Sai do banho correndo, se não fosse mais eficiente chegaria atrasada no trabalho. Entrei na área de serviço e peguei do varal as três fardas do Exército Brasileiro que os meninos haviam estendido um dia antes. Respectivamente fui pendurando as fardas nas maçanetas das portas de Léo, Marcos e Jack e batendo nas mesmas. Voltei para o meu quarto e vesti meu uniforme. Body branco, saia e colete azul. Prendi o cabelo em um coque rápido e bem alinhado e voltei em direção à cozinha. Sussurrei um “Bom dia” e fui respondida da mesma forma.
Os garotos andavam de um lado para o outro pegando torradas e café nos seus respectivos lugares, fiz o mesmo voltei para o quarto para terminar de me arrumar. Calcei meus saltos pretos e coloquei a pequena gravata. Assim que saí de casa os meninos me esperavam em frente ao elevador.
- Desculpa pela correria, gente. Eu me atrasei pra me acordar.
- Relaxa, Khy. Essas coisas acontecem – sorri. Talvez eu fosse um pouquinho preocupada demais.
.
- O que você tá fazendo aqui? – minha amiga e colega de trabalho, Jessica, perguntou assim que nos encontramos na área de alimentação do aeroporto.
- Vim comprar alguma coisa pra almoçar – sorri assim que ela revirou os olhos – o Matheus me pediu pra trocar com ele.
- Ele vai pra farra, né? – sorri debochada.
- Tá com ciúmes? – revirou os olhos novamente.
- Claro que não, só preguntei – concordei falsamente.
- Enfim, pelo menos ele vai trabalhar pra mim no dia do jogo. – ela semicerrou os olhos.
- E ele vai perder o jogo?
- Duvido. Com certeza ele vai trocar com alguém também. – gargalhamos.
- Bem que vocês podia ir ver o jogo de amanhã lá em casa né? – sugeriu.
- Ah tudo bem. Vou falar com os meninos, mas eles vão concordar. Nós levamos a bebida. – concordou.
- Aonde vai ser o jogo?
- No Barradão. – sorriu desanimada.
- Fora de casa tá foda. – balancei a cabeça em concordância.
- Mas se Deus quiser vamos sair dessa. – a fila da lanchonete não andava. Olhei no relógio algumas vezes e cutuquei Jessica quando vi o gerente rondando por ali.
- Você vai querer o que? – perguntou assim que chegamos ao balcão de pedidos.
- Quero um pão normal, com frango, salada, molho de parmesão e barbecue.
- Faz dois, por favor. – peguei minha carteira na bolsa para pagar o lanche.
- Deixa que eu pago – me interrompeu. Fiz menção de protestar, mas ela me interrompeu novamente. – semana que vem você paga – concordei por fim.
- Moças? – uma voz nos chamou. Nos viramos ao mesmo tempo.
- Sim? – respondi. Ali atrás de nós estavam dois jogadores do Vasco. Jean e Paulo Vitor.
- A gente veio aqui fazer um lanche e acabou ficando meio perdido da galera – Jean sorriu sem graça e voltou a falar – as senhoritas poderiam nos ajudar explicando onde fica o portão seis? – sorri. Jessica estava um pouco entusiasmada ao meu lado, eu podia sentir pela forma que ela esfregava as mãos e se mexia quase em uma dança meio desengonçada.
- Claro. – sorri simpática. – assim que você chegar ao fim desse setor – disse apontando à nossa frente – é só virar à esquerda. O portão seis é o primeiro à direita.
- Ah – pareceu ainda mais sem graça. Sorri.
- Relaxa. Essas coisas acontecem. Olha a minha amiga aqui, por exemplo. Trabalha aqui há cinco anos e vez ou outra eu a encontro vagando pelo aeroporto. – tentei faze-lo se sentir melhor. Pareceu funcionar.
- Obrigada. – concordei – sou Jean, mas você já deve saber – balancei a cabeça assentindo. – Não vai se apresentar, Paulo Vitor? – ele pareceu acordar de um transe. Sorri de lado. Estendi minha mão em sua direção e ele a apertou.
- Sou Khyara e essa é minha amiga Jessica – respondi após soltar o ar que eu nem sabia que estava segurando.
- Sou PV – sorri de lado. Ele sorriu de volta. E que sorriso.
- Vocês vão comer aqui mesmo? – Jean perguntou.
- Sim, vamos.
- Se quiserem se sentar conosco – Jessica se pronunciou pela primeira vez. Ele se entreolharam e concordaram balançando a cabeça. Eu e minha amiga fomos procurar uma mesa enquanto eles esperavam seus lanches. – parece que alguém chamou atenção – disse sugestiva.
- Quem? – perguntei olhando para todos os lados sem entender. Ela revirou os olhos pela terceira vez naquele dia.
- Você, oras. – disse como se fosse óbvio. A olhei como quem pergunta: “Como assim?” – não é possível que você não tenha percebido – neguei. Ela bateu a mão na própria testa. – o Paulo Vitor não tirava os olhos de você. – disse quase em um grito.
- Shiiiu. Tá louca, mulher? Não grita – sussurrei.
- Tudo bem, desculpa. Desculpa – colocou a mão na boca. – mas vai, vocês até que formariam um casal bonitinho. Khytor? Pahyara? Phyara? – foi falando com os dedos polegar e indicador esfregando o queixo.
- Que tal “Para?” – sugeri ironicamente.
- Olha, até que é bom. – revirei as orbitas.
- É pra você parar – disse um pouco mais alto do que planejava. Jessica levantou os braços em forma de rendição. – você nem sabe se ele estava realmente olhando pra mim dessa forma e já tá ai planejando um relacionamento.
- é claro que eu sei – respirei fundo. – o que eu não sei é porque você tá tão irritada com isso – sorriu sacana.
- Eu tô irritada porque você tá me irritando com esse seu assunto. E agora muda a conversa porque eles estão vindo. – concordou ainda sorrindo.
- Ei. Tudo bem mesmo se nos sentarmos aqui com vocês?
- Claro – respondi. Eles se sentaram e passamos a comer.
- Então, desculpa a pergunta, mas vocês são casadas? – Jean puxou assunto.
- Temos um relacionamento aberto – Jessica disse passando o braço pelos meus ombros e eu concordei sorrindo. Eles se entreolharam. Caímos na gargalhada – é brincadeira. Deus me livre namorar alguém como a Khy. – a olhei em falsa revolta.
- Além do mais a Jessica é apaixonada por um de nossos colegas do aeroporto.
- Eu não sou apaixonada pelo Matheus. – respondeu irritada.
- Eu nem falei qual é e você já tá dizendo que é o Math. E ainda quer negar – ela ficou vermelha, não sei se de raiva ou de vergonha. Apenas balancei os lábios dizendo “é o troco” assim que ela me lançou um olhar frio.
.
Olhei o relógio no pulso e já era hora de eu ir. Tinha um embarque em 20 minutos. Peguei meu horário dentro da bolsa para saber para onde eu iria.
- Olha – os três olharam pra mim. – vou para o portão seis agora. Vocês viajam agora? – concordaram. – então sou eu que embarco vocês. – sorri.
- Pelo menos é alguém conhecido.
- Estamos a um tempão aqui conversando e eu ainda não ouvi a voz do Paulo Vitor – Jess soltou do nada.
- Deixa de ser indiscreta, Jessica.
- O pior é que ele é um dos que mais fala no grupo – Jean comentou.
- Talvez ele tá se concentrando.
- Sei bem no que ele tá se concentrando. – desviei o olhar assim que seus olhos encontraram os meus. Não conseguia manter contato visual com ele. O volante riu do comentário da minha amiga. Eu apenas balancei a cabeça em negação.
.
- Boa Viajem, meninos! – Chequei o passaporte e recolhi as passagens.
- Obrigado, Khyara! Até qualquer dia – Jean respondeu e me abraçou.
- Até qualquer dia – retribui o abraço.
- Até – PV veio até mim. Meu corpo reagiu por inteiro assim que sua mão encostou minha cintura e seus lábios grandes tocaram meu rosto. Eu tentei disfarçar, mas acho que ele também percebeu, pois se afastou e sorriu sem graça enquanto coçava a nuca. Os vi entrar no avião e acenei pela ultima vez assim que olharam para trás. Respirei bem fundo antes de entrar no saguão do aeroporto novamente. Eu estava ficando louca.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.