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História Crônicas - Sobre as cores e o tempo


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 6 - Sobre as cores e o tempo


Fanfic / Fanfiction Crônicas - Sobre as cores e o tempo

As cores eram o que ela mais amava no mundo. 
Desde pequena ela sempre observava as mais variadas nuances e tons causados pelos feixes de fótons em contato com o mundo. 
O vermelho das rosas na roseira de sua avó que vivia no interior, dos batons de sua mãe que ela surrupiava de cima da cômoda na ponta dos pés, do sangue que escorria vivo sempre que ela ralava os joelho ao cair no quintal.
O azul dos céus de inverno sempre tão limpos e intensos, dos mares que a amedrontavam e a intimidavam sempre que sua mãe tentava convencê-la a adentra-los, dos olhos de seu avô sempre bondosos e atentos a qualquer peripécia da parte dela.
O verde das folhas na primavera sempre tão intensos e pulsando de vida, do gramado no jardim da dona Mirtes, da luz no sinal que fazia o carro acelerar no caminho para a escola.

E tinha também sua cor favorita: o branco.

Por que ela gostava do branco? Porque disseram pra ela que era a única cor que podia ser decomposta em todas as outras e, como ela jamais conseguiu se decidir por nenhuma, ela acabou se decidindo por todas.

Um dia seu avô lhe disse que as cores não existem, algo que, a princípio, a deixou bastante chateada. Até que ele se explicou:

— Dora, cores são apenas percepções visuais, refrações de luz captadas por nossos olhos e interpretadas por nosso cérebro — dizia ele. — Não existe cor, tudo o que existe é luz.

— Mas como podemos perceber algo que não existe? — Perguntava ela, curiosa.

— Da mesma forma que percebemos o tempo. Assim como tudo o que existe é luz,  quando falamos das cores; no caso do tempo tudo o que existe é espaço e movimento. Nós apenas percebemos os efeitos dessas coisas em nossas vidas e elas acabam ganhando formas e significados próprios para cada um de nós. — Respondeu ele, como alguém que sabia muito sobre esses assuntos.

Ela não questionou mais, mas ela carregou tudo aquilo consigo por toda a sua vida e sempre que via um tom de cor que gostava muito ela se pegava pensando se aquilo realmente era real. 
Poderia seu cérebro estar lhe iludindo e criando cores tão bonitas que não existiam de verdade?
Por fim, ela decidiu não se importar. O que importava era o que aquelas cores lhe causavam, a sensação única de poder observa-las e vivencia-las. 
Assim, ela também decidiu levar isso para sua vida rotineira. Não importava se o tempo existia ou não, ela estava ali, de pé em um planeta que girava em torno do sol em um sistema solar que girava em tornou do centro da via láctea que, por sua vez, provavelmente deveria estar girando em torno de alguma coisa também. Embora nenhum telescópio seja pontente o suficiente para determinar do quê.
Ela era uma garota em movimento constante por um espaço desconhecido, caminhando pelo presente em direção ao futuro.
Existindo ou não, ela era capaz de sentir tanto o tempo quanto as cores que a envolviam. Que diferença faria se ela simplesmente os negasse? Isso não faria o tempo parar ou andar mais devagar e não faria o mundo ficar repentinamente em preto e branco ou uma rosa vermelha se tornar verde-neon de uma hora para a outra.
Existindo ou não essas coisas, ela sabia que ela existia e, enquanto ela existisse e se apercebesse do mundo, essas coisas existiriam para ela.

Cores mudam o tempo todo de acordo com as frequências das ondas de fótons que atingem os objetos, de acordo com a intensidade de luz que os perpassa.
O tempo passa e os momentos mudam a cada milésimo de segundo de acordo com a velocidade com que um corpo de move pelo espaço.
Dessa forma, o que vale é o que você vê agora, as únicas cores reais são as que você é capaz de enxergar nesse instante.
Assim como o único momento real é o atual, enquanto você enxerga essas letras e as transforma em palavras que se tornam frases que dão sentido ao que quer que você pense sobre esse texto ao termina-lo.

No fim, o presente é a única realidade possível. 

O agora é a única coisa que existe.



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