Naruto
Ele já havia deixado a joia que Jiraya lhe deu em uma joalheria para transformar em um belo colar, que seria o substituto para o anel de noivado que ofereceria a Hinata.
Sentou em sua cadeira de couro e fechou os olhos. Sasuke não apareceu na reunião e também não deu as caras no escritório, assim como Sakura, que também não apareceu no escritório. O que estava acontecendo? Sua vida se transformou em um trem desgovernado e o único fim que ele podia ver era uma ponte partida ao meio. Passou as mãos no rosto e suspirou.
Tentava agarrar-se ao máximo em suposições de como Minato agiria em determinada situação e só depois de achar uma solução coerente com a ação do pai, ele agia no conforme, no entanto estava ficando cada vez mais difícil pensar desse modo, pois Minato nunca se colocaria em uma situação dessa.
- Você é um grande fracasso, Uzumaki. – ele murmurou.
- Ah, russo... – a voz feminina fez um gelo percorrer sua espinha e, logo em seguida, ele sentiu um alivio ao reconhece-la: Hinata.
- O que está fazendo aqui? – ele girou a cadeira para encará-la. Só de olhar para ela, alguma coisa em seu interior florescia.
No instante que ele olhava para os olhos perolados tudo parecia valer mais que a pena. Ela valia muito mais do que ele poderia oferecer; ele lutaria por ela até a morte se fosse preciso.
- Hoje é o dia da eleição. – ela deu um sorriso fraco – Queria estar com você.
- Mas isso é perigoso, Hina! E se alguém ver você andando por aí? E se te reconhecerem?
Ela trancou a porta atrás de si com movimentos calmos e delicados.
- Não há ninguém aqui a não ser você. – ela sussurrou – E nem eu me reconheço quando me olho no espelho.
Ele soltou o ar dissonante. Não queria arriscar perdê-la de novo. Uma vez já tinha sido o suficiente para ele provar daquele gosto amargo que a morte traz no fundo da língua.
Hinata usava um sobretudo de pele animal sintética negra e calças de couro, além do salto alto vermelho.
- Como você acha que serão os resultados hoje?
Ela comprimiu os lábios.
- Não quero ser pessimista, russo, mas acredito que Vladir irá vencer.
Ele suspirou e afundou o corpo na cadeira.
- Também suspeito disso.
- O que pretende fazer a respeito?
- Não posso fazer nada. – ele rodou a cadeira até ficar de frente para a janela.
- Não pode falsificar os resultados?
- Agora é tarde para tomar qualquer medida. – ele fechou os olhos e esfregou as sobrancelhas – Mas Vladir não conseguirá se livrar de nós por muito tempo.
Hinata se aproximou.
- Metade do dinheiro investido lá dentro é nosso. Ao longo dos anos, fizemos muitos investimentos dentro do governo russo e geramos altas influencias lá dentro para nosso próprio interesse. Vladir não vai conseguir nos quebrar tão fácil.
- Mas ele irá tentar, certo? – Hinata encostou o quadril na mesa – Acha que mesmo não sendo fácil, ele conseguirá quebrar vocês?
- Talvez a crise que virá depois que anunciarem que ele será o novo presidente o ajude a nos quebrar.
Naruto sabia que os outros membros da Família não gostariam nem um pouco em saber que Vladir subiu ao poder – principalmente pelo fato de que um Uzumaki não conseguiu impedir isso. Quanto mais ele tentava nadar, mais afundava.
- Por que você não tenta conversar com Vladir depois da eleição? – ela o encarou arqueando a sobrancelha – Ele deve ter agido com todas as garras para garantir o cargo, mas uma vez lá dentro, é outra história. E convenhamos que Vladir é um homem inteligente e se você conseguir conversar com jeito... Talvez... Meu pai sempre conseguia as coisas usando uma boa conversa.
Naruto sentiu um puxão no peito. Ainda não havia contado sobre o que aconteceu com os Hyuugas e nem conseguiria.
- O que foi? – ela franziu o cenho e tocou seu rosto com a ponta dos dedos – Ficou pálido.
- Nada. – ele afastou o rosto e sorriu – Está com fome?
- Antes de sairmos para comer... Você conseguiu falar com Sai?
Naruto franziu o cenho. Lembrou-se de pedir para Sakura tentar contato com o irmão de Sasori, mas não conseguia se lembrar quando ela o devolveu uma resposta. Cobraria isso amanhã.
- Pedi para Sakura falar com ele. – ele recitou.
Hinata estreitou os olhos.
- O que a Sakura é sua?
- Por que quer saber dela agora?
Ela deu de ombros.
- Tem algum problema em falar dela?
- Meu pai a adotou quando éramos crianças. – Naruto levantou – O pai dela trabalhava para o meu pai e nós dois éramos amigos de colégio, Sasuke também.
- Por que ele a adotou?
- Os pais sofreram um acidente de carro e ela ficou órfã – Naruto parou. Onde ela queria chegar com isso? Era óbvio que ela não queria saber sobre o passado da Sakura apenas por compaixão – O que você quer saber sobre ela?
- Até a parte que você me conta sobre o relacionamento de vocês.
Naruto sorriu.
- Está com ciúmes dela?
- Vocês tiveram um relacionamento?
- Nada muito sério.
- Espero que sim.
Ele soltou o ar dissonante e tocou na base da coluna dela, os conduzindo até a porta.
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O efeito do vinho já era visível no rosto corado e sorriso largo de Hinata. Ela comentava sobre coisas banais de sua infância e seu riso fazia Naruto rir junto.
O restaurante em que estavam era um dos lugares especais de São Petersburgo que ganhava a vida servindo mafiosos. Um recinto muito luxuoso e discreto aos olhos curiosos, não fazendo distinção em seus clientes – contanto que tivesse dinheiro para arcar com as altíssimas contas, seria sempre bem-vindo. As ancas de gesso acompanhavam lustres de cristais com a armação banhada a ouro, o piso era travertino que imitava mármore branco, as mesas eram para, no mínimo, quatro pessoas com talheres pesados de prata e louças de porcelanas.
Pelo o que Naruto podia notar, o assunto mais falado pela maioria dos clientes ali dentro era as eleições que aconteciam. Respirou fundo.
- Quer ir para casa? – Hinata comentou apoiando o rosto na mão e dando uma leve inclinada.
- Estou bem.
- Está preocupado.
A questão era: como não ficar?
- Nós vamos conseguir sair dessa. – ela sorriu e tocou sua mão.
- Eu, realmente, espero que sim. – ele disse com a boca seca.
Uma vez, Minato lhe falou sobre uma época da vida que é necessário vencer seus demônios internos para não ser devorado por eles. Naquele tempo Naruto não entendeu muito bem o contexto que o pai queria introduzir, porém fingiu entender a mensagem; hoje ele sentia nos nervos o que aquilo queria dizer.
- A conta, por favor. – a voz de Hinata o despertou.
- Já vamos embora? – ele franziu o cenho.
- Você precisa descansar. – ela sorriu, docemente.
Eles andavam pelas ruas frias de braços dados. O carro estava a algumas quadras de distância.
Uma mulher grávida passou por eles e então Hinata parou. Ele podia ver em seus olhos o motivo da dor que ela mascarava todos os dias e, então, permaneceu em silêncio. O luto os envolveu como a fina camada de neve cobria o concreto das calçadas e seus casacos de inverno, o luto que foi adiado pelos outros acontecimentos; o filho morto que Naruto tentava não pensar sobre. Agora, ele sentia o peso do remorso nas costas. Desde que Hinata o contou sobre o aborto provocado, ele nunca havia parado para pensar naquela criança, a tratou como um traço de lápis apagado do papel e entreteu sua cabeça com os assuntos externos aos seus sentimentos.
- Ele estaria com quase sete meses. – ela comentou, baixo.
-Eu sinto muito. – ele a abraçou e ela retribuiu o abraço com desespero.
- Tento não pensar muito sobre ele, fingir que eu superei, mas quando eu penso... Nossa... É um suicídio. Me sinto tão culpada por todo o que aconteceu. – a voz de choro transbordou por lágrimas.
Naruto a apertou ainda mais contra seu corpo e inspirou profundamente. Esta era a única coisa que ele não conseguia a proteger ou tirar dela.
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O apartamento estava quente por causa do climatizador deixado ligado. Hinata estava sentada na poltrona envolvida por um roupão, aguardando a banheira encher e ele estava na cozinha preparando alguma coisa para eles beberem.
A Rússia se preparava para um novo começo enquanto que a Máfia, para o fim.
- Acho que a banheira já está pronta. – ele anunciou.
- Estou indo. – ela levantou e caminhou arrastando os pés até o banheiro.
Quando ele entrou no banheiro para acompanha-la, encontrou Hinata de verdade: os cabelos negros mergulhados na água, o rosto sem maquiagem. Retirou suas roupas com cuidado enquanto ela o observava, colocou os pés dentro da banheira e Hinata arrastou o corpo um pouco para frente. Ele se sentou atrás dela.
- Se sente melhor?
- Mais conformada. – ela relaxou o corpo sobre seu peito.
Naruto subiu as mãos pela barriga e a envolveu um abraço frouxo, encostou a cabeça na beirada da banheira e suspirou.
- Nós precisamos vencer nossos demônios. – ele sussurrou, sem pensar.
- Mesmo quando eles parecem invencíveis? – ela se remexeu e um pouco de água caiu no piso do banheiro, formando uma pequena poça.
Ele beijou o topo da cabeça dela e os dois ficaram em silêncio. Hinata se virou e ficou de joelhos entre as pernas dele, inclinou o corpo em sua direção e o beijou. Gotas pesadas caiam dos cabelos escuros dela no rosto dele enquanto suas pequenas mãos envolviam o pescoço de Naruto e seus polegares acariciavam a linha rígida do maxilar quadrado do russo.
As mãos de Naruto subiram pelas pernas dela e pararam na cintura, apertando e a puxando mais para si.
Enquanto Vladir ganhava a Rússia, Naruto mergulhava em Hinata.
***
Hinata
Vladir desfilava sua vitória enquanto Naruto caía em uma grave crise financeira e estrutural na máfia. Hinata tentava remediar a situação ao máximo que conseguia; usava todos os artifícios políticos que aprendeu com o pai; montava os discursos com as palavras chaves para Naruto; passava as noites pensando em como enfrentar o dia seguinte; pensando em como evitar que Naruto sucumbisse a tudo e todos.
Ela se esforçava até sentir sua cabeça latejar e os ouvidos zumbirem. Era uma tortura ficar a par da situação, pois ela tinha que agir como o fantasma que, supostamente, era. Escutar os outros russos da Famílias acusarem Naruto de incompetência, de incapacidade, de irresponsabilidade; ver Naruto ficar na beira de perder seus principais aliados por causa da sua perda de credibilidade – algumas gangues de Moscou acabaram com o acordo que Naruto havia feito com eles para a proteção integra do território.
Aos poucos, o grande império russo ruía.
Hinata passou as mãos no cabelo e debruçou sobre o volante. Por que as coisas sempre tendiam a piorar quando chegava na vez dela?
Respirou fundo.
Se tinha uma coisa que ela não faria era entregar o jogo. Abriu a porta do carro e saiu.
Caminhou apressada até o outro lado da rua em direção ao escritório de Naruto. Sai havia chegado hoje para o encontro dos dois e ela gostaria de estar presente durante a conversa para que a negociação atingisse os pontos certos. Naruto tinha coisas demais na cabeça e provavelmente não ia conseguir se concentrar o bastante na conversa afim de manter Sai interessado em ajudar.
Ela usou a chave reserva que Naruto lhe deu e entrou. O ambiente estava mais quente que a rua, porém não o suficiente para fazer ela abrir mão de seus casacos pesados de inverno. Seguiu com passos rápidos até a porta do escritório de Naruto quando notou vozes no escritório ao lado, onde deveria ser o escritório do tal de Sasuke.
Estreitou os olhos e recuou alguns passos. De acordo com Naruto, não era para Sasuke estar aqui ou qualquer outra pessoa.
Não precisou encostar muito na porta para conseguir escutar a conversa, possuía anos de práticas de escutas por portas quando era menor e até durante o tempo que ficou casada com Sasori. Sua mãe costumava dizer que Hinata era sorrateira como pés de elefantes.
- Você está levando mesmo isso adiante.
- Seu trabalho não é opinar sobre o que eu faço, e sim, fazer o que eu mandar.
- Só fiz uma observação.
- Sei muito bem onde você quer chegar com suas observações.
- Nos meus queridos milhões.
- Claro.
- O que eu preciso fazer dessa vez?
- Ser discreto como sempre.
- Ah, você sabe que eu sei fazer isso muito bem, Uchiha.
O coração de Hinata disparou. O que o outro tinha que fazer para ser tão discreto? Naruto sabia disso?
- Entregue isso ao italiano.
Uma sensação gelada foi bombeada por todo o corpo dela, as pernas fraquejam e a garganta secou. O Uchiha estava agindo pelas costas de Naruto? Não podia ser! O que ela faria agora?!
Fechou os olhos.
Não podia dar alarde que estava ali, tinha que deixar eles acharem que não foram descobertos, até porque ela estava morta para todos os efeitos. Primeiro: ela tinha que descobrir o que o Uchiha tinha que entregar ao italiano (que ela já presumiu ser Sasori); Segundo: ela ainda não sabia o que fazer depois.
Saiu dali o mais rápido possível e ficou parada a alguns metros da porta. Queria saber com quem o Uchiha estava falando, além de respirar e oxigenar o cérebro.
Alguém próximo ao Naruto o estava traindo... Será que foi esse tal de Uchiha que entregou a localização dela quando Ino a abrigava? Será que seria ele quem estava dando informações tão confidenciais e ajudando Sasori a chegar em lugares que sozinho nunca chegaria?
Naruto ficaria tão decepcionado e furioso.
A porta do escritório abriu e de dentro saiu um homem vestindo um grosso sobretudo preto com detalhes laranjas, tinha os cabelos loiros presos em um coque alto e volumoso. Hinata nunca o tinha visto.
Ele deu uma rápida olhada para os lados e enfiou um tipo de envelope dentro do casaco, partindo apressado pela rua. Ela pegou fôlego e o seguiu.
Já fazia alguns longos minutos que ela o seguia e por sua cabeça passavam várias hipóteses do que poderia haver naquele envelope e onde o homem o descartaria. Fez um movimento de respiração errado e sentiu o cano do silenciador de sua 38 pressionar seu quadril.
O homem entrou em um pequeno beco entre duas construções de tijolo avermelhado. Hinata apertou o passou e entrou na pequena passagem escura e com mal cheiro.
Assim que colocou os pés dentro do beco, sentiu um vulto preto passar ao lado de seu rosto. Ela havia desviado de um soco.
Puta que pariu!
O coração dela pareceu parar de bater por alguns segundos e retornar a batidas em um ritmo frenético. Ela começou a hiperventilar e tudo a sua volta começou a passar em câmera lenta:
O homem avançou em sua direção mais uma vez e ela, além de se esquivar, conseguiu acertar um chute na parte de trás do joelho dele, o fazendo cair ajoelhado.
- Me entregue o envelope! – ela vociferou enquanto retirava o seu casaco para que conseguisse se locomover com mais agilidade.
Ele riu.
- Você só pode estar brincando comigo. – ele rodou o corpo e acertou uma rasteira nela. Hinata caiu com todo o peso do corpo no chão e a batida do encontro de sua nuca com o chão foi audível.
Um singelo apito soou pelos seus ouvidos e sua visão desfocou, porém ela conseguia identificar o vulto do homem se aproximando dela até as mãos grandes envolverem seu pescoço e o peso do corpo dele por cima do seu a prender no chão.
- Para quem você está trabalhando? – ele sussurrou entre dentes, enquanto a enforcava.
Ela não conseguia respirar à medida que ele apertava mais seu pescoço. Hinata se desesperou e começou a debater o corpo para tentar retirá-lo de cima dela. Não tinha sucesso. Tentou acertar uma joelhada nas costas dele, mas não tinha força o suficiente.
Perto de uma lixeira ao lado dela havia alguns blocos de concreto soltos, então, ela esticou o braço para pegá-los. Afundando os dedos na neve enquanto seu corpo amolecia sob o corpo do homem.
As batidas de seu coração eram audíveis em sua cabeça.
Os blocos estavam a alguns centímetros de seu toque, seus dedos começavam a congelar, seu corpo ia perdendo cada vez mais a força. Mas ela não de deixaria abater, não por tão pouco. Com um último resquício de força, ela esticou ao máximo seu braço e puxando, pelas unhas, o bloco de concreto até conseguir encaixá-lo em sua mão e levá-lo de encontro a cabeça do homem.
Ele caiu para o lado e ela pôde respirar. O ar passou rasgando até encher seus pulmões e ela tossiu violentamente até quase vomitar.
Levantou e sacou sua arma, apontou para o homem caído.
- Me entregue o envelope. – ela repetiu, entre dentes e devagar.
O homem jogou o bloco de concreto na direção dela; Hinata desviou e o bloco se partiu em pedaços e pó quando encontrou a parede de tijolos atrás dela; com a distração, o homem levantou e agarrou as mãos de Hinata na tentativa de arrancar a arma.
Os dois se debatiam, mas ela não soltaria a arma e nem dispararia, pois Ino havia lhe avisado que em uma luta corporal por uma arma é muito arriscado apertar o gatilho – você pode acabar atingindo a si mesmo ou outra pessoa que não tem nada a ver com o assunto. Sem pensar, Hinata acertou uma cabeçada na boca e queixo dele. O golpe certeiro fez ele se afastar dela, mas não o impediu de puxar sua peruca e sacar a própria arma.
Hinata rodou sobre os pés e o movimento permitiu que a peruca fosse arrancada de sua cabeça com alguns fios naturais juntos. Destravou a arma e quando encarou o homem de novo, ele estava paralisado.
- Você... Que merda é essa?! Era para você estar morta!
- Está decepcionado? – Hinata ergueu a sobrancelha e passou uma rasteira rápida pelas pernas dele. Ele caiu atirando.
O tiro passou longe de Hinata e se alojou na parede. Hinata chutou a mão dele e a arma rolou para longe.
- Para quem – antes que ela conseguisse terminar sua frase, ele agarrou sua perna e a puxou. O movimento inesperado fez Hinata apertar o gatilho enquanto ia de encontro ao chão. Era a primeira vez que Hinata apertava um gatilho sem pensar milhares de vez antes, mesmo que tenha sido sem querer.
O tiro acertou o pescoço dele. O sangue começou a escorrer pela neve e a manchá-la. Hinata paralisou.
A mesma sensação que a paralisou no deserto quando Naruto matou a funcionaria de Sasori voltou e começou a dominar todos os seus músculos. Ela estava chegando no fundo do poço.
A única iniciativa que teve foi de retirar o envelope do casaco para evitar que ele manchasse de sangue. De resto, permaneceu sentada ao lado do corpo, olhando o sangue escorrer e a neve a ganhar uma coloração purpura.
Quando se recompôs, ligou para Naruto:
- Eu pedi para você não me ligar durante as reuniões. – a voz dele era séria.
- Você precisa me tirar daqui. – ela se esforçou para não gaguejar.
- O que aconteceu?
- Naruto, por favor, você precisar vir me buscar.
- O que aconteceu?! – a seriedade deu lugar para a preocupação.
- Eu... Eu... Naruto, eu matei um homem.
- Onde você está?!
- Vou mandar minha localização para você.
***
Hanabi
Sandro havia entrado em contato com ela e avisada que seus documentos estavam prontos para uso. Hanabi juntou suas coisas com Konohamaru e seguiram até a residência de Sandro.
- Como você sabe que isso não é uma emboscada? – Konohamaru comentou.
- Eu não sei. – ela deu de ombros.
- E como você vai lá assim? Com cara e coragem?
- Isso é o que vamos descobrir. – ela sorriu de canto – Não se preocupe.
- Como não me preocupar?! Eu nem sei usar uma arma!
- Não estou te pedindo isso. – ela o encarou de forma rápida e voltou a prestar atenção no caminho – Só se mantenha longe do perigo.
- Hanabi, você não é a mulher maravilha!
- Ah, sério? Que pena... – ela sorriu.
- Eu só quero que você pare de brincar com a sua vida.
- Não estou brincando, estou salvando.
Enfim, ele se calou.
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A casa de Sandro estava do mesmo jeito de quando Hanabi esteve ali da última vez. Antes de descer do carro, destravou a arma que havia comprar e se certificou que tinha munição, olhou ao redor e procurou por qualquer coisa ou alguém diferente.
- Está tudo certo. – ela olhou para Konohamaru, que mal respirava – Vai dar tudo certo.
Ela caminhou até a porta da casa cruzando o jardim, notou uma movimentação na cortina da sala e sentiu um frio na espinha. Tudo bem, Hanabi, está tudo certo.
A porta abriu antes que ela batesse e isso a fez travar. O que estava acontecendo?
- Sandro? – ela não entraria na casa, nem pensar.
Do outro lado da porta, não houve resposta. A casa estava escura e cheirava a mofo. Hanabi estava em um ponto cego e não conseguia ver se havia mais de uma pessoa ali dentro.
- Aqui estão suas coisas. – Sandro apareceu de repente a porta e assustou Hanabi, que sacou a arma – Opa! Calma lá!
Hanabi aliviou a postura.
- Aqui está o restante que eu devia. – ela entregou um bolinho de dinheiro enrolado e preso por elástico.
- Foi um prazer trabalhar para você. – ele sorriu sob o bigode e lhe entregou os documentos.
Ela apenas se deteve em sorrir de volta e entregar o dinheiro.
- Espero voltar a te ver, menina. – ele disse, contanto o dinheiro.
- E eu espero nunca mais te ver, Sandro. – ela deu as costas e seguiu para o carro de forma rápida enquanto escutava a risada do velho.
- E então? – Konohamaru se ajeitou no banco.
- Está aqui. – ela jogou o envelope nele – Vá pegando tudo e colocando em nossas malas.
- Vamos para o aeroporto agora? Não compramos passagens.
- Compramos lá. – ela deu partida no carro.
Pela primeira vez desde que foi levada a força para a Itália, seus planos estavam andando conforme ela havia arquitetado. Internamente, Hanabi pulava de comemoração e esperava que o pai estivesse vendo e se orgulhasse dela.
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- O que pretende fazer quando chegar lá? – Konohamaru deu um gole em seu refrigerante.
- Retomar o que é meu. – ela encarou as passagens.
- Do jeito que você fala, parece ser uma coisa supersimples de fazer.
- Mas será.
Depois de tudo o que ela havia vivido, retomar a Hyamaki seria uma das coisas menos complexas, já que essa lhe pertencia por direito e todos os membros de lá saberiam disso.
- Você nem comeu seu lanche. – ele comentou.
- Estou sem fome. – ela encarou o lanche de frango – Quer?
- Só vou comer para não desperdiçar.
- Claro. – ela sorriu e passou a bandeja para ele.
- E o que você pretende fazer depois que pegar o que é seu?
Acabar com aquele italiano desgraçado, ela pensou.
- Apenas seguir com o meu pai gostaria que eu fizesse. – ela deu de ombros – E você?
- Eu? Bom, vou voltar para a Itália.
- Não! Você é louco? Eles vão encontrar você!
- Sendo assim... Vou ficar na casa do meu avô.
- Onde ele mora?
- Em Tóquio.
- Vamos até Tóquio de avião e depois seguirei de carro.
- Não posso ir com você?
- Pra que? Você já vai estar onde tem que estar.
- Mas e se você precisar de ajuda? Por favor.
Ela contraiu os lábios. Pelo menos, não havia risco nenhum em ter ele como acompanhante nisso.
- Vamos ver.
O voo deles foi anunciado.
- Anda. – ela levantou e começou a empurrar o carrinho de malas em direção ao portão de embarque.
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- Vladir virou presidente russo. – Konohamaru comentou enquanto lia um jornal que havia pego no aeroporto.
- Hm, mesmo? – Hanabi não estava nada interessada nisso. Em sua cabeça ela repassava o discurso que faria na frente dos outros membros da Hyamaki. Como começaria? Como diria que estava ali para pegar o que era seu? E se tivesse pessoas do Sasori ali?
Ela passou a mão no rosto.
Tinha tanta coisa para pensar e fazer.
- Pai, me ajude. – ela sussurrou, baixo.
- O que disse?
- Nada.
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Depois de horas de viagem, finalmente eles estavam em frente ao clube da Hyamaki. As mãos de Hanabi suavam frio.
- Vai entrar comigo? – ela o encarou.
- Claro.
Os dois saíram do carro e caminharam até a porta. Hanabi hesitou ao tocar a maçaneta. Estava fazendo a coisa certa? Por que não tinha coragem para fugir disso? Por que teimou em voltar para cá? Não havia mais nada que a prendesse a esse lugar.
- Não vai abrir? – ele a encarou.
- Vou. – ela prendeu a respiração, estufou o peito e abriu a porta de supetão.
Todos do lado de dentro calaram e direcionaram seus olhares para porta. O silêncio que se instalou incentivou Hanabi a entrar e ocupar o lugar com sua presença.
Eu sou filha do Hyuuga Hiashi.
Hanabi passou os olhos por todos do salão e conseguiu reconhecer todos os membros ali presentes. Não estavam todos que compunham a Hyamaki, mas uma boa maioria. Aos poucos, ela era reconhecida.
Eu sou a herdeira da Hyamaki.
Ela ergueu a cabeça e impôs, fisicamente, aquilo que carregava em seu sangue: a liderança e força.
Eu estou aqui para buscar o que é meu.
- Eu sou Hyuuga Hanabi e estou aqui para tomar o que é meu por direito. – ela pronunciou as palavras com uma voz forte e confiante.
- Já há outra pessoa em seu lugar, Hanabi.
O chão sob os pés dela pareceu desaparecer. Como assim havia outra pessoa em seu lugar?!
- Não entendi. – ela estreitou os olhos.
- Achamos que estava morta e devido a todos os acontecimentos, colocamos outra pessoa em seu lugar.
- Pois agora tirem. – ela disse, óbvia.
- Hanabi, podemos conversar a sós?
Ela e mais um grupo de homens seguiram para o fundo do clube, onde havia apenas uma sala e onde seu pai costumava ficar. Era ali, também, que ele fazia a maior parte de suas reuniões.
Hanabi ainda não conseguia entender o porquê era tão difícil tirar uma pessoa errada e colocar a certa no lugar, isso era uma coisa que nem precisava ser discutida.
- Hanabi, este é Inuzuka Kiba, o atual padrinho da Hyamaki.
Ela conhecia os Inuzukas e de acordo com a lista, eles eram os próximos padrinhos depois dos Hyuugas. No entanto, se não fosse o massacre que Sasori proporcionou, eles nunca subiriam no poder.
Kiba estava paralisado na cadeira.
- Hyuuga Hanabi?!
- Inuzuka Kiba. – ela permaneceu imparcial – Parece que temos assuntos pendentes, não?
- Você foi dada como morta, não foi?
- Ser dada é diferente de estar morta. – ela retrucou – Podemos começar a discussão?
- Qual discussão? – ele franziu o cenho.
- Sobre você estar no meu lugar.
- Não estou em seu lugar, Hanabi, este lugar é meu e todos nesta sala sabem disso.
- Mas vocês estão muito enganados. – ela encarou todos – Eu sou uma Hyuuga e de acordo com a lista – ela foi interrompida:
- Todos nós sabemos da lista, Hanabi, acontece que ela é válida para herdeiros homens e, infelizmente, seu pai não possui um filho homem.
O QUÊ?
- Não estou entendendo. – ela estreitou os olhos.
- Hanabi, querida, Hiashi já estava avisado que não poderia passar o apadrinhamento para você ou para sua irmã por vocês duas serem mulheres. Isso é uma regra que vinga desde os primórdios da Hyamaki e de qualquer máfia: uma mulher não pode comandar; não seria agora que quebraríamos isso.
- Não! – ela se exaltou. Não havia cruzado o mundo, lutado com todas as unhas para no fim levar um chute na bunda. Isso não estava certo! – Meu pai me prometeu que eu iria herdar a Hyamaki, vocês não podem retirar este direito! Deve ter outro jeito!
Então foi por isso que seu pai estava tentando arranjar um casamento entre ela e o grego! Porque ele sabia que ela não poderia apadrinhar a Hyamaki e achou que colocando o casamento no meio, poderia tampar o buraco e a fazer esquecer disso, como fez com Hinata. Sentiu os olhos arderem.
Tudo o que ela fez foi em vão.
- Tem outro jeito... – Kiba se pronunciou – Um casamento.
Hanabi franziu o cenho.
- Se você se casar comigo, poderá herdar a Hyamaki e estar perto do poder sem nenhum problema. – Kiba continuou, analisando as unhas.
- Casar?
- Exatamente.
Hanabi passou as mãos nos olhos e respirou fundo. Se este era o jeito...
- Tudo bem, eu aceito este acordo. - ela disse sem ao menos hesitar e pensar a respeito. Se fosse preciso fazer isso para conseguir o que era seu, ela faria sem pensar.
Kiba a encarou incrédulo.
- Você quer mesmo esse lugar.
- Você nem imagina. – ela disse, firme.
- Bom, então sente-se, vamos tratar do casamento. – Kiba lhe ofereceu a cadeira a sua frente.
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Quando Hanabi retornou ao salão, encontrou Konohamaru enturmado em uma mesa. Havia se esquecido dele.
- E então, como foi lá? – ele se aproximou.
Como ela poderia contar a ele que estava, praticamente, casada?
- Foi bom.
- Mesmo? E o que vocês resolveram?
- Fizemos um acordo.
- Que tipo de acordo?
- Apenas um acordo. – ela fechou os olhos e respirou fundo – Vamos indo?
- Como quiser.
Mas por que ela precisava contar a ele o que foi acordado? Ele não precisava saber da vida dela e, além do mais, eles não tinham nada.
Esse pensamento cortou algo nela e a dor era dilacerante. Ela mordeu o lábio inferior e destravou o carro.
- Está com fome?
- Que tal acharmos um hotel primeiro? – ela sorriu.
Era difícil olhar para ele e afogar os sentimentos que tinha. De todas as coisas que ela tinha feito até ali, essa era a mais difícil.
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