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História Cromatic - Faminta por


Escrita por: N-KIDDO

Notas do Autor


Hello!!! Desculpa a demora gente! Senhor, tive umas mil coisas pra resolver, e comecei escrever tudo em partes. Juntar tudo sucks ushauhsahshausa
BEM-VINDOS OS NOVOS LEITORES! Por favor, me digam o que estão achando! Eu encurtei o cap de novo, mas eu juro que vão ficar maiores hsauhshashuasa esse cap mudou mt! Ia ser totalmente diferente, mas eu decidi que ia ficar péssimo, então aí está o resultado!

Capítulo 6 - Faminta por


Fanfic / Fanfiction Cromatic - Faminta por

CROMATIC

Por:N.kiddo


 

Capítulo: Faminta por

Confie em mim. Se não quiser olhar…

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PETRA

— ...e quando nos transformamos, até mesmos humanos sentem o cheiro de medo, como se fossem um de nós. Nós emitimos o terror, e eles sentem o resultado, pois quando uma alcateia se une, cidades são tomadas e reinos destruídos…

A Ral suspira, tentando disfarçar o sorriso morto que fez sombra em seus lábios. Não tinha humor algum para rir, e mesmo assim, a história de Auruo lhe causou comichões. Aquilo era uma lenda, e não passava de uma. Nem a pessoa que recitava a história ou seus ouvintes estiveram vivos na época em que Lycans estavam em guerra. Agora, toda a geração estava reunida ali, tentando se fortalecer após quase serem extintos.

À sua frente, o fogo crepita e cospe chamas. Todas as noites eram de festa para Lycans. Os mantinham acordados, alertas, prontos para batalha — uma que só ameaçava, anos a fio. Olhou-o, acreditando que se o fizesse por tempo o suficiente, como a fumaça, seus problemas se dispersariam no céu e desapareceriam completamente. No entanto, a realidade era muito mais severa do que as chamas que lambiam o ar. Estava encolhida e pequena, mas nenhum de seus companheiros fez menção de interferir em seu luto pelo orgulho. Abraçou as pernas contra o corpo, enfiando a cabeça ali. Petra dificilmente sentia raiva. Para Lycans, sentir raiva era o mesmo que perder o controle sobre o espírito que os habitava. Era um sinal de fraqueza. Mesmo assim, se permitira odiar algumas coisas ao longo da vida. Odiava Amaldiçoados, com seus olhos brilhantes beijados pela lua e a boca com caninos afiados, prontos para drenar a vida daqueles que lhe eram queridos. Também se corroía por Hunters, que os caçavam e comiam de sua carne para ganhar força, além de vestirem suas peles. Agora, tinha um novo objeto de desprezo; ou melhor, alguém. Mikasa. Odiava como Levi olhava para ela, tão atraído e curioso. Ela tinha tomado seu lugar no trono, tão facilmente quanto as estrelas brilhavam acima de si.

Anos atrás, Levi e Petra possuíam um forte laço, contudo, a acobreada descobrira a afeição discreta do amigo após ter perdido a confiança em si e ter cedido para a traição. Descobriu então, que Levi se importava afinal, mas era tarde demais — o perdera. Graças ao seu nome, Ral, acreditara que não importava o motivo, os dois eventualmente acabariam juntos, afinal, ambas as famílias eram antigas e carregavam uma linhagem por gerações. Ela queria estar no topo e comandar os Lycans para acabar com seus inimigos juntamente à Levi. Agora, parecia um sonho distante.

Dentro de suas pálpebras, o cheiro de cor vermelha escura, dança. Era Mike. Escuta o homem se acomodar no mesmo tronco que ela, e por vários momentos foi tudo que fez. Petra por vezes o achava irritante. Mike surgia e consertava tudo apenas com sua presença. O silêncio dele a fazia querer colocar toda a sua irritação para fora. Ele sempre fora assim, mesmo quando garoto.

— Sei que não tenho direito de ficar triste — Admitiu, virando o rosto e provavelmente borrando a maquiagem no processo. Ainda estava com a cabeça deitada nos próprios braços quando ergueu os olhos até os dele. Mike a olhava com seriedade e ternura de um irmão mais velho.

— Porque acha isso? — Disse, tranquilamente. Seu semblante sempre sério a fazia pensar em Levi. — Acha que é a única que comete erros?

— Sei que não, mas o erro que cometi foi o de mentir. Perdi sua confiança porque menti para ele. E agora… ele está com aquela… aquela… criança sem cheiro!

A odiava. Odiava seus cabelos lisos e escuros como a noite e a pele clara como porcelana. Odiava sua expressão ausente que parecia se iluminar quando estava com o grupo por perto. A odiava ainda mais por ter Levi e partilhar o futuro da alcateia ao lado dele.

— Você tentou recuperá-lo alguma vez? — A acobreada fez que não, perplexa. O fogo atrás deles estala, parecendo repudiar a garota pelo simples fato dela esquecer o mais óbvio de tudo; não desistir. — Talvez esse seja o problema, Pê.

Não soube se estava tão focada no que Mike dizia ou o silêncio se dava aos animais se aquietando durante a noite, mas, de repente, como um sinal de incentivo, as corujas gritaram para a escuridão e os grilos tocaram seus instrumentos. Deveriam ser onze horas da noite, tarde demais para sentir tanta esperança comemorar dentro de si.

Olhou para a Lua, a Deusa mais mãe que a sua própria. Sua guia. Talvez fossem as estrelas, que sempre acompanhavam e adornavam, mas hoje estava especialmente bela. Queria encontrar Levi e arrancar aquela garota de perto dele imediatamente. Até ficou de pé, mas então lembrou que não o via desde a manhã.

Ia perguntar quando ouviu Auruo chamar Mike.

— … E esse cara aqui, pode ser novo, mas marchou até o acampamento dos hunters e trouxe seus cadáveres dentro da boca. Conte para eles como vingou nossos irmãos!

— Acho que você bebeu demais, Auruo.

— E você de menos, meu bom amigo!

Petra levanta do tronco de madeira improvisado como banco e se dirige até a cabana de Levi. Talvez estivesse lá, e talvez, tudo desse certo entre os dois, desde que se esforçasse como Mike disse. A noite a engole e o fogo abandonou-a à medida que se afasta da multidão calorosa de Lycans. Agora, a cara emburrada era um sorriso triste, ainda tentando se convencer de que havia alguma esperança para celebrar e lutar. Apertou as roupas entre as mãos, experimentando o jeans com os dedos. Vai dar tudo certo.

Não consegue impedir as imagens do dia em que traiu Levi. Não tinha feito aquilo por deixar de amá-lo, não. Tinha feito por acreditar justamente o contrário. Na época, não tinha percebido o quanto o moreno era discreto em tudo que sentia. Para ele, menos era mais. Uma leve erguida no canto do lábio era sinônimo de felicidade e tranquilidade. A mesma máscara que usava no dia em que Mikasa se preparava para dar um tapa em um Lycan, não consegue conter a preocupação que sentiu. Petra queria tudo aquilo para ela.

— Pê! — Escuta a voz de Auruo chamar, mas não diminui o ritmo. Auruo também não desiste. A alcança entre as cabanas vizinhas as de Levi e a pressiona contra as paredes de madeira. Não machucava, nem um pouco, mas a deixou enervada. — O que aconteceu?

— Me solta! — Rosnou. Se ficasse mais um segundo com ele, talvez perdesse toda a garra que tinha agora.

— Para onde está indo com tanta pressa — Auruo estava sem camisa, e o bafo de alcool era forte para o nariz sensível da garota, no entanto, nenhum dos dois era anormal para Lycans. O homem olha para longe, na direção que a amiga parecia ir, e percebe que estava perto da cabana dele. — O que vai fazer?

— Reconquistá-lo — Declara, o semblante sério, com os olhos faiscando de determinação. — Recuperar meu lugar ao lado dele, e como líder. Tirar aquela garotinha do meu lugar.

— Você pode fazer tudo isso, e terá meu apoio — Garantiu, apertando ainda mais o corpo dela contra o dele — Mas não finja que não existo. Tudo que faço e fiz foi por você, Petra.

— Me envergonhou na frente de todos… de Levi!

Os lábios praticamente se uniam, separados por poucos centímetros e palavras. Petra sentiu seu corpo inteiro contrair. Era uma loba, e um animal tinha suas vontades, e seus instintos jamais seriam reprimidos. Deixou que a perna de Auruo separasse suas coxas.

— Disse o que todos estavam pensando, mas não tiveram coragem.

— Fiz papel de boba! — Protestou, a voz saíra como um fio, perdida ao vento.

— Ninguém pensa isso. É uma Ral. Todos te desejam como líder, e não uma humana fraca qualquer. Kenny até mesmo me disse que era uma prostituta. Ele está te fazendo ciúmes, garanto.

A coxa forte de Auruo se fricciona no ponto mais sensível de Petra. Eles se beijam ali, no escuro, longe do olhar de todos. O homem a joga de costas contra a parede e abre o zíper da calça. Com força sobre humana, quase rasga o jeans da garota e a penetra com força. Petra não gemia, rosnava, querendo destruir a casa e o mundo enquanto sentia seu interior se apertar em volta dele.

Estava quase chegando ao seu ápice quando escutou e sentiu o cheiro de Levi. Da mesma forma violenta que se uniram, Petra o afasta, arrumando suas vestes e caminhando zonza até o centro da fogueira, não acreditando no que via. Auruo veio logo atrás, perguntando em sussurros porque Levi estava parecendo tão exausto e vestindo apenas um calção. Mikasa, ao seu lado, comprovava o pensamento de Kenny — vestia apenas uma blusa e cueca, como uma prostituta no meio de todos os lobos. No entanto, ninguém atacou. Ninguém ousaria.

— …Não podemos mais ignorar os sinais — Dizia ele — O tratado agora não passa de uma formalidade, uma regra não cumprida. Nossos inimigos estão se preparando para a guerra, e dessa vez, não sobrará um lycan para nos reerguer. Nós temos que lutar!

A tribo parecia concordar, balançando a cabeça positivamente. Mesmo estando escuro e a única fonte de luz vir de uma fogueira, Petra conseguiu ver o chapéu de Kenny aparecer a medida que se aproximava da multidão, batalhando pela atenção de todos.

— O que está tentando fazer? Destruir tudo que nos manteve a salvo por anos? Os Lycas estavam a beira da extinção! — Quando o outro líder aponta esse fato, algumas pessoas se sentem culpadas por terem se animado com o discurso de Levi, Petra conseguia ver isso. A acobreada estava cansada de paz. Um bom músculo se atrofia com o tempo de desuso.

— E ficarão novamente. Olhe nossas perdas. Quinze Lycans em um mês. Hunters e Amaldiçoados estão comendo pelas beiradas. Quando estivermos fracos e sem números, atacarão com ou sem tratado. É um tolo se acredita que uma promessa dita aos ventos por chefes que podem não viver mais, vale para alguma merda. Iam me prender hoje, e sabiam bem quem eu era.

O silêncio se espalhou como uma praga. Petra estava congelada no mesmo lugar, mas consegue virar os olhos até Auruo. Ele representava perfeitamente a expressão dos outros, como um espelho. Pavor. Fúria. Choque. Ameaçar um líder era um assunto muito sério, ainda mais um Ackerman. Ela sentiu seus órgãos despencarem dentro do corpo e as pernas ainda úmidas fraquejarem. Poderia ter caído, se fosse uma humana normal. Ela sempre soube, mas preferiu ignorar. Os seus amigos iam sumindo um a um, mortos, e mesmo assim, todos se contentavam com uma ou duas mortes de caçadores e Amaldiçoados. Agora percebia o peso de seus pecados nos ombros. Sempre esteve lá, mas era forte o suficiente para carregá-los por ai.

Estavam todos brincando de casinha.

— Eu discordo, meu sobrinho, então acredito que estamos em um empasse, não é?

Para a tribo, os dois representavam força parelha, então a escolha de um novo e único líder se posterizou para um momento de crise. Até esse momento chegar, os dois deveriam tomar decisões juntos, e se discordassem, nada aconteceria. Eles raramente entravam em empate pois desejavam o mesmo — um desejo pessoal que Petra estava bem ciente — vingança contra os vampiros, que lhes tomaram os mais queridos. Uma irmã e uma mãe.

Levi ergue um canto dos lábios, o olhar tranquilo, como se esperasse essa exata reação. Parecia exausto, pronto para desmaiar, mas, ao mesmo tempo, sua pose dizia que estava pronto para matar. Ele e Mikasa conversam por um momento, e depois Levi desce do pequeno palanque, ficando cara a cara com o tio.

— Nós vamos lutar. Está na hora de acabar com imparcialidades.

Kenny sorri maliciosamente e arranca toda a parte superior das roupas. Apesar da idade, Petra achava que eram uns 40, seu corpo era definido. A última coisa que atirou pelos ares foi o característico chapéu. Parecia legitimamente chateado por rasgar as calças de aparência nova.

— E pretende ascender como? Uma humana não pode nos representar. Tem outra decisão para noiva?

Foi suave, mas não houve um lobo que não lançou um olhar para Petra. Os Ral eram a escolha certa. Mas Levi não olhou. Puxou a garota prostituta e mostrou um corte catastrófico em seu braço. Ela fora marcada. A reação de todos foi unânime. Surpresa com uma leve reverencia. Um humano que se arrisca a se tornar um Lycan é um guerreiro como qualquer outro, devido ao processo doloroso. Petra sentiu o coração ser amarrado a uma ancora e jogado no oceano.

— Resolveria isso em sete dias, mas não tenho tempo. Nós não temos tempo.

— E se ela morrer?

— Não irá.

Aquelas palavras sentenciaram a batalha. Petra ouviu o som de ossos quebrando e desviou os olhos para espiar a expressão da garota. Se ela fosse uma prostituta como Kenny dizia, jamais se colocaria sobre essa transformação dolorosa. As chances de sobreviver eram pequenas, e a de entrar em beserker ainda menor. Um risco que uma pessoa comum jamais tomaria. Porque a garota não tremia de medo ou chorava? Porque não corria dali? E o pior, porque não tirava os olhos e Levi?

Quando voltou a olhar a batalha, dois lobos gigantes já se arrancavam pedaços.


 

MIKASA

— Aconteça o que acontecer, não se envolva dessa vez. — Seu braço treme, pronto para levantar, querendo impedi-lo. Mikasa tinha o visto brigar antes e não sabia se estava pronto para vê-lo banhado em sangue novamente. Estava tão cansado… — Confie em mim. Se não quiser olhar…

— Eu vou. — Garantiu, receosa.

O som dos passos de Levi retumbaram no fundo de seus ouvidos. O ranger da madeira no momento em que abandonou o pequeno palanque talvez ficasse gravado para sempre em si. Era a canção que Levi fazia ao abandoná-la para apostar sua vida. Ainda sentia o cheiro de algo queimado e ao mesmo tempo o frescor da floresta, mas não computava nenhum deles. É seu tio, Levi, sua família, quis dizer. No entanto, emudeceu-se e uniu aos mãos úmidas e gélidas contra o peito, imaginando que todos os seus medos e angustias estavam presos em uma gaiola de dedos bem ali.

Por isso, não estou assustada. Nem mesmo agora. Porque você está aqui.

Naquela noite tumultuada, aquela frase parecia se perder no tempo. Quanto tempo havia ousado soar aquelas palavras? Certamente, acreditar que faziam apenas algumas horas parecia . Lembrou de como ele deixou que ela o tocasse, e então, juntos, caminharam até o acampamento. Durante o caminho, Levi olhou sempre para frente, como se temesse olhá-la nos olhos. Levi só a olhava por meros segundos, nunca diretamente nos olhos. Sempre estavam em outro lugar — seu objetivo. Como agora.

Não voltou a lançar-lhe um mínimo olhar de confiança. Só tinha suas costas firmes agora, e era só nisso que podia confiar. O cheiro de fumaça e carne enchia a mente da morena. Estava zonza e febril, e o braço doía como se o tivesse perdido no caminho. Queria apertar a ferida, no entanto, a dor era esdruxulante e insuportável. Precisava aguentar, disse a si mesma. Preciso ser forte. Todos precisam me ver como alguém forte. Jogou o peso do corpo para uma das pernas e tentou manter os olhos em seu prometido (será que ainda eram?) o máximo que podia, vendo Levi como sua própria força. Não queria tirar os olhos dele de forma alguma, temia cair se o fizesse, mas algo a alfineta com tanta força que não tem escolha a não ser olhar. Petra.

A encontrou desajeitada e de olhar caído. Parecia estar ali a mil anos, e poderia esperar outros mil. Enquanto Levi e Kenny se transformavam, Mikasa ignora o som de ossos quebrando e remontando. Ignora os uivos e os rosnados. Todos ali haviam desaparecido, deixando apenas as duas. Mikasa não conhecia muito bem o desprezo. Vira nos olhos de Kenny e de vários integrantes da tribo, mas nunca com aquela intensidade. Podia ver de trás dos olhos, a chama que queimava. Petra a queria morta da mesma forma que Mikasa queria viver.

Petra quebra o contato primeiro e passa a observar a luta. Mikasa também arrasta seu olhar da direção dela e volta para Levi, em vão. A batalha era rápida demais para se acompanhar. Eram rosnados agressivos e uivos dos espectadores, o pelo e esguichos de sangue jorrando por toda a parte. Os que conseguiam um pouco dele, pulavam de alegria e comemoravam, banhados no vermelho. Pedaços de pelo e nacos de carne. O cheiro era assustador. Contém o corpo trêmulo, mas não pode evitar de ficar horrorizada.

Naquele momento de horror, decidiu colocar uma máscara ausente, desprovida de emoções. Não comemoraria suas vitórias ou choraria as derrotas de seu querido. Sim, querido. Mikasa não conseguia lembrar de outra palavra que o definisse melhor, senão aquela. Substitui cada imagem daquele cenário com lembranças felizes. No lugar do sangue que jorrava pelos ares, imaginou a água do mar se espatifando contra as rochas na noite em que se encontraram, e todos os sentimentos daquele momento. No lugar do golpe e o som que ossos quebrados, pensou na postura serena que Levi sempre tinha, mesmo quando estavam todos juntos. Sequer piscou quando um lobo foi esmagado no chão pelo outro; estava lembrando da primeira manhã juntos, quando ele ofereceu para todos uma xícara de café amargo, mas para Mikasa, um suave chá de baunilha, trazido da cidade. Ele sempre era discreto; Jamais diria que pensou nela enquanto lhe ofertava a porcelana delicada, agora, deixá-lo na mesa era muito mais honorável. Mikasa percebia aqueles detalhes, mas agora, se concentrava em ignorar todos eles enquanto segurava as lágrimas quentes nos olhos.

Fique bem, rezou, mesmo sem saber que rezava. Não me deixe sozinha, pois não tenho mais ninguém.

Logo, o lobo cinzento de Kenny cambaleia, tropeçando nas próprias patas, tentando inutilmente se manter. Levi não teve misericórdia, mordeu o tio pelo pescoço e o atirou no chão. Alguns companheiros quase foram esmagados no processo. Os olhos ambares do Lycan de Levi pareciam dizer “Fique aí, no chão”. Levi parecia exausto, no entanto, Kenny tombou a cabeça e fechou os olhos. Mikasa percebeu o quanto estavam feridos e sentiu o coração se espremer, como se desejasse subir por sua garganta; Acabou, disse a si mesma. Levi venceu.

O pequeno fragmento de esperança e tranquilidade fora aniquilado enquanto mais três integrantes da tribo se transformavam, partindo para cima de Levi. Não, aquilo era injusto! Levi já estava exausto!

Mandou o corpo na direção do coração da briga, pronta para intervir e salvar seu querido, mas alguém a puxa firme pelo ombro, trazendo a lembrança da dolorosa ferida. Manteve-a ali, imóvel, fadada a assistir três lobos quase do tamanho das cabanas cercarem seu amigo, ameaçando-o com mordidas e rosnados.

— Isso é uma disputa para líder da tribo. Qualquer um pode participar. Só termina quando não houver mais que um candidato. — Esclareceu Hange, paralisando sua mão no ombro da morena, impedindo-a de mover um músculo sequer. Mikasa sentia o corpo inteiro queimar como a fogueira atrás de si, e estava exausta e machucada demais para revidar.

— Levi já estava machucado… não é justo!

— Nós somos assim, minha cara. Se vai ser uma de nós — Ele diz, puxando o braço da garota de uma forma que pudesse ser vista por ela. — Terá que se acostumar.

— Ele é seu amigo — Implorou, a voz fraca como um sussurro no vento — Não vai ajudá-lo?

Dessa vez, Doc não respondeu. A luz das cabanas expunham seus óculos a muita luz, os tornando brancos e seus olhos invisíveis. A boca forma uma linha reta. Mikasa não ousou dizer uma só palavra.

Olhou em volta. Todos gritavam, como um festival. Para a tribo, aquilo era um show que deveria ser assistido e comemorado. Mikasa não entendia aquele mundo, ainda. Aceitava sem uma única dúvida que Levi era um lobo de mais de um metro e setenta. Como poderia? O vira se transformar diante de seus olhos. E agora fora castigada com a verdade, enquanto a tribo se destruía pela posição de líder. O primeiro Lycan arrisca um golpe carregado, acerta Levi na cabeça, levando tufos de pelo. Mikasa quase solta um gemido de tristeza, no entanto, Hange aperta seu ombro para lembrá-la de seus deveres. Firme.

Um golpe veio atrás do outro, esmagando a camada de pedra que Mikasa havia se colocado. Seu corpo tremia a cada golpe desferido e recebido. Levi esmagou crânio de um no chão e mordeu o pescoço de outro, deixando um só Lycan para tentar lhe roubar o título de líder. Todos que assistiam vibravam, já cobertos em sangue torcendo por nomes que se mesclavam e confundiam. Petra e Mikasa eram as únicas que pareciam ansiosas com a situação, desprovidas de gesto de comemoração. O lycan amarelo avança, atiçando o humor de Levi com rosnados altos e apavorantes. Mordiscava aqui e ali, provocando o lobo exausto de seu amigo. Mikasa procura alguma reação em Hange, algo que a dissesse como deveria se sentir, mas não encontra nada.

Então atua o nada.

O lobo amarelo se coloca nas duas patas, pronto para descer as dianteiras, com suas garras longas e mortais. A única coisa que a mantinha ali, assistindo aquela cena, era a mão anormalmente pesada do doutor. Tranca a respiração, mas não devia o olhar — nem por um único momento — enquanto Levi rasga as vísceras de seu inimigo, banhando o chão com o sangue inimigo.

Uma música conhecida ressoa em seus ouvidos, ecoando, como se estivessem todos em um salão de dança dourado; viu corpos dançando diante de si, viu os Lycans sorrindo e rindo, banhados de vermelho e sentiu medo. De repente, Levi não era um lobo, e sim, sua forma humana, com nacos de carne faltando nele e a pele escarlate, no meio de lobos caídos e o corpo do tio.

Não suportava mais. Sua cabeça ardia em febre e os olhos imploravam para se trancar. Tentou chamar por Levi, mas nenhuma voz saiu. Ninguém se aproximava dele, parecia algum tipo de teste — se ele caísse, perderia. Mikasa caminhou até ele, tropeçando nas próprias pernas, vendo o chão ir e vir, correr e desacelerar.

Lembrou de escutar o próprio nome enquanto a escuridão a engolia para longe dali. Também achou ter visto os olhos de Levi, mas talvez tenha sido apenas sua imaginação.


 


 

Meu coração sangra por você, por você eu rastejo...na escuridão


 

Começou como qualquer pesadelo de criança — estava escuro — escuro demais para sentir o próprio rosto ou compreender a dimensão de si mesma. Onde ela começava ou acabava? Onde estavam seus braços e suas pernas? Só compreendia as palavras daquele fragmento de canção.

Deixou-se flutuar por um tempo, e não sabia se ia para frente ou para trás. Não sabia porque ia, mas ia.

Quantos versos ainda precisa ouvir para que lembrasse de tudo? Agora que se encontrava na escuridão, não conseguia pensar na importância de saber quem era. Tudo que estava ali bastava. Vagou no escuro desprovido de som ou forma até encontrar uma luz.

Mesmo a luz era escura, pensou, deixando que a observação se espalhasse em toda a sua extensão. Agora estava confortável, como se finalmente tivesse voltado para casa. Não queria voltar para a claridade meia boca diante de si. No entanto, descobriu que ainda tinha um coração, pois ele se aperta. De longe, via um corpo despido e estirado no chão. Cada passo curioso que dava na direção dele, sentia seu corpo tomar forma e emergir da escuridão, até recuperar seu antigo eu. Sentiu-se renascida. Agora corre até o corpo, sentindo que cada passo na direção dele era um mais longe. Correu e correu, sem vento ou ar algum para mover seus cabelos do lugar.

E de repente tombou os pés em seu objetivo.

Encontrou seus dedos logo ali, pálidos e delicados, mas sujos de alguma coisa preta (a escuridão, concluiu). Serpenteou o corpo forte e rijo até perceber com certa calma que se tratava do corpo morto de Levi.

Algo no fundo de sua mente sussurrou que ela deveria estar em lágrimas, chorando a perda de alguém tão querido para ela. Deveria estar triste, desesperada, procurando por ajuda — mas não sente nada disso.

Estava, todavia, com fome. Muita fome. Tocou nos lábios, distraída, e percebe que estavam úmidos de saliva, até o queixo.

Você tinha que compreender, Mikasa estava faminta.

Olhando-o ali, com a cabeça tombada para trás, ofertando seu pescoço em silêncio, frio e pálido como a morte deveria ser, Mikasa o achou delicioso.

A garota se ajoelha diante dele com respeito, da mesma forma que um mortal se abaixava para um Deus. Passou as mãos na figura do que um dia fora Levi Ackerman, procurando por algum mísero sinal de vida, sem realmente compreender porque o fazia. Era claro como a água, Levi estava morto diante de si. Tudo nele era imóvel e desprovido de cores. Abaixou um pouco mais o rosto até que os lábios rosados roçassem na tez macia.

Mais saliva grossa.

Mikasa queria que o amigo estivesse vivo agora, só para que pudesse se desculpar. Desculpa, Levi, diria. Desculpa, mas estou faminta.

Então deu a primeira mordida, tímida, e achou maravilhoso. Mikasa achava que Isabel e Farlan cozinhavam muito bem — adorava o frango cheio de batatas assadas e temperos da floresta; o creme doce de amoras que colocavam por cima e o molho de carne que separavam. No entanto, agora que tinha a carne crua de Levi na boca, achou a comida medíocre e sem gosto. Talvez uma mordida fosse o suficiente, pensou, e no entanto, agora acreditava que não havia Levi o suficiente. Será que ficaria irritado com ela se comece suas vísceras? A expressão tranquila dele, quase débil, sugeria que não, então comeu. Mastigou todas as partes suculentas, sentindo o sabor do sangue invadir a boca, e devorou até as que não deveriam ser, mas eram. Comeu Levi inteiro mas deixou o rosto. Bebeu mais do sangue e forrou o estômago com carne.

Agora, tinha Levi para si, e lágrimas quentes nos olhos.


 

Não havia lhe ocorrido em momento algum que tudo não passava de um sonho — uma ilusão — frágil, que bastava um mero reflexo de luz para acabar com todo o cenário, como em uma peça de teatro. A fome fora real, assim como a satisfação dela. Tocou no próprio rosto em busca de saliva antes mesmo de abrir os olhos. Seco. A culpa a atingiu naquele exato momento. Como pode devorar brutalmente seu único amigo e salvador? Se ele deixasse de existir, não sabia o que faria! E mesmo assim, o tinha comido inteiro, bebendo cada pedaço seu. Abre os olhos, sentindo primeiro o forte cheiro de álcool e o metal do sangue. Observou o teto claro até o rosto curioso de Isabel refletir em seus olhos.


 


Notas Finais


Muito obrigada por todo o apoio, gente, de verdade! Se considerem abraçadasss


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