História Countdown - Elevador

Eu estava lá lendo página por página escrita a mão, as vezes tinha até que estreitar os olhos pois a letra de Dylan era  horrorosa , acho que ele deveria ter tentado a carreira de médico e não de músico, afina que letrinha difícil de entender, parecia que eu estava traduzindo as tábuas do Egito.

Comecei minha leitura da primeira página datada de janeiro de 2015, eu sei que devia adiantar a leitura para o ano que nos conhecemos, mas para mim era fascinante conhecer aquele novo Dylan, que ainda não tinha me visto nenhuma vez em sua vida. Havia dias de extrema felicidade onde ele comentava da família, dos amigos, mas tinha dias onde ele falava das vozes que ouvia, vozes nada amigáveis. Era difícil ler tudo que ele falava sobre sua esquizofrenia, sobre seus medos, sobre seus pensamentos. O diário se tornava muito pesado em minhas mãos nesses momentos.

Eu já estava a horas lendo, acho que era de madrugada quando fui vencida pelo sono. Sonhei com Dylan a noite toda, com ele falando e sussurrando algumas frases do diário para mim, quando acordei aquela manhã tive que limpar as lágrimas que corriam pela minha face. Tinha sido só um sonho, mais com frases reais, frases que Dylan dizia a si próprio todos os dias, ele tinha tanto medo. Medo de tudo ao seu redor não ser real.

Dois dias se passaram e eu tinha que dividir minha atenção entre ler o diário de Dylan que eu já havia lido completamente o ano de 2015 e me encaminhava  apara o ano que nos conhecemos e também usar meu tempo para escrever meu livro e encontrar com Bruno.  Nós tínhamos conseguido manter a promessa de nos ver todos os dias antes de sua viagem para sua turnê, e em uma de nossas saídas mais animadas conheci todos os integrantes da banda que acompanhava Bruno. Foram super simpáticos, apesar de a maioria só querer saber se eu ia ou não matar Scott em meu próximo livro, as pessoas estão obsessivas com esse tema e eu só podia ficar feliz, afinal meu livro era um sucesso, até mesmo com a banda de Bruno, me senti lisonjeada. Até agora nossa discrição era absoluta, a assessoria de Bruno ajudava muito a esse respeito, nenhum rumor sobre nos dois circulava na imprensa, e era melhor assim pois de fato ainda estávamos apenas nos conhecendo.

Essa noite não sairíamos com os meninos da banda novamente, era a nossa ultima noite juntos antes de Bruno ir para  sua tour pela Europa. Meu coração já apertava, pois já tinha me acostumado a sua presença diária, sem falar de seu cheiro, seu sorriso, do beijo, da pegada e de tudo mais. Quando sentamos novamente no Nobu Malibu o restaurante de nosso primeiro encontro que parecia agora tão distante apesar de ter sido só a dez dias atrás.

- Nossa a vista daqui ainda me impressiona. “ falei olhando para o mar”.

- Realmente lindo. “exclamou Bruno enquanto o garçom servia nossa taça de vinho branco.”

- Acho que hoje tivemos sorte, o garçom é maravilhoso, aquele moleque do outro dia não tinha um pingo de educação. “falei depois que o garçom se retirou”

Bruno então sorriu abafado.

- O que foi? “ perguntei sem entender o motivo de sua risada”

Ele então esperou alguns segundos e me respondeu.

- É que o garçom que nos atendeu no outro dia estava atrás de você, e não pareceu ficar nada feliz com o comentário. “ falou com um sorriso mais largo ainda”

- Serio!“ falei olhando para trás e encontrando o olhar do jovem garçom furioso”

-Não se preocupe ele mereceu! “exclamou rindo ainda mais quando eu olhei para o jovem que virou a cara”

- Tenho um inimigo no Nobu Malibu era só o que me faltava! “falei revirando os olhos”

- Ainda bem que não é ele que vai servir nosso jantar, se não eu ficaria seriamente preocupado. “falou fazendo careta”

Nosso jantar seguiu leve, Bruno estava radiante com a chegada da nova tour, eu estava feliz também por ele, mais aquela pontinha de tristeza ainda estava em meu peito, eu não o veria por 2 meses praticamente,  e eu sabia que era tempo demais, que muita coisa poderia mudar entre nós.

- Feche os olhos Liv. “pediu Bruno me tirando de meus pensamentos”.

- Para quê?

- Apenas feche. “ falou dando um sorriso cheio de covinhas.”

Eu obedeci e fechei os olhos devagar.

- Agora pode abrir. “Ordenou”

Quando abri havia uma caixa pequena retangular em cima da mesa.

- Abra por favor “ pediu ele me olhando profundamente”.

Eu sem dizer nenhuma palavra abri a caixinha de veludo preta, dentro dela havia uma pulseira extremamente delicada de ouro com alguns brilhantes.

- Bruno ela e linda. “suspirei”

- Eu queria te deixar com algo que te fizesse lembrar de mim durante esses dois meses que eu vou estar longe,  você é importante pra mim Liv.

-  Eu vou me lembrar de você com ou sem joia Mars.

- Eu sei mais quero que você tenha algo físico para se lembrar de mim, promete que você vai usar?

- Coloque em meu pulso agora e eu jamais tirarei. “ falei doce e ele pareceu gostar”

Ele então segurou minha mão e depositou um beijo suave em meu pulso, logo em seguida fechou a pulseira. Eu então pude observa-la mais de perto, tinha pequenas folhas douradas ornado toda a pulseira, e antes que eu pudesse perguntar ele falou.

- São em formato de folhas de oliva, me inspirei em seu nome na hora de escolher. “falou me fazendo erguer a cabeça para observa-lo”. – Eu sei que nesse momento seria a hora para eu te pedir para temos algo sério, mas...

- Bruno eu entendo, não dar para começar um relacionamento com alguém e viajar no outro dia e passar 2 meses fora, vamos esperar e ver no que dá, quando você voltar essa pulseira ainda estará no meu pulso. “falei para ele dando todo o significado aquele gesto, eu sabia que ele tinha entendido eu estava prometendo esperá-lo, prometendo fidelidade mesmo sem compromisso.”

Fiquei esperando alguma declaração como está sair de seus lábios, mas não veio, ele apenas saboreou minha promessa e ficou calado. Ou seja, eu tinha dado meu atestado de apaixonadinha  otária e ele continuava fechado em seu mundo. Bruno era tão frustrante!

-  Comprei ela ontem pra você, estava ansioso pra te dar, gostou mesmo da pulseira? “ perguntou ele depois de um tempo”

- Gostei mais acho que não fui a única. “declarei seca olhando em outra direção”

Bruno então seguiu meu olhar e se espantou quando viu quem eu encarava. Era a loira da boate, ela nos olhava com um sorrisinho nos lábios. Eu olhei ao redor dela para ver quem era sua companhia mas não tinha ninguém ao seu lado. Ela então para minha surpresa caminhou rebolando até nossa mesa.

- Boa noite. “falou ela com sua voz fina”

- Boa noite. “respondemos eu e Bruno ao mesmo tempo”

- Nossa que bom te ver aqui Bru,  agente não para de se encontrar não é? “ disse arrumando o decote de seu vestido prateado, me fazendo quase vomitar” – Não vai me apresentar para a sua amiga? “ perguntou ela me olhando”

Amiga só se for você queridinha, pensei comigo mesma.

- Ah claro,  Rebeca Collins essa é minha amiga Olívia Muller.  

Tive que limpar os ouvidos, ele realmente me apresentou como uma amiga para essa loira siliconada? O fitei por milésimos de segundos,  até que vi que realmente éramos isso para ele só amigos, eu não era sua namorada e ele não tinha realmente que me apresentar como sendo, e aquilo deixou um buraco no meu coração, pois naquele momento tudo que eu queria era ser apresentada como sua namorada mesmo que fosse uma  mentira deslavada.

Ela então estendeu a mão para mim, a qual eu cumprimentei com firmeza.

- Nossa você é tão linda. “ falou ela com um sorriso enorme nos lábios, ou ela era muito falsa ou era muito burra” –   Você é aquela escritora famosa né? Meu irmão adora seu livro. “ falou ela simpática”

- Fico feliz é um prazer te conhecer Rebeca, também gostou de ler?

- Eu não! “ disse dando uma gargalhada” – Não sou muito de ler, prefiro ir pra academia afinal um corpo é um corpo” 

- E um cérebro é um cérebro. “ falei baixinho e Bruno arregalou os olhos”

- Aham? Desculpe não consegui entender. “ perguntou ela, e definitivamente vi que ela não era falsa só era um poço de burrice e futilidade, olhei para Bruno pensando então é desse tipo de Barbie que você gosta de sair para passar o tempo, me poupe!”

- Nada só disse que você é realmente  muito linda! “ falei dissimulada”

- Obrigada! “falou passando a mão no cabelo” – Nossa que pulseira linda! “ apontou para o meu pulso”. – Nossa parece com pulseira que eu vi na sua casa esses dias Bruno, então era um presente para a sua amiga, que fofo!

Eu então olhei chocada para Bruno ele havia me dito que tinha comprado a pulseira ontem, então como num estalo era óbvio ele ainda estava saindo com a Barbie. Se um olhar matasse Bruno estaria morto naquele momento pois meu olhar era uma metralhadora apontada para ele.

- Desculpa gente mais estou esperando uma amiga então vou esperar na minha mesa para não atrapalhar o noite de vocês, tão lindinho amiguinhos. “ falou ela passado a mão na minha bochecha como se eu fosse uma criança. Essa vadia devia está querendo perder a mão, mais uma e eu não respondia por mim.

- Bru, até mais! “falou ela se inclinando e beijando de leve o canto da boca de Bruno e saindo em seguida.”

Tremendo de raiva eu virei  a taça de vinho de uma vez só. Bruno me olhava com  cautela.

- Liv eu posso explicar...

- Não quero que me explique nada. “ falei fria” – afinal somos amiguinhos lindinhos. “ falei imitando a voz enjoada da Rebeca.”

- Liv  Rebeca esqueceu em minha casa a bolsa no dia da boate, e veio buscar ontem nada demais.

- Sei...

- É verdade se quiser trago ela agora aqui para confirmar. “ falou ele ficando de pé”

- Você mente que nem sente Mars! Pare com seu show quero ir para casa agora! “ falei me levantado e seguindo com pressa para fora do restaurante.

Quando passei na frente de Rebeca ela deu um sorriso enorme para mim e me mandou um beijo no ar. E eu desejei com toda força arrancar o aplique do cabelo dela com minhas mãos. Cheguei no estacionamento e um vento frio passou por mim fazendo todo o meu corpo tremer, logo Bruno chegou atrás de mim.

- Liv por favor, eu não fiz nada!

- Se não fez nada por que ela acha que tem sua permissão para lhe dar um beijo no canto da boca! “ falei explodindo e falando mais alto do que pretendia”

-Foi muito rápido eu não tive como prever, mas eu te juro Liv depois do dia na boate eu nunca mais toquei nessa mulher!

-  Sério Bru! “ falei imitando novamente a voz melosa de Rebeca”

Bruno só revirou os olhos.

- Liv...

- Não explique mais nada eu sou só sua amiguinha, então deixa isso pra lá.

- Você não é só minha amiguinha, você é minha! “ falou me puxando bruscamente para seus braços, e me calando com um beijo voraz que me arrepiava a alma. Ele então perdeu o fôlego e parou o beijo passando a me olhar intensamente! – Você é minha! “ declarou novamente!

- Mas você não é meu! “ falei firme” – Me leve pra casa!

Foi quando vimos um flash, e outro e mais outro.

- Que diabos...

- Vamos logo Liv. “ falou Bruno me cortando e abrindo a porta do carro”

Me acomodei no banco do passageiro  enquanto  Bruno saia rápido do estacionamento.

- Não se surpreenda se amanhã estivermos na capa de algumas revistas! “ declarou ele”

- Como?

- Pela minha experiência acabamos de ser flagrados por algum paparazzi. “afirmou”

- Me desculpe eu não devia ter saído do restaurante daquele jeito chamei muita atenção. “falei incomodada”

- Isso não importa! “ falou sério”- O que me importa é que você não acredita em mim!

Depois disso ficou um silêncio mortal dentro do carro, Bruno estava irritado, eu estava irritada, éramos dois poços de irritação. Eu mexia em minha pulseira distraidamente olhando para  rua tentando com todas as forças não pensar no clima tenso dentro do carro.

- Você prometeu não tirar até minha volta. “ falou ele olhando para a pulseira”

- Eu cumprirei! “ falei seca”

E novamente aquele silêncio se abateu no carro. O caminho até meu apartamento pareceu ainda mais longo, mas quando cheguei foi um alívio. Bruno desceu do carro e me acompanhou até o elevador, eu então o olhei com intensidade.

- Desculpa mais não quero que você suba!

- Olívia eu vou ficar longe de você por 2 meses.

Eu não respondi apenas virei para olhar o elevador que descia até mim devagar. Bruno estava atrás de mim e eu podia ouvir sua respiração de indignação. O Elevador então se abriu e para minha surpresa dei de cara com o Doutor Lopez dentro dele.

- Dr. Lopez ? Boa noite o que faz aqui?

Ele demorou uns segundos para responder.

- Boa noite, que surpresa boa Olívia não sabia que morava aqui. “ falou com um meio sorriso” -  Vim ver um paciente, como ele está acamado tive que vir até aqui hoje, ah olá Bruno .

Bruno apenas o cumprimentou com  um aceno de cabeça. Eu então vi a oportunidade e agarrei.

- Você é sempre tão prestativo com seus pacientes. “ falei segurando a mão do Dr. Lopez,  que sorriu de imediato”

- Que nada Liv, só faço minha obrigação.

Já podia sentir o olhar de Bruno me queimando como se ele tivesse visão de calor, ri internamente tinha alguém virando X-man atrás de mim.

- Hoje Nick me ligou. “ continuou Dr. Lopez." - Me colocou a par de algumas situações, acho que teremos muito a conversar nas nossas  próximas sessões.

- Realmente, estou ansiosa. “falei sem largar a mão do Dr. Lopez”.

- Então te vejo em breve Olívia. “disse se despedindo”

- Muito em breve, boa noite Dr. “ falei a ultima palavra com um tom rouco e meio sexy proposital e estalei meu lábios na bochecha macia do Dr. Bonitão.”

Ele pareceu espantado e depois sorriu o maior sorriso que eu já tinha visto em seus lábios. E eu sabia que eu ia para o inferno, estava flertando com um homem casado e pai de família, tudo para fazer ciúmes em Bruno. Me arrependi logo que larguei a mão de Lopez. Ele se despediu de Bruno que novamente apenas lhe deu um aceno de cabeça. Chamei novamente o elevador.

- Estamos quites? “perguntou ele irradiando raiva”

-  Do que está falando?  " cinismos o seu nome é Olívia pensei comigo"

- Liv da próxima vez que me fizer ciúmes, escolha pelo menos um cara que te dê tesão de verdade, por que isso foi ridículo.

Eu não respondi apenas continuei a olhar para o elevador.

- Não vai me dizer nada? “ perguntou ele áspero”

As portas do elevador se abriram eu entrei a passos lentos e virei para encarar Bruno.

- Minha promessa ainda continua. “Falei apontando para a pulseira, o vi soltar um suspiro de alívio.” - E boa viagem senhor Mars!

Ele não respondeu apenas ficou me olhando até as portas do elevador se fecharem.