Ela era pequena, não entendia nada. Mas eles diziam “amarelo é uma cor feliz”. Então tudo era amarelo: seus cabelos eram amarelos, sua felicidade era amarela, seus sapatos eram amarelos.
Ela já não era tão pequena, mas não entendia muito, sentia-se deslocada. Eles diziam “rosa é cor de menina”. Então tudo era rosa: seus vestidos eram rosa, seu quarto era rosa, seus brinquedos eram rosa. “Minha filha vai usar apenas vestidos”, dizia sua mãe.
Ela cresceu, e tudo era vermelho: seu batom, seu sangue, seu esmalte. Sua mãe ficou feliz, disse “você é uma moça!”, mas então, se parecia ser tão bom, por que eles diziam para esconder aquele sangue nojento?
E ela começou a entender quando tudo ficou cinza. Seus jeans eram cinza, sua fumaça era cinza, seu medo e ansiedade eram cinza.
Foi quando ela ouviu o que eles diziam. “Azul é cor de menino”. Então, ele disse: “mãe, eu sou azul, mamãe, eu sou azul!”. Tudo era azul: sua mente era azul, suas pílulas para ansiedade eram azul, seus olhos eram azuis.
Mas a mãe dele não queria que ele fosse azul. A mãe dele queria que ele fosse rosa, que ele fosse ela. Com ódio e fúria, tudo se tornou preto: o coração de sua mãe, a mente dele e suas pílulas para depressão.
Demorou muitos anos para que ele se livrasse do preto, para que sua mãe colorisse seu coração novamente. Aos poucos, as pílulas já nem existiam, todos os jeans eram azuis e finalmente, sua camisa era amarela.
Ele não era apenas uma cor, ele era um arco-íris.
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