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História Crossed Histories - Forward


Escrita por: Gigi-do-Malik

Notas do Autor


Hello peoples of my heart! Tudo bom com vocês?

Primeiramente, FELIZ NATAL ATRASADO E FELIZ ANO NOVO!!! Que 2017 seja melhor que 2016 porque se não, miga, a coisa vai ficar feia.

Então, assim né, quero pedir desculpas a vocês pelo capítulo passado ter sido fraco e ruim. Mas sabe o que é? Faz parte. E é um daqueles capítulos importantes que não dá pra ignorar; vocês podem não se interessar, mas é um marco na história. O tal do capítulo ponte.
E falando em marcos, nós temos mais um. E outro. E outro ksks Parece que a corda no pescoço da Phoebe tá só estreitando, como vocês vão pode ver mais logo abaixo...

Se bem me lembro, chorei pakas escrevendo esse capítulo. Cada palavra veio de lá de dentro e espero que vocês gostem *muito* desse capítulo.

PSSSSSS:::: A FIC TEM CAPA NOVA!!! CORRAM LÁ PRA VER <333333

APROVEITEM O ÚLTIMO CAPÍTULO DO ANO (seguindo as tradições de sexta, porque eu faço questão), AMO VOCÊS!!!!!!!!!!!

Capítulo 25 - Forward


Fanfic / Fanfiction Crossed Histories - Forward

                                     Lânia (Europa)

Afonso de Martim morreu poucas horas depois de seu nascimento devido a prematuridade, e os médicos da corte disseram que a causa foi, provavelmente, os seus pulmões não completamente formados. Ele parou de respirar por alguns minutos até que seu lindo rostinho angelical ficasse arroxeado e o coração parasse de bombear sangue. 

O mundo pareceu parar no primeiro dia.  

Tudo ficou fúnebre numa rapidez gigantesca, e eu nem mesmo tive apetite para comer. Fiquei o máximo de tempo possível ao lado de Adelaide e seus filhos, visto que o rei se isolou por mais horas do que todos esperavam e a família precisava de ajuda. 

E eu juro que tentei compreender a dor de Charles, mas acabei taxando-o de ignorante, afinal, ele deveria ficar ao lado de sua esposa, que sente uma dor tão imensurável quanto ele. A expressão dela foi de cortar o coração durante todo o tempo. Acabou se tornando uma dor minha também, não consegui evitar. Eu nem mesmo tentei.   

O consolo só veio um dia depois, quando o Papa veio de Roma para abençoar a passagem de Afonso para a nova vida, ao lado de Deus, nosso Senhor Salvador. Como ele não tinha uma cota de pecados para carregar sobre as costas, tudo ficou mais fácil. Alguns parentes distantes vieram também, todos muito ruivos – e ricos. 

O cemitério real fica a duas léguas do castelo, escondida na encosta da montanha de Wyrmhilt. O dia está nublado e com bastante neblina, enevoando tudo. O clima é triste e as nuvens ameaçam chorar. Como é tradição, toda a corte real e os que estão de passagem acompanham a caminhada até lá, em silêncio, apenas com o som da marcha de pés quando bate no cascalho molhado pela chuva anterior. O cheiro é de grama molhada misturado a lágrimas salgadas e roupa velha – aquela do tipo fúnebre que ninguém esperava usar tão cedo.

Todos estão de preto e o luto foi declarado oficial há dois dias. Por incrível que pareça, até as crianças estão quietas e, nas poucas vezes em que falam, são os únicos barulhos. 

Nunca pensei que veria um caixão infantil. É agoniante e triste. O recipiente é tão pequeno que deve medir menos que metade do tamanho de um braço adulto. Eu e a rainha discutimos dolorosamente como deveria ser a forma de funeral de Afonso e acabamos optando por enterrá-lo. Edward queria cremá-lo, fosse em um barco viking ou encima de palha, então decidimos fazer uma fogueira no final da cerimônia. Rupert mal pôde olhar para qualquer pessoa depois da morte do irmão e o único capaz de confortá-lo nesse momento tão difícil foi Duarte. Não consegui não invejá-los por tamanho companheirismo. O amor continua se sobressaindo sobre eles e se faltava alguma dúvida restante para mim sobre a relação deles, ela se foi. 

Edward funga ao meu lado, trazendo à tona toda a realidade da qual eu havia escapado alguns minutos atrás, deixando apenas minhas pernas guiarem meu corpo de modo mecânico.

— Estava devaneando com o quê? — ele pergunta.

— Hm?

— Você — Ed olha para mim — Não respondeu quando falei com você. Parecia longe.

— Ah, desculpe — suspiro — Estava pensando na rapidez com que as coisas aconteceram. Acho que estou chocada demais para raciocinar. 

Ele passa seu braço sobre o meu e apoio minha cabeça em seu ombro.

— Acredite, já passei isso por umas... sete ou oito vezes. Nunca melhora, Phoebe.

— Sinto muito — soa sincero, mas não o bastante para mim. Gostaria que ele entendesse o quanto eu realmente sinto muito. 

— Eu sei — ele sorri, um sorriso tão triste que quebra meu coração em mil — Mas, bom, não é a primeira vez que nenhum de nós dois passa por isso.

— Não lembrava do quanto era doloroso.... Talvez fosse nova demais para entender, mas essa parece ser a pior das vezes. Não imagino como você aguentou ver somente Rupert sobreviver.

— Afinal, eu sou o mais velho — ele concorda, há um quê de desdém na voz — Talvez, se não fosse, algum deles estivesse vivo e eu, no seu lugar. 

— Eu não quis dizer isso, Edward! — mensuro-o — Você nunca pode pensar assim! Não pode sentir culpa por nada. Não existe culpa a ser carregada.

— Eu só estou tão bravo. Sinto que ele a culpa toda vez que acontece.

— Seu pai? — pergunto, chocada. Mal posso acreditar no que acabo de ouvir.

— É — ele nega, trincando os dentes — Ele se reclusa todas as vezes, entra no próprio casulo egoísta e a deixa sozinha. Sempre foi assim. Depois, tudo o que posso escutar é uma série de brigas e acusações. Nunca é diferente. E então depois de algum tempo eles voltam a dormir juntos e ela fica grávida de novo. 

Engulo seco, sem saber o que dizer. Então eu estava certa, afinal. Ele continua:

— Não quero ser como ele. Não quero que aconteça comigo. Nunca. Sei do peso que ele carrega, que é mais do que ele pode suportar ás vezes, mas o que todos temos a ver com isso? Por que ele sempre descarrega na gente? Eu não posso me tornar isso, Phoebe. Tenho medo, tenho tanto medo dele e de herdar não só a coroa, mas essa forma arrogante e prepotente também.

— Acredite, Sheeran, de parecido, vocês têm somente os cabelos e o sobrenome.

Ele sorri, menos triste, dessa vez. Desliza a mão pelo meu braço até encontrar a palma da minha mão e entrelaçar nossos dedos. Quero que ele descarregue todos os problemas comigo, que se abra, mesmo que muitos julguem que esse não seja o momento certo – até mesmo porque não há momento certo para a dor. Quero que ele despeje tudo e não guarde nada. Quero soar como um porto seguro. E, acima de tudo, não quero que ele vire um vulcão em erupção depois de algum tempo.  

Antes do que eu imaginava, chegamos lá. A paisagem seria de tirar o fôlego em qualquer hora mais propensa a felicidade, mas só consigo chorar e deixar meus olhos ainda mais vermelhos quando penso que Afonso nunca vai ter oportunidade de ver essa cena. Nunca vai se apaixonar, se casar, aprender a ler ou sentir o calor de um abraço amoroso novamente. Pode parecer insano, mas depois daquele banho, senti como se houvéssemos criado um laço invisível e secreto. Eu queria estar perto para vê-lo crescer, no entanto, ele será eternamente um bebê. E aquele laço... Parece que um machado o cortou da forma mais dolorosa possível.

Rupert para ao nosso lado com um guarda quando adentramos completamente no cemitério. Ele e Edward vão cavar a cova do irmão mais novo e baixarem o caixão ao lado do pai. Soa estranho para mim, mas Duarte explicou discretamente antes de virmos que é um costume depois de tantas perdas. Um modo singelo de honrar os que se foram cedo demais e deixam novos buracos nos corações cada vez que acontece.

E pelo jeito que ele falou, senti como se sempre fosse ter novos buracos. 

Com as pás em mãos, os dois começam a cavar. Todos os que vieram ficam ali, apenas olhando. Trouxeram cadeiras para o rei e a rainha, que não para de chorar agarrada ao braço do marido quieto. Rei Charles tem os olhos fixos na cova rasa que mal foi cavada e, apesar de estar indignada, ainda sinto muito por ele e por Adelaide. Ainda sinto que ele é como um pai para mim e, mesmo querendo, não sei se consigo odiá-lo.

Meu pai para ao meu lado depois de algum tempo. Ele toma meu braço e apoio minha cabeça em seu ombro. Baltazar diz poucas palavras de consolo, evitando romper a corrente de silêncio que se instala. Ele tem o rosto calmo, mas seus olhos estão pesados. Meu pai não é insensível, mas não arrisco dizer que ele chorou. Somente sei dizer que, assim como eu e todos aqui, ele apenas sente muito por mais essa dor nas costas da família mais influente do reino. 

Depois de algum tempo, os meninos alcançam a profundidade certa da cova. Eles estão suados e sujos de terra, os olhos também vermelhos. Os ombros parecem carregar muralhas invisíveis, das quais só os pais deles parecem entender como é carregar. Instantaneamente, recomeço a chorar.

Eles saem do buraco e, com o pai, vão buscar o caixão minúsculo de madeira escura entalhada com o brasão da família Sheeran. Eles o descem com cuidado e, quando volta a superfície novamente, Rupert desaba a chorar de joelhos. Edward cai ao seu lado, abraçando o irmão enquanto divide sua dor. Fico tentada a ir até lá, mas não acho que compartilhe da dor na mesma intensidade que eles. É um momento de família, e eu não sou da família.

Vendo os filhos caídos no chão, Adelaide se junta a eles. Os três choram juntos e a imagem é de partir o coração. Charles, depois de um tempo como espectador, apenas pega a pá e começa a jogar a terra encima do caixão. Acho o ato incrivelmente frio. 

A mãe, com a força mais incrível que já vi, se ergue do chão com muita dificuldade e estende a mão para os filhos. Eles a encaram por um longo segundo e após secar as lágrimas, ela levanta os dois. Abraço meu pai com mais força, gravando cada momento na mente.

Adelaide os abraça e diz em um murmuro sem confiança, e nem ela mesma acredita na primeira parte:

— Vai ficar tudo bem com a gente. O irmão de vocês está com Deus. 

{...}

Recebo a minha tocha e, antes que o Sol se ponha, usam os raios fracos para acender a palha da primeira tocha – que pertence a Charles. Ele passa na frente de cada pessoa que contém uma igual a sua, acendendo o fogo a partir do seu. Mal posso acreditar no quanto o ritual é bonito.

Além da família real, apenas outras três estão com as tochas: a minha, uma família de nobres que não conheço muito bem e os Comiotto – dos quais Lillian é um dos destaques.

Ao passar por mim, o rei sorri fraco e acena a cabeça, como um agradecimento mudo. Não sei o que ele agradece, mas retribuo o sorriso. Então, ele chega perto da fogueira e joga sua tocha ali. É a deixa para todos fazermos o mesmo. Logo depois, uma salva de palmas eclode.

Olhamos a fogueira crepitar em fogo durante algum tempo, nos aquecendo, perto da cova de Afonso de Martim. O barulho da madeira sendo queimada é agradável para mim e fico concentrada ali, naquele som, mas alguns nobres já se sentem à vontade o suficiente para conversar. Um burburinho começa, mas não me insulto ao ver a fila imensa de pessoas esperando para dar seus pêsames ao casal real.

Durante algum tempo, tento ignorar todos os sinais que meu corpo manda. A fome, a sede, a vontade de sentar, o sono ou até mesmo as necessidades básicas do ser humano. Quero só ficar ali, em pé, sentindo que todas essas coisas fúteis não existem.

— Ei — ouço uma voz atrás de mim e logo Edward está ao meu lado. Ele está suado, cansado e com terra em todos os lugares possíveis, mas se esforça em sorrir para mim. 

— Ei — digo, com a voz falha. Viro-me para ele e passo a mão por seu rosto, tirando poeirinhas para distrair a nós dois. Ele coloca as mãos em minha cintura e analisa todo o meu rosto, deixando-me desconcertada e ainda mais focada em tirar o pó de seu rosto e cabelo.

— Você não precisa fazer isso — ele tira minhas mãos de seu rosto e encosta nossas testas.

— Eu quero fazer algo por você.

— Você já fez muito. Por toda a família.

Fecho os olhos e encosto a cabeça em seu ombro, rendendo à tentação de abraçá-lo. Ali tem todo o conforto que estive procurando durante todo o dia, a única coisa que parece estancar o sangramento em meu coração. Arrisco dizer que tem algo de familiar também. 

Ergo a cabeça e olho em seus olhos, pensando que ali não é a hora nem o lugar, mas que preciso de um beijo para acalmar toda a euforia que se acende em mim como a chama da fogueira ao nosso lado toda vez que o vejo me olhar desse jeito.

— Tudo vai ficar bem, Phoebe — ele sussurra em meu ouvido e seus lábios beijam delicadamente o canto dos meus — Vai passar. Nós vamos ficar bem.

Então, deito minha cabeça em seu ombro novamente, abraçada a seu tronco enquanto Edward faz caricias em meus cabelos. Algumas lágrimas escorrem enquanto murmuro coisas desconexas em meio à dor, mas reconheço e admito que algumas delas são o nome do príncipe agarrado ao meu corpo. 

.........

 Adiante
              O pé direito primeiro, só para garantir
                 Quando percorremos nosso caminho até aqui
                  Está na hora de escutar, está na hora de brigar
              Adiante

   Agora, vamos segurar as portas abertas por um tempo
                 Volte a dormir em seu lugar favorito, bem ao meu lado
            Adiante
                Forward (feat. James Blake) - Beyoncé

.........

                                       Lânia (Europa) 

Sabe, em alguns meses Valentim vai completar 5 anos — digo, quebrando o silêncio entre mim e Barbra enquanto vamos buscar água.

— Imagine como ele está grande — ela sorri abertamente e sei como sua mente vai longe.

— Quero estar com ele — confesso, suspirando. Barbra para de andar e coloca o jarro no chão, olhando para mim.

— Você vai, Phoebe. Estamos mais perto do que você imagina. Não demora nem dois meses e o castelo estará em ruínas. É uma promessa.

Reviro os olhos.

— Não pode prometer isso, loira. 

— Não só posso, como estou fazendo. É uma promessa minha para você, Ebe. Vamos estar com ele e Max e Norman vão finalmente conhecer Tim e ver o quanto ele é adorável e adora a mãe.

— É, ele realmente adora a mãe, mas ela não sou eu.

Ela me dá um tapa forte atrás da cabeça.

— Nunca, nunca mais repita isso, cabeça oca! Estão confundindo ele, mas ele sabe quem é sua verdadeira mãe. Dizem que as crianças sabem mais do que imaginamos e tem mais todo aquele papo de que os filhos sempre farejam as mães de longe. Valentim sabe que Lillian não é nada dele. Ou saberá em breve. 

— Nem você mesma acredita nisso — recomeço a andar, deixando-a para trás. Barbra cata o jarro e apressa os passos para me alcançar.

— Acredito, sim.

— Veja só, estamos parecendo duas camponesas — digo, mudando de assunto e vejo ela revirar os olhos.

— É decadente — concorda e nós rimos — Nunca pensei que faria isso... Quer dizer, não dessa forma. 

— Estava na hora de parar com os vinhos em abundância e de carnes bem feitas todos os dias. Na verdade, os esquilos e todas as tralhas de Norman não são tão ruins assim.

— É porque você nunca viu ele abrir uma rã — faz careta de nojo e nega — Nunca vou pôr a boca naquilo, nem que eu morra de fome.

— Eu comeria uma pedra por fome. E você sabe, já comemos coisa muito pior. 

Barbra assente e ficamos em silêncio, o clima descontraído agora quebrado pelas lembranças dolorosas do passado. Se agora não é fácil, no começo era muito pior. Apesar de termos uma grande quantidade de apoio naquela época, era difícil saber em quem confiar. De vilarejo em vilarejo, entrávamos em poucas casas e nos virávamos o máximo que podíamos – não era muita coisa, na realidade –, o que significava passar fome e sede durante grandes quantidades de tempo. Uma vez, andamos tanto tempo sem suprimentos que caímos moles no chão e só conseguimos levantar horas depois, quando choveu. Foi a primeira água que conseguimos beber em dias. E foi quando percebemos que a missão não era nada como estávamos esperando.

— Nós evoluímos muito — ela sussurra, e parece continuar dentro daquelas memórias — Não de uma forma boa, mas da forma como pudemos. E eu não me orgulho de tudo o que tivemos que fazer para sobreviver, das pessoas que nós tivemos que retirar do nosso caminho... Eu odeio isso! Mas olhando por todos os lados, teríamos morrido se fizéssemos diferente. Não posso ficar me culpando quando não tivemos escolha, não é?

Queria dizer a ela aquela baboseira de que sempre temos escolhas, mas sei que é mentira. Então, apenas concordo. 

— Nunca tivemos escolha, Barbra. Se tivéssemos, não estaríamos aqui agora. Eu estaria com meu filho e você casada com Alexander Robespierre. Max estaria fazendo espadas com seu pai e Norman continuaria tendo brigas de bar todos os dias. Os cursos não mudariam e essa seria a vida ideal de cada um.

— É engraçado, nunca mais me imaginei sem Max. Falando dessa forma, nós nunca teríamos realmente nos conhecido... 

— Agradeça ao destino, eu acho. Ele fez tudo isso por nós, cruzou todos esses caminhos e desfez alguns.

— Ele não desfez seu laço com Edward, não precisa falar como se ele fosse algo do passado.

— Não falo como se fosse — minha voz sai mais dura do que eu pretendia — Edward nunca vai virar realmente passado. Não nessa vida.

— Não incluiu ele na sua vida imaginária. 

— É porque não acho que ele estaria lá, Barbra. Ele sempre daria um jeito de fugir de mim, mesmo se não estivéssemos aqui hoje. Depois de Lillian, de Marcus... Nós não seriamos mais a mesma coisa. Poderia ser sempre meu marido, mas não compartilharíamos mais uma vida como no começo de tudo. Seríamos apenas rei e rainha dividindo o trono, ambos com seus amantes.

Chegamos ao leito do riacho e me agacho para pegar água. Barbra fica calada, apenas refletindo sobre o que acabo de falar. Sei que é verdade, por mais que queria que até nessa vida inexistente, fosse diferente. 

— Não concordo — ela diz, após um grande período de caminhada calada. Já estamos perto de chegar ao acampamento — Você e Ed se amam, apesar de detestarem admitir isso depois de um tempo. E, da mesma forma como o “destino” daria um jeito de unir vocês novamente nessa vidinha imaginária, ele dará um jeito por aqui também.

— Melhor não se iludir, Palvin.

— Não estou me iludindo. Você está. Está sempre se iludindo, Phoebe, com pensamentos ruins. Imagina o pior para tudo na sua vida pessoal. E pode ser para evitar a dor da decepção depois, mas não é só porque uma parte rasa e mentirosa de você quer que isso seja verdade, que realmente será. 

— Barbra...

— Não, deixe-me terminar — ela para e coloca o jarro pesado no chão. Faço o mesmo — Você o viu, não é? Viu Edward quando foi ao castelo. Não sentiu nada por ele?

Fico sem reação. Como posso explicar a ela tudo o que aconteceu no castelo? Como posso contar sem fazê-la me odiar e, principalmente, odiar a mim mesma?

— Eu...

— Eu tenho certeza que sim. Seu coração transbordou com aquele velho sentimento. E é por isso que você está tão diferente depois que voltou. Por que simplesmente não me contou, Phoebe?

— Não é como você está pensando — tento explicar.

— É exatamente como estou pensando.

— É mais complexo do que isso, Bar...

— Você falou com ele? — ela pergunta espantada.

— Não, mas...

— Ah, falou sim! — ela aponta o dedo na minha cara — Está escrito na sua testa! Sobre o que vocês conversaram?

— Eu não...

— Não tente negar! Quero que diga palavra por palavr...

— Barbra — insisto, perdendo a paciência.

— Phoebe, eu estou falando séri...

Cansada de negar isso a mim e a todos, num ato impulsivo, solto o que tanto me incomoda depois de ser impedida de falar tantas vezes:

— DORMI COM ELE, DROGA! — grito e pego o jarro com força, derramando um bocado de água no ato — ESPERO QUE ESTEJA SATISFEITA. 

{...}

Depois de caminhar um pouco depois do crepúsculo, vemos fumaça. Está escura e o cheiro é tão forte que começo a tossir.

— Ainda está acesso — Malena diz e começamos a correr em direção ao que quer que esteja acontecendo.

E então tudo o que posso ver é o caos instalado em sua forma mais infernal.

Fogo para todo lugar, tudo parece estar sendo incendiado na pequena vila. Homens correm com baldes transbordando de água e mulheres fogem com crianças agarradas nas saias. Há homens vestidos de preto encima de cavalos, com tochas nas mãos. Eles passam, alastrando terror por onde veem.

Fico estática por um segundo ou dois enquanto olho tudo, mas não dura muito quando sou jogada brutalmente no chão por alguém que passa correndo. O braço forte de Norman não tarda a me levantar e puxar todos para o lado de uma casa que ainda não pegou fogo, onde não estamos no caminho de ninguém.  

— Tudo bem? — ele pergunta, no pé do meu ouvido. 

Apenas assinto, não conseguindo formular nada como resposta. Tudo o que consigo pensar é que essas pessoas devem ser salvas. Preciso ajudá-las.

— Vamos... Pegar água e salvar o que conseguirmos — Max diz e começa a se mexer, mas é impedido pelo braço de Malena.

— O.k., mas eu e Emma vamos tentar fazer isso de um modo mais discreto — anuncia e concordamos. Então, nos dispersamos, cada um para um lado. Norman e Max vão para o poço, não muito longe de onde estávamos, seguindo o curso de alguns camponeses que correm para lá. Eu e Barbra apenas vamos seguindo os gritos de pavor, procurando por alguém que possamos ajudar. 

— Ali — ela aponta para uma carroça tombada onde um homem tenta salvar sacos de comida que estão em chamas. Corremos até lá e Barbra pega um pano que vê no chão — Não custa tentar.

Rasgamos ele no meio e batemos desesperadamente nos vestígios de fogo. Depois de um tempo, conseguimos apagá-lo, mas o cheiro forte de fumaça e as partes escuras nos sacos revelam que parte da comida foi perdida.

— Obrigado, obrigado — o homem agradece sem parar, encostando a mão em nós duas — Cevada e trigo são os únicos alimentos que tenho para dar a minha família.

Com um meio sorriso, nos afastamos. Mas não é como se minha cabeça tivesse realmente saído dali, ela fica formulando frases e argumentos contra mim mesma e a raiva pulsante que sinto. Como posso sonhar em destruir um reino inteiro se meu primeiro ato é ajudar as pessoas que vivem nele? Como posso mentir tão descaradamente para mim mesma, como tenho feito durante tanto tempo? Como posso.... Como posso...  Ser tão idiota? 

— Estão chegando mais cavalos — Max surge ao nosso lado com um balde vazio e a expressão preocupada. Ele toca o braço de Barbra e olha para mim — Precisamos sair daqui. 

Respiro fundo, pensando nas opções. Mas eu sei que não há muitas, a menos que queiramos morrer ou sermos descobertos aqui.

— T-tudo bem — murmuro, atordoada. Olho para os lados e vejo o pavor instalado. A maior parte do fogo se foi com a ajuda das bruxas, mas as pessoas continuam gritando e um homem passa com fogo nas vestes, também há crianças perdidas e chorando.

Não consigo respirar.

Barbra me abraça, escondendo meu rosto em seu pescoço e fazendo o mesmo consigo, nos encolhendo o máximo possível para não chamar atenção. Ela acaricia meus cabelos curtos e se afasta somente o suficiente para olhar nos meus olhos.

— Não pense nisso. Estamos a salvo.

— Esse é o problema — o nó na minha garganta quase não permite dize isso — Eles não estão salvos.

Ela também engole seco, fechando os olhos. Como Barbra não diz mais nada, resolvo juntar o resto de forças que sobra e me recompor. 

— Acho que não cai bem um homem ficar todo encolhido assim — digo, levantando. Barbra olha para mim com um ponto de interrogação no rosto — Ainda mais sob ataque. Vou achar... Joseph e Bradley.

Ela parece finalmente voltar à realidade. Pergunto-me se ela consegue imaginar meu real rosto em situações tão extremas, porque eu consigo. Em momentos de pavor, tudo o que vejo é Barbra – mesmo que ela e Tulisa sejam parecidas fisicamente.

Não dou muitos passos e vejo os quatro correndo até nós. Tulisa se levanta e abana o vestido.

— Corram — Emma diz, sem fôlego — Tem cerca de vinte cavalos vindo do sul e mais quinze do norte. Se nos pegarem, estaremos fodidos. 

— O que eles são? — Max pergunta, apertando o passo para ficar ao lado de Emma.

— Não sei ao certo... Mas não parece bom.

— Claro que não — murmuro, irônica.

— Parece um daqueles saques horrendos — Barbra comenta.

— Estão queimando, não saqueando — Malena discorda — Talvez estejam escravizando pessoas.

 — E porque não os enfrenta? — pergunto, indignada — Eles acabaram com um vilarejo inteiro e nós estamos fugindo! Será que vocês não tem poder suficiente para enfrentar menos cinquenta homens? E querem destruir um castelo inteiro? 

— Não vamos ter essa conversa agora, Armie — ela diz, sua voz dura num total tom de censura — Sei que está irritado, mas sabe exatamente nossas condições. 

— Conversamos sobre isso mais tarde — Norman diz, no pé do meu ouvido.

E então, passando por uma casa, ouvimos um grito. A voz é infantil e clama por socorro repetidas vezes. Paro instantaneamente, assim como Max.

Nos entreolhamos, vendo os outros correrem distraídos demais para perceberem que ficamos para trás.

— Eu vou entrar — ele diz, abanando a mão perto do nariz para evitar o cheiro da fumaça.

— Eu vou com você.

— Não, Ph...

— Sem escolha — digo rápida e passo pela cerca antes que ele resolva me segurar. A porta está escorada, então só empurro, tendo visão das chamas alastradas por toda parte. Encolhido, um garoto grita depois de um pedaço de teto que desabou. A madeira está queimando rapidamente, deixando tudo um inferno.

Ao vê-lo, Max corre até lá e pula rapidamente o que quer que tenha caído. Tenho certeza que ele faz isso afim de não pensar muito e ficar com medo. 

— Está preso — ele diz, tentando levantar o menino. O garoto que está quase desmaiando com a fumaça e Bradley já está pingando suor. Os dois estão manchados pelas cinzas — Na cama, eu acho. Não consigo tirá-lo daqui, Phoebe.

Sua voz soa desesperada. E eu também estou. Desesperada, atônita, olhando os olhos do menino se fecharem gradativamente enquanto ele mal consegue respirar.

Penso em Valentim, no que faria caso fosse ele ali. Meu estado de ânimo piora, mas a adrenalina começa a surtir efeito.

— Vamos — digo e vou até eles. Olho a pilastra – ou algo assim – e a toco — Está esquentando, mas dá para suportar. Vou puxar e você tira a perna dele.

Incerto, ele somente assente. 

Respiro fundo um milésimo de segundo antes de agachar e colocar o pedaço de madeira sobre o ombro, evitando urrar de dor e tentando levantar. Sei que Max faria isso melhor no meu lugar, mas ele está com o garoto nos braços e não quero trocar de posição. Desde a fuga, evito ficar perto de crianças.

— Está pesado demais, não está — ele pergunta, mais para si mesmo.

— N-não... — continuo fazendo força e, antes do que esperava, o tronco começa a se mexer. Consigo erguer o suficiente para Max tirar o que quer que esteja preso e tento segurar o máximo possível. Mas o esforço não dura muito tempo. Deixo o tronco cair de lado antes do previsto e meus olhos frustrados alcançam os seus.

— Consegui — ele sorri — Ajude-me a tirá-lo daqui. 

Ele pula o tronco e arruma melhor o menino, agora desacordado, no colo. Então nós saímos em disparada para fora da casa e também para fora daquela vila.

Corremos, sem termos certeza de que aquele era o caminho certo e sem nos preocuparmos com o que faremos com o garoto. Somente demos o fora.

Adiante. Sempre a adiante, sem importar o caos que deixamos para trás. 


Notas Finais


Playlist: http://videos.sapo.pt/QjijePCtaf99MSPtQvlb
PS: esta música só está em live no youtube, portanto o link é de outro site pra vocês poderem ouvir esse hino injustiçado que não tem em canto nenhum do youtube em boa qualidade :)

O que acharam do capítulo? Porque nossa, vou morrer de nervosismo aqui....
Se vocês fizessem ideia da metade do que CRH significa pra mim, estariam todas loucas. Juro que tento fazer o meu melhor pra vocês sz

O Afonso vai ser uma parte importante aqui, mas vocês tem alguma ideia do por quê? Quem é aquele menino que o Max e a Pho salvaram? Vou adiantar que ele tem uma participação significativa aqui! E eu sei que tô esquecendo de alguma coisa kkkkkkk Mas acho que é isso (eu sempre venho alterar as notas depois, claramente vou fazer isso de novo aqui tbm)

Olha, pra quem talvez ache que a Phoebe tá exagerando em relação ao Edward no presente, saibam que não é nada fácil para ela. O Ed fez muitas coisas ruins (involuntariamente ou não) e ela, mesmo assim, não consegue desapegar das memórias do passado. Tem laços que são muito difíceis de destruir e esse é o caso deles.

Queria fazer o favor de pedir pra vocês divulgarem CRH pra quem sabe que gosta do Ed, sério, eu vou ficar muito agradecida se puderem fazer isso por mim.

Indicações do capítulo:

Lost in Time da @SulkinPettyfer e @VitoriaWolf com a incrível história mágica de Merlin e Arthur Pendragon e A Seleção. É sobre minha série preferida, Merlin e pra quem gosta desse estilo de história, bem fantasia, é meio como CRH. As autoras misturaram A Seleção e Idade Média de uma forma bem legal e acho que alguém pode gostar:
https://spiritfanfics.com/historia/lost-in-time-5769559

E I gave You All da @claire_b com Harry S. Eu morro de amores só de falar nessa fanfic. Fala sobre uma estudante de mestrado que tem seu caminho cruzado com seu professor, o Prepotente Styles e, de lá para cá, muita coisa acontece. É uma das melhores fics que eu já li, muito bem escrita e com muita poesia e reflexão.
https://spiritfanfics.com/historia/i-gave-you-all-2823947

Não sei mais o que falar kkk

Até ano que vem, amores
XxGigi ☪☮ɘ ✡أ☯†


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