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História Crisálida - Receio


Escrita por: meizo

Notas do Autor


Nhaaa... Há quanto tempo!

Capítulo 3 - Receio


 

 

— E-eu... Japonês... — a minha mente estava em polvorosa. Eu sou um homem japonês absolutamente dentro dos padrões normais, então óbvio que ficaria sem jeito com todo aquele contato. Vestindo a primeira camisa que meus dedos alcançaram, subi na cama. — Está na hora de dormir!

Victor me encarou como se não entendesse meu comportamento, mas não me prendi nesse detalhe. Pedi que ele apagasse a luz antes de se deitar e virei para a parede, me cobrindo rapidamente.

— Bem, continuaremos amanhã. Ainda tem muitas coisas que preciso saber como seu técnico... — pude ouvir seus passos se afastando em direção ao interruptor da luz e depois o som dele voltando para o futon. — Ah, e antes que eu me esqueça: costumo dormir pelado.

Pelado? Prendi a respiração chocado, mas como estava virado para a parede não teve como Victor ver minha expressão. Será que era comum aos russos? Dormirem pelados mesmo morando naquela terra gélida? Ok, esse era o tipo de coisa que eu preferia não ficar pensando.

Fiquei um tempo olhando para o nada, deixando a realidade cair em mim aos poucos. Quer dizer, era tão inacreditável que Victor tivesse vindo para o Japão apenas para me treinar que parecia que a qualquer instante a fantasia ia se desfazer e eu ia acordar de um sonho bom. Porém, diferente da minha cabeça que custava a acreditar, meu coração batia louco no peito pelas novidades. Por mais que ficasse pensando que Victor estava ali apenas por puro capricho, eu mal me aguentava de tanta felicidade percorrendo meu corpo.

Custei a dormir com a expectativa do que aconteceria no dia seguinte e quando amanheceu acordei mais cedo que o normal, ficando admirando Victor e Makkacchin deitados no futon ao lado da minha cama. Naquele dia começamos uma nova série de exercícios para que eu perdesse peso, além de uma nova dieta onde o katsudon era apenas uma lembrança distante. Não posso dizer que não sofri com as primeiras semanas. Afinal, nem entrar no rinque eu podia enquanto não chegasse perto do meu peso ideal.

 Mas também não foi de todo ruim esse tempo sem patinar, pois enquanto treinava e fazia corridas pude conhecer e conversar um pouco mais com Victor. Também o levei para fazer turismo pela cidade e tirar foto com tudo o que ele achasse interessante. Estava tudo indo muito bem até que Yurio veio também para Hasetsu.

Não, eu nunca o odiei. Para ser sincero, acredito que não tenha alguém que eu odeie de fato. Contudo, a chegada da fada russa me afetou bastante. Vendo Yurio interagindo com Victor tão naturalmente não pude deixar de perceber que estava me sentindo especial demais durante essas semanas quando, na verdade, ainda nem conseguia me sentir confortável na frente da minha inspiração. Então a minha autoestima, que já não era tão alta, desceu como um corpo em queda livre. Os pensamentos negativos que eu vinha tentando ignorar voltaram com toda a força.

Será que havia um motivo por trás da decisão de Victor em se tornar meu treinador? E se fosse somente um passatempo? E se ele se cansasse de mim? Ou se eu não correspondesse as suas expectativas? Yurio parecia uma opção tão melhor para um treinador como ele... Alguém que é confiante ao ponto de afirmar que vai ganhar o grand prix na primeira vez no sênior certamente deve estar mais ao nível do atual campeão da patinação artística masculina.

Grunhi me sentindo afetado pelos meus próprios pensamentos e saí de casa, fugindo para o castelo de gelo. Precisava de um tempo para reorganizar o que sentia. Yuko sorriu pra mim quando cheguei e foi quase como se ela soubesse o que eu pretendia. Poucos minutos depois estava no rinque deslizando sem rumo. A minha mente voltou para o momento em que Victor decidiu que faríamos uma competição. Uma sensação inquieta se instalou no estômago só de pensar no que me esperava. Yurio era tão novo, mas tão cheio de talento. Perdi as contas das tantas vezes que ouvi falar de seu belíssimo desempenho antes mesmo de ingressar no sênior.

Entretanto, mesmo não nos achando no mesmo nível, eu não queria desistir. Não agora que tinha reencontrado minha paixão por patinar. Não agora que tinha feito, de alguma forma, Victor olhar para mim.

Levantei do gelo (quando foi que eu me sentara?) me sentindo menos ansioso do que quando chegara ali. Passar um tempo no gelo sempre me ajudou a me acalmar.

— Yuri!

Girei o pescoço na direção do chamado e vi Victor na saída do rinque com um sorriso pequeno nos lábios. Segui para lá me perguntando o que ele fazia ali.

— Victor? E o Yurio, onde está?

— A fadiga da viagem fez ele ir dormir mais cedo.

— Ah. — desviei dos olhos azuis para meus pés. — E o que faz aqui?

Victor manteve o sorriso, inclinando ligeiramente a cabeça para o lado.

— Vim te buscar.

Um calor novo aqueceu meu peito e embora não tenha entendido de imediato, foi uma sensação boa. Assenti desajeitado e sai apressado do rinque para tirar os patins. Só o fato de Victor ter ido ali para me buscar já me deixara mais animado.

Despedi-me de Yuko, que estava com uma estranha expressão de alguém prestes a desmaiar, e segui com Victor pelas ruas frias de Hasetsu. Caminhamos em silêncio por uns bons minutos até que ele resolveu iniciar uma conversa. O silêncio não tinha me deixado desconfortável. Na verdade, tinha aproveitado esse tempo para pôr mais alguns pensamentos em ordem. Então quando a voz de Victor alcançou meus ouvidos fiquei um pouco surpreso.

— Você está bem, Yuri? Desde que Yurio chegou você parece estar para baixo.

— Hã? — minha preocupação tinha ficado tão óbvia assim? Levantei o olhar para o céu noturno, respirando fundo antes de responder. — Estou sim.

Senti ele esquadrinhar meu rosto a procura de sinais de mentira, mas era a pura verdade. Agora eu estava bem. Por mais que minha autoestima me deixasse para baixo em muitos momentos, a vontade de vencer também estava ali. Meio contraditório, eu sei. Porém era assim que consegui chegar a uma conclusão. Eu não queria que Victor fosse levado de volta para a Rússia e se para isso eu precisasse competir com Yurio, assim eu faria.

Por fim Victor bufou, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.

— Yurio pode ser agressivo as vezes, mas é um bom garoto. Não se sinta intimidado por ele.

Isso eu já tinha percebido naquela manhã quando fui claramente subestimado por ele. E também na vez que ele me intimidou no banheiro. Contudo, agora que estava mais recomposto e com uma vontade quase sólida de vencer, eu não seria intimidado tão facilmente.

— Eu sei. — respondi lembrando da carinha de Yurio ao provar katsudon e de como o achei fofo na hora. Foi ali que percebi realmente a idade dele.

Meus pensamentos analíticos ficaram estranhamente embaralhados quando Victor deu um sorriso mais aberto, envolvendo meus ombros com um dos braços. Ao que parecia ele gostava muito de me abraçar e embora eu não fosse muito acostumado a esses gestos, não conseguia afastá-lo.

— Vamos dormir juntos hoje, Yuri? — perguntou na maior naturalidade.

Pisquei rápido.

— Claro que não!

A risada gostosa de Victor preencheu o ar frio noturno que nos envolvia e quase me senti tentado a ceder quando ele me veio com um "tem certeza?". Porém, fui firme em resistir a sua carinha de cachorro sem dono. A cada dia que se passava eu conhecia mais e mais lados daquele patinador russo que sempre admirei. E por mais estranho que possa parecer, eu não conseguia parar de desejar conhecer mais e mais dele.

 

 


Notas Finais


Acho que o próximo já será o último se tudo sair como imagino, bjão


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