História Crazy Kids - Bem vindos ao Ensino Médio

Cá estávamos nós, com nossos pés quase levitando de tanto que respirávamos fundo. Estávamos há alguns passos de entrar a uma nova etapa de nossas vidas, e cara, isso era muito louco.

Pessoas, muitas pessoas passavam a nossa volta, quer dizer, é o dobro de alunos da nossa escola antiga. Estava eu, ao meio de minhas duas melhores amigas; Pietra e Kaliandra. As duas entrelaçaram seus dedos aos meus e me olharam com um sorriso largo, queria fazer o mesmo, mas havia tirado o aparelho há alguns dias, e sorrir sem aquela estrutura de metal ainda era algo estranho.

Respirei fundo pela última vez e sorri com os lábios comprimidos, soltando uma leve risadinha pelo nariz. Logo levei um tapinha na cabeça.

- Qual é jovens, a escola nem é tão bonita assim, na verdade essa cor da parede já tá meio gasta, sei lá, cansativa talvez? – Disse Luiza, minha irmã mais velha, do último ano. Ela sempre diz que não fica nervosa para voltar às aulas, mas é tudo mentira, eu a conheço melhor que ninguém, quando ela está nervosa, ela fala sem parar. E é claramente o que ela está fazendo agora.

- Deixa a gente curtir esse momento... - Citei, sem mudar meu humor pelo tapa que havia levado.

Luiza apenas sorriu e concordou com a cabeça, meneando-a levemente. Logo, algumas amigas apareceram ali mesmo, no estacionamento da escola, para cumprimenta-la e conversar sobre coisas da qual, segundo ela, eu não poderia ouvir.

Nos entreolhamos e então, soltamos nossas mãos que já estavam tomadas pelo suor que materializava nosso nervosismo extremo. Apoiamos nossas mãos nas alças de nossas mochilas, ficando, indiretamente, na mesma posição. Então, enfim, seguimos nossos passos, combinando-os também. Direita com direita, esquerda com esquerda.

É assim, é sempre assim, sempre foi e sempre vai ser, sempre fomos nós três, sempre. Não ia ser diferente agora, já que passamos as férias falando a respeito do ensino médio, das coisas que estavam por vir, as coisas que nos esperavam nesse ano. Era como estar vivendo um daqueles sonhos loucos que temos quando estamos com febre, é tão real e tão surreal ao mesmo tempo, e, nem sempre tem bons efeitos.

Enfim adentrávamos a escola. Enfim passávamos por aquelas portas duplas e grandes. Enfim cruzávamos os corredores que abrigavam centenas de armários da cor vermelha, que é a cor símbolo da escola.

Já tínhamos em nossas mãos, o número de nossos respectivos armários, assim como suas senhas. Por ironia do acaso, meu armário era exatamente ao lado do pertencente a minha irmã, e na parede a frente do armário de Kaliandra. Já o armário da Pietra era em outro corredor.

- Que droga, meu armário é lá nos quintos dos infernos! – Exclamou ela, batendo seu pé ao chão, irritada.

- São só armários Pie, somos colegas de classe, e é isso que importa. – Disse Kaliandra, tentando acalmá-la.

- Diz isso por que vocês estão coladas. – Insistiu ela, novamente, irritada.

- Ah calem a boca! Estamos no Ensino Médio caralho! – Gargalhei, em um tom um pouco alto.

- Que menina desbocada! – Brincou Pietra, irônica.

- Rebelde... – Prosseguiu Kaliandra.

- Tenham cuidado com ela! – Pietra gesticulou algo quase indecifrável, mas foi engraçado.

Meus ouvidos foram tomados pelo som estonteante do sinal tocando, alertando-nos que já era hora de irmos para a sala. Coloquei rapidamente meus materiais no armário, deixando em mãos somente o livro e caderno da matéria atual, além do estojo.

Caminhamos até a sala de aula, que era um tanto espaçosa, sentamos totalmente separadas, ao meu lado, sentava um garoto branquelo, com os cabelos castanhos escuros, os olhos azuis e várias sardas em sua face. Do contrário do que eu pensava, estavam todos em repleto silêncio, havia 1 ou 2 grupos no máximo conversando. O resto estava em uma tensão de nem olharem-se no rosto um dos outros.

Um professor, jovem, aliás, com os cabelos castanhos, de comprimento até o ombro e uma barba por fazer, adentrou a sala, ele usava uma camisa preta e uma calça jeans rasgada nos joelhos. Apresentou-se como Peter Rumancek.

Olhei de relance para o outro lado da sala e avistei uma Kaliandra se mostrando um tanto interessada com o professor. Ela me viu e sorriu discretamente, erguendo uma sobrancelha.

Ele era professor de filosofia, e era um tanto extrovertido, fez com que todos da sala apresentassem-se e dissesse algum fato sobre sua vida. Meu lugar era ao lado a janela, o que não contribuiu, já que vivo a viajar no mundo da lua com coisas insignificativas. E, chegou a minha vez de dizer meu nome. E um fato. Minha timidez não me permitiu falar muito.

- Monique. Tenho medo de aranhas... – Disse, rapidamente sentando-me em meu lugar novamente.

...

Enfim era intervalo, e estávamos sentadas na escada que dava acesso as salas do terceiro ano.

- Finalmente, boys mais velhos... – Citou Pietra, sorrindo de uma forma maligna. Apenas revirei os olhos.

- Gente, olha aquele carinha todo indie ali... – Kaliandra referiu-se a um garoto alto, bem alto na verdade, da mesma forma, magro, com a pele clara e cabelos louros escuros. Seus olhos eram entre um tom de verde e azul, caramba, todo mundo tem olhos claros aqui? Quer dizer, só ao meu redor tem duas garotas de olhos claros!

- É um cigarro no bolso dele? – Instigou Pietra, falando baixo.

- Isso é sexy tá? – Defendeu Kaliandra.

- Super. – Ironizei.

As duas estavam enlouquecidas, pois haviam realmente alguns caras bonitos nessa escola, mas eu não estava conseguindo prestar atenção em garotos  no momento. Estava mesmo, interessada nos clubes, xadrez, teatro, musica...

Nem me toquei que havia terminado de comer a pequena barra de Kit Kat em minhas mãos, quase mordi meus próprios dedos. Resolvi levantar da escada para levar o papel da embalagem até o lixo um pouco a minha frente.

Ao virar, de volta a escada, me esbarrei em alguém.

- Olha por onde anda tampinha! – Disse a figura alta em minha frente, levantei meu rosto para averiguar, tratava-se de um menino alto com os cabelos castanhos escuros e olhos de mesma cor.

- Foi mal. – Desculpei-me, baixinho, tentei andar novamente mas o mesmo me bloqueou, me encarando com os olhos semicerrados. – Qual é?

- Cara, você é a irmã mais nova da Luiza não é? – Perguntou, já com a resposta em mãos, apenas.

- Correto.

- Cara! Vocês são iguais! – Ele sorriu. Fez-me engasgar, iguais? O garoto deve ser míope.

- Não temos nada a ver.

- Claro que tem, com esse seu cabelo ruivo... Vejamos que a genética é boa... – Sorriu de canto ao mesmo tempo que piscou seu olho.

- Isso foi um flerte bem sem noção. A propósito, isso é vermelho cereja, e não ruivo. – Apontei para o meu cabelo.

- Você é bem marrenta... A propósito, meu nome é Shawn, bem vinda ao ensino médio gatinha... – Ele Estendeu sua mão, o cumprimentei por educação. – A gente se vê.

- Falou. – observei ele acenar uma espécie de tchau.

Voltei para a escada e Pietra estava com o cenho franzido.

- O que foi agora? – Perguntei.

- Que garoto lindo! Sorte a sua que ele veio puxar assunto. – Disse ela, com os olhos brilhando.

- Ele só perguntou se a Luiza é minha irmã...

- Sorte a dela então.

Sentei-me na escada novamente, soltei um suspiro e logo todo aquele nervosismo que eu senti, transformou-se em tédio. É... Bem vindos ao ensino médio.