História Criança Perdida - Capítulo I

Criança Perdida – Capítulo 01.

John

Cinco meses haviam se passado desde o sumiço de Eleanor e o resgate de Joseph. Ninguém sabia que Eleanor poderia estar viva. Sei que não foi correto manter isso em segredo, mas ela não sabe se poderá voltar. Vou à floresta duas vezes na semana para deixar comida. Não sei como ela está, se ainda é a mesma criança. Ela não quer a ajuda nem a interferência dos outros. Pelo menos por enquanto. Ela nunca falou comigo depois que entrou naquele carro, mas é fácil interpretar os sinais. Se ela está se escondendo, tem um motivo e não quero atrapalhar os seus planos.

Hoje é noite de sábado e também o segundo dia escolhido por mim para deixar algo para ela comer numa caixa de madeira escondida na floresta. Dirijo pela rodovia estadual como sempre faço, mas dessa vez não estou usando o uniforme da delegacia nem nada parecido. Chego ao local de sempre e desço da caminhonete com uma pequena sacola em mãos. Está frio, muito frio. Uma forte tempestade se aproxima. Busco pelo isqueiro nos meus bolsos e pego um cigarro do maço que sempre guardo no porta luvas. Coloco uma lanterna no bolso do casaco e finalmente fecho a porta para acender o cigarro. A sensação quente é reconfortante e me sinto um pouco melhor.

Entro na mata aberta por uma pequena trilha. A mesma que os mochileiros usam para desbravar essa localidade e sigo meu caminho com um cigarro na boca e a sacola na mão direita. Quando vejo a caixa de madeira, ela está aberta. O que é muito estranho porque isso nunca aconteceu antes. Será que ela esteve por aqui antes de mim? Será que Eleanor não está bem e sente tanta fome que veio me procurar antes da hora? Encaro a escuridão ao meu redor e mesmo com a ajuda da lanterna, não sou capaz de enxergar nada além de árvores imensas, mato seco e morcegos voando. Agacho-me perto da caixa e tiro três pacotes de biscoitos, um sanduíche e waffles caseiros feitos pela secretária da delegacia. Fecho a caixa e quando estou me preparando para sair, uma chuva forte começa a cair e relâmpagos brilham no céu. Inclino o meu chapéu para frente e começo a andar para fora da floresta, porém um ruído diferente chama a minha atenção.

Paro de andar e olho em volta mais uma vez. Não vejo ninguém, mas o som que antes parecia o de o um pequeno animal assustado transforma-se claramente num choro de criança. Os soluços fracos e entrecortados se misturam ao lamento de alguém que não consigo ver.

— Quem está aí? Pode aparecer! – grito para a escuridão e ninguém responde. — Não tenha medo. Sou o delegado da cidade. Eu posso te ajudar. – continuo.

Ligo a lanterna não me importando mais se ela pode queimar com a chuva. Vejo uma criança. E a menina está a poucos metros de distância. A garotinha misteriosa de vocabulário limitado e grandes poderes.

— Eleanor?!