castanhos como os da sua mãe, me vejo em você. - ela diz sorrindo se retirando.
Ela anda em direção a porta.
- Lembre-se Cora, o mundo não vai ter pena de você, chore o quanto tiver de chorar, depois levante a cabeça e siga seus objetivos, faça suas regras, custe o que custar.
Ela sai da sala e eu fico lá, confusa. Não consigo parar de admira-la, mas com certeza ela não é uma avó como as outras.
Rachel volta e fica parada me olhando.
- Parada assim, você está muito parecida com ela. - Rachel diz parada no meio da sala.
- Foi isso que ela veio me mostrar. - digo olhando para ela.
Resolvo tomar uma atitude. Já chega de sentir dor, vou fazer algo para mudar isso, ou tentar amenizar.
Subo as escadas sem dar maiores explicações para Rachel que fica lá parada na sala.
Sinto dor, mas talvez eu não devesse fazer da alegria uma motivação, e sim da dor. Fico cansada no topo da escada, mas contínuo até meu quarto. Sinto uma forte dor de cabeça o que me faz ficar enjoada, droga. Vão achar que eu que estou fazendo isso comigo.
Lagrimas brotam de meus olhos, sinto o confronto dentro de mim. Um lado querendo fazer algo e o outro dizendo que não tem estruturas físicas e emocionais no momento.
Sinto a dor nas costas e então eu tiro a blusa para tentar ver melhor. Me viro para o espelho e vejo um enorme curativo perto de vários cortes pequenos que já estão fechando. Aí entrou uma peça do carro quando eu fui arremessada para fora. Me diz, como ser forte e superar algo assim? Eu estou cheia de marcas para me lembrar.
Me viro e vejo o curativo que está no final do meu peito até o meio da minha barriga, descrevendo parece um corte enorme, mas ele é pequeno, só que é profundo e permanente. Bianca disse que quase não vai dar para ver, mas eu sei que vai ser mais uma marca. Pego um vestido preto de alcinha que Cloe me deu. Ele tem um corte em V e vai preso até a cintura, depois solta em uma saia rodada que vai até a metade da cocha. Ta, um pouco antes da metade, é curto, como Cloe gosta. Coloco uma sapatilha preta confortável, minhas costas doem muito. Não solto a trança, mesmo ela estando desfiada já. Vou até uma caixinha no fundo do closet e abro. Lá vejo várias das minhas jóias, mas a uma que me chama atenção. A pulseira que meu pai presenteou minha mãe antes deles casarem. Cada pingente ali representava uma época especial da vida deles. Tanto que ao lado de um coração tinha uma bonequinha pequena de prata e um cachorro, simbolizando eu e a Leslie.
Pego e a coloco. Pego outra pulseira que comprei enfeitada com cruzes, tiro duas e coloco no fim da pulseira simbolizando a morte deles, tiro mais uma e coloco ao lado simbolizando a morte de Leslie, e então... Olho para a pulseira e coloco mais uma cruz, simbolizando a morte do que eu era antes de tudo acontecer, essa cruz tem uma cor diferente, ela não é prata como as outras três, é preta.
Saio do closet, tiro as sapatilhas e me deito na cama, da onde eu não desejava sair. Como neutralizar toda essa dor? Eu não sei, só sei que é o que devo fazer.

Acordo de um sonho bom, eu não queria acordar.
Acordo em um quarto vazio, escuro e frio. Vejo que estou coberta e me olho para ver se me machuquei, o que não aconteceu. Olho o celular e são 17:00 da tarde. Nossa.
Ouço batidas na porta.
- Entra.
Kate entra com uma bandeja.
- Não quis acorda-la para almoçar, parecia tão serena, então trouxe esse lanche. Seu tio já nos advertiu que não quer que você fique sem comer.
Sorrio fraco para ela, não queria que se encrencasse por minha culpa.
- Obrigada por me cobrir. - digo sentando na cama.
Ela sorri.
- Não fui eu querida.
- Quem foi então? - figo atordoada.
- Seu tio. - sinto um sorriso fraco contido por ela.
- Ele veio almoçar? - digo estranhando.
- A senhorita Hattway ligou para ele. Pelo jeito ela estava preocupada com a senhorita e ele veio ver como estava.
- Mas eu estou bem. - digo começando a comer o lanche.
- Está bem menina, coma. - ela diz de forma carinhosa.
Kate faz um lanche gostoso que nunca comi em lugar algum.
Respiro fundo e depois de comer resolvo levantar.
- Cora, seu tio deixou isso pra você.
Ela me entrega uma caixa grande. Apoio encima da cama por ainda não poder segurar nada pesado e abro.
De dentro tiro um Notbook novo e fino prata.
- Pra mim? - digo me sentindo um pouco sem graça.
- Pra mim é que não é né menina. - ela diz rindo sentada na beirada da cama.
O abro e vejo um cartão preto na tela.
Para passar melhor o tempo.
Só. Só isso escrito. Tinha que ser dele. Reviro os olhos.
- Agora que você não sai dessa cama mesmo.
Dou um sorriso fraco para Kate e me levanto.
- Me ajuda no banho? - pergunto me arrastando até o banheiro.
- Claro querida.
Ela se levanta e prepara a banheira.
- Eu estou tão cansada. - digo sentada na privada esperando a banheira encher.
- Os remédios, devem ser os remédios. - Ela diz com a mão na água checando a temperatura.
Abaixo a cabeça e fico olhando para os meus pés, de calcinha e sutiã. Abraço meu corpo e posso sentir os ossos da minha costela bem salientados. Eu sempre fui magra, mas não a ponto de sentir os ossos tão bem assim.
- Cora, posso te perguntar algo?
- Claro.
- O que sua avó queria?
- Ah! Queria me dar um recadinhos carinhoso. - digo com sarcasmo na voz.
- Qual?
- Para eu parar de sentir dó de mim mesma e agir como as mulheres fortes de sua família.
- Nossa. - Kate fica realmente perplexa.
- Carinho maternal. - digo deixando escapar um sorriso sarcástico.
- Já pensou no que vai fazer depois que estiver melhor?
- Não. - me engasgo com as palavras - Eu nem sei quanto vou durar Kate.
Kate me olha com seus olhos castanhos. Seu cabelo loiro está em coque e ela deixa algumas mechas caírem sobre seu rosto.
- Faça metas. Isso vai te ajudar a seguir em frente.
Sorrio para ela.
- Quem precisa de psiquiatra quando se tem você.
Ela sorri.
- Imagino que sua avô esteja em cóleras.
- Por que?
- Ah, sua neta precisando de ajuda médica. Ainda mais psicológica.
- Eu estou pior com isso.
- Sua avó, pelo tempo que a conheço, sempre foi perfeccionista ao extremo. Ela acabou com o noivado de seu tio.
- Meu tio foi mesmo noivo?
- Foi. Uma moça bonita, mas ingênua. Uma moça do hospital, uma enfermeira.
- E o que ouve?
- Sua avó decidiu que ela não era boa para ser uma Hastings.
- Mas não é ela quem decide.
Kate ri.
- Você não conhece sua família querida.
- Argh!! - passo a mão pelos cabelos.
Respiro fundo e tento controlar os sentimentos amargos em mim, Kate não tem culpa.
- Meu tio namorou mais alguém?
- Namoro sério. não. Mas já vi algumas empregadas fofocando que quando foram limpar certas partes da casa, acharam pertences femininos. - ela diz baixo segurando o riso.
- Eu nunca ouvi nada. - sinto algo que faz doer meu peito, que me faz sentir irada.
A banheira fica pronta e Kate me ajuda a entrar e lavar meu cabelo. Olho para baixo e vejo o curativo em minha barriga que me incomoda tanto, mas isso é um segredo só meu.
- Tinha namorado no Brasil Cora ?
- Não. Cloe, minha melhor amiga, era quem namorava muito, eu só era sua escudeira. - digo sentindo algo diferente ao lembrar.
- Imagino como deve estar sendo diferente para o Doutor Lucio morar com uma mocinha. - ela diz e posso ouvi-la rir.
- Ele nem me vê. Não tem porque achar difícil.
- Ele é muito reservado. Ele nunca falou comigo alguma palavra a mais do que uma ordem.
- Que família maluca. - digo.
Relaxo no banho, saio, me seco e me troco colocando um moletom cinza com uma blusa um pouco curta do super man azul escura.
- Vai ficar com a barriga aparecendo mesmo? - Kate diz rindo.
- Não estou com frio.
- Seu tio vai ficar louco com você por não se cuidar direito.
Ela diz tirando a toalha da minha cabeça e deixando meu cabelo cair molhado sobre mim. Ela o seca na toalha, mas só, não gosto de secadores.
- Sem sapatos, cabelo molhado e sem roupa de frio. Vai ficar com febre de novo.
- Não vou não, eu vou voltar pra cama.
- Por que?
- Não tem nada para fazer lá em baixo.
- Quer que eu traga seu jantar aqui?
- Se incomodaria?
- Não. - ela diz sorrindo.
Ela sai e eu me deito na confortável cama que cabe umas três pessoas gordas.
Me deito bem no meio só para ficar mais confortável, ouço alguns trovões e então decido ligar a TV para não ouvir caso chover. Vejo um canal de notícias de relance com uma foto de uma outra garota. Gelo ao perceber que ela também é um pouco parecida comigo. Me aproximo mais da TV para me certificar de que não estou ficando louca. Não pode ser.
No jornal fala de um assassino que vem matando adolescentes sem deixar nenhuma pista. Vejo a declaração dos familiares, a mãe da garota chora muito. Fico inexplicavelmente abalada. Droga, e se vier atrás de mim? Bom, ninguém sabe que estou aqui então...
- Hoje nós temos massa. - diz Kate entrando me dando um susto.
- O que você tem Cora?
- Eu vi uma... Uma reportagens. De garotas que estão sumindo e aparecendo mortas na cidade de Seattle.
- Ah, eu vi isso também. Não se fala em outra coisa agora. Eu se fosse uma garota morena pintaria meu cabelo de loiro.
Ela diz sorrindo, mas isso me da medo.
- Não se assuste Cora, ninguém sabe que está aqui. Você nunca saiu dessa casa não é mesmo?
- Sim. - digo gelada de frio e de medo.
- Max te mandou mensagem? - pergunta Kate.
- Sim, algumas. Mas como eu dormi, não respondi ainda. - digo voltando ao meu lugar para comer.
- Ele é um cara legal, mas cuidado. - ela diz maliciosa.
- Para. Eu sou paciente dele. - digo sem graça.
- Cora, eu vou indo ta? - ela diz parecendo um pouco nervosa.
- Por que? Ta cedo.
- É melhor eu ir. Seu tio já está em casa.
- Ridículo isso. - digo baixo.
- São as regras dele desde sempre. E é até bom, gosto de voltar pra casa.
- Mal fica lá.
- Fico o suficiente.
Ela pega o prato sujo e a bandeja e leva para baixo.
Me deito na cama me afundando nas cobertas e travesseiros. Respondo Max, mas deixo o celular pra lá, minha cabeça doi.

Depois de algumas horas vendo programas de culinária e séries na TV sinto sede. Luto comigo mesma, não quero beber água, penso. Mas a sede só aumenta. Fico com medo de andar sozinha pela casa, ainda mais com Lucio aí. O que direi pra ele depois daquele beijo? Ele é meu tio, e mesmo assim ele me atrai. Levanto devagar com a mão nas costas para não doer. Pego meu celular e os fones, coloco uma música animada para disfarçar o medo. Caminho de vagar com os pés no chão pelo corredor largo e pouco iluminado da casa. Tudo parece assustador. Sinto vontade de correr até Lucio, mas com que cara eu o olharia? Eu sentiria vontade de me jogar em seus braços sem ao menos saber se ele deseja isso. Aí, eu não deveria pensar assim.
Desço as escadas devagar e até cantando a musica. Sinto um vento frio passar por mim e bagunçar meu cabelo já bagunçado. Mesmo secando naturalmente, os cachos não deixaram de se formar nas pontas, delicados, como os da minha mãe. Minha maior mecha de cabelo já passa do meio das costas e isso me incomoda um pouco.
Vejo uma luz acentuada na região da cozinha, região essa que eu nunca fui. Canto com a música para espantar o medo. Chego perto da cozinha e fecho os olhos com medo. Que ideia idiota, meu subconsciente grita.
Sinto o chão gelado nos meus pés e minha coluna doi um pouco. Entro na cozinha olhando fixamente para a geladeira salivando de sede. Não paro de cantar para não sentir medo, ou melhor, não sentir mais medo. Abro a geladeira devagar e pego a garrafa. Quando vou colocar ela sobre a ilha no meio da cozinha me deparo com os olhos de Lucio me encarando e acompanhado.
Olho para a garota que veste roupa social, cabelo liso e castanho escuro, pele morena e olhos amendoados. Seu cabelo vai até a altura dos seios mais ou menos. Fico ali, paralisada, com a cara de idiota que sempre faço e sem saber se saio correndo ou se contínuo fazendo o que eu estava fazendo.
- Coraline. - meu tio diz firme. Meu corpo estremece de ansiedade, medo, raiva, vergonha...
- Lucio. - digo tirando um lado do fone que agora toca uma música calma.
- Eu... Eu estava... Eu estava com sede então... - chacoalho a garrafa.
A garota fica tímida e imóvel com a minha presença. Isso me faz pensar no que minha avó me disse hoje, sobre agir com fraqueza, então reuno toda a minha coragem e sigo até alguns copos que estavam sob a pia.
- Lucio eu... - a garota diz e sua voz parece de mulher mais velha. Ela é bonita, mas é um bonito social, um bonito inflexível.
- Victoria, essa é a minha sobrinha Coraline. - ele diz olhando para ela e depois para mim. Tomo a água tranquilamente ignorando os dois e a raiva dentro de mim. Fecho a garrafa e devolvo a geladeira.
- Coraline... - me viro para Lúcio.
- Essa é uma das advogadas da empresa....
- Muito prazer - o interrompo - Coraline Hastings.
- Victoria White.
Ela me estende a mão e eu a seguro com um sorriso falso no rosto.
- Lindo nome. Posso te chamar de Cora? - ela diz como se estivesse falando com uma criancinha.
- Não. Coraline é melhor, ou senhorita Hastings se preferir.
Olho para Lúcio que está com seu olhar indecifrável sobre mim. Vejo uma pontada de raiva em sua face, mas não sei do que.
Me despeço e subo as escadas com dor nas costas e vou até minha cama cheia de raiva e com vontade de gritar. Minha vontade e de ir tomar um ar, mas eu sei que a chuva já vem e eu não quero né machucar. Pensar nisso me machuca. Meus país teriam vergonha ao saber disso. Se eles estão me olhando lá de cima, como as historias populares dizem, com certeza estão com vergonha, mas aquela mulher me irritou, eu não sei o porquê, mas ela me irritou.
Deveria ter ficado escutando o que eles vão falar, sinto que tenho medo de saber o que eles iriam fazer. Coloco uma música legal, pego o controle e desligo as luzes do quarto. Sinto o remédio me dando sono de novo, ou talvez seja só vontade de dormir e dormir.
Respiro fundo e me viro para o lado oposto ao da porta. Canto a música que me da vontade de gritar. No escuro minhas paranóias começam. Sinto a presença de algo atrás de mim no escuro e o medo me paralisa. Seja forte, seja forte. Não adiante, o mantra não ajuda e o medo só piora. Procuro o controle encima da cama, mas não o acho. Sinto algo chegar mais perto, e eu me encolho dentro das cobertas, sinto lágrimas brotarem dos meus olhos, mas ainda não as deixo cair.
Abaixo a música tentando ouvir algo, mas tudo que ouço é a minha respiração. Idiota não tem nada aqui. Penso.
Respiro fundo tentando controlar meu coração. Fecho os olhos e tento dormir, mas então a luz do abajur acende. Um ataque de pânico se desencadeia junto com uma crise de ansiedade. Meu corpo fica imóvel. Eu odeio esse lugar. É tudo que consigo pensar. Sinto algo quente tocar meu ombro, uma mão. Dou um grito de pavor e pulo para o outro lado da cama.
- Coraline, você está louca? - Lucio rosna.
- Louco é você que entra no meu quarto desse jeito seu doente. - grito com ele com raiva.
- Pensei que estivesse dormindo. - ele diz alto mas não grita.
Coloco a mão no peito e sinto meu corpo soar.
- Pensei que fosse acostumada a ficar sozinha, o que está acontecendo?
- Nada. - digo mais baixo tentando controlar a descarga de adrenalina.
Ele continua parado do lado da minha cama com roupa social, camisa e calça de um terno. Seu cabelo está bagunçado brilhando com a luz e seus olhos ficam marcados pela luz.
- Lá em baixo... - ele diz de forma dura. - Por que fez aquilo?
- Fiz o que? - digo com raiva.
- Tratou a Victoria daquele jeito.
- Eu não fiz nada de anormal. - digo respirando mais devagar e virando o rosto para não encarar o dele.
- Cada dia você se parece mais com ela.
- Com quem?
- Carolina. - ele diz coma voz rouca e baixa.
- Quem é...? - fico confusa.
- Sua avó paterna.
Não fico tão surpresa. Eu sei que o que eu fiz eu fiz como ela disse, e eu me senti muito bem.
- Bom, então acho que você tem um problema meu querido tio. - digo deitada na cama já.
- Qual? - ele não se move.
- Você beijou sua sobrinha que se parece com a sua mãe. - praticamente cuspo as palavras carregadas de veneno.
Sim, posso ver a perplexidade em sua face desta vez. E vejo algo mais, raiva.
- Você... - ele respira fundo contendo a raiva - É uma garota perturbada.
Minha raiva explode e quando recobro a consciência já estou indo para cima dele. Lucio segura meus braços sem dificuldade.
- Pare de agir feito maluca. - ele grita.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto, mas isso não diminui minha raiva.
- Você é um doente. - grito mais alto.
Ele me joga na cama com força. Seus olhos brilham de raiva. Não sei dizer o sentimento que transborda em mim, é uma raiva diferente, uma raiva que me fere. Ele olha pra mim e eu o encaro sem abaixar o olhar.
- Você é uma pirralha doente, teimosa e suicida. - ele diz chegando mais perto da cama.
- E você é um adulto reprimido e doente que tem desejos sexuias pela sobrinha.
- Você errou. - ele chega mais perto e posso ver algo em seus olhos que não sei dizer se é bom ou ruim. - Eu não sou reprimido.
Seguro o ar involuntariamente quando ele sobe na cama e vem até mim. Ele me puxa para baixo dele e agarra meu corpo sem se preocupar com os curativos. Não sinto medo, sinto desejo. Ele me beija com raiva como se fosse me afundar na cama, fico sem ar. Coloco a mão em seu cabelo e então ele deita sobre meu corpo. Suas mãos vão para dentro da minha blusa e ele separa nodos lábios.
- Você fez de propósito não fez? - ele diz na minha orelha ainda com raiva.
- Você não é tão previsível. - digo baixo.
- Mas você, você ferrou tudo. - ele não esconde a raiva - Você tinha que aparecer lá embaixo...
- Eu estava com sede. - digo em tom de vítima.
Ele me beija de novo, sinto um leve gosto de vinho em sua boca.
- Você é um desgraçado. - digo com raiva e ele beija meu pescoço. - Você veio até meu quarto e tem me visto dormir. - a voz sai fraca com o arrepio que sinto da sua barba passar pelo meu pescoço.
- A culpa é sua.
- Minha? - dou uma risada sarcástica.
- Você me tocou. Você encostou em mim primeiro. - ele se levanta e olha nos meus olhos.
- Você me deu banho.
- E até aí eu estava bem.
Respiro fundo. Me sinto cansada e magoada.
- Você é só uma criança... - ele sussurra mais pra mim do que pra ele.
- Eu não sou mais criança. Eu não tenho mais mãe e pai. - digo olhando em seus olhos. Coloco a mão em seu rosto e levanto a cabeça até seus labios. Ele me beija mais separa de novo. Ele estica o braço e pega o controle ligando só as luzes centrais do quarto. Posso ve-lo certinho agora e respiro fundo seu perfume.
- Você está bêbado? - pergunto.
- Não. Talvez eu tenha bebido um pouco para tomar coragem de vir aqui, mas eu sei o que estou fazendo.
Respiro fundo e ele tira minha blusa deixando a parte de cima nua.
- Você herdou a beleza de sua mãe. - ele diz beijando meu pescoço.
Isso me faz sorrir. Pela primeira vez, um sorriso sincero de alegria.
Ele me beija e se levanta tirando sua camisa. Não me lembro mais como se respira ao ver seu corpo na minha frente, quase esqueço de sentir vergonha de estar sem blusa. Ele puxa minha calça e eu sinto o frio penetrar minha pele. Me arrasto até a cabeceira da cama e me deito no travesseiro. Minha mente está uma bagunça!! Ele me provoca, mas é da minha família, meu corpo o quer, mas meu cérebro tem dúvidas, malditos instintos.
Olho para ele que demora para voltar a mim, perdida em pensamentos nem percebo que ele me olha sentado ao meu lado na cana.
- Lucio... - susurro.
- Como você pode ser tão nova e tão bonita? - ele pergunta parecendo mesmo confuso.
- Eu.... Lucio... - não seio que dizer, mas sinto que não era isso que deveria estar acontecendo.
- Não posso fazer isso com você Cora. - pela primeira vez ele diz a abreviação do meu nome arrepiando todos os pelos do meu corpo. Sinto a frustração me invadindo de novo e minha garganta arde.
- Você está agindo por instinto.
- Não estou. - digo baixo não olhando para ele.
- Está sim. Eu vejo a dúvida no seu rosto.
- E eu vejo a vontade no seu. - solto sem pensar.
- Então quando eu ver essa vontade no seu, eu volto. - ele diz se levantando da cama pegando a camisa.
Ouço o vento forte lá fora e a frustração de mistura com o medo.
- Lucio. - susurro sem olhar para ele.
- O que foi? - ele fala em um tom que nunca o vi usar.
- Não vai não. - olho pra ele suplicando. Sei que vai chover, eu o quero perto, eu não entendo bem o que ele me disse, mas eu tenho certeza que o quero perto.
- Eu...
- Eu sei que você não dorme com ninguém, mas fica, pelo menos até eu dormir. - digo baixo.
- Já volto. - ele respira fundo e se retira do quarto.
Sinto como se o teto despencasse em mim. Meu coração pesa, sinto meus olhos arderem e uma combustão de sentimentos me confunde. Medo, frustração, confusão e a maldita ansiedade.
Me levanto de vagar da cama ainda com alguma dor, vou até o closet e coloco um vestidinho azul escuro de dormir de alcinha. O pano é macio.
Saio do closet e Lucio está parado no meio do quarto.
- Eu pensei que não fosse mais voltar. - digo com pesar na voz e mais ansiosa por ele ter vindo.
Antes que ele responda ouço o vento forte e uma porta bater na casa, meu corpo estremece, eu sinto o medo subir pelas minhas veias.
- É só o vento lá fora. - Lucio diz com as mãos no bolso da calça de moletom.
Ele está com uma camiseta preta um pouco apertada ao seu corpo, seu cabelo está molhado e bagunçado, e está usando uma calça de moletom.
- Durma Coraline. - ele diz mais firme.
Vou age a cama e engatinho até o meio me sentindo a pior coisa do mundo. Me coloco embaixo das cobertas e o vejo arrastar uma cadeira. Tiro os cobertores um pouco do lugar vago na cama indicando a minha vontade. A verdade é que a carência me consome e então eu entendo o que ele quis dizer, seus motivos para parar e eu me sinto agradecida.
Ele respira fundo e então vem até a cama e deita comigo. Me deito e olho pra ele. Ele pega em meu braço e me puxa pra mais perto, minha mão toca seu peito.
- Isso é muito estranho. - ele diz.
- O que?
- A sensação quando me toca.
- É boa ou ruim?
- É única.
Sorrio e me arrasto para mais perto e então ele me aperta contra seu corpo. Foi o primeiro gesto de carinho físico que recebo desde tudo e meus olhos ardem. Não seja fraca, não seja fraca. Repito inúmeras vezes, mas os sentimentos não somem. Ouço o vento de novo e sei que está chovendo, meu corpo enrrigesse.
- Tente se concentrar em outra coisa.
Respiro fundo e então o cheio de Lucio enche minhas narinas. O cheiro dele é bom, é quente, é único. Com a mão sobre seu peito sinto seu coração bater forte, ele também parece estar em conflito, só não sei o porquê.
Uma de suas mãos mexe em meu cabelo.
- Como era sua vida no Brasil? - ele pergunta.
- Era muito diferente.
- Como?
- Eu ia ao colégio de manhã, eu tinha muitos colegas, mas só uma melhor amiga, Cloe. Então o motorista ia me buscar e eu voltava. O almoço já estava pronto e as vezes meu pai estava em casa, as vezes não, eu sempre torcia para ele estar. - respiro fundo.
- E sua mãe? - ele pergunta com a voz calma.
- Ela não vinha, passava muito tempo no hospital. As vezes vinha no meio da tarde para dormir um pouco e depois voltava.
-Ficava sozinha o tempo todo?
- Ficava como fico aqui. - digo sorrindo lembrando de Leslie. - Mas eu tinha a Leslie. Nos fim de semana eu passava no hospital ajudando com as fichas e a noite saímos para fazer algo em família.
O braço que está sobre o peito de Lucio é o que tem a pulseira. Com a mão livre ele pega minha mão mexendo na pulseira.
- Era da minha mãe. Meu pai deu pra ela antes de casar.
- Eu me lembro.. - ele disse.
- Se lembra de que? - levanto a cabeça e olho em seus olhos.
- De quando seu pai deu isso a sua mãe.
- Como? - pergunto confusa.
- Quando eu estava na faculdade. Seu pai estava acabando e ele me deu muito apoio. - ele diz seco.
- Eu não sabia que existia. - digo.
- Não tinha como. Eu só a vi quando bebê. Um bebê branco de grandes olhos azuis, quieto.
- Desculpa Lucio, mas não consigo sentir um vínculo familiar com você. É como se... Você não fosse meu tio. - digo voltando a deitar.
- É porque não convivemos. Caroline, a vê como avó?
- Sim. Ela se parece com meu pai - respiro fundo - Ela veio aqui hoje.
- Rachel me disse. O que conversaram?
- Na verdade ela veio me incentivar.
- Minha mãe? - ele parece realmente perplexo.
- Sim.
- Não foi o que Rachel me disse. - ele diz.
- O que ela disse?
- Que minha mãe chegou aqui e quis falar com você a sós. Depois que ela saiu ela ouviu minha mãe dizer a você para não ser fraca.
Engulo em seco. Não sei bem o que dizer.
- Rachel não deveria ter escutado.
- Ela conhece minha mãe. E ela só me alertou que minha mãe estava atrapalhando no seu tratamento, como uma boa profissional faria.
- Eu gosto dela. - digo pensativa.
- De Rachel?
- Não! - digo subitamente - De Caroline.
Ouço um trovão e me aperto mais a Lucio. Seu corpo é quente.
- Ela não fará bem para você agora. O que ela disse... - ele suspira - Seu pai não a apresentou para sua avó por motivos que eu sinto por ter que conhecer. Sinto por ter que vir para cá Coraline.
- Já me disseram que eu "não conheço a família que tenho".
- Sim, e eu espero que sobreviva a tudo isso. - ele diz de forma pensativa.
- Eu também.
- Só quero que me prometa uma coisa....
- Pode falar.
- Que antes de tomar qualquer decisão importante me comunique. - ele me olha.
- Tudo bem.
- Mesmo que for se jogar daquela sacada.
- Eu... Ta, tudo bem. - digo confusa e com as pálpebras pesadas.
Ele estica a mão até a mesinha na beirada da cama e me da um comprimido.
- Quero que tome isso, vai te ajudar a dormir.
Ele me da o comprimido branco e eu o tomo me deitando sobre seu peito de novo. Não demora muito e eu sinto o sono chegar, sono não, sinto meu cérebro desligar.

   



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...