História Crônicas - Sobre a solidão

Eu estou sozinho.
Vocês podem dizer que eu estou exagerando, que eu provavelmente tenho pais, ou amigos, animais de estimação, quem ou que quer que seja que se importe comigo. E você estão certos, exceto pela parte em que eu estou exagerando, pois são todas essas pessoas ao meu redor que tornam esse um dos tipos mais insuportáveis de solidão, aquela onde você se sente sozinho em meio à rostos sorridentes e afetuosos. Eu tenho essas pessoas em minha vida, até mesmo um cachorro e um gato. E ainda assim, digo que estou sozinho.

"Por que?" 

Sim, eu ouvi sua pergunta daqui e tentarei explicar-lhe um pouco do que faz com que algumas pessoas sintam-se completamente sozinhas em meio à multidões, peço-lhe apenas, em troca, um mínimo de empatia que puder dispor em meu favor. Combinado?

Como disse anteriormente, eu tenho pessoas em minha vida que se importam comigo, se importam com o meu bem estar e escutam o que tenho a dizer. O que eu não tenho em minha vida são pessoas que compartilham uma mesma visão de mundo, possuem propósitos semelhantes ou deem importância a coisas que são fundamentais para mim, e que eu tenho a intenção de que deviam ser de extrema importância para todos.
Eu tenho pessoas que se importam comigo mas não se importam com outras pessoas que precisam mais dessa atenção do que eu, eu tenho pessoas que escutam o que eu tenho a dizer mas não escutam outras pessoas que estão desesperadas para serem ouvidas.

Percebem?

Ainda não, né? Tudo bem, vamos continuar.

Essas pessoas solitárias as quais me refiro se sentem sozinhas porque se importam com coisas que ninguém mais se importa, acredito que isso tenha ficado claro para vocês com o que eu disse anteriormente.

"Que coisas seriam essas?"

Sim, já vou dizer. Elas se importam com pessoas que estão fora de seu círculo social, suas preocupações transcendem os limites familiares ou regionais. Elas não se importam apenas com seus pais, filhos, cônjuges, amigos ou as pessoas da região em que vivem. Elas se importam com o mundo, e com tudo o que existe nele. 
São pessoas que não conseguem se dar ao luxo de dizer que "não foi comigo". Porque tudo É com elas, tudo o que ocorre no mundo as afeta profundamente.

"E onde entra a solidão nisso?"

Entra no momento em que ninguém as entende, no momento em que elas estão inseridas em sociedades extremamente individualistas onde se importar é perder tempo, é perder dinheiro. Entra no momento em que ninguém se mostra capaz de entender o motivo de nos importamos com o que está fora do nosso alcance. Entra no momento onde é necessário um motivo para se importar com o que acontece no mundo.

Vê?

Eu não estou falando de qualquer tipo de preocupação, não. Estou falando de pessoas que sentem de verdade coisas que acontecem em âmbito global, pessoas que têm seu humor afetado por questões políticas, ambientais ou sociais que não as afetam diretamente, mas afetam àqueles que mais precisam delas, aqueles que mais estão vulneráveis. 

Lembra daquela empatia que eu pedi lá atrás? Bom, se você leu até aqui, peço-lhe que faça uso dela nesse momento, antes de tecer qualquer tipo de julgamento. Você é uma dessas pessoas? Você é ao menos capaz de enxergar isso de uma outra forma que não seja uma "total perda de tempo"? De uma forma que não seja "frescura"?

Você é capaz de se importar com o que está além do seu círculo de convivência social?

Algumas pessoas são e, por serem tão poucas, se sentem completamente estranhos em uma terra estranha.