Gilson não podia continuar. Além de estar vendendo carne humana, enganava seus clientes que era carne bovina. Ele nunca foi de enganar as pessoas, sempre foi honesto. Foi essa a educação que seus pais deram por pouco tempo. Os pais de Gilson, Josefina e Leobaldo, morreram em um acidente de trânsito, em uma noite fria de sexta. Ele tinha apenas treze anos. Não tinha parentes próximos, só um tio gordo que vivia se metendo em processos judiciais por causa de jogos da internet. Era isso ou um orfanato. Viveu sua vida toda naquele apartamento pequeno e sujo, que onde pisava, tinha uma cueca ou meia suja.
Mas mesmo assim, ele não se abalou. Sabia que, no começo, a vida não é do jeito que queremos. Podia muito bem se dar de coitado para amigos próximos, talvez, até um emprego mais fácil.
Ele sempre se deu de convencido que teve uma infância feliz. O tio gordo, lá no fundo, amava Gilson como se fosse seu filho. Sempre tentou dar o melhor a ele, coloca-lo em primeiro lugar. E conseguiu.
Gilson não ia aguentar mais tempo com essas graves mentiras, ia dar um jeito de fugir dessa, com a ajuda ou não de Roberto.
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