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História Crônicas de Heróis - Prisão de Luxo


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Olá <3

Capítulo 88 - Prisão de Luxo


Ino

 

 

 

Vivia em uma prisão de luxo, ainda que nem todos reconhecessem o lugar daquela forma. Nunca em sua vida Ino tinha permanecido em um local cercado por tantas muralhas, portanto, sentia-se como um pássaro em uma gaiola muito alta, acima de grande parte do mundo.

Em Hyunin, quando ela via a cidade e o castelo de fora, não podia ter ideia de que aquelas muralhas eram tão sufocantes para quem vivia lá dentro. Quando ia com a mãe vender flores na cidade, achava aquilo magnífico de ser observado, sem jamais parar para refletir sobre como seria observar todo dia, ao acordar e ao dormir, aquelas maciças paredes que serviam como proteção.

Cada pequena peça daquele imenso castelo, até mesmo seu salão de entrada, tinha tantas peças de luxo quanto Ino nunca havia visto reunidas no mesmo lugar em todos os seus dezesseis anos de vida. Nos primeiros dias, ela tinha medo de andar pelos locais e esbarrar em algo, estragar tudo. Mas precisara, e até hoje precisava, andar por todo o castelo, durante o dia inteiro, tendo lições com seu tio sobre a história do Ninho do Gavião e a história da Casa Yamanaka, vinda de tão longe.

Por sorte, seu tio era uma pessoa que a recebera de maneira muito positiva, desde o princípio. Ele era fisicamente parecido com Inoichi, mas seu jeito era extremamente diferente. Embora Inewin fosse um homem sério, ele era naturalmente mais agradável, e por vezes até mesmo fazia algumas piadas. Além disso, havia também Sor Yahiko, seu principal guarda-costas, com quem ela passava os dias inteiros e que também era muito amável com ela.

–  Nossa história, especialmente após chegarmos em Letoria, foi construída por mulheres extremamente poderosas. Por isso o gavião é nosso símbolo, e por isso nosso castelo é chamado de Ninho do Gavião, não apenas porque essa é uma região de gaviões, mas também porque entre eles, as fêmeas são maiores e mais poderosas. Poderia citar para mim algumas dessas mulheres poderosas, segundo o que já estudamos?

Ino aquiesceu, lembrava-se de quase todas, mas eram nomes demais, então apenas alguns haviam permanecido em sua memória.

–  Aylene Hyuuga, depois Yamanaka, e depois Hyuuga de novo. Leora Namikaze, depois Yamanaka, e sua filha Taliana Yamanaka. Herina Yamanaka, depois rainha Herina Uchiha. Senhora Inorya Yamanaka, a inclemente. Entre outras…

–  Entre outras significa que você não lembra de nenhuma outra.  –  O tio de Ino constatou. Sua resposta foi apenas uma risadinha.  –  Mas é bom que se lembre. Uma senhora precisa conhecer todos os seus antecessores no posto, mas enquanto mulher, precisa conhecer principalmente suas antecessoras. Isso serve como uma boa defesa para consolidar o próprio poder.

Estavam em uma das pontes abertas, a que ligava a torre aos ardaves. Nos primeiros dias, Ino podia sentir suas pernas tremerem toda vez em que ficava naquela posição, mas agora, com quase duas semanas vivendo naquele local, já havia se acostumado. Dali, tinham uma visão bastante ampla da cidade que se esparramava abaixo deles, e toda vez que Ino enxergava o primeiro anel, lembrava-se de sua mãe. Ela devia ter sido minha antecessora. Se as promessas feitas a ela tivessem sido verdadeiras, talvez ela ainda estivesse aqui.

–  Eu sei disso, tio. Continuarei estudando.

Ino olhou para Sor Yahiko, que estava logo atrás dela, como sempre ficava, de olho em cada movimentação ao seu redor. Aquela segurança era extremamente necessária, já que aparentemente a mulher de Inoichi desejava Ino morta a cada inspirar e expirar dela dentro daquele castelo. Mas Yahiko vinha sendo mais do que uma segurança: era uma companhia. Após alguns dias, provavelmente uma semana, ela percebeu que podia confiar nele o suficiente para pedi-lo algo especial, que desejava desde sua chegada naquela cidade.

“Eu desejo ir até a estalagem onde minha mãe viveu, mas temo ir sozinha”, dissera. Sor Yahiko fora bastante compreensivo com ela, e oferecera-se para acompanhá-la sem que ela precisasse pedir demais. Quando Ino manifestou sua estranheza em relação àquilo, ele dissera “Meu dever é protegê-la, minha senhora”. Achava tão estranho ser chamada daquela maneira, sentia até mesmo seu rosto esquentar. Precisou pedir para que ele não a chamasse mais daquele modo.

“Como deseja que eu a chame, então?”, ele perguntou, aparentemente confuso com o pedido. Devia estar acostumado a se referir daquele modo às pessoas do castelo, mas Ino não estava acostumada a ser a “Senhora”. “Chame-me apenas de Ino”, pediu. Ele vinha se acostumando, mas por vezes ainda cometia um ou outro deslize.

–  Por hoje já fizemos o suficiente, tio?  –  Perguntou ela. Inewin deu de ombros.

–  Você está acima de mim na hierarquia. É você quem diz se foi suficiente ou não.

Aquilo ainda não era algo que ela tinha clareza sobre, mas era bastante útil.

–  Então, eu sairei pela cidade com Yahiko. Ainda preciso conhecer melhor o local onde viverei e governarei.

–  Desde que Sor Yahiko esteja inteiramente responsável por sua segurança, está tudo bem.  –  Inewin virou-se para Yahiko.  –  Sor, é melhor que ambos sigam até lá com as devidas roupas e identificações, para evitar possíveis problemas. Estamos em uma época de guerra e ânimos exaltados, e você deve saber bem sobre os relatos trazidos pela patrulha da cidade. Há problemas diários em todos os anéis, com violências fora do comum.

–  Sim, meu senhor.

–  Bom, então vamos logo. Não preciso trocar de roupas, apenas pegar uma liteira.

Aquilo era algo que Ino apreciava: podia solicitar uma liteira a qualquer momento, puxada por bois ou carregada por guardas, de qualquer forma não precisava montar em um cavalo caso não desejasse. E naquele dia, especificamente, não desejava. Queria estar impecável diante da família de sua mãe, vê-los com os próprios olhos e ouvir o que eles teriam a dizer sobre ela.

Naquele dia, usava um vestido de cetim do tom de azul marinho do estandarte da Casa Yamanaka, com o corpete tapado por renda preta e as saias e as mangas com arabescos em fio de prata. As roupas que faziam para ela eram roupas que nunca antes imaginara usar, e seus sapatos eram tão confortáveis que parecia estar sempre pisando sobre tapetes finos. Todos os dias pela manhã havia uma aia para escovar seus cabelos e fazer penteados, e outra para ajudá-la a vestir as roupas. Eram Kin e Sereena, geralmente, mas por vezes Kin trocava de lugar com Belassin. Ino gostava de conversar com elas quase sempre, como costumava gostar de conversar com Fyona e Soreia. Belassin lembrava especialmente Fyona, uma jovem menina encantada e sonhadora, apaixonada com qualquer coisa. Mas Fyona encontrou o terrível fim de escravidão nas mãos de Madara Uchiha, e eu devia estar fazendo algo para vingá-la. Mas até o momento, Ino não tinha recebido nenhuma informação que fosse relevante de enviar para a rainha Tsunade. Na verdade, tão ao Norte, no topo daquela montanha, as informações provavelmente chegariam até a rainha antes de chegarem a Ino.

Yahiko acompanhou Ino pelo restante da ponte até a metade da Torre Montanhosa, e então desceram escadaria abaixo, um longo trajeto até o pátio. Aquela torre era construída diretamente na rocha da montanha, era a mais alta e a torre central do Ninho do Gavião.

No pátio, Yahiko solicitou a liteira, bem como solicitou guardas e um cavalo encilhado para ele mesmo.

–  Então, você sente que está preparada?  –  Ele perguntou. Yahiko tinha um jeito de sorrir que sempre fazia com que ela se sentisse confortável em dizer qualquer coisa. Seus olhos castanhos eram sinceros, diferentes de todos os olhos que enxergava por ali. A grande parte olhava para ela com desprezo, mas ela não sentia aquilo quando olhava para ele.

–  Eu finalmente sinto que estou, e que preciso. Minha mãe esperaria isso de mim. Gostaria que ela pudesse estar viva para ver isso tudo.

Entretanto, tinha quase certeza de que Yarui arrastaria ela para fora daquele castelo pelos cabelos se fosse necessário.

–  Ela deve estar vendo, do paraíso. Deve estar orgulhosa.

–  Ou não.  –  Ino respondeu, rindo.

–  Impossível não estar, minha senhora.

Sempre que ele chamava ela daquela maneira, ela tinha uma sensação diferente em suas entranhas, e acabava ficando corada.

–  Já pedi para me chamar de Ino, esqueceu?

–  É claro, desculpe-me, Ino.

Ainda assim ele se curvou diante dela, prestando uma reverência que ela sabia ser zombeteira. Ele percebe como eu fico.

–  Seu cavaleiro idiota, farei com que seja punido caso não me respeite.

Ele riu, e então a liteira de Ino chegou. Yahiko ofereceu a mão para que ela subisse, e ela aceitou. Apesar de ser um cavaleiro, e com mais de trinta anos de idade, ele tinha uma mão suave, e uma aparência jovial. Ino apreciava olhar para ele mais do que deveria. Seus cabelos alaranjados e a pele levemente bronzeada contrastavam de forma a dar-lhe um ar quente, ou de qualquer coisa inflamável.

–  Você vem comigo na liteira?  –  Ela perguntou lá de dentro, e acabou corando ao fazer aquela pergunta, para sua desgraça. Às vezes, parecia que tudo o que ela falava para o cavaleiro tinha um significado além do que era de fato dito.

–  Se lhe aprouver, minha senh… Ino.

–  Ótimo, me chamou de Ino, então me apraz. Entre logo.

Ele disse ao cavalariço que não era necessário trazer o cavalo encilhado, e entrou na liteira, embora estivesse bastante desconfortável ali. Era como se nunca tivesse estado em uma liteira antes, tal como Ino. E talvez não tenha estado mesmo.

–  Quais são suas origens, Yahiko?

Ele pareceu inicialmente surpreso com a pergunta.

–  Você não parece em nada uma senhora.  –  Disse, rindo.

–  Tomarei isso como um elogio.

–  Foi, de fato, um elogio. Não existem senhoras com curiosidades sobre seus servos e guardas, mesmo aquelas que vêm de origem humilde.

Ino achou aquilo bastante cruel.

–  Todos somos pessoas. E eu sou uma pessoa particularmente curiosa. De onde você veio?

–  Daqui,  –  disse ele  –  anel superior. Era de uma das famílias mais pobres do anel superior, claro, mas ainda assim do anel superior, em nada se compara à pobreza daqueles que vivem no anel inferior, ou ainda fora das muralhas.

–  E por que você entrou para a Guarda do Ninho?

A pergunta pareceu atingir Yahiko de uma forma diferenciada, e Ino sentiu como se ele tivesse ficado triste em pensar sobre os motivos que levaram ele até ali.

–  Eu entrei na Guarda por… por amor.

Ali estava uma resposta que Ino jamais esperaria.

–  Amor? A quem?

Pensou até mesmo que poderia ser uma piada, mas Yahiko estava sério demais para que fosse.

–  Amor a uma mulher. Isso é história para outra hora, pois já passou. Hoje, o único motivo pelo qual permaneço na guarda, é porque encontrei o lugar ao qual pertenço.

Ino sentiu algo estranho, misturado com uma intensa curiosidade. Quem poderia ser a mulher que Yahiko amou? E ele deveria tê-la amado muito intensamente para ter entrado na Guarda do Ninho, onde tinha tanto trabalho a fazer, sacrificando a si mesmo. A única pessoa que amou alguém assim foi minha mãe… amou a mim como eu amei a ela.

Naquele momento olhou para Yahiko e sentiu-se culpada, lembrando-se de todas as recomendações que a mãe costumava fazer para ela em relação aos homens. Mas ele é gentil e sincero. Ele não é um mentiroso, mãe… ou ao menos é o que eu acho.

–  Você não quer me dizer quem era essa mulher?

Ele sorriu, mas havia um tom melancólico em qualquer coisa que ele fizesse naquele momento.

–  Isso é história para outra hora. Diga-me você, por onde andava antes de vir para o Ninho?

Percebendo o desconforto dele sobre falar de si mesmo, Ino acabou contando sobre as aventuras que vivera com Hinata, Sakura, Naruto, Sasuke e Kakashi, até chegar ao pai, omitindo as partes necessárias. Não falara sobre a Floresta Negra, pois não tinha certeza de que Yahiko não pensaria que era uma louca. Mas o restante, simplesmente falou. E antes mesmo que pudesse terminar por completo, eles estavam novamente diante da estalagem que pertencia à família da mãe de Ino.

Ela deixou a liteira, e por um tempo ficou apenas parada diante do edifício de madeira enegrecida. apenas esperando pela coragem e observada por uma pequena multidão que se formava ao redor deles.

–  Ino, é melhor entrarmos. Muitas pessoas estão se juntando aqui, e isso pode acabar ficando perigoso.

Ino aquiesceu, e acabou entrando na estalagem. Lá dentro, havia poucas pessoas. O salão comum não era tão grande, contava com quatro grandes mesas de madeiras com oito bancos, e seis mesas menores, com duas cadeiras cada. Atrás da bancada estava um rapaz jovem, pouco mais velho que Ino, uma moça que devia ter a idade do pai de Ino, e um senhor velho com aparência enfermiça, quase mórbida, que ela logo induziu ser o pai de sua mãe, devido aos profundos olhos azuis.

–  Ela vem do castelo?  –  Ouviu o rapaz falar, tentando ser discreto, porém bastante audível.

–  Parece que sim, olha aquelas roupas. E o rapaz com ela é da Guarda do Ninho.

Ino caminhou lentamente até o balcão, sob o olhar atento daqueles três. Não percebeu as pessoas ao redor antes que grande parte deles estivesse reverenciando-a, chamando-a de “minha senhora”.

–  Minha senhora, permita-me pagar-lhe uma caneca de hidromel! Esta estalagem tem o melhor da cidade!  –  Um fidalgo, com mais ou menos sua idade, ofereceu. Ino sorriu.

–  Obrigada, mas não é necessário.

–  É claro, que estúpido sou eu em oferecer bebida a uma grande senhora, que o tem de sobra em seu castelo!

Ino já estava irritada com as falácias do homem, e Yahiko logo percebeu. Ele lançou seu melhor olhar ameaçador para o fidalgo e pôs a mão sobre o botão da espada, e aquilo foi suficiente para que o rapaz se calasse. Os olhos dos três familiares detrás do balcão ainda estavam postos sobre Ino, com grande encanto… exceto os olhos daquele que ela achava ser seu avô.

–  A última vez em que um Lorde do Ninho pôs os pés em minha estalagem trouxe apenas desgraça.  –  Disse ele, de maneira amarga. Ino sentiu as agulhas em suas palavras, e logo imaginou que soubesse do que ele estava falando.

–  Não trago desgraça, senhor. Trago apenas…  –  Ino travou. O que ela trazia? Sua estúpida curiosidade em conhecer o pai que certamente expulsaria sua mãe ao saber que ela a carregava no ventre?

–  Você é a bastarda legitimada do Lorde Yamanaka?

Ino riu, mas apenas porque estava nervosa. Teve certeza de que se fosse uma das Senhoras radicais com as quais Yahiko estava acostumado, teria mandado enforcar a moça ali mesmo.

–  Sou. Ino, é como me chamo.

–  Você é filha de Yarui, não tenho qualquer dúvida. Veja, pai, ela tem o mesmo rosto que Yarui, os mesmos olhos. Sua mãe tinha essa idade quando nos abandonou. É por isso que está aqui? Porque é o local onde sua mãe passou a infância?

Ino não sabia o que responder. Aquela era exatamente a razão pela qual estava ali, mas desejava tanto poder dizer mais. Quando pensava sobre aquele momento, parecia que havia tanto a ser dito, mas estando ali tudo tinha simplesmente desaparecido.

–  Sim.

–  Não há nada sobre Yarui aqui. Ela traiu os cuidados que ofereci a ela durante toda a minha vida. Você pode avisar a ela que pare de enviar a filha até aqui porque não ouvirei qualquer coisa que ela tenha a dizer!  –  Seu avô era ríspido, e Ino sentiu-se profundamente irritada pelo modo como ele falava de sua mãe, que ao contrário dele, era sempre tão amável.

–  Ela está morta. Não há como eu possa avisar qualquer coisa.

Daquela vez Ino pareceu conseguir atingi-lo.

–  Morta?  –  Perguntou a mulher, com a decência de demonstrar tristeza. Entretanto, Ino percebeu naquele momento o quão doloroso seria falar sobre a morte de sua mãe.

–  Ela estava doente… mas morreu durante o ataque de Austerin a Hyunin.

Sentiu lágrimas virem aos seus olhos, e uma ou outra acabaram escapando, indesejavelmente.

–  É tão triste saber disso… de alguma forma ou de outra, eu imaginava que um dia ainda fosse ver minha irmã novamente. Mas você é tão parecida com ela que é quase a mesma coisa, exceto por esses cabelos amarelos.

Ino sorriu.

–  Os cabelos de minha mãe eram muito mais bonitos. Pareciam-se com os seus… mas ela nunca me falou de uma irmã. Como se chama?

–  Sou Leona, irmã mais velha de Yarui. Ela provavelmente não falava de mim pois não tínhamos um bom relacionamento, brigávamos muito. Entretanto, quando ela partiu com a criança, eu me arrependi de ter sido sempre tão estúpida. Ela sequer pensou em vir até mim, mas eu teria oferecido asilo a ela e ao bebê sem pensar duas vezes…

–  Você não teria feito isso coisa nenhuma, seu marido jamais permitiria tanta desonra.  –  O avô de Ino cortou a tia, e seu tom ríspido havia voltado.  –  Yarui deve ter ficado doente de desgosto, e você, garotinha, é filha da desonra. Não deve retornar a minha estalagem.

–  Pai! Deixe de ser tão estúpido! Ela é a herdeira do Ninho, e terá sua cabeça em um espigão agora mesmo se assim quiser!  –  Gritou a tia Leona, com certo desespero. Tudo o que Ino podia sentir, entretanto, era tristeza. Um homem que está à beira da morte e age de maneira tão amarga… não surpreende que minha mãe tenha fugido.

–  Pode ter se quiser, essa cabeça já não vale nada.

–  Pai!

–  Acalme-se, tia Leona. Não desejo cabeça nenhuma, muito menos a de meu próprio avô. Essa é minha hora de partir. O único motivo que me trouxe aqui, foi conhecer o tipo de contexto em que minha mãe viveu seus dias, e que a levaram a fugir e adoecer com tanta facilidade. Obrigada por terem me recebido.

–  Volte sempre, senhora.  –  A tia falou, mas o avô não fez qualquer manifestação. Ino então deu as costas, e partiu dali, sentindo-se pesada por ter estado com uma pessoa tão negativa quanto o pai de sua mãe.

Dentro da liteira, Yahiko arriscou-se a algumas palavras em meio ao silêncio constante:

–  Não foi o que esperava?

Ino sorriu de canto.

–  De maneira alguma.

–  A vida tem dessas. Dificilmente encontramos o que esperamos, especialmente se as expectativas são altas.

Com um suspiro, Ino entreabriu as cortinas da liteira que subia montanha acima, observando o sol se pôr ao Oeste.

–  Chegaremos no horário do jantar. Já não bastava esse avô que acabei de aturar, agora precisarei dar de cara com minha madrasta e meu irmão.

Seu irmão não era tão difícil de lidar. Ele sorria, trocava palavras e a recepcionava bem, mas também não oferecia grandes aberturas. Se não fosse pelo tio Inewin e por Yahiko, Ino passaria seus dias sozinha, pois o irmão parecia ter um leve temor de se abrir a novas companhias. A mãe dele, entretanto, senhora Konan, carregava o desejo de vê-la morta em seus olhos, Ino tinha certeza. Bastava que ela entrasse na sala para que Ino tivesse medo, pois ela tinha uma posição imponente e um intenso ar de periculosidade. Era como se pudesse cortar sua garganta a qualquer momento. E tudo isso porque meu pai me tomou como herdeira. Muitas desgraças eu poderia ter evitado caso não tivesse aceitado isso, e a senhora Konan é uma delas.

Quando senhora Konan dirigia a palavra a ela, eram puro veneno, e jamais chamava-a pelo nome. Na verdade, parecia apreciar o som da palavra bastarda sempre que estavam próximas uma da outra. Ino não podia deixar de se perguntar se Konan agiria do mesmo jeito com Sakura, que era sempre a pessoa da qual todos gostavam de estar próximos. Ela, pelo contrário, sempre havia sido a mais difícil, e tinha uma especial dificuldade em aceitar as provocações de Konan em silêncio, de forma que a mesa de refeições virava uma pequena cena de batalha. E é para lá que estamos indo agora.

Quando chegaram no castelo, a noite já havia caído sobre eles, e Inewin esperava-os na porta de entrada.

–  Chegaram na hora correta para uma boa refeição. Vamos, já estão todos a esperar pela ceia.

–  Ótimo, chegamos com fome, eu e Yahiko.

Ino tinha esperanças de que, em algum momento, senhora Konan se adaptasse a sua presença. Todos precisamos nos adaptar, afinal.

Seguiu acompanhada de Yahiko até o salão onde costumava cear na companhia da senhora Konan e de seu irmão Yurin, com certo peso nos ombros. Mesmo com suas esperanças, que poderiam vir a se revelar vãs, ela ainda carregava consigo um escudo contra as palavras da esposa do pai, para evitar que a ferissem. Era a melhor coisa a se fazer. Mas não consegui evitar que as palavras do pai de minha mãe me ferissem. Bastava que pensasse sobre como Yarui se sentiria em ouvir aquilo para que mais um pedaço de seu coração caísse em amargura. Desejara poder recuperar a boa memória de sua mãe, mas possivelmente tudo o que havia conseguido era piorar as coisas.

O salão de ceia estava, como quase sempre, um pouco vazio. Ninguém ocupava a ponta da grande mesa, pois aquele lugar pertencia a Inoichi. Ino ocupava agora sua direita, como herdeira, e seu irmão Yurin ficava ao seu lado. Konan, a Senhora do Ninho, ocupava o lugar à esquerda, ficando bem diante de Ino. Inewin, os filhos mais novos (já que o mais velho continuava em batalha) e a esposa vinham logo depois. Enquanto isso, Yahiko ficava em pé, em um canto do salão bastante próximo de Ino. Ele é quase minha sombra. Mas ao mesmo tempo não tem estado perto o suficiente.

Senhora Toya, a esposa de Inewin, falava alegremente sobre um novo costureiro que havia descoberto no anel superior, e que havia fabricado um vestido magnífico cosido em fio de prata para ela.

–  Você precisa ver, Ino! Vou solicitar que faça um para você. Em fio de ouro, para combinar com seus cabelos e com seus olhos, que são lindos. Aliás, eu deveria encomendar também um colar de safiras para você, é totalmente sua cara!

Ino sorriu em agradecimento. Não podia nem mesmo imaginar como seria carregar o peso de safiras em seu pescoço. A esposa de seu pai carregava sempre uma enorme ametista, magnífica, que de alguma forma parecia ter nascido para ela.

–  De fato, um colar de safiras ficaria ótimo para você, Ino.  –  Disse seu irmão, Yurin, Embora ele não gostasse muito de falar, ele nunca havia tratado ela mal, tal como a mãe. Naquele momento, Konan soltou um som irônico com o nariz, como se segurasse um riso. Ino imaginou que talvez ali tivesse alguma oportunidade.

–  Não tanto quanto o colar de ametista fica para a senhora Konan, tenho certeza. É tão belo, como se tivesse nascido para ela.

Os olhos cor de mel de Konan encararam-na com uma fúria cortante, como se penetrassem sua alma para vasculhá-la em busca de informações.

–  Por que foi que disse isso?

Ino engoliu em seco. Naquele instante, o leitão assado no mel e na manteiga chegou, com um cheiro delicioso tomando conta do ambiente.

–  Sente esse cheiro! Mal posso esperar para provar…  –  Disse o tio de Ino, tentando desviar o foco da conversa. Konan, entretanto, ainda a observava com seus olhos cortantes.

Ino sorriu para o tio.

–  Eu também…

–  Por que foi?!  –  Konan a interrompeu, com a voz ainda mais intensa. Por vezes, Ino sentia um poder vindo do timbre dela que chegava a estremecer. Senhora Konan conseguia ser terrivelmente assustadora.

–  Ela apenas fez um elogio, Konan…  –  Senhora Toya tentou explicar.

–  Não estou perguntando nada para você, Toya, estou falando com a Bastarda.

Inewin bateu na mesa.

–  A bastarda é a herdeira deste castelo, e senhora Toya é minha esposa, você deve respeitá-las.

–  Eu sou a Senhora deste castelo, e respeitarei apenas a quem eu desejar! E você, bastardinha… não adianta querer ficar lançando indiretas em minha cara como se eu não soubesse que tipo você é. Estou sempre um passo à frente, lembre-se disso.

–  Eu não quis…

–  Você quis sim, sua pequena megera. Uma bruxa falsa como sua mãe, que lançou encantos sobre meu marido. Você fez o mesmo! E todos sabem disso, inclusive o próprio pai dela!

Como ela sabe sobre o pai…?

–  Konan, cale-se!  –  Inewin gritou, com o rosto vermelho. Ino estava com certa dificuldade em reagir.

–  O que está dizendo?  –  Foi a única coisa que conseguiu dizer.

–  Estou dizendo que você não pertence a esse lugar. Desapareça daqui! Volte para o lugar medíocre de onde veio, bastarda!

–  Mãe! Pare com isso!  –  Yurin interveio. Somente naquele instante ela cogitou parar de falar qualquer coisa. Deu as costas, e saiu dali em passos pesados que ecoaram pelo corredor, e depois pela mente de Ino, que tentava, de alguma forma, compreender o que havia acontecido ali.

–  Você está bem, Ino?  –  Inewin perguntou.

–  O que deu nela? Konan enlouqueceu? A menina apenas fez um elogio…  –  Comentou senhora Toya.

–  Minha mãe está com problemas sérios ultimamente. Você precisa de algo, Ino?  –  Yurin questionou, segurando uma de suas mãos.

–  Eu estou bem, eu só… eu não quero ficar aqui.

Ino saiu do salão, sem olhar para trás em nenhum momento. Ouviu seu tio recomendar que Yahiko a seguisse, mas não se importou. Não desejava permanecer em nenhum momento mais dentro das paredes daquele castelo, com tantas pessoas cheias de problemas. Onde eu vim parar? Mãe, por que não dei ouvidos a você? Eu devia ter ficado longe dele…

No pátio do castelo, o clima estava um tanto quanto gelado, o que possivelmente indicava que o outono estava começando. O lençol de estrelas já tomava conta do céu noturno, e Ino inspirou o ar levemente gélido, sentindo-se aliviada por estar longe daquele local. Expirou, e fechou os olhos, atenta aos outros sentidos de seu corpo. Daquela forma apenas, percebeu que sua sombra estava logo atrás dela.

–  Por que veio, Yahiko?

–  Porque é meu dever estar com você o tempo inteiro.

Ino riu, mas havia apenas ironia em sua voz.

–  E ainda assim eu estou sempre sozinha nesse lugar.

Ouviu Yahiko se aproximar dela, alguns passos. Abriu os olhos, pois sabia que precisava ficar alerta de si mesma sempre que ele se aproximava.

–  Você não está sozinha, minha senhora.

–  Minha senhora?

–  Ino. Você não está sozinha. Pode considerar-me um amigo, se lhe aprouver…

–  Se me aprouver? Acha que posso considerar um amigo alguém que sempre fala nesses termos?

Yahiko suspirou.

–  É como somos treinados, Ino. Desculpe-me se a incomoda, mas é automático.

Olhou para Yahiko, iluminado pela luz da lua. Seus cabelos alaranjados esvoaçavam suavemente com o fraco vento, e seus grandes olhos castanhos observavam-na. Ele estava ali, e ao mesmo tempo parecia estar extremamente longe. Será que posso fazer com que fique mais próximo?

–  Tudo aqui é tão automático.

Gostaria de poder fazer com que não fosse, ao menos uma vez. Gostaria que ela e Yahiko pudessem estar livres de tudo que os amarrava naquele local, àquelas tradições falhas e desnecessárias que apenas afastavam as pessoas. Para tornar aquilo realidade, havia apenas uma coisa que podia fazer.

Abraçou Yahiko, envolvendo seu tórax com os braços e afundando o rosto em seu pescoço. Ele, contudo, não reagiu.

–  Eu gostaria que as coisas fossem mais reais, nem que fosse por um breve momento. Como elas outrora foram em minha vida.

Lembrou-se da casa de sua mãe, do delicioso cheiro da comida que ela preparava. Lembrou-se de Chiyo, sempre sorridente, bordando algo novo em seus vestidos, enquanto Sasori ria e dava ideias desagradáveis sobre qual bordado combinaria mais com a chatice de Ino. Nesses momentos, Sakura corria atrás dele, para fazer com que ele fosse mais educado. Quando o alcançava, batia nele. Esses momentos nunca voltarão, mas eles eram extremamente reais, eram tão genuínos! O que pode ser genuíno agora?

Yahiko estava sempre por perto. Ino não sabia se era por ser obrigado, mas sentia que, embora houvesse algo de automático, tinha também um toque de sinceridade. Talvez fosse por sua necessidade de ter alguém por perto, ou talvez fosse verdade. Quando ele envolveu os braços ao redor dela em retribuição, ela sentiu em seu coração que era verdade, de fato.

E acabou beijando seus lábios.

Um toque suave e certamente inesperado por ele, mas não tanto por ela. Havia um tempo desde que notara que sentia algo diferente diante do cavaleiro que a acompanhava, e naquele momento sentia que não devia reprimir como em todas as outras vezes. Precisava sentir-se fora das amarras que havia criado para si dentro daquele castelo.

–  Minha senhora, me perdoe.

Disse ele, afastando-se rapidamente, quebrando toda a honestidade presente naquele momento. Yahiko ficou de joelhos diante dela, implorando por seu perdão. Ino sentiu-se capaz apenas de revirar os olhos.

–  Levante-se, Sor.  –  Acabou dizendo, e ele não hesitou em obedecer.  –  Olhe em meu rosto.

Ele teve certa dificuldade em cumprir aquela ordem, tal como ela teve dificuldade em ordenar.

–  Você não teve culpa alguma, Yahiko. Fui eu, e apenas eu, quem fez isso. Mas é você quem decide o que fará disso.

Ele ficou paralisado e, diante daquela resposta, Ino fez a única coisa que era capaz de fazer: foi até seu quarto, solicitar que a ceia fosse levada até sua cama. Ouviu sua sombra silenciosa segui-la por todo o caminho, sem dizer qualquer palavra.


Notas Finais


Bem galera, faz umas duas semanas que eu não consigo escrever nada, por falta de tempo. Esse semestre tá sendo de longe o pior de todos os quatro durante os quais publiquei essa história, em questão de tempo de sobra. Estou avisando para que estejam preparados para a possibilidade de que o ritmo de postagens venha a ficar ainda mais reduzido.

E quanto ao núcleo da Ino e da Konan, um desabafo: elas deviam ter se encontrado muito mais cedo. Descobri esse meu erro apenas recentemente, e tarde demais para que eu voltasse atrás. O ataque a Hyunin, lá no começo, era o momento ideal para que Ino tivesse encontrado com Inoichi e seguido esse caminho, mas como eu decidi escrever uma fanfic e não uma história original, o fato de eu pensar nos laços dos personagens do mangá me fez querer vê-los juntos por mais tempo.

Sem mais delongas, até o próximo capítulo, que será do Naruto!


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