História Crônicas de um Yordle - Fuga

Um novo dia raiava no vilarejo gelado de Wintersouth. Gnar e Poppy, já acordados, caminhavam pelas ruas, ainda bem agasalhados. Os dois, ao final do dia anterior, teriam construído um pequeno carrinho improvisado, feito em madeira velha e rodinhas de tamanhos irregulares que encontraram em um depósito, para poderem carregar as caixas de comida restantes que teriam roubado. Enquanto andavam, Poppy virou seu rosto, sorrindo suavemente para seu companheiro de viagens:
   — Viu só? Eu não disse que seria legal? Agora não precisamos nos preocupar em procurar mais comida por um bom tempo. – disse a yordle, puxando o carrinho tranquilamente.
   — É, as coisas ficaram bem mais fáceis.. – respondeu Gnar, sorrindo, enquanto caminhava ao lado de sua amiga.
   Os dois continuaram juntos, quase que sem rumo, ouvindo os sons do comércio local e das pessoas conversando sobre as mais recentes notícias.  Olhavam para todos os lados, agora com os corações mais relaxados por terem arranjado algo que iria os sustentar até que encontrassem uma maneira de sair daquele lugar. Este agora, era seu objetivo primário. Eles só não sabiam como, ou quando.
   — Então, já tem alguma ideia do que vamos fazer hoje? – perguntou Poppy.
   — Não exatamente.. – respondeu o pequeno yordle, cabisbaixo.
   — Ei! Não fique assim, tenho certeza que vamos arranjar algo divertido pra nos distrair. – ela sorriu.

O ambiente comercial era bastante agitado. Ouvia-se com frequência o som de sacos de moedas balançando enquanto eram passados de mão para mão. Aos fundos de um beco, se encontrava uma figura estranha, magra, vestida em um manto negro, encapuzado, segurando uma foice à altura  quase que de seus pés. Ao lado dele, outro encapuzado era visível. Vestia uma roupa um tanto que mais detalhada, com detalhes em dourado e uma caveira da mesma cor no peito:

 — Vamos, Yon Jon, meu aprendiz. – disse o homem que portava a foice.
 — Sim. – respondeu o outro.

 Os dois saíram de onde estavam, andando até que pacificamente. De qualquer forma, a arma que o mais velho segurava amedrontava alguns e gerava estranhamento, que rapidamente se tornou o centro da atenção da maioria, que começava a murmurar e conversar entre si sobre aquilo.
Yon olhava para os lados com uma expressão fechada e séria. Já distantes dali, os yordles ouviam apenas um certo burburinho sobre o acontecimento.
A orelha de Poppy tremulou. A yordle olhou para trás, arqueando uma de suas sobrancelhas e entortando o rosto, como se fizesse um beiço:
  — Gnar, o que está havendo ali atrás? – disse, estranhando.
  — Bem, eu também não sei. – acompanhou o olhar da yordle.
  — Hm!  Seja o que for, não é do nosso interesse, né? –ela disse, já puxando o carrinho.
  — É, eu acho.. – Gnar parecia levemente preocupado, mas decidiu seguir Poppy.
  Enquanto isso, o encapuzado e seu aprendiz pareciam procurar por alguma coisa. Dava-se para notar a maneira que olhavam rapidamente para os lados e na direção do chão. O “ceifeiro” se zangou e acelerou o passo até um anunciante público que estava próximo e agarrou seu megafone, anunciando para todos os presentes:
   — Povo de Wintersouth! – exclamou – Tenho uma proposta á vocês..
As pessoas permaneciam caladas, surpresas. O encapuzado prosseguiu seu discurso:
   — Eu ouvi dizer que existem pequenos yordles habitando esse vilarejo.. Então eu gostaria que os entregassem á mim..
   — E o que a gente ganha com isso?! –gritou uma mulher ao fundo.
   — Ora.. Muito ouro e bens, é claro!
   Yon Jon chegava ao lado de seu mestre carregando uma grande sacola de ouro, mostrando-a para os habitantes de Wintersouth, que em coro, deixaram escapar um suspiro de espanto.
   A dupla de yordles parou para comer escondidos em um beco, onde discutiam sobre os acontecimentos recentes:
   — Então.. Algo em mente? – perguntou Poppy.
   — Até agora nada. Pensei que você tivesse alguma ideia.. – Gnar permanecia um tanto cabisbaixo, enquanto botava mais um peixe para dentro da boca. De repente, algo os interrompeu. Ao fim do beco escuro, o reflexo de um belo par de óculos era visto. Gnar quase se engasgou enquanto arregalava os olhos ao vê-los. Poppy levantou rapidamente:
  — Quem é você?! O que você quer?! – irritada, a yordle se preparava para defender seu colega.
  — Acalmem-se, acalmem-se! Não se preocupem, eu não vou machucar vocês! –uma voz com um tom abobalhado dizia, seguido de uma risada igualmente boba.
   Do escuro, saiu um yordle de pelagem bege amarronzada, vestindo um casaco azul e um chapéu de aviador para frio, além de uma grande lente que cobria seus olhos para protegê-los. Ele tinha no rosto um sorriso estampado, com os dentes à mostra. Ele ajeitou sua lente e, após dar uma mordida em um donut, disse:
   — Meu nome é Ziggs! É um prazer em conhecer vocês dois, eu nunca pensei que viria mais yordles por aqui! –ele falava rápido, dando pulos e rindo.
  — É um prazer.. – disse Poppy de maneira meio estranha e gaguejando.
  — Uau, por essa nem eu esperava. – Gnar comentou.
  — Então, eu ouvi que vocês estão precisando de ajuda, não é mesmo? Eu posso oferecer essa ajuda! Vou levar vocês pra Bandle City! – e mais uma vez, ele riu.
   — Bandle City? Onde é que eu já ouvi esse nome mesmo? – Poppy se virou para Gnar.

   — O meu livro! – Ele sorriu, pegando seu livro de dentro do casaco, apontando-o para os outros dois. Poppy também sorriu.
  — Heimerdinger vai ficar feliz em ver vocês, vocês tiveram sorte de me encontrar aqui!
   — Heimer quem? – Disse Poppy.
   — Ele disse Highwatch? – Gnar parecia confuso.
   — Você conhece esse cara? – A yordle se confundia ainda mais.
   Ziggs interrompeu ao perceber o transtorno mental que havia causado com um simples nome:
   — Esqueçam isso por agora! Não, o nome dele não é assim. Vocês vão entender melhor quando o conhecerem! Agora, o que estamos esperando?
   Ziggs olhou para a frente um pouco aflito ao ver que havia um pequeno garoto os observando:
   — Mãe, eu encontrei eles! – ao que o menino anunciava sua descoberta, uma multidão surgiu e encarou o fundo do beco onde os três estavam, estáticos e com expressões de pânico.
   — Peguem-os, já! – exclamou a voz do homem encapuzado de antes.
   A multidão estava aos berros enquanto alguns adentravam o beco para agarrar os yordles.

   Ziggs, em uma decisão repentina, agarrou os braços dos outros dois:
   — Venham, rápido! – Ziggs agarrou uma miniatura de boneco de neve tirado de uma mochila em suas costas e o arremessou com força no chão. O boneco se tornou vermelho rapidamente e explodiu, bem abaixo dos pés dos três, fazendo subir uma enorme nuvem de neve.
   Aquilo espantou os habitantes do vilarejo ao mesmo tempo que lançou os três yordles para cima com grande força. Gnar e Poppy gritavam apavorados enquanto Ziggs ria alto durante seu voo:
   — Qual é, pessoal! Aproveitem o momento! Vocês não vão voar assim por um bom tempo! – e continuava rindo.
   Lá embaixo, ainda próximos ao beco, o encapuzado mostrava desapontamento perante os habitantes de Wintersouth:
   — Pelo o que me parece, vocês falharam.
   Os moradores viravam-se assustados:
   — Tudo bem, mas, qual era o seu interesse naqueles bichos de qualquer forma? E daí que não conseguimos? – Dizia a mesma mulher que havia o contestado antes.
   — Cale-se! Eu já me cansei de você! – o encapuzado usava sua foice na direção da mulher, que foi empurrada por um homem, seu marido. A foice o atingiu. O corte, em seu braço, se tornou preto, e não vermelho como sangue. Repentinamente, uma estranha energia vazou do corte negro e envolveu todo o corpo do cidadão.
   — Amor! Não! – a mulher gritava, em desespero.
   O corpo de seu marido, ao ser consumido pelas trevas, foi transformado no corpo de um grande Cérbero, um cão de três cabeças.

    — Isso é o que acontece ao me desapontarem.
    O homem, transformado em Cérbero, era controlado pelo encapuzado. O animal deu uma forte patada contra o chão, que levantou os habitantes no ar. O mestre saltou e golpeou múltiplos com sua foice. Estes, também foram transformados em cérberos. Rapidamente, um tipo de exército tinha sido formado.
   — Vamos à caça. – Disse ele, com seu aprendiz ao lado e agora, seu exército de cérberos.
   Os yordles, agora distantes de onde originalmente estavam, ouviram rugidos tomar conta da cidade. Ziggs tentava guiá-los para Bandle:

    — O que foi isso? – ele se preocupou.
   No horizonte, viam-se os cães furiosos correndo em direção aos yordles. Montado em um deles, vinha o ceifeiro.
    —  Vocês não podem fugir! Vão pagar ao que fizeram com a minha família!
   Gnar começou a suar ao ver aquilo. Nunca se sentiu tão desesperado antes. Seu olhar estava diferente. Parecia tomado pelo medo. Poppy tentou ajudar seu companheiro:
    —  Gnar! Gnar, por favor, vamos correr!
   À medida que os cães se aproximavam, a expressão de Gnar mudou. Se tornou cada vez mais raivosa. O corpo de Gnar começou a ser tomado por gelo. Poppy se espantou e se afastou dele. Ziggs montou uma enorme bola de neve atrás dos dois e estava pronto para arremessa-la.
   Os cães saltaram na direção dos yordles, que pareciam ter chegado ao fim da linha. Um deles estava prestes a esmagar o yordle congelado, quando foi surpreendido.
   O gelo se rompeu, liberando uma criatura muito maior do que o pequeno yordle. Era uma enorme fera semelhante a um cão, com grandes patas dianteiras e fortes braços e tronco. Ela possuía grandes presas que poderiam cortar qualquer coisa. A fera rugiu seu nome.

    — GNAR!! –o poderoso rugido ecoou, enquanto a fera, Mega-Gnar, investiu contra o cérbero com seus braços, agarrando-o e girando-o no ar, arremessando o cão de três cabeças para bem longe. O mestre encapuzado saltou para fora da besta, caindo no chão nevado com nenhuma delicadeza.
   Mega-Gnar entrou em fúria, batendo de frente contra os múltiplos cães, batendo sua cabeça contra eles, levantando-os do chão com uma força monstruosa e nocauteando outros. Enquanto isso, Poppy e Ziggs observavam. Ela estava apavorada e surpresa, não esperava algo assim de Gnar. Ele,por outro lado, tinha um sorriso estampado, ainda que surpreso:
   — Vamos ajudar! Tragam a grandona! – Ziggs arremessou uma gigante bola de neve contra um grupo de três cérberos reunidos. Ela explodiu como uma grande bomba, espalhando neve para todos os cantos.
   Todos os cérberos foram caindo, um por um. Ao fim, Yon Jon foi abatido junto a um dos cães. Estava com uma ferida na cabeça e sangrava. O grande mestre do plano estava desolado na neve.
   — Vocês são ainda mais malignos do que eu imaginava. –com raiva, o ceifeiro partiu para cima de Poppy e Ziggs. Mega-Gnar acompanhou os movimentos rapidamente e saltou em cima do encapuzado, esmagando-o contra o chão antes que ele pudesse ferir seus amigos. Por fim, bateu os dois braços contra as costas do misterioso. Após um estrondo feito pelo impacto, o silêncio caiu. De dentro do manto do ceifeiro, uma espécie de pó negro, que esvoaçou pelos ares e se reuniu novamente em um corpo estranho e escuro.
   — Um de vocês matou o meu pai, e agora meu aprendiz, e até mesmo a mim. –dizia o corpo feito por uma matéria estranha.
   — Eu não posso mais fazer nada contra vocês, criaturas infelizes..
   — Mas nós não temos nada a ver com isso, senhor! – exclamou Poppy, com um certo tom de indignação.
   — Eu sei que têm. Em suas raízes, vocês têm. – a poeira negra se desfez e voou, para diversos cantos do mundo.
   Após alguns momentos de silêncio, Ziggs anunciou:
   — Então.. Isso tudo foi muito estranho e acho melhor a gente ir saindo logo daqui antes que a gente arrume mais confusão! – Ziggs saiu andando, mais tranquilo, com as mãos na cabeça.
   Gnar voltou ao normal, levemente ofegante. Mesmo sem ter entendido muito do que havia acontecido, Poppy foi até ele e o abraçou, levando-o pela mão:
   — Vem, vamos finalmente sair daqui. –ela sorriu, e logo, ele também.
   Os dois seguiram o caminho de Ziggs, que os levaria para Bandle City, o lar de todos os yordles.