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História Fúnebre - Eu posso te tocar?


Escrita por: Wicch e Dyryet

Notas do Autor


(Esse título já está com duplo sentido. O de capacidade e o de permissão.)

Capítulo 2 - Eu posso te tocar?


Fanfic / Fanfiction Fúnebre - Eu posso te tocar?

Tudo começou com essa simples e inocente pergunta.

 

Creio que a nossa curiosidade era diferente, entretanto a pergunta dele respondeu a minha. Sim ele tinha a capacidade de me tocar, mas nunca havia feito antes pois parecia necessitar de uma permissão. Será que era como os vampiros para entrar na sua casa? Ou era simplesmente uma condição auto imposta por educação como ele fazia com todas as demais capacidades?

Não faz diferença.

Se é por educação ou um empecilho maior como uma condição, assenti que sim ele sorriu sem graça.

Era muito estranho achar um fantasma fofo?

Apesar de eu não usar muito essa palavra, achava muitas coisas fofas. Só que eu tenho preferência por coisas… “não fofas”; e o Gasparzinho era o fantasminhas mais fofo do mundo.

 

Ele esticou a mão e desta forma simples nos tocamos.

Senti um arrepio tomar conta de mim; forte ele me paralisou quase que por completo, pegou no finalzinho das orelhas e desceu pela espinha.

Só posso descrever isso como tocar a morte com os dedos.

― Gaspar… você já possuiu alguma pessoa? ― Pergunto ao sentir meu corpo estremecer e gelar por de baixo das roupas, como se estivesse nua em meio a uma nevasca.

Ele era frio.

Não simplesmente frio, mas extremamente gelado. Como se carregasse uma morte congelada com sigo.

― Já… uma vez. Ou talvez duas. Não é muito legal. ― Diz como se tivesse vergonha de ter cometido tal ato, enquanto olhava minha mão admirando cada dedo como se fosse algo único no mundo.

― Por quê? Faz mal de alguma forma? ― Pergunto vendo seus olhos curiosos; ele deslisa os dedos ao meu pulso o apertando e sentindo como se fosse um médico. Achei um ato no mínimo curioso.

― Não. Pelo menos não se… for rápido como faço e sem forçar nada. Já os meus tios…

― Eu sei, eles são famosos em machucar pessoas. ― Assim que digo isso ele me olha como se, se sentisse culpado por andar com criminosos. ― O que tem de mais nisso? Fantasmas têm seus propósitos aqui na terra não? O deles é assombrar. Você tem de achar o seu.

― Faz sentido. ― Diz ao abaixar o rosto e voltar a se retrair, então ponho minha mão sobre sua cabeça como quem afaga uma criança ou um cãozinho.

É algo difícil de descrever.

Toca -lo assim.

Sua cabeça não era macia igual uma bexiga como imaginei que seria, era maciça como um crânio, lisa e escorregadia, mas ao mesmo tempo mole como uma bola de plástico como se sua textura e composição mudassem conforme o que eu esperasse dela.

― Verdade. Você não tem um corpo muito definido não é mesmo? ― Re afirmo e ele apenas condiz.

― Wednesday… ― Murmura envergonhado. ― C-como eu sou?

A pergunta feita me deu uma grande estranheza.

Como ele pode não saber?

Em todos estes anos ninguém nunca o descreveu? Ou era uma pergunta que ele fazia a todos seus amigos mortais?

Pensei um pouco antes de responder o encarando e ele pareceu corar.

― Você parece um bebe. ― Respondi direta e ele pareceu se impressionar com tal resposta.

― Um bebe? Como assim? ― Ficou olhando as próprias mãos e eu quase senti vontade de rir disso.

― Sua cabeça é desproporcionalmente grande, como um bebe. Seu corpo é arredondado e fofo como um bebe. Suas mãos e pés são pequenos e redondos como um bebe. ― Fui descrevendo e ele foi se tocando nas partes que narrava, até parecia aquela dancinha para bebês descobrirem seus corpos, não tinha como não pensar que ele era um bebe fofinho. ― Você tem um nariz arrebitado e redondinho, e olhos estupidamente grandes como os de um gato. Parece até um desenho animado e a sua boca… ― Parei um pouco para pensar como descreveria melhor. ― Parece com um rasgo em um lençol, não têm lábios ou nada, assim como um desenho animado.

Assim que terminei de narrar ele ficou voando de um lado a outro pensativo.

― Está tudo bem? Não quis te magoar.

― Está sim. ― Diz se sentando na cama ao meu lado. ― Eu acredito que… Você seja uma pessoa bem imparcial e detalhista. Wendy sempre que me descreve diz apenas que sou muito fofinho. ― Diz pensativo claramente comparando o que eu disse com as demais descrições que tinha na mente. ― Já o Brasinha assim como meus tios só gosta de me zombar, mas nunca disseram nada contraditório.

― E isso importa? Como você é?

― Não. Eu acho… ― Murmura pensativo. ― Como não posso ver eu nunca liguei.

― Mentiroso. ― Disse ao me levantar e ir até o quarto da minha avó. ― Vem. ― Digo e ele logo surge através de uma das paredes.

Até pensei em tirar uma foto dele, mas por algum motivo diferente dos tios, ele não aparecia nas fotos. Acho que deveria ser uma técnica que ele ainda não dominava.

― O que está fazendo?

― Já vai ver. Acredito que você seja muito poderoso, mas não controla e não usa tamanho poder. ― Murmuro olhando as coisas dela em busca de um livro específico. ― Aqui. ― Digo ao o entregar. ― Se ler isso vai se tornar um verdadeiro fantasma. ― Digo e ele recua.

― Um “verdadeiro” fantasma? ― A forma que ele diz ate parecia um xingamento.

― Se aprender mais técnicas poderá se ver, ou pelo menos aparecer em fotos ou no espelho atrás das pessoas.

― Eu não preciso disso. ― Diz ao atravessar a parede e sumir.

Ninguém merece um fantasma temperamental e sensível.

 

Ele até ficou me evitando.

De toda forma logo a reforma naquela pequena e simples mansão chegaria ao fim e eu voltaria para casa e nunca mais iríamos nos ver. Então me acostumar com sua ausência era algo necessário.

 

Mandei mensagem a Parker Needler, uma amiga que fiz há alguns anos, sobre as últimas atualizações e ficamos conversando sobre trivialidades o restante da semana. E assim que o concerto acabou se iniciou os preparativos do casamento do Feioso.

Todos estavam felizes com a união das famílias, e apesar de tudo estava feliz pelo meu irmão ter encontrado o seu alguém especial para passar a mortalidade.

E como os noivos não tinham gosto pra nada, mamãe e papai ficaram tomando conta de tudo e o casal apenas planejou sua viagem pelo globo.

Os pais do noivo estavam morrendo de medo desta viajem, afinal estariam sozinhos por ai e as pessoas “normais” costumam ser muito perigosas. Mas eles estavam doidos para ir a um Hotel na Transilvânia que era muito famoso, e popular entre os monstros.

 

― Como funciona? Um noivo não pode ver o outro que da azar ou tá liberado se ver? O lance do azar é só em ver o vestido da noiva? ― O tagarela do Espicha não parava de perguntar coisas, e até me da um pouco de vontade de rir do infortúnio do meu irmão querido.

― Está sendo assombrado em seu dia especial. Que sorte. ― O cumprimento vendo que como sempre ele se atrapalhava com a gravata e o papai o ajudava.

― De fato é muita sorte. E ainda é uma assombração de primeira categoria. ― Meu pai responde saudoso. ― De fato já está o tirando do sério.

― Que bom. Fico feliz por você. ― Digo ao me sentar em uma das cadeiras empoeiradas sujando todo meu vestido antigo de gala.

Ele pertencia a minha tia avó e foi com ele que ela se enforcou; pela idade já tinha marcas de traça e levava o desgaste do tempo, uma peça de mais de sessenta anos guardada em um baú velho e mofado tendo um cheiro forte de abandono.

Afinal eu era a irmã do noivo, não podia usar qualquer porcaria; então estava caprichada. Já meus pais estavam com os trajes mortuários de seus próprios pais, tirados de seus túmulos. Todos estávamos caprichados.

― Como estou? ― Me perguntou sorrindo e eu não tinha outra resposta para dar.

Os cabelos louros desgrenhados estavam mais longos e ele já esboçava o bigode de família montando junto de um cavanhaque de respeito.

― Feioso.

Ele riu ao ouvir seu apelido afagando meus cabelos e saindo junto de papai.

 

Caminhei um pouco pelo lugar vendo os convidados chegando e se alojando em meio a cumprimentos elegantes. E fiquei imaginando como seria meu próprio casamento. Como seria a família do noivo? Seria tão diversificada e divertida quanto a “Família Monstro” era?

Um lado meu tinha essa competição com meu irmão, mas seria muito difícil ganhar disso, então dei de ombros me dando como vencida.

 

― Estou a caráter? ― Parker diz ao me surpreender. Trajava um simples vestido preto de gala qualquer.

― É alugado? ― Pergunto seguindo pelo corredor.

― Não. Era da minha mãe… ― Diz meio sem graça e logo chegamos ao quarto dele.

― Então da pra arrumar. ― Digo ao abrir a porta sem bater ou nada. Afinal não teria como ele estar se trocando ou coisa parecida. ― Gaspar. Pode me ajudar aqui? ― Digo ele surge de dentro de uma caixa de brinquedos que tinha ali, ela dá um pulo no lugar, mas logo se acalma.

― P-prazer em te conhecer Garparzinho. ― Sorri amigável e ele corresponde. ― Ouvi falar muito de você. É mesmo muito fofo.

― Me descreveu para ela como fofo? ― Ele pareceu confuso.

― Eu te descrevi da mesma forma de falei com você. ― Conclui e ele pareceu ligar uma lâmpada na cabeça. ― Pode nos ajudar ou não? ― Disse ao apontar para ela, e ele parece demorar a entender.

― Tudo bem. Por favor não se assuste. ― Diz todo tímido e logo desaparece no ar ficando totalmente invisível.

Eu não entendi por que ele fez isso na hora, mas foi simplesmente por que não queria ser visto em uma forma aterradora. E assim cortes e rasgos surgiram nas roupas dela como se tivesse sido atacada por uma criatura monstruosa.

― Pronto. ― Voltou a ficar visível.

― Você é um ótimo estilista. ― Disse olhando o estado do vestido. ― Agora sim está digna de ir a um casamento. Parece que acabou de ser atacada.

― Ficou maneiro mesmo. ― Ela diz se olhando no espelho do corredor. ― Vai ser um arraso não?

― Sim. Não é pra qualquer um vestir um modelo atacado por um fantasma. Só faltou as marcas de sangue.

― Eu não iria machucar ela. ― Protestou e dei de ombros.

― Só disse que faltou. Eu sei como você é mancinho por isso pedi sua ajuda. ― Disse saindo e o deixando em paz. ― Obrigada pela ajuda. Se seu mal humor passar aparece para assombrar a cerimônia.

― Eu “não” assombro! ― Ele grita irritado fazendo eco no corredor de forma a um vento forte tomar o lugar.

 

― Nossa. ― Ela diz espantada tentando arrumar os cabelos que ficou completamente zoneados.

― Deixa assim. Combinou com o vestido. ― Digo ao seguir pelo corredor. ― Ele esconde muito poder… Só não sei por que isso. ― Dei de ombros e ela me seguiu até o lugar da cerimônia.

 

O lugar estava realmente muito arrumado.

Tinham flores mortas e murchas por todo lugar e até conseguiram trazer alguns animais empalhados e corpos embalsamados; a mesa de doces estava podre e o bufe principal fedia muito.

Tudo foi horrendo. Um verdadeiro pesadelo.

Não tinha mesmo como superar isso.
 

Sentei no meu lugar e esperei a cerimônia acabar.

Meu pai chorou como um bebe ao ver o casal azedar a água de coco e sorver.

 

― Toma. Trouxe pra vocês. ― Ele diz meigo ao por um destes sacos de papel na nossa frente e logo ela retira uma destas caixinhas quadradas de sanduíches de fast food. ― Não vai fazer bem comer isso.

― É essa a ideia: passar mal. ― Respondo pegando um dos lanches saborosos. ― Gostei da afronta à tradição. Mandou bem. ― Correspondi e ele pareceu sem graça.

― Eu ainda não entendo. Vocês realmente gostam disso? Invertem a ideologia de palavras ruins por boas. Eu não entendo! ― Murmura se sentando ao nosso lado todo confuso.

― Addams não se explica. ― Ela responde dando de ombros e comendo o lanche. ― Fala sério! Quem compra lance de frango?

― E ainda deixou ela frustrada… está se superando hoje. ― Disse impressionada olhando o restante da sacola. ― Trouxe maçã ao invés de batatinhas?

― Sim? ― Perguntou sem graça, e ela suspirou mais frustrada ainda; e eu adorei isso.

Foi divertido.

O jeitinho de ele voltar a se aproximar de mim, já que foi ele quem surtou e parou de falar comigo. De fato era um fantasma fofo.

Não sei lidar com coisas fofas...

 

― Gaspar. ― Chamei sua atenção vendo que ele olhava a toda cerimônia confuso e um pouco incomodado. ― Antes de partirmos amanhã… Você possuiria meu corpo? ― Digo já esperando uma reação engraçada dele. ― Queria saber como é a experiência.

― Opa! Se não machuca também quero saber como é! ― Ela exclama animada, e ele suspira um pouco desconfortável.

― Tudo bem. Mas… é algo íntimo e complicado pra vocês, não?

― Por que seria? ― Ela pergunta toda animada e curiosa.

― Bem… é uma… possessão não? ― Mas a resposta dele não ajuda nada.

― Faz comigo, descrevo pra ela como é e ela decide depois. ― Concluo calma e ele me olha todo surpreso com minha atitude; mas na real eu só queria aproveitar a chance para ter essa experiência única e sanar algumas curiosidades.

― Certo. ― Murmura. ― Fica como um presente de despedida. Se prepare e relaxa.

― Já estou.

E assim ele fez.

 

A primeira coisa que senti foi um tranco forte no corpo.

Com o que eu comparo isso, para que entenda melhor?

Bem... teve a vez que Parker me convenceu a ir a um parque de diversões. Pense nessa pressão do brinquedo que girava mais o impacto de receber uma onda bem forte, da vez que Parker me convenceu a entrar no mar, e terá praticamente o que senti.

Depois disso foi como estar em um sonho.

O mundo ficou mais turvo e embaçado, e meu corpo formigava de leve. Além disso perdi completamente o controle de tudo.

Me vi levantar e caminhar pela festa, morder o restante do lanche e até dançar.

Foi estranho, não ter controle de nada nem mesmo para onde olhar; mas era algo esperado então não achei nada de mais. A única parte que achei legal foi quando ele se olhou no espelho e os meus olhos estavam completamente negros ao invés do tom levemente rubro com castanho que tinham.

― Está possuindo minha filha? Que presente de amizade divertido. ― Minha mãe comenta ao passar por mim.

― Ela insistiu muito. ― Foi estranho sentir minha boca mexer e responder sem ser eu mesma. Sentir a garganta assim como os músculos e tudo à minha volta, mas não ter controle de nada. Era como estar amarrada dentro de mim e ainda sim sentir.

Como ter um titereiro no comando.

Mas logo ele saiu.

― Como foi? ― Parker perguntou toda animada e logo descrevi para ela. ― Credo. Que agonia! Não quero não!

― Foi o que eu avisei. ― Ele dá de ombros se sentando ao nosso lado novamente.

― Não achei nada de mais. Foi como esperei que fosse, mas valeu pela experiência. E pra você? Como é dominar alguém assim? ― Pergunto e ele volta a “azular” como sempre.

― Você não demonstrou nenhuma resistência, então foi muito diferente do normal. Senti como se o corpo fosse totalmente meu. ― Respondeu tímido como se fosse algo sexual ou errado. Achei no mínimo curioso.

― Interessante.

 

 

Mas o que seria de um casamento Addams sem uma desgraça?

 

Enquanto conversávamos e comíamos, um facho de luz iluminou o lugar, e logo algumas pessoas armadas desceram dando voz de prisão.

Foi realmente do nada.

Todos se assustaram muito e ninguém entendeu nada do que estava havendo ali, porque como sempre as pessoas não faziam o menor uso da lógica; ou se explicavam. Nem mesmo avisavam ou alertavam.

 

“A verdade é que depois que tudo acabou soubemos que a cidade próxima estava de olho nesta reforma no casarão mal assombrado, e assim que o casamento começou os moradores mais próximos acusaram de se tratar de uma seita ritualística e por conta disso já chegaram atacando todos. A desculpa para tamanha violência era por conta dos enfeites e decoração, já que havia corpos e coisas fúnebres espalhadas."

Típico.

Como se fossemos assassinos.

Apenas trouxemos nossos entes queridos para enfeitar o lugar. O que tem de errado ou criminal nisso?

 

Mas não tinha jeito

Eles não queriam ouvir argumentos.

Já haviam nos tachado de perigo e nossa única escolha como sempre era correr.

 

Mas diferente de mim ele não precisava.

Gaspar ficou parado entre os tiros de borracha e as granadas de gaz lacrimogêneo, estático e incrédulo com aquela situação.

Mesmo que ele tivesse o mesmo olhar descriminador para nosso modo de ser, ele jamais acharia correto nos agredir por conta disso. Éramos diferentes mas não criminosos.

― Por que estão atacando? ― Ele perguntava sendo claramente ignorado. ― Esta é uma área particular, não podem invadir. É só um casamento; parem com isso!

A cada ano que passava as pessoas ficavam mais e mais perigosas.

Onde antes haviam tochas e forcados agora havia armas de fogo. E com isso creio que ele sentiu o medo em nossas almas.

 

Foi a coisa mais legal que já vi.

Enquanto o Trio assombro fundia seus corpos para gerar algo gigantesco e horripilante parecido ter saído dos livros de H.P.Lovecraft, Gaspar foi para algo mais semelhante aos contos de uma Creepypasta.

Resultado?

Os invasores correram tão enlouquecidos pelo medo que praticamente se mataram.

 

oOoOoOoOoOoOo

 

Entenda.

Eu não gosto de fazer este tipo de coisa, e jamais vou mudar a minha conduta muito menos quebrar meu código de honra.

Eu “não” machuco viventes.

Mas… tem hora que um bom susto é bem vindo.

Era para ser um susto simples para fazer aquelas pessoas saírem dali, não era para chegar ao extremo que aquilo alcançou. Acho… que me irritei um pouco, e extrapolei na transformação.

 

Calma, não fiz tudo sozinho.

Apenas me juntei aos meus tios demonstrando tudo que já aprendi nestes anos. Mas do “meu” jeito.

E como o planejado no inicio os viventes invasores corriam desvairados largando suas armas, mas logo as coisas saíram do meu controle e eles se tornaram incapazes de raciocinar direito por conta do medo que a criatura que meus “tios” se transformaram e não de mim.

Alguns poucos tentavam atirar inutilmente já que as balas passavam diretamente por nós, mas isso não diminui o perigo de acertar um dos Addams ou dos Monstros. Então fiquei bem preocupado.

Mas diferente dos meus tios eu não passei de caretas, não toquei em um deles sequer.

 

Assim que tudo acabou fiquei olhando aquele estrago.

As balas não eram suficientes para fazer um arranhão na construção em pedra, mas os enfeites do casamento era outra coisa.

Os convidados foram saindo e se cumprimentando, checando se todos estavam bem, olhavam o estrago feito pela equipe que invadiu e logo depois continuaram a festa como se tudo aquilo não fosse nada de mais e ataques como estes fosse algo de seu cotidiano.

Ate ouvi Gomes e Morticia falarem que o ataque do casamento do filho superou o ataque do casamento deles como se isso fosse algo a se comemorar; e logo Wednesday me explicou o obvio: essa era a vida da família, ser perseguidos por serem diferentes e por tanto odiados e temidos. Se eles surtassem toda vez nunca conseguiriam ficar tranqüilos e bem, então simplesmente aprenderam a lidar.

Isso era terrível!

 

Mas...

Fiquei pensando se eu não era um hipócrita, já que os julgava e encarava desde o começo.

Ate já cheguei a pensar que Wednesday fosse perigosa graças aos enfeites em seu quarto e quis a deter. Qual era a diferença para essas pessoas? Que elas acionaram a policia e eu não tenho como fazer isso?

Sim eles eram muito estranhos, mas nada do que faziam podia ser considerado errado ou crime para justificar tal atitude das pessoas da cidade.

A única diferença entre eu e essas pessoas é ter tido tempo para os conhecer...

 

― Muito obrigada. ― A sempre fina e educada Morticia cumprimenta a mim e meus tios com um gracejo e os três coram sem graça.

― Disponha minha dama. ― Espicha responde, enquanto o Gordo vai ver os demais convidados e Catinga a mesa de comida e se os presentes dos noivos não tinham sido estragados.

Mas eu fico olhando o sangue fresco que se espalhava no lugar pintando aquele ambiente preto e branco. Meus tios… eram violentos de mais.

Isso... é que era ser um fantasma de verdade.

E eu simplesmente não queria ser assim.

Pra que machucar os viventes? Qual o propósito disso?

 

― Nossa! Isso foi incrível Gasparzinho! Não sabia que alguém tão fofinho como você podia dar tanto medo! Acho que é o efeito contraste certo? ― A garota se aproxima de mim saltitante e feliz, e com isso mal vejo onde Wednesday esta. ― O que era aquilo? Um demônio? Você assumiu uma verdadeira forma ou você muda pra forma que quiser?

― Eu já disse… ele pode ficar como tiver vontade. ― A Wednesday diz seria como sempre ao se aproximar. ― Mas admito que não esperava isso de você. ― Diz ao me olhar nos olhos e sinto um arrepio estranho me percorrer.

A forma que ela disse aquilo foi... diferente.

― Chifres, garras e dentes costumam assustar qualquer um. ― Resumo tentando mudar de assunto, mas elas não deixam.

― E essa parada alongada tipo o Slenderman também. ― A outra completa. ― Foi muito maneiro mesmo! Principalmente a cabeça toda torta. De onde tirou a idéia?

― Conhece o quadro: O grito? ― Pergunto sem graça e ela faz que sim. ― Tiro minhas idéias de obras famosas.

― Legal. Então o tom de derretimento veio daquele dos relógios? ― Ela faz uma careta pensativa tentando desvendar cada detalhe da minha transformação.

― Isso mesmo. ― Sorrio mais tranquilo com o rumo da conversa.

― Que top! ― Ela da outro pulo animada e não evito sorrir com isso.

― Terror com um toque sutil de arte. ― Mas “ela” comenta me olhando com um olhar diferente. ― Não conhecia este seu lado Gaspar. Gostei. Elegante.

Isso me deixou bem sem graça e não soube como reagir.
 

A verdade é que tenho um histórico no mínimo complicado com garotas, e desde que Wendy virou e falou que não consigo me relacionar com uma menina sem tentar dar em cima; eu ando tentando me segurar.

A caçula dos Addams me cativava mais a cada dia, e nossas conversas eram extremamente agradáveis, ate apresentamos nossos poucos amigos um ao outro.

Eu queria muito a manter por perto... mas sabia que era algo temporário.

 

Com isso passei o resto da festa conversando com elas e tentando fingir não estar… Incomodado? Creio que não seria esta a palavra correta. Eu estava era interessado em saber se ela sentia o mesmo que eu; já que muito provável não iríamos nos ver mais. Mas... eu estava morrendo de medo de ser o cara babaca que nunca quis ser amigo e só se aproximou para “pegar” a garota, como as vejo reclamar passando na frente da casa.

Mas o modo que a Wednesday falava e me olhava estava diferente e estranho; e eu tentava com todas as minhas forças ignorar isso. Pensava: Não. Não entenda errado as coisas, ela só se impressionou por que gosta deste tipo de coisa e achou legal. Não leva para outro lado.

Não seria a primeira vez que estragaria uma amizade legal, pondo “outras coisas” no meio dela. Então fiz uma força e fiquei na minha.

 

E sedo ou tarde a festa acabou, e com isso o pior aconteceu.

Ela se foi com sua família.

E eu sabia que aquilo seria um adeus.

 


Notas Finais


(Sim o fato de seu toque ser frio é referência ao filme que ele morreu de uma doença por brincar na neve, e quando ela fala dos vampiros estou me referindo ao universo do filme: “Deixe-me entrar”, se não viu recomendo, e muito gostosinho e simples. Tbm fiz ele não se ver no espelho por que estava no filme já os tios sim assim como fotos por que é coisa que vejo aparecer em filmes de terror. Logicamente a cerimônia de casamento foi a mesma do filme, e eu quis por uma base legal para o ataque dos tios e lembrar que no filme 2 eles se fundiam para aumentar a massa. Minha teoria é que os fantasmas são muito mais massudos que aparentam e quanto se fundem podem maximizar o tamanho da forma alcançada. Isso nesse universo do Gasparzinho lógico. A pontuação final sobre o comportamento dele é devido aos filmes onde em casa um ele parece se engraçar com uma menina, sendo a prot do primeiro filme e a própria Wendy; tudo bem que a idéia do primeiro filme era ser a Wendy, mas desenhos antigos costumavam só por personagens meninas para ter um interesse e não de forma de amizade pura e fica ai a crítica suave.)


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