História Em Hiatus. Cores No Papel. - Um ponto de vista diferente.

P . O . V KADEN [ON]

 

- Hey, garoto, você sabe por que o esqueleto não tinha amigos?

- ... Não. Por que?

- Porque ele era OSSOlitário!

Eu comecei a me contorcer de tanto rir. Percebi até que estavam saindo lágrimas de meus olhos, que logo as sequei, quase sem fôlego. Essa piada NUNCA perde a graça! As vezes até  me pergunto o que estou fazendo da minha vida, como investigador, e não vou logo para o clube de comediantes da cidade. Quem sabe, assim, eu consiga botar comida na mesa todos os fins de semana.

Ei! Isso é uma ideia que ainda está em andamento.

Estava tão ocupado rindo que quase nem percebi o leve puxão na aba da minha jaqueta. Olhei pro lado e percebi que aquele mesmo menino , que estava sentado ao meu lado no banquinho da praça , me olhava com olhos duvidosos. Ué? O que ele queria? Será que ter o prestígio de ouvir uma das minhas piadas INCRÍVEIS já não era glória e orgulho suficiente?

- Quié? – Perguntei fazendo bico.

- O senhor é estranho. – Falou ele, lambendo o seu pirulito – Mamãe sempre diz que não devo falar com estranhos. Eles fedem.

- Ok... Primeiro de tudo, criança: – comecei levantando o indicador – Eu só deixo que me chamem de “senhor” quando essa pessoa é adulta. Se for um bebê que fala isso, eu me sinto o verdadeiro velho que sou, compreendido? – Perguntei, arrancando uma risada do meu pequeno telespectador – , Segundo: As mães não sabem de absolutamente nada. “Faça isso”, “Faça aquilo”... É irritante. – Digo, dessa vez, com um olhar tedioso –, E terceiro, mas não menos importante... : Eu uso o meu perfume da Victoria’s Secret TODO o santo dia, meu queridinho. COMO É QUE ESSA PESSOA MARAVILHOSA QUE ERRADIA UM BRILHO ETERNO PODE FEDER? Isso é algo impossível.

Quando terminei, vi que meu trabalho tinha sido muito bem feito. Os risos desse garotinho me fizeram abrir um sorriso satisfeito. Fazer o quê? Eu posso não transparecer, mas gosto bastante de crianças. Pra mim, a infância é uma fase que deve ser aproveitada até o último momento... E as vezes me culpo por não tê-la aproveitado bem e da maneira... Correta.

E então, nesse meio minuto de silêncio, isso me fez lembrar do motivo em que vim pra cá, pra esta praça...

>> Na cabine de investigações, aproximadamente meia hora atrás...

- Hmm... – Suspiro – Que tédio.

Sabe aquela sensação em que a vida te prende em mil e uma responsabilidades e coisas pra fazer, mas tem preguiça o suficiente para tentar executar algumas delas?

No momento, eu estou nessa exata situação. Depois que a minha... Hmmm... “equipe” de auxílio do caso foi embora buscar o que eu pedi no depósito de lixo, tive que ficar aqui na cabine esperando algum indício de vida humana magicamente aparecer. Nem pra ter uma cafeteira aqui por perto, mas que droga. Já estou farto de ver essa filmagem na minha frente tantas e tantas vezes.

Mas até que o lugar é bem agradável. Escurinho, monitores, Wi-fi, e um leve toque de fragrância de picles no ar. Tenho quase certeza de que o prefeito dessa cidade deve ter feito isso de propósito. Ele é bem estranho por sinal, mas isso foi o que mais gostei em sua personalidade. Tudo o que é estranho e incomum para mim, me agrada. Ser normal é muito chato e patético.

Comecei a brincar com o lápis em minha mesa, com o objetivo de me distrair – o que não estava dando muito certo – quando ouvi um barulhinho vindo do meu bolso. Lembrei de ter deixado meu celular ali, o que não foi muita surpresa quando o tirei de lá. Haviam 18 ligações perdidas, e 798 mensagens de um grupo em que eu fazia parte. Humf... Esse povinho não me deixa em paz.

Logo então, resolvi botar ordem naquilo tudo.

Kaden – Larguem o celular e vão viver a vida de vocês “HOTÁRIOS” – Digitei a mensagem, num tom mais irônico que eu consegui fazer.

Um babaca – Kaden, finalmente você ficou online! – Ri comigo mesmo quando vi o nome que eu coloquei... Ai, ai, nunca perdia a graça.

Trouxiane – Pois é, sumido. Você nos deixou preocupados. Está em um caso novo?

Kaden – Mas é claro que não, sua doida. Eu tô livre, leso e solto em Copacabana... – Respondi bufando. Tem gente que implora por uma resposta grosseira e irônica.

Crush da Trouxiane – Cara, desde que você recebeu o convite do caso para Nova TownsVille, você não dá notícias.Já faz um tempão. Quer que a gente pense o que?

Que povo grudento, oxi. 

Kaden – Vocês não vivem sem mim mesmo... – Ri novamente ao digitar aquilo – Não entendem que eu preciso de um tempo longe de aliens como vocês? E aliás: Como assim “faz um tempão”? Eu vim pra cá faz dois dias apenas. Vocês são o que? Stalkers?

Começaram a cover mensagens de risos, mas é claro que eu não deixava de ter razão. Lembro até de quando todos eles estavam na base de investigação, para se tornarem detetives e policiais. Apesar de eu não fazer parte daquilo, me interessei... E aos 12 anos, resolvi um caso no Japão de assassinatos involuntários, em que já tinha mais de 9 anos de duração. Eu fui reconhecido, e então essas mesmas pessoas – que chamo de amigos hoje em dia – me  chamaram para ir treinar junto a eles. Eu recusei apesar de tudo, decidindo seguir a esta mesma vida sozinho. E por incrível que pareça, ganhei diversos títulos de melhor detetive em casos complexos de Kanto.

Trouxiane – Para com esse chiliquinho, Kaden – Vi a mensagem, logo acompanhada de um emoticon de risos – Mas, mudando um pouco de assunto, como está aí em Nova TownsVille? Conseguiu alguma pista?

Essa mensagem me fez lembrar na missão que eu estava agora. Se bem que esse detalhe não é muito significante, visto que eu ainda não tinha nenhuma base para prosseguir.

Kaden – Na verdade, se eu estiver certo, conseguirei uma em menos de uma hora. – Escrevi e logo enviei, enquanto verificava as horas no relógio do celular.

Vi que ela já estava digitando, mas foi interrompida por outro contato que havia ficado online naquele exato momento. Olhei um pouco mais de perto para ver quem realmente era, mas é claro que foi inútil. O infeliz já tinha digitado muito antes...

Poser de Pokémon – KADEN!

Crush da Trouxiane – Já vai começar...

Tive que rir. O “poser” como o chamo, seguiu a modinha de Pokémon Go e se tornou o maior “Mestre Pokémon” denominado por ele mesmo. O mais engraçado é que o cara não sabe nem ao menos o nome de 3 Pokémon, e vive confundindo um Zubat com o Pikachu...

Isso mesmo: UM PI-KA-CHU.

Kaden – Quié capeta? – Disse já bocejando, mas até que falar com eles estava me distraindo um pouco. Pelo menos... Até aquele momento.

Poser de Pokémon – Saca. Eu tava vendo quais Pokémon estavam mais perto de cada região em que nós estamos, na internet, e por coincidência acabei esbarrando na cidade de Nova TownsVille. Cara! Tem uma horda ENORME de Eevees por aí! Não era esse o seu Pokémon favorito?

- ...

- ...

Um babaca – Kaden?

[...]

- EEVEE, APAREÇA, PELO AMOR DO ARCEUS!! – Gritei, agora do lado de fora da cabine, ouvindo o eco da mina voz. Ninguém estava nas ruas. Parecia uma cidade fantasma. Isso era ótimo! Menos gente da sociedade pra eu aturar.

Comecei a andar mais rápido, esperando encontrar algum Pokémon no radar – especificamente um Eevee – mas só tinham Pigdeys e Ratatas. Meu ódio transpareceu! Chega desses Pokémon inúteis que só servem pra acumular espaço na minha mochila, e pra ganhar XP. Eu não tô pedindo muito, caramba.

- Eeveezinho? – Choraminguei , agora correndo – Eu ainda não tenho você, Eeveezinhoooo...

Andei por mais ou menos uns 20 minutos e nada desse mundiça aparecer. Ok... Um homem as vezes deve aceitar a derrota, e seguir em frente com o que quer que ele tenha ou como ele esteja.

Ou talvez não...

- EEVEE, EU ESTOU TE ESPERANDO COM FLORES E UM VESTIDO DE NOIVA, SEU CRETINO!! – As vezes acho que esse jogo mexeu com os meus neurônios ou algo do tipo...

Parei um pouco perto de uma árvore que havia ali, para ver aonde eu estava. Logo percebi uma praça. Não sei por que, mas ela me pareceu muito familiar. Olhei em volta para ter certeza de que estava sozinho, e a primeira vista parecia que sim. Era estranho como tantas pessoas pararam de andar pelas ruas apenas por causa de um simples psicopata. Ele é tão perigoso assim? Heh... Que irônico.

Comecei a rir sozinho, mas logo parei quando encarei um banco bem próximo aonde eu estava. Nele, estava sentado um garotinho com um pirulito em mãos, o encarrando com uma expressão neutra e sem nenhuma emoção sequer. Parecia que não havia brilho em seus olhos. Afinal... Que pai irresponsável deixou um pirralho sozinho?

Sem escolha, suspirei, caminhando em direção ao menino.

>> De volta ao presente...

Sim. Agora me recordo. Nossa, como o tempo passa rápido! Olhei mais uma vez para o meu celular... Esse aplicativo gasta bastante bateria mesmo. Mas é claro que não podia esquecer do moleque sentado ao meu lado. Espero que ele não tenha feito nenhuma pergunta... Afinal, admito que não estava prestando a devida atenção. O olhei com o canto dos olhos, encontrando mais uma vez aquele olhar triste e sem vida.

- Qual o seu nome, pirralho? – Perguntei , sorrindo. Primeiramente ele ficou meio duvidoso em me responder, mas logo abriu um sorriso feliz.

- Meu nome é Drew. E o seu?  - Falou com a voz meio abafada por causa do pirulito em sua boca.

Me surpreendi por ele querer saber meu nome, logo de cara. A princípio,  o olhei como se fosse algum maluco que havia saído de um hospício, mas logo depois, abri um sorriso tedioso abaixando o meu olhar para o chão.

- Acho que não está apto para essa informação, criança... – Digo fechando os olhos – Não sei se vai entender, mas é melhor que não saiba – Prossegui – vai por mim.

Ele murmurou algo que não consegui entender. Mas foi o suficiente para atiçar a minha curiosidade. Entretanto, antes que eu pudesse abrir a boca para falar alguma coisa, fui interrompido por uma vibração em meu celular. No começo, achei que eram algumas mensagens vindas do grupo, mas logo vi que se tratava de... outra coisa. Arregalei os olhos, me levantando do banco em seguida.

- Eu... Não acredito... – Eu disse com um tique nervoso nos olhos – É... É... É um... – Gaguejei – EEVEE!! É UM EEVEE MEU DEUS DO CÉU!

Ouvi um “Eevee?” atrás de mim, mas não estava nem ligando. Era um Eevee! Ali na mina frente! Dá pra imaginar a felicidade na pessoa?? Quero agradecer ao meu pai e minha mãe por sempre... Ok, isso tá ficando muito estranho, desculpa.

Que estranho... Parece até que acabei de ouvir um “sai da frente” vindo de algum lugar. Quer saber? DANE-SE! Eu tenho um Eevee bem aqui na mina frente!

- Coisa linda do meu coração! – Falei, me preparando pra lançar a Pokébola – HASHTAG CHAMA A LUDMILA E AVISA QUE É HO...

- CUIDADOO! – Bufei em raiva. Será que podiam ficar quietos pelo menos no meu momento de glória? Virei minha cabeça para achar o culpado do barulho, me deparando com três garotas desgovernadas, voando sem controle em mina direção. Ok... Essa é nova.

Pera... Eu disse “na minha direção”?

- AAAAAAAAAAHHHH!! – Disseram as três, cobrindo os olhos.

- ah... – falei com uma gota na cabeça, não demorando muito para eu ser esmagado pelas três canhões vivas.

-Continua...