História Cristais de Sangue - Pequeno Inferno

Capitulo 1 

Quando Hinata acordou, Sasori já não estava na cama e não havia mais sinal dele no quarto. Respirou fundo e esfregou os olhos.
Já devia ter passado do horário do almoço, então ela iria precisar ligar para o serviço de quarto se quisesse pedir alguma coisa para comer, por enquanto não sente fome.

Ainda que acordada, permanece deitada na cama olhando para a janela a sua frente, com o olhar vago e reflexivo. Como fora parar ali? Como deixou sua vida tomar esse rumo desgovernado e desabar na ribanceira? O momento em que seu pai anunciou os planos que tinha em mente para ela permanece gravado a fogo em sua memória, os exatos segundos que ela preferiu calar e consentir do que dar o peito a tiro, depois daqueles segundos ela não era mais ela, virou a metamorfose daquilo que as pessoas queriam dela, sempre agradando todos.

Seria muito ingrata se reclamasse da condição de sua vida; mas reclamava do meio que proporcionou isso a ela, a máfia- uma coisa asquerosa e pegajosa, que vai se envolvendo em seu corpo como uma sucuri, causando asfixia pelo deslumbramento de ganho rápido e pela corrupção, tomando conta do controle e te levando para um caminho sem retorno, onde tudo é em nome do dinheiro e do prazer, um estilo de vida fácil que custa caro, um jogo, onde a astúcia, audácia e o sangue frio precisam estar sempre em fusão. Praga. 

Caso não fosse pela máfia, hoje não estaria casada com Sasori e ainda teria contato com a família. Não que o casamento fosse um martírio, mas não era como ela sempre sonhou ou imaginou quando era mais jovem. Nada é como pensamos e sim, como vemos. 

Mesmo sem vontade, resolve levantar da cama e arrastar os pés até o banheiro. As paredes claras e a forte entrada de luz deixam o ambiente ofensivo aos olhos. Com a cara franzida, ela busca pela escova de dentes e pelo resto dos acessórios que utiliza em sua higiene matinal.

Após seu ritual diurno, ela segue para o closet e busca por uma peça de biquíni e um vestido solto para poder vagar pelo hotel, " de forma decente", como diria Sasori. Coloca na bolsa tudo o que irá precisar fora do aposento e resolve não procurar pelo marido, com certeza, ele deve estar em alguma reunião ou encontro de negócios. 

Assim que abre a porta para se retirar do quarto, tromba com Yakumo, a secretaria de Sasori. 
- A senhorita está de saída? - a moça questiona, franzindo o cenho. 
- Não pretendia passar o dia no quarto... Sasori disse alguma coisa a respeito? - Hinata responde com receio da resposta.
- Não, só mandou algumas instruções para a senhora sobre o dia e eu iria informa-las lá dentro. - Yakumo expõe um dos seus típicos pequenos e forçados sorrisos.
A Hyuuga não responde, apenas abre um pouco mais a porta e dá passagem para a secretaria, que entra sem hesitar.
- Quais foram as instruções? - Hinata deixa a bolsa no pequeno sofá perto da entrada e cruza os braços.
- Ele pediu para a senhora informar se quiser sair do hotel durante a tarde e se isso ocorrer é para a senhora voltar antes do entardecer; se a senhora sentir fome para utilizar o serviço de quarto ou algum restaurante a parte do hotel; se pretender comprar algo utilizar o cartão de crédito que ele deu, pois o dele está com ele; voltar para o quarto antes das 18 horas para se preparar para o encontro dos chefes que acontecerá às 21 horas; o motorista estará te esperando as 20 horas para levá-la ao local do encontro; evite um atraso para não passar a imagem de uma anfitriã ruim; use o colar que ele lhe comprou e tenha um boa dia. - Yakumo amaça o papel com as instruções do marido. 
- Sabe quem virá para o encontro? 
- Os mesmo de sempre, senhora. 
- Meu pai virá? 
- Eu tenho os Hyuugas confirmados, mas não posso dar uma certeza, até porque ano passado o senhor Hyuuga não compareceu.
Hinata permanece em silêncio, nutrindo as esperanças da vinda do pai ao encontro. Este ano irá fazer dois anos que ela não tem contato direto com a família. 
- Onde os convidados irão se hospedar? 
- Aqui mesmo.
- Me avise se meu pai aparecer.
- Pode deixar, senhora. 
As duas se dirigem para a porta, porém, no corredor tomam rumos diferentes. Hinata para em frente a
porta do elevador e olha para seu reflexo distorcido. Ele virá, um líder não pode ficar ausente por muito tempo dessas reuniões, se não vier por livre vontade, será forçada. 
                                 ***
Las Vegas atinge o seu ápice na temperatura e faz seus visitantes terem a sensação que estão derretendo. 

Hinata protege o rosto com o chapéu que usa e a pele com o protetor solar de um dos fatores mais altos. Estirada na cadeira, ela tem a visão do pico de Luxor, volta a fechar os olhos. 

Ali é seu pequeno inferno. 

- Aposto que acabou de acordar. 
A Hyuuga olha para o lado a fim de identificar a pessoa, embora já tenha uma ideia pela voz. 

- Ten Ten? 
- Estava esperando outra pessoa? - Ten Ten ergue uma sobrancelha e termina de se ajeitar na cadeira ao lado. 
Na verdade, ela não esperava por ninguém, muito menos pela mulher do primo. 
- Neji está por aqui? - Hinata questiona, olhando pela piscina a procura do parente. 
- Ele está com Sasori e mais alguns participantes da reunião. 
Se Neji está aqui, isso significa que seu pai não virá e mandou o primo para representá-lo. 
- E o meu pai? 
- Se pai mandou o Neji em seu nome este ano, para os Hyuugas não darem como ausentes.

Por que ela não se espanta?

Hinata senta na cadeira e encara Ten Ten com um sorriso, sem tardar em envolvê-la com os braços. 
- Quanto tempo. - comenta.
- Você que casa e some.
As duas riem e se separam. 
- Nada de sobrinhos? - Hinata ergue a sobrancelha e volta a deitar. 
- Ainda sou muito nova para virar uma bola. - Ten Ten protesta. 
- Mas é mais nova que se consegue perder o peso mais rápido. - Hinata rebate. 
- Acabei de conseguir chapar minha barriga e não estou afim de perder isso tão rápido, e o Sasori não quer filhos? 
- Vamos fazer três anos de casamento ainda.
- E por acaso para ter filhos precisa de um tempo mínimo de casamento? 
- Pra mim, sim. 
Ten Ten ri. 
- É, sua mãe estava certa, será difícil sair um herdeiro daí. 
- Nem começa com as reclamações da minha mãe. - Hinata resmunga. 
- Vai pra festa? - Ten Ten muda de assunto antes de reviver nervos passados. 
- Sou mulher do anfitrião.
- Que bom saber, estava na dúvida sobre ir. 
- Não é nada de negócios. - Hinata dá de ombros. 
- Mas eles são cheios de segredos.
- Só que adoram uma social para se afogar em bebidas e jogatinas.
- São homens. - Ten Ten dá de ombros e busca pelo protetor solar- Só espero que Neji não se polua tão rápido. 
- Então tire ele da festa na hora que começar.
Ten Ten suspira. 
- Se for assim, já perdi meu marido. 
- Ainda bem que terá minha companhia e eu a sua. 
- Graças. - Ten Ten finge um agradecimento aos céus erguendo as mãos e logo depois ri. 
- Vamos beber. - Hinata ergue a mão assim que avista um garçom passar pela área da piscina. 

O entardecer já se aproxima e com ele a hora de Hinata voltar ao quarto e se aprontar. 
- Sabe uma novidade que eu descobri por um deslize do Neji? 
- Nem imagino, meu primo não deixa informações vazarem. 
- Eu sou mulher dele e você sabe que mulheres conseguem qualquer informação na cama. -Ten Ten lança uma piscadela para Hinata, que ri. 
- Qual é a novidade? 
- Os russos. 
- O que tem os russos? - Hinata franze o cenho. 
- Irão comparecer. 
- Os russos? 
- Umas das principais famílias. 
Hinata mexe o copo com sua bebida. Os russos nunca foram de aproximações tão estreitas, sempre foram muito reservados no seu mundo de negócios e só se aproximavam quando estavam muito interessados em algo proposto ou quando tinham segundas intenções com as aproximações. O que atraia uma das principais famílias para cá? Sasori deve estar em êxtase. 

O celular marca dez minutos para as seis. 
- Preciso ir me arrumar. - Hinata levanta.
- Tenho que ir também. - Ten Ten acompanha a Hyuuga - Bom, o mistério dos russos já vai se revelar. - Ten Ten comenta. 
- Eles só usaram a reunião como desculpa, no fundo eles só queriam derreter o gelo no inferno de Las Vegas. - Hinata caçoa e sorri. 
- Voltar a sentir os dedos do pé. - Ten Ten completa. 

Seja qual for o motivo dos russos aqui, deve ser um bom motivo para os tirar de seus domínios de gelo. De qualquer forma, esse motivo não ficaria em segredo por mais que uma semana ali.