1. Spirit Fanfics >
  2. Crisálida >
  3. Impulso

História Crisálida - Impulso


Escrita por: meizo

Notas do Autor


Uma ficzinha pra homenagear esse anime que estou amando tanto. <3

Capítulo 1 - Impulso


 

 

Repousei o olhar sobre a foto de Victor de quando ele ainda estava com saúde e senti algo pesar dolorosamente no peito. Os olhinhos vivazes, o pelo macio, a cauda que se mexia enérgica toda vez que se aproximava de mim. Eu daria tudo pra ter tido um pouco mais de tempo com ele. Talvez fosse isso que mais doesse em mim dentre todos os arrependimentos que eu carregava comigo. E era por isso que desde que voltara pra casa, eu visitava o altar da família ao menos duas vezes ao dia.

Na minha vida nunca aconteceu algo espetacularmente bom. Na verdade, tudo tendia a dar errado. As vezes mais, as vezes menos, mas sempre errado. Alguns poderiam dizer que esse pensamento é um exagero, que estou dramatizando ou coisa assim. E ainda diriam que sou um exemplo a ser seguido, pois sou esforçado e fui atrás do meu sonho de patinar profissionalmente mesmo tendo tão poucas chances.

Pura besteira.

Quando a minha primeira e única paixão avisou que se casaria com meu outro amigo e que, inclusive, estava grávida dele, a primeira ação que consegui tomar foi procurar um motivo para me afastar daquela cidade. O nível do meu desespero foi tão forte que consegui vaga numa universidade fora do país em pouquíssimo tempo.

Não me entenda mal, claro que amo patinar, mas naquele momento fiz essa decisão por pura e plena covardia. Não estava preparado para encarar e muito menos conviver com os resultados da minha falta de coragem. Contudo, houve complicações quando informei a minha família que sairia do Japão. Acabei só indo quando Yuko e Takeshi já tinham se casado e as trigêmeas, nascido.

Lá eu me esforcei e treinei para ficar em pé de igualdade com meu ídolo, mas foi decepção atrás de decepção. Por mais focado que eu estivesse na patinação, não consegui ignorar por completo a tristeza que estava em mim, o que acabou explodindo em ansiedade um pouco antes do dia da competição. Comi tudo o que não devia, contribuindo pro meu aumento de peso que sempre lutei contra. E pra completar, algumas horas antes da minha apresentação, recebi a notícia de que Victor tinha falecido.

A vontade que tive quando soube disso foi de abandonar tudo e me esconder no quarto até cansar de chorar ou esquecer meu próprio nome. Entretanto, mesmo assim me apresentei. Ainda não sei de onde consegui força suficiente para esse feito. De qualquer forma acabei em último lugar e de combo ainda fui intimidado por alguém oito anos mais novo do que eu num dos banheiros do estádio.

Meu ânimo estava tão negativo que quando o próprio Victor Nikiforov sugeriu uma foto, eu não consegui aceitar. Não sei que tipo de expressão ele fez, pois não consegui encará-lo o suficiente. Mas não foi aí que resolvi ir pra casa. Não, eu ainda tentei mais algumas vezes. Houve outras competições nas quais fui desclassificado em todas.

De fato, fiquei no fundo do poço.

Voltei pra casa depois de concluir a faculdade no quinto ano e embora não sentisse mais vontade de chorar como antes, entrei em um constante estado de melancolia. Ainda me culpava por não ter estado aqui nos últimos dias de vida dele, mas não havia nada que pudesse fazer para compensar. Naquela noite, todavia, tive um sonho onde eu deslizava pelo rinque sem emoção alguma até que percebi que Vi estava na plateia latindo animado para mim, como se dissesse: “vá em frente”.

Acordei chorando, mas dessa vez me sentindo motivado. E quando, mais tarde naquele dia, vi na televisão Victor se preparando para a final, tomei coragem para fazer uma coisa que vinha planejando intimamente mesmo antes de concluir a faculdade. Eu amava patinar, disso nunca duvidei, entretanto precisava reencontrar a verdadeira força de vontade em mim e com isso em mente, fui para o castelo de gelo de Hasetsu. Eu queria, ou melhor, eu precisava parar de fugir. E se para isso fosse preciso admitir para Yuko que sempre gostei dela, eu faria.

A princípio planejava contar como me sentia por ela depois de apresentar uma performance de “Fique sempre perto de mim”, mas fui interrompido pelas trigêmeas. Não, isso não me abalou como eu imaginava que me abalaria. Afinal, ali sendo circulado pelos membros da família Nishigori dizendo que me apoiariam sempre, não tinha como ficar para baixo.

Ao interpretar os passos de Victor foi como se eu relembrasse o porquê dele me encantar quando o vi pela primeira vez na televisão. Voltei para casa desejando competir novamente e dessa vez eu não iria por estar fugindo da realidade, mas sim porque eu queria, com todo o coração, conquistar meu espaço naquele meio. E também pra poder alcançar finalmente aquele que sempre estimei no rinque.

— Você sabe que está sorrindo, Yuri?

A voz que me despertou dos devaneios era da minha mãe. Só assim percebi que ela parecia estar sentada ali do lado há um bom tempo. Ela me olhava com um pequeno sorriso gentil nos lábios, passando a mão por minhas costas.

— Estou realmente feliz de você estar em casa, filho, mas saiba que caso queira continuar patinando, tem meu total apoio. Seu pai pode não ter falado muito, mas bem que ele guarda todas as revistas que apareceram falando sobre você. Por isso, Yuri, siga seus sonhos.

E ali estava a sensação de ser acalentado. Eu sabia que todos na minha família também me apoiavam, embora essa informação das revistas tenha me surpreendido um pouco. Até minha irmã com seu jeito desinteressado já tinha dito que me apoiava.

— Obrigado, mãe.

Com o coração bem mais leve retornei para meu próprio quarto e fiquei sentado no chão observando os tantos pôsteres de Victor que foram colados pelas paredes. Eu não sabia muito bem como faria para continuar patinando agora que tinha dispensado meu técnico, mas eu estava com minha vontade renovada e iria adiante.

Meu celular soltou um bip de mensagem recebida e quando fui olhar o que era, quase tive um infarto. Um vídeo da hora em que eu estava interpretando Victor foi postado no youtube e já tinha tantas visualizações que, logo após desligar o bendito aparelho, tombei na cama. Se eu fosse uma avestruz provavelmente estaria com a cara enfiada em algum buraco na terra, mas como era um simples humano precisei me contentar com a proteção que um cobertor sobre a cabeça podia oferecer.

Somente voltei a acordar no dia seguinte com batidas insistentes da minha mãe na porta, mas a vontade de sumir por completo ainda estava ali e eu fiquei me remexendo na cama por vários minutos. Certamente depois daquele vídeo o mundo todo devia ter descoberto o meu lado otaku sobre Victor. Como eu poderia sair e encarar as pessoas agora?

— Saia logo desse quarto e venha nos ajudar, Yuri. Acumulou neve na entrada durante a noite e alguém precisa limpar. — a voz soou abafada através da porta, mas não deu pra fingir que não tinha escutado.

— Certo, estou indo. — respondi bem contra vontade.

Ainda me demorei um pouquinho ali no conforto da cama, mas sabendo que se demorasse mais do que uns poucos minutos minha mãe voltaria para bater na porta uma terceira vez, me arrumei e sai. Estava sentado na cozinha, comendo a comida que já estava um pouco fria dada a hora que vim me alimentar quando minha irmã surgiu na soleira com seu habitual cigarro nos lábios.

— Achei que mãe não gostasse de ter o cheiro de cigarro dentro de casa.

— Eu não vou sair pra fumar com essa neve toda aí fora. — retrucou, se sentando ao meu lado e roubando uns rolinhos do prato na mesa. — Ah, e hoje chegou um estrangeiro bonitão com um cachorro bem parecido com o Vi. Ele é tão animado quanto, até.

Contrai as sobrancelhas, um pouco curioso com essa descrição. Estava prestes a perguntar qual o nome do visitante quando um cachorro idêntico a Vi, só que sendo consideravelmente maior, chegou latindo animado e pulou em mim, começando a me lamber o rosto.

Espera, aquele não poderia ser quem eu estava imaginando que era, não é?

 

 

 


Notas Finais


Não vai seguir a risca o anime, como devem ter percebido. Vai ser curtinha e focada em romance, então estejam avisados.

Atualizo quando der~


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...