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História Cristais e Diamantes. - Seus olhos eram como... Cristais e Diamantes.


Escrita por: BenoitPoher

Notas do Autor


Bem, o que dizer dessa fic? Essa fic eu já postei em milhares de sites de fics, inclusive no meu blog uhauhaha. Mas enfim, eu amo essa fic mais do que tudo, amo horrores <3

Capítulo 1 - Seus olhos eram como... Cristais e Diamantes.


Aquela sem dúvidas seria mais uma noite mal dormida. Sehun rolava de um lado para o outro na cama e as cenas que se passavam em sua cabeça eram sempre as mesmas. Eram sempre borradas e ao mesmo tempo, nítidas.

“Seus olhos, eles são tão bonitos.” “Eu te amo porque você é único.” “Se fosse para eu ter uma filha, eu gostaria de chamá-la de Yerin.” “Isso são borboletas, não é mesmo?”

Aqueles olhos… Como era possível alguém esquecer-se daqueles olhos? Eles eram claros, quase como um fragmento de vidro iluminado pelo fim do crepúsculo. Sehun não sabia ao certo qual era a cor deles, mas podia e apostava tudo nesse mundo de que aqueles olhos eram os mais lindos de todo o planeta, ou melhor, de todo o universo. Era uma nova órbita, um novo planeta embaçado e visto de longe sem lentes profissionais. Porém eram tão perfeitos que se ficasse a encará-los por mais que alguns segundos, talvez fosse possível para um humano, que todo o ar dos pulmões lhe faltasse.

Por algum motivo, Sehun achava que os olhos de Suho eram tão valiosos quanto cristais e diamantes e de fato, eles eram.

– Papai?

Sehun ouvia uma voz fininha vindo da porta e, ao levantar-se da cama, notou Yerin parada no batente, coçando os olhos com as costas mãos miúdas e infantis. – O que faz acordada numa hora dessas, criança?

– Eu tive um sonho, papai… E- e ele não estava lá. – Pesadelos eram constantes na vida da menina. Yerin sonhava que estava numa rua vazia e que nela não havia uma boa iluminação. Ela gritava por JoonMyun, mas ele nunca aparecia. Ele nunca estava lá quando aos quatro ventos, ela chamava seu nome.

– E como foi? – Perguntou enquanto caminhava até a menininha sonolenta e visivelmente assustada.

– Foi ruim, foi muito ruim.

– E quando foi a ultima vez que o viu? – Sehun colocou a criança em sua cama e sentando-se ao seu lado tomou suas mãozinhas junto das suas.

– Quando capturamos o espírito dele para guardar no coração. – Sussurrou fragilizada.

– Yerin, eu estou vendo um pontinho de luz bem pequeno. – Disse baixo. ― É ele. Você deveria capturar o espírito dele.

A menina rapidamente ergueu os braços no ar e bateu com as duas mãos, como se estivesse capturando insetos voadores.

– Pronto. – Falou a pequena com um sorriso no rosto.

– Gostaria de olhar para ele agora?

– Sim.

– Então olhe, mas não o deixe escapar.

Yerin formou as duas mãos em forma de concha, abrindo apenas um buraquinho para observar o que havia dentro de suas mãos.

Sehun não sabia, mas Yerin era capaz de ver os olhos claros de Joonmyun.

– Eu estou vendo.

– E agora? O que você deve fazer.

– Guardar no coração?

– Então o guarde em seu coração, Yerin.

A menina rapidamente obedeceu ao que lhe fora dito, abrindo então as duas mãozinhas sobre o coração como se libertasse algo para seu órgão mais profundo que batia incessante e acelerado dentro do peito.

– Agora você terá bons sonhos? – Perguntou para a mais nova.

– Não vai estar mais escuro, agora vai estar claro, como os olhos dele.

– Tudo bem. ― Sorriu para a criança gentilmente. – Eu deixarei você dormir aqui essa noite.

– Obrigado… – Yerin assentiu feliz.

Sehun era grato por ter aquela pessoinha tão pequena junto a si. Era graças a Yerin que Joonmyun não virou apenas uma figura perdida em sua memória. Graças aquela criatura pequena, frágil e tão delicada, a loucura não era tão banal.

Era ela quem lembrava à Sehun de que JoonMyun ainda estava vivo em suas memórias e corações e, por mais que doesse ter que lembrar-se dele, Sehun tentava manter-se sempre de pé.

❤ ❤ ❤

 

Era o primeiro dia de Sehun naquela escola. Cursaria o ensino médio lá já que seus pais não encontraram vagas em outros colégios pela redondeza.

– Está animado?

– Um pouco, mãe. Só estou meio inseguro… – Tentava distrair-se com um livro enquanto sua progenitora dirigia rumo à escola nova. Detestava livros, mas sua avó fazia questão de presenteá-lo com dezenas deles e para ter certeza de que o neto os lia, ela sempre perguntava como era a história.

– O que está lendo dessa vez? – Perguntou olhando para a capa do livro.

-Dançando sobre cacos de vidro.

– E esse livro é bom?

– Eu diria que é um livro para garotas.

– Os livros não deveriam ser classificados em gêneros, oras. – Falou a mulher sem tirar os olhos da estrada. – Ele fala sobre que tipo de coisa?

– Eu ainda não terminei de ler.

– Então não devemos julgar um livro pela capa, certo? Mas olhando para ela, você consegue imaginar algo?

– Lucy e Mickey é um casal e ambos sofrem de doenças. Talvez eles tenham uma filha e Lucy morra já que ela tem câncer. Isso vai ser engraçado, eu diria.

– Honestamente, é só em filmes e livros que os pais conseguem cuidar de suas crianças sem a esposa.

– Esse livro condiz muito com a realidade.

– Sendo assim, talvez seja interessante… Chegamos.

– Obrigado mãe, até mais tarde.

– Até mais tarde, querido.

Sehun andava perdido pelos corredores até finalmente poder encontrar a porta de sua sala, onde havia um pequeno grupo de amigos que pareciam jogar conversa fora. Mas de todos aqueles rostos, somente um lhe chamou a atenção. Um rosto em especial.

Ele era de estatura média, cabelos escuros e dono de um franjam que tomava toda sua testa. Sua pele era alva, seus lábios finos e seu nariz moldado perfeitamente em seu rosto. Quando sorria uma linha de dentes brancos e muito bem alinhados apareciam, ressaltando ainda mais a beleza de seus beiços avermelhados. As maças de seu rosto eram bem coradas, porém aquele rapaz tinha uma característica, uma característica única que Sehun jurava não condizer com nada que já tivesse visto.

Os olhos do estranho… Os seus olhos eram claro, tão claros quanto águas cristalinas. Não, seus olhos pareciam vidros, ou melhor, seus olhos eram tão claros, extremamente claros que pareciam cristais e diamantes. Era possível que tivessem o mesmo valor de uma pedra rara, ou um maior, talvez fossem até mesmo roubados numa piscadela de admiração, ou em um suspiro baixo de desespero e necessidade. Como podia um rapaz coreano ter os olhos quase transparente de tão claros que eram?

Mas algo o intrigava. O rapaz dos olhos respondia aos amigos, conversava normalmente com eles, mas não havia contato visual. Ele não olhava diretamente nos olhos dos outros, nem mesmo para a face deles, dando assim a impressão de que não estava prestando a atenção naquela conversa e de que só respondia por impulso, por educação.

– Com licença, – Ouviu uma voz grave chamar-lhe. – Você deve ser Sehun, o aluno novo, não é?

– Ahn sim, sou eu. E você? – Perguntou confuso e um pouco desconcertado.

– YiFan. – Sorriu. – Serei o seu professor de história até o final do ano. – Explicou gentilmente. – Vamos entrar… Preciso apresentá-lo para a turma.

– Oh, tudo bem. – Sehun acompanhou aos passos curtos do mais velho.

Os dois caminharam até o centro da sala e YiFan pediu para que os alunos se sentassem imediatamente, assim tomando posse de sua voz grave para anunciar o novo estudante.

– Turma, esse é Oh Sehun, o nosso companheiro de classe mais recente. Apresente-se, Sehun.

Um pouco tímido o menino deu um passo à frente e começou a falar sobre um arfar baixo.

– Meu nome é Oh Sehun, assim como professor disse. Tenho dezesseis anos e sou novo na cidade.

Todos disseram ”Seja bem-vindo Sehun” num coral e em seguida indicaram lugares para que ele se sentasse. Mas Sehun escolheu sentar-se ao fundo da sala, próximo ao garoto de olhos claros e, ao invés de prestar atenção à aula, prestava totalmente atenção na estrutura que moldava o corpo daquele estranho indiferente. Ele não parava um minuto sequer de olhar para a mesa enquanto o professor explicava a matéria, e isso era algo que deixava Sehun mais e mais intrigado.

– Ele não gosta que fiquem olhando para ele. – Falou um garoto que se sentava atrás de Sehun.

– E quem disse que estou de fato a olhar para ele?

– Falta apenas vinte minutos para o término da aula e durante meia hora você ficou o encarando. Se isso não é olhar, eu não sei dizer então o que poderia ser.

– Eu não queria parecer rude.

– Eu sei que não.

– Como ele se chama?

– Podemos falar sobre isso no intervalo, o que acha?

– Tudo bem. Eu espero até lá.

Sehun e o garoto caminharam tranquilos pelo pátio, de modo que a conversa pudesse fluir levemente.

– A cor dos olhos dele é bem diferente – Comentou ao sentar-se num banco, sendo seguidamente acompanhado no gesto.

– Ele é cego! – As palavras do garoto ao lado de SeHun havia sido um choque, uma onda elétrica de surpresa que o tirou da órbita por instantes.

– Como?

– Acho que qualquer um desconfiaria, não?!

– Então quer dizer que os olhos dele só são dessa cor porque ele é cego?

– JoonMyun não fala muito sobre isso. Mas eu acredito que seja já que ninguém da família dele tem olhos claros. O nosso professor de biologia disse que pessoas com olhos claros são muito mais sensíveis à luz já que, eles não têm pigmentação o suficiente para bloquear os raios de luz.

– Ele costuma sair na luz?

– Ele não gosta. Ele diz ver tudo diferente quando está na luz. É como se fechássemos os olhos e saíssemos no sol bem forte. Veríamos tudo laranja, certo?

– Sim.

– Ele vê tudo branco.

– Ele é assim desde que nasceu?

– É algo meio óbvio, não acha? – Ah, claro. Eu nunca diria que ele é cego.

– Ninguém diria.

– Mas o que ele faz numa escola como essa? Não deveria estar em escola para deficientes visuais?

– Ele só quer ser normal, Sehun.

– Ele anda tão bem pela escola e nada parece ser um obstáculo para ele.

– Minha mãe sempre me disse que deficientes visuais possuem um sexto sentido.

– Eu já ouvi isso antes.

– Precisamos voltar para a sala Sehun. Lá eu te apresento melhor para JoonMyun.

– Tudo bem.

Sehun e o rapaz cruzaram a porta da sala, assim encontrando JoonMyun sozinho e sentado no mesmo lugar.

– Por que não saiu? – Perguntou o garoto.

– Não achei que fosse necessário.

– Eu trouxe um amigo.

– Eu já percebi antes mesmo de terem passado pela porta, não precisa anunciar.

– Está mentindo, Suho.

– Não, Xiumin, eu não estou.

– De qualquer forma, esse é Sehun, e Sehun, este é o JoonMyun, mas nós o chamamos de Suho.

– Oi, Sehun.

– Oi Suho.

Desde a hora em que tinha entrado naquela sala, SeHun não conseguiu por um minuto tirar os olhos daquelas duas coisas que irradiavam como jóias e agora tão perto, parecia incapaz de estar tão próximo. Se a luz queima, aqueles com certeza possuíam uma onda de energia quente e penetrável.

– Você é novo por aqui?

– Sim, eu sou. – Sehun puxou uma cadeira para sentar-se próximo a JoonMyun, eXiumin fez o mesmo, silenciosamente.

– De onde veio?

– Eu estava morando com o meu pai em Busan, mas voltamos para Seul por causa da minha mãe.

– Seus pais eram separados? – SuHo parecia interessado na vida do novato e dessa forma, não hesitou em perguntar.

– Não, nunca foram. Era apenas trabalho.

– E como era em Busan?

– Era legal. Uma ótima cidade.

Os três garotos jogaram conversa fora até o sino tocar e todos terem de voltar aos seus lugares, e nesse tempo de conversa, tudo parecia normal. Tudo pareceu brilhar naturalmente.

❤ ❤ ❤

 

Já havia passado duas semanas desde o dia em que Sehun esteve naquela escola e, dentro dessas semanas, ele fora capaz de fazer amizades, conhecer pessoas novas, conhecer a escola e saber que a sua turma era a única privilegiada. Eram os únicos que não precisavam escrever e os únicos que tinham provas orais. A sala era como uma equipe, então todos estudavam juntos para responder às perguntas dos professores que, escolhiam os alunos a dedo para dizer em voz alta qual era a resposta correta de cada questão.

Os alunos entravam às nove horas na escola e saiam às três da tarde, porém aquele que quisesse, poderia ficar no colégio até mais tarde, estudando já que ela ficava aberta sempre até às dez horas da noite.

Sehun caminhava pelos corredores rumo à biblioteca e ao chegar lá, pôde ver SuHo sentado de frente para uma mesa, aparentemente lendo um livro. Era em braile a escrita do conteúdo, e ele parecia muito concentrado naquilo. O garoto encostou-se ao batente e de olhos vidrados observou SuHo em sua leitura silenciosa.

– Eu não gosto que fiquem olhando-me, SeHun. – Falou Suho levantando a cabeça.

– Desculpe-me. – Foi até JoonMyun, puxando uma cadeira para sentar-se junto de si. – Como soube que era eu?

– Eu pude senti-lo observar-me. – Murmurou e virando-se para o amigo, sorriu de cabeça baixa.

– Os seus olhos são tão bonitos. – SeHun disse num impulso e o outro riu em respostas, pois as palavras lhe faltavam, ainda que aquele elogio já tivesse sido dito para si umas outras milhares de vezes.

– Já lhe disseram à cor que eles têm?

– Sim, mas eu não tenho muito que imaginar já que nunca pude ver essa cor, ou qualquer outra.

– Eles realmente são fascinantes.

– Eu queria poder vê-los.

– Você acha que um dia terá essa oportunidade? – Sim. Eu tenho certeza.

– Você se surpreenderá.

– Sim, todos dizem isso.

– Como você imagina as coisas?

– Eu não posso ver Sehun, mas eu posso sentir… Então eu tenho uma ideia de como seja o formato das coisas!

– E as cores?

– Bem, eu não as vejo.

– Eu gostaria de saber como que as coisas são na sua cabeça.

– E eu gostaria de poder vê-lo. – O sussurro era quase inaudível.

– Ver-me? – Sehun perguntou surpreso.

– Sim, vê-lo. Ver você!

– Bem… – Engoliu a seco a timidez que o consumia ali. – Você pode sentir-me, se quiser.

– Está falando sério? – Suho não tinha nenhuma reação, nada além do fato de aceitar ter ouvido aquilo que SeHun lhe disse gaguejando.

– Sim. Basta dar-me sua mão.

JoonMyun estava perplexo, seus os olhos diáfanos refletindo o mundo como nunca antes. SeHun curvou-se um pouco mais para chegar-se ao pequeno, dessa forma tomando suas mãos sobre o colo e levando-a até o meio de seu peito.

– As pessoas insistem que o coração bate no lado esquerdo do corpo, mas é mentira. O coração pulsa no centro de nós, pois assim ele transmite toda sua energia do meio, assim como o sol, que é o centro de tudo. – SuHo ouvia as palavras de SeHun e a cada batida forte que ele sentia, suas pernas tremiam bruscamente. Puxou a mão que se prendia no coração alheio e lentamente a levou até a face de Oh.

– Eu não tenho um conceito de beleza, Sehunnie, mas aposto que você é bonito.

– Você também é muito bonito, Suho. – Disse sem vergonha alguma. – Você me ganhou apenas com os seus olhos.

– Sehun-ah…

– Hum?

– Por que você está tão perto? – Indagou com sua voz quase falhando.

– Por que eu quero muito te beijar, Myun. Eu quero muito beijá-lo.

– Se- Se- Sehun – Já era muito tarde quando o garoto tentou impedir, se é que fechar os olhos e moldar os lábios em um bico era uma tentativa de resistência.

❤ ❤ ❤

 

Sehun sentou-se na cama e ao olhar para televisão pôde ver um reflexo de Suho, o homem sentado ao seu lado concentrado num livro que costumava ler. Sehun lembrou-se que detestava livros, enquanto Suho dava a vida para tê-los.

”É uma pena você ler por obrigação e não por gosto, Sehunnie-ah.”

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– Eu já disse que detesto quando faz isso.

– Desculpe-me, Suho.

– Por que você fica olhando-me sempre quando vem para a biblioteca?

– Por que eu já te disse que gosto do seu rosto, principalmente dos seus olhos, não se chateei comigo.

Sehun insistia nos olhos do garoto e, de certo modo, aquilo deixava o dono deles quase brancos apenas de raiva. Tão irritado que chegava a ser doloroso, mas é que ninguém nunca foi tão obcecado por eles.

– São apenas olhos, Sehun.

– Mas eu gosto deles.

– Não. Você os ama!

– Na verdade, eu te amo. Eu te amo porque você é único, porque você é meu tudo.

Suho abaixou a cabeça e logo em seguida sentiu os dedos de SeHun no queixo, levantando seu rosto de modo que pudesse encará-lo e assim pudesse receber um beijo. Não sabia ao certo quantos selos já tinham trocado dentro de um ano só naquela biblioteca, mas foram vários.

– Você quer ir comigo ao parque amanhã? – SeHun perguntou rompendo o beijo.

– Eu não gosto de ficar debaixo do sol.

– Eu sei, mas ficaremos debaixo da sombra.

Suho dizia a todos que detestava o sol porque seus olhos ardiam, mas não era verdade. O real motivo era porque não conseguia vê-lo. Todos diziam que o dia estava lindo e Suho gostaria de ver o tal dia lindo que todos comentavam, mas decerto, era improvável.

Suho também gostaria de ver o mar, muitos diziam que seus olhos lembravam um mar de águas cristalinas. Sua vontade só aumentava depois de conhecer Sehun que não parava um minuto sequer de falar daqueles olhos, que não parava de afligi-lo a todo instante.

– Tudo bem, pode ser divertido.

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– Então ele é cego? – A mãe de Sehun questionou cortando alguns legumes.

– Sim, mas aqueles olhos dele mãe… – Novamente Sehun se perdia toda a vez que falava de Suho, era como se não soubesse o que dizer, ou como se as palavras não fossem tão perfeitas quanto seu amante. – Eles são como vidros, mãe.

– Vidros?

– Não. Cristais mãe, cristais e diamantes, eles são uma mistura de pedras ricas e diáfanas.

– Devem ser lindos.

– São. Os mais bonitos que já vi em toda a minha vida.

– Você parece mesmo gostar desse menino, Sehun.

– Eu vou ao parque amanhã, com ele.

– Eu poderia levá-los? – A mulher perguntou curiosa. Não podia negar que queria mais que tudo, ver o tal garoto do qual Sehun não parava um minuto sequer de falar.

– Por que quer me levar ao parque?

– Eu não posso? – Parou de cortar os legumes.

– Eu adoraria, mas queria aproveitar o dia.

– Como nos livros? – Virou-se para o garoto e o encarou.

– É mãe, como nos livros.

– Está bem então.

– Eu vou para o meu quarto.

– Sehunnie, – Chamou agora de frente a água da torneira que caiu para lavar as alfaces. – um dia eu poderia conhecê-lo?

Sehun sorriu. Um sorriso lindo e meio amarelado.

– Então você realmente quer ver como ele é?

– Bem, não é isso – Entrou para a defensiva – é que eu…

– Eu já entendi mãe. Boa noite e – Voltou a andar em direção às escadas – acorde antes das oito horas, se ainda quiser levar-me.

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– Sehun, você é quanto tempo mais velho do que eu?

– Alguns meses.

– Comparando você a mim, o que há de diferente em nós dois?

– O cabelo. O seu é naturalmente negro, e o meu é loiro. O seu é macio e o meu um pouco agredido. Eu sou mais alto que você e um pouco mais branco. Os meus olhos são escuros e os seus claros, e bem… Você é mais bonito que eu.

JoonMyun sentou- se no gramado que estava deitado há segundos atrás, e em seguida pediu para que Sehun estendesse o braço para que ele pudesse se deitar junto.

– Sehunnie?

-Sim?

– Minha mãe disse que eu vou enxergar.

– Como?

– Transplante.

– Está falando sério?

– Sim, eu nunca falei tão seriamente.

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Sehun sempre dizia que o amor deles era algo verdadeiro e único, porque ao contrário de muitos, eles não se escolheram pela aparência, ou mesmo pelas qualidades que os olhos eram capazes de naturalmente capturar.

Suho era cego e Sehun não sabia cuidar de si próprio, quem dirá de um deficiente visual. Mas ele tentou. Ele tentou todos os dias.

Sehun sempre esteve ao lado do Myun, sempre o guiou e sempre parou suas tarefas para atender as dificuldades do rapaz e, todos os dias marcantes de sua vida, fazia ainda mais sentido após o nascimento de Yerin. Tudo, tudo que envolvia Suho simplesmente era grande e inigualável.

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Todos tem dias marcantes em suas vidas, e o nascimento de Yerin não foi um deles.

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Sehun estava sentado numa poltrona que ficava ao lado da cama de hospital onde Suho dormia.

Estava lendo um livro. Detestava livros, mas se eles fizessem com que o tempo passasse rápido, Sehun então os leria.

― Isso são borboletas, não é mesmo?

Sehun ouviu a voz do menor, e ao virar para ele, notou que seu olhar era fixo em borboletas de papel penduradas ao teto.

― Como sabe que são borboletas?

― O formato delas.

Suho fechou os olhos virando a cabeça para o rapaz que estava sentado ao seu lado, e ao abrir os olhos novamente, Suho pode ter certeza de que Sehun era perfeito não só em suas ações e atitudes, e sim em sua aparência.

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Desde o dia em que Suho enxergou pela primeira vez, Sehun se sentiu na obrigação de levá-lo para todos os cantos da cidade, e mesmo o menor dizendo que não era necessário, Sehun insistia.

No dia em que saíram juntos daquele quarto de hospital, Sehun mostrava tudo, absolutamente tudo para Suho, e mesmo não sendo necessário, JoonMyun ria bobo com toda a preocupação do mais velho.

Sehun olhou para Yerin que estava deitada ao seu lado, e a expressão da garotinha já não era mais a assustada e tristonha de antes. Ela não sorria, mas tinha uma expressão totalmente calma, que de alguma maneira lembrava a Suho.

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― Você está com sono ― perguntou com o menor de olhos fechados deitado em seu braço.

― Não.

Os dois estavam em cima do telhado da casa de Sehun observando o céu, já era tarde da noite, só que mesmo assim os dois não tinham ido se deitar.

― É uma pena não ter estrelas no céu, Suho.

― Eu posso esperar até o verão para vê-las.

― Olhe para mim ― pediu.

O menor rapidamente levantou a cabeça e abriu os olhos.

― Eu não acho que seja preciso esperar até o verão para vê-las.

― Porque?

― Elas estão bem ai. Dentro dos seus olhos.

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Sehun levantou-se da cama e andou até o escritório ao lado.

Em cima da mesa havia um porta retrato, e nele havia uma foto de Suho.

Aquela noite ainda não tinha acabado, e sem dúvidas foi a mais marcante de todas. Foi tão marcante que era digna de uma foto.

Sehun sentou-se na cadeira, fechou os olhos, e se permitiu viver aquele dia novamente.

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Sehun abriu a porta do quarto, acionando o interruptor e incentivou Suho a adentrar o lugar recém iluminado. O menor olhou ao redor, sentindo-se um tanto nervoso pela perspectiva do que estava por vir. Não que não confiasse no parceiro, mas JoonMyun julgava que, independentemente de ter todos os sentidos perfeitos ou não, seria difícil para qualquer pessoa ser confiante em sua primeira vez. E, claro, com ele isso não seria diferente.

            Ouviu o som da porta sendo fechada atrás de si e logo sentiu os braços de Sehun a sua volta, o peitoral alheio se encaixando em suas costas, em um abraço gentil. Um beijo sútil foi deixado em sua face, antes que o maior recuasse um pouco o rosto, a fim de alcançar sua orelha.

            ― Foi realmente uma pena não termos conseguido ver as estrelas, hoje. ― Sehun sussurrou, lamentando, de verdade, não ter sido capaz de proporcionar ao outro tal precioso momento. ― Ainda assim, eu te prometo que essa noite será especial. ― Completou, notando um leve tremor no corpo do namorado, que sentiu a pele arrepiar-se diante daquelas palavras.

            Sehun, então, virou seu corpo e selou-lhe os lábios num beijo calmo, que não se prolongou por muito tempo. Pediu para que Suho sentasse na cama e aguardasse um instante, sendo acompanhado pelo olhar curioso deste enquanto se dirigia até a porta do quarto, garantindo-lhe que não demoraria. JoonMyun permaneceu quieto, observando a organização do aposento. Tentou manter-se calmo e respirou fundo algumas vezes, antes que o outro retornasse.

            Tal como prometera, logo o maior estava de volta, trazendo consigo uma bandeja contendo morangos e uma tigela com chocolate derretido. Deixou a bandeja sobre o criado-mudo, ao lado da cama, e Suho lhe sorriu divertido.

            ― O que vai fazer? ― Perguntou o menor, ao notar que Sehun afastava-se novamente, remando, agora, ao seu guarda-roupa e retirando dali uma sacola de papel.

            ― Você já vai descobrir. ― O maior respondeu, com um sorriso misterioso, seguindo até a mesa próxima à cama, onde jazia o seu notebook e alguns livros.

            JoonMyun observava os movimentos do mais velho, ficando mais curioso a cada segundo. Viu Sehun retirar de dentro da sacola um pequeno suporte metálico com dois compartimentos contendo, na parte inferior, uma pequena vela e, na superior, um recipiente pouco fundo, também de metal. Fitou, curioso, o maior pegar um conta-gotas e despejar no recipiente uma fração de seu conteúdo.

            A seguir, Sehun retirou, do bolso de sua bermuda, uma caixa de fósforos que trouxera da cozinha e acendeu a vela, de forma que a chama tocasse e aquecesse o fundo do recipiente metálico na parte superior. O cheiro suave de lavanda, então, logo se espalhou pelo ambiente, transmitindo uma sensação harmônica, fazendo Suho sentir-se mais calmo e confortável.

            Mas a preparação do ambiente ainda não havia terminado. Sehun planejara tudo, nos mínimos detalhes, para que aquela noite fosse perfeita e tinha de seguir à risca todo o plano. Voltou a mexer no saco de papel, colhendo dali um lenço grande de um tecido fino cor de mostarda e o posicionando estrategicamente sobre o abajur, que logo foi aceso. A despeito da segunda luz, a primeira foi apagada e a iluminação do quarto mudou completamente.

            Tons amadeirados tomaram conta do local, tornando o clima ainda mais exótico quando Sehun, ao acoplar seu celular a um pequenino amplificador, deu início ao toque de uma melodia envolvente, com sensuais batidas árabes. O volume a música não era alto, apenas o suficiente para estimular a audição de ambos.

            Sehun pegou a sacola e a deixou no chão, ao lado da cama, finalmente sentando-se ao lado do namorado, que ainda o questionava com aquele olhar cristalino que ele tanto admirava. Sorriu para o menor, julgando que palavras não seriam mais necessárias, e se aproximou mais, tomando-lhe os lábios com carinho. O beijo não passou de um selo, mas demonstrava toda a afeição que o maior sentia.

            Apartando o ósculo, Sehun sorriu novamente e esticou o braço, pegando, da bandeja, um morango, que foi prontamente mergulhado no chocolate e direcionado aos lábios de Suho. O menor aceitou o aperitivo, sentindo a deliciosa mistura do doce da fruta com o chocolate meio amargo espalhando-se em sua boca, despertando seu paladar. Sehun colocou em sua própria boca o restante da fruta lambuzada, antes de beijar JoonMyun outra vez, compartilhando aqueles sabores.

            Não era, obviamente, a primeira vez de Sehun. Contudo, seria uma experiência diferente de qualquer uma que tivera anteriormente. Afinal, ele não iria simplesmente transar com Suho. Ele queria fazer amor. Queria uma relação plena e, por isso, estimulava todos os sentidos alheios. Queria o prazer e o sentimento confluindo, tornando aquela relação a melhor possível. Inesquecível.

            Sehun não hesitou, dessa vez, em aprofundar o ósculo, sua língua explorando a boca do menor e brincando com a semelhante. Suas mãos encontraram a barra da camisa do mais novo, os dedos deslizando por sob o tecido negro e tocando a pele contrastantemente alva. O toque quente fez Suho arrepiar-se novamente e ele não impediu o namorado de retirar-lhe a peça.

            Paladar, olfato, visão e audição estimulados, era chegada a hora de investir no tato. Sehun colocou JoonMyun deitado sobre o colchão, permitindo-se um instante de apreciação àquela pele alva e sem defeitos no peito arfante do menor. Seu olhar viajou pelo peito magro e foi parar na imensidão azul dos olhos alheios. Aproximou-se e deu-lhe mais um beijo, mais intenso, dessa vez, e foi deslizando sua boca, deixando selares pelo rosto de Suho, a caminho de sua orelha.

            ― Confia em mim? ― O maior sussurrou, satisfeito em notar o leve tremor que o outro tivera diante daquilo.

            ― Sim! ― A resposta também saiu sussurrada, mas cheia de confiança.

            O maior sorriu e continuou a distribuir beijos pelo pescoço do namorado, seguindo pelo ombro peito e abdômen, até chegar á barra da calça que ele usava. Sem pressa desabotoou e retirou a peça, deixando à mostra a boxer da mesma cor, o que ressaltava ainda mais a clareza da derme leitosa. Sehun notou o volume que indicava o pré-enrijecimento e lambeu os próprios lábios. E, mesmo naquela iluminação diferenciada, foi possível notar o tom rubro na face de Suho.

            Sehun tornou a se aproximar, sentado-se sobre os quadris de JoonMyun e compartilhando com ele outra fruta confeitada. Deslizou o braço até alcançar a sacola de papel esquecida no chão e colheu dali dois pequenos frascos. Deixou um deles de lado, no colchão e abriu o primeiro, despejando um pouco de óleo numa das mãos, logo espalhando na outra também. Levou ambas as mãos aos ombros do menor e começou a deslizá-las pelo peito magro. Suho sentiu o calor do toque alheio e se surpreendeu, pois o rastro deixado ia tornando-se gelado e depois quente novamente.

            À medida que movia suas mãos no peitoral do mais novo, Sehun também ia movimentando sutilmente seu próprio quadril, forçando uma fricção gostosa sobre o sexo do parceiro, que arfava cada vez mais. O maior recuou mais uma vez, retirando a própria camisa e a bermuda que ainda vestia. Posicionou-se entre as pernas do menor, olhando em seus olhos, enquanto os dedos roçavam no cós da peça íntima deste, como se pedisse permissão para ir além. Mordendo o lábio inferior, JoonMyun assentiu, completamente envolvido pelo clima sensual que pairava no ambiente.

            A vergonha que Suho sentiu ao ter seu corpo completamente exposto foi, sem demora, substituída por prazer quando os dedos longos do parceiro envolveram o seu falo rijo, e um gemido baixo escapou de sua garganta. Aquela sensação de calor e frio espalhando-se em seu sexo enviava correntes elétricas por todo o seu corpo. A sua respiração ficou ainda mais irregular ao sentir a língua do mais velho circundar sua glande, sem, em momento algum, quebrar o contato visual.

            Sehun não queria o torturar, então, logo envolveu todo o membro alheio com sua boca, fazendo-o sumir e reaparecer com movimentos de vai e vem. Movia sua língua em torno da glande e o falo ereto e o sugava com vontade, ouvindo mais e mais gemidos que JoonMyun não era mais capaz de conter. Tremores se espalharam e o prazer do mais novo tomou forma na boca do amante, que não se importou em engolir todo o jorro. Apoiando-se sobre os joelhos, Sehun buscou o segundo frasquinho que resgatara da sacola de papel.

            Removeu a pequena tampa e despejou uma quantidade generosa do líquido em uma das mãos, lambuzando bem os dedos. Notou o olhar um tanto receoso que JoonMyun lhe dirigia e voltou a se debruçar, deixando um novo selar na boca do mais novo.

            ― Isso vai doer um pouco, mas logo vai passar, ok? ― Pronunciou com tom suave, recebendo um aceno em resposta, antes de retornar ao posto anterior.

            Ergueu mais uma das pernas de Suho, a fim de facilitar seu acesso à região desejada e, com os dedos lubrificados, iniciou o estímulo ali, introduzindo, cautelosamente, um deles. Ao mesmo tempo, a mão livre buscou, pela segunda vez, o membro do menor, na tentativa de distraí-lo da óbvia dor. O segundo dígito penetrou a entrada apertada e ia estocando lentamente, alargando o espaço. Mais um dedo foi introduzido e um ganido baixo e sôfrego escapuliu por entre os lábios do mais novo.

            Julgando que a preparação fora suficiente para, ao menos, amenizar a invasão que estava por vir, Sehun retirou seus dedos da cavidade alheia. Retirou a peça íntima que o cobria e voltou a pegar o frasco de lubrificando, espalhando-o, agora, em seu próprio pênis latejante. Sem cessar o estímulo ao sexo do menor, iniciou a penetração, forçando, com todo o cuidado que conseguia, a sua glande no interior apertado de Suho.

            O mais novo tremia levemente, o prazer misturando-se a dor. Entretanto a dor ainda era mais forte, afinal o volume do membro do seu namorado era maior do que o dos dedos. Quando Sehun terminou de se encaixar paralisou seus quadris, mantendo apenas os movimentos de sua mão no falo reavivado. Ambos respiravam com dificuldade e, ao inclinar-se para frente, selando os lábios do parceiro, o maior recebeu incentivo para continuar, dando início às estocadas. Mesmo que seu corpo todo pulsasse, pedindo por mais intensidade, ele seguia em um ritmo mais lento, dando tempo para que Suho se acostumasse.

            Suho ainda era capaz sentir, em sua boca, o remanescente do doce do morango e o amargo do chocolate. A batida de Desert Rose tornou-se audível, combinada á essência da lavanda e aos toques firmes, porém gentis, de Sehun, pareciam levá-lo a um plano diferente, formado por sensações e prazer. Puro prazer.

            A dor foi esquecida por completo assim que, numa estocada mais funda, Sehun acertou-lhe a próstata, gemeu alto incitando o parceiro a arremeter mais vezes naquele local.

            O maior parou o estímulo manual ao pênis do outro, a fim de apoiar-se melhor enquanto aumentava, finalmente, a velocidade e intensidade de suas investidas. Os gemidos de ambos, bem como o ruído produzido pelo impacto dos corpos, misturavam-se à música, tornado o clima perversamente sensual. Mas o sentimento também estava presente, nos beijos e carinhos que Sehun não deixou faltou nem por um momento.

            E, pela segunda vez naquela noite, Suho sentiu uma descarga elétrica percorrer todo o seu corpo, em espasmos, acabando por gozar, em meio a um gemido arrastado, no próprio abdômen. O prazer fez suas paredes internas contraírem-se ainda mais sobre o pênis de Sehun, que estocou mais algumas vezes, alcançando, por fim, o orgasmo.

            Com o corpo ainda trêmulo, retirou-se de dentro do outro e deixou-se cair ao seu lado, no colchão. Tentavam regularizar as respirações, fitando um ao outro e trocando carícias sutis e selares.

            ― Amo você! ― Sehun declarou, com um tom profundo, fitando o olhar cristalino do namorado. E como ele adorava apreciar aqueles olhos!

            ― Também amo você! ― JoonMyun respondeu com um genuíno sorriso de pura felicidade a brincar em seus lábios.

            Sehun também sorria e beijava, repetidamente, o menor. Ficaram ali por mais algum tempo, recuperando o fôlego e as energias, enquanto comiam o restante dos morangos com chocolate. O cansaço era inegável, porém, então resolveram tomar um banho rápido. O maior cedeu uma roupa leve para Suho e organizou parcialmente o quarto, desligando a música e apagando a vela e o abajur. Sob a iluminação exclusiva do luar, que adentrava o quarto através da janela de vidro, acomodaram-se na cama de solteiro, grande o suficiente para caber os dois.

            Estavam felizes, e não era para menos, afinal a noite havia sido realmente especial para ambos. Haviam compartilhado um momento único. JoonMyun aconchegou-se no peito do mais velho, um sentindo o ritmo cadenciado do coração do outro e, dessa forma, adentraram pacificamente no mundo dos sonhos.

            Na manhã seguinte, os raios solares despertaram Sehun, que sorriu ao contemplar a face angelical daquele que ressonava em seus braços. Desejou beijar seus lábios, mas temia acordá-lo com isso, então teve uma ideia. Moveu-se com todo o cuidado que conseguia ter, a fim de sair da cama sem despertar Suho e foi até o canto da mesa, onde havia deixado o seu celular, na noite anterior. Buscou o aplicativo de câmera, focou o rosto alheio, serenamente descansando sobre o travesseiro, e registrou aquela imagem.

            “Uma linda foto, certamente!” pensou sorridente, devolvendo o celular em cima da mesa e rumando para a porta. Tinha muito a fazer se pretendia acordar seu pequeno amante com um belo café da manhã.

❤ ❤ ❤

 

Aos vinte anos, Sehun achou que era hora de amadurecer e ser independente, e foi isso o que ele fez.

Trabalhou desde os dezoito anos para no final do primeiro semestre dar entrada em um apartamento, mas não iria sozinho, levaria Suho junto a sí, já que era independente de tudo menos do menino.

― Deveríamos ir morar juntos ― falou deitado no gramado de um parque que frequentava todos os finais de semana acompanhado de JoonMyun.

― Como?

― Morar juntos.

― Está falando sério?

― Claro que estou. Você não pretende continuar sua vida ao meu lado? ― perguntou se virando para o garoto que estava sentado e encostado numa arvore lendo um livro.

Sehun detestava livros, mas Suho os amava. Amava tanto que os levava para todos os lugares.

― Eu não vejo problema algum em ir morar com você, Sehun. Mas você sabe que se sustentar sozinho é mais trabalhoso do que parece.

― Nós vamos sobreviver. Você confia em mim, não confia?

A resposta daquela pergunta apareceu dois meses depois quando os dois já estavam arrumando suas coisas no apartamento onde procederiam com a vida.

― Promete que nunca vai me abandonar ― perguntou o maior sentado com JoonMyun no sofá lhe depositando um beijo no topo da cabeça.

― Você acha que eu seria capaz de te abandonar?

― Eu não sei, Suho.

― Está tarde Sehun. Vá dormir.

― Mas antes de irmos dormir, poderia ser meu par essa noite?

Não tinha outra maneira de comemorar aquele avanço que deram na vida, a não ser se entregar um para o outro como faziam frequentemente.

❤ ❤ ❤

 

Sehun e Suho começaram a faculdade aos dezessete anos, e aos 20 já tinham terminado, porém só Sehun exerceu uma profissão. Enquanto o maior trabalhava, Suho ficava em casa o dia inteiro sem fazer nada, apenas lendo.

Sehun detestava livros, mas se Suho pudesse, passaria a vida os lendo.

― Você não morre de tédio aqui dentro? ― perguntou o mais velho se jogado na cama. Tinha acabado de voltar do trabalho e nem a roupa tinha tirado.

― Não ― respondeu ainda concentrado em um livro.

― Você ficaria mais feliz se tivesse uma companhia?

Sehun era do tipo que faria o possível e impossível para ver o menor alegre e sorridente. Se precisasse dar o mundo ao menor, daria.

Mal sabia Sehun que o seu amor por JoonMyun já era o suficiente para deixar o rapaz alegre.

― Que tipo de companhia? ― perguntou o garoto.

― Não sei. Um bebê.

― Está me gozando, Sehun?

― Você seria mais feliz se tivesse filhos?

― Sim. Mas porque essas perguntas agora?

― Eu não sei como as pessoas planejam ter filhos, Suho. Eu só estou fazendo do meu jeito.

― Por que não disse antes que queria ter um bebê?

― Podemos então ter um bebê? ― Sehun saltou da cama um pouco surpreso com as palavras de JoonMyun.

― Eu acho que podemos.

❤ ❤ ❤

 

 

Passado um ano, Sehun e Suho conseguiram o que tanto queriam. Uma filha.

O nome dela era Yerin, como nos sonhos de JoonMyun.

Acompanharam a gravidez inteira de sua progenitora, e quando Yerin nasceu, foi uma festa só para o casal.

Não poderiam passar a vida toda num apartamento, precisavam ir morar em uma casa maior e aconchegante para um bebê. E foi isso que fizeram, dirigiram quarenta quilômetros longe da cidade, para uma casa absurdamente enorme e agradável.

❤ ❤ ❤

 

Sehun acordou de seus devaneios, e ao levantar-se da cadeira de escritório, sentiu o coração apertar.

Aquilo tudo era tão recente, não fazia nem três meses sequer.

― Você prometeu nunca me deixar ― sussurrou. Mas sabia que JoonMyun não ouviria.

Sehun saiu do escritório e caminhou novamente até o quarto, o lugar onde tudo de negativo na vida deles começou.

❤ ❤ ❤

Uma manhã assim como qualquer outra, mas com uma diferença: JoonMyun colocou os óculos que ficaram abandonados por alguns anos depois de sua cirurgia.

― Há algo de errado com você? ―perguntou o maior se levantando da cama.

― Não, eu estou bem.

― E o por que dos óculos?

― Sinto como se as coisas estivessem mais limpas.

― Tudo bem. Eu volto as três para ficar com a Yerin.

― Tudo bem.

Devido a nova casa e a Yerin, as coisas passaram a apertar um pouco financeiramente. Foi por isso que JoonMyun também começou a trabalhar.

Ambos começaram a revezar os horários para cuidar da garotinha já que não podiam bancar uma babá. Na parte da manhã era Sehun que trabalhava, e na parte da tarde era Suho.  Trabalhavam oito horas por dia, mas o suficiente para trazer uma boa recompensa para casa no final do mês.

Yerin tinha somente dois anos, mas dava um gasto danado, sem contar que faltava somente três meses para a garotinha completar os seus três anos.

― Você voltará que horas? ― Sehun perguntou.

― Provavelmente as onze.

― Eu vou te esperar acordado.

― Não é necessário, Sehun. Amanha você acorda cedo.

― Sabe que eu não consigo dormir sem você em casa.

― Deveria pelo menos tentar.

― Sem chances ― falou andando até o menor e lhe selando os lábios ― até mais tarde.

― Até.

― Eu te amo.

― Eu também te amo.

❤ ❤ ❤

 

No mês seguinte, Sehun jurou ver coisas estranhas acontecer.

JoonMyun errava o interruptor da luz, se queimava no fogão, derrubava copos e cambaleava pela casa. Mas o pior era que, JoonMyun não tinha aberto um livro sequer naquele mês.

Sehun detestava livros, mas Suho os amava, e ficam sem os ler era algo sem dúvidas deprimente para o garoto.

― Você vai ficar bem? ― perguntou o maior.

― Vou?

Suho olhava para qualquer canto, menos para os olhos de Sehun.

― Eu posso confiar em você?

― Pode.

― Leve os óculos, tudo bem? ― sugeriu.

JoonMyun foi até o centro da sala pegar os óculos que estavam na mesinha de centro, mas o percurso até lá foi um pouco difícil.

― Até mais tarde ― falou andando até a porta.

― Até. Eu te amo.

― Eu também te amo.

❤ ❤ ❤

Sehun saiu do quarto deixando Yerin lá. Rumou até a sala se sentando no sofá. Aquela casa sempre pareceu tão vazia sem JoonMyun, mas Sehun sabia que o vazio sempre ia embora quando o menor chegava do trabalho.

Só que dessa vez o vazio permaneceria, porque JoonMyun nunca voltaria para casa.

O coreano se deitou no sofá e fechou os olhos, precisava do desfecho daquela estória.

❤ ❤ ❤

 

Era uma noite chuvosa, e JoonMyun ainda não tinha voltado para casa.

― Ele vai demorar muito? ― perguntou Yerin sentada no sofá observando o pai observando as janelas freneticamente.

― Não sei Yerin. Mas já era para ele estar em casa.

― Eu estou com saudades.

― Eu também estou, Yerin ― falou o rapaz andando até a garotinha e a pegando no colo.

― Ligue para ele.

― Estamos sem sinal, não tem como.

― Eu não gosto de chuva ― falou deitando a cabeça no ombro do maior.

― Eu também não ― respondeu baixinho tentando confortar a criança que parecia assustada com  tal sumiço de JoonMyun.

JoonMyun estava cansado, e para facilitar, o mundo parecia estar desabando.

Estava escuro e a pista estava escorregadia. Sem contar a ”perda de visão” que JoonMyun jurava estar enfrentando.

― Droga ― murmurou ― eu preciso parar ― falou diminuindo a velocidade do carro e encostando com ele no meio fio da estrada, para em seguida ligar o pisca alerta e buscar pelo celular.

― Sem sinal ― murmurou novamente.

Só queria poder chegar em casa para dar um beijo de boa noite em Yerin e se deitar com Sehun. Talvez tudo isso fosse possível se não sentisse um impacto na traseira de seu carro. Impacto esse quem empurrou o carro para longe fazendo com que a cabeça de JoonMyun batesse e tudo ficasse branco.

❤ ❤ ❤

Centenas de acidentes de transito aconteciam em noites chuvosas, mas somente aquela corroeu Sehun por dentro. Por algum motivo, não queria acreditar na perda de seu amado.

Agora JoonMyun estava morto, e aquilo era tão recente que Sehun não sabia como levar tudo aquilo.

Sehun não veria mais Suho perdido em livros. Sehun não veria mais o menor corar toda vez que dissesse ”eu te amo” na hora em que estivessem fazendo amor. Sehun não veria mais JoonMyun cuidar de Yerin como se ela fosse uma jóia. E talvez, o pior de tudo. Sehun já não veria mais aqueles olhos, aqueles olhos que eram tão claros como as águas dos oceanos mais puros, aqueles olhos que se pareciam com vidros, aqueles olhos que eram a copia perfeita de Cristais e Diamantes.


Notas Finais


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