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História Crossed Histories - Just Friends


Escrita por: Gigi-do-Malik

Notas do Autor


Heyyyy pessoal!
Então hehe Aqui estou eu com mais um capítulo para vocês...
Muitas pessoas disseram que foi o Ed que abriu a porta; espero que tenham feito suas apostas, porque vão descobrir isso agora kkk

Sejam bem-vindos leitores novos!
Muito obrigada pelos comentários anteriores e pelos favoritos s2 Vocês são uns amores <33
Só queria avisar que no passado a Phoebe tem 14 anos mas, no presente, ela tem mais ou menos 22, nada definido. Ainda não sei quanto tempo se passou desde o passado, então é mais ou menos isso mesmo. Talvez esses valores reduzam. Vou definir conforme os acontecimentos por aqui... Se tiver algum leitor fantasma, peço que se manifeste, mesmo que para comentar um "continua" já me faz muito feliz... Não se escondam atrás da telinha, venham falar com a comigo.
Ah, se tiverem alguma dúvida, perguntem também.

Vejo vocês lá em baixo =)
Boa Leitura XxGigi ↓↓↓ ◕‿◕

☂ ATENÇÃO: Este capítulo foi reescrito e alterado.

Capítulo 4 - Just Friends


Fanfic / Fanfiction Crossed Histories - Just Friends

                                      Lânia (Europa)

Sorrio timidamente, deixando claro o quanto aquela situação está sendo embaraçosa para mim. Pelos céus, é só o que me faltava!

A verdade é que fico estática, não consigo mexer um músculo e não sei o que fazer. Ele simplesmente sorri como se tudo fosse uma grande felicidade. Para ele talvez seja, mas é minha condenação. 

— É tão bom te ver de novo! — deixa escapar um suspiro.  Ele leva as mãos à cabeça, bagunçando os cabelos de forma tão sensual que penso que deveria ser pecado uma pessoa ser tão tentadora sem nem ao menos se esforçar para tal ato. Infelizmente, fico mais sem ar do que já estava anteriormente.

O que consegui respirar antes de tudo fica preso nos pulmões e o espartilho não ajuda  na tarefa de deter os movimentos bruscos. Eu não disse nem mesmo ‘olá’ e agora que consigo pensar nisso com mais clareza, percebo que quero me estrangular até a morte de forma lenta por tal descuido. 

— O-olá — gaguejo desajeitada e logo completo: — Vossa alteza.

Sigo o cumprimento com a reverência mais desajeitada que já ousei fazer na vida. Edward apenas ri. Ele está tão diferente, bonito e crescido. Seus cabelos cor de fogo desengrenados, a camisa branca amarrotada com as mangas levantadas até a altura dos cotovelos deixam sua pele brilhar à luz do fogo das tochas, o sorriso simples e bobo de felicidade estampado em seu rosto que eu, inocentemente, acredito ser por me reencontrar.... Exatamente tudo conspira para deixá-lo mais adorável a cada minuto. Céus, eu senti falta do meu melhor amigo!

Mas repreendo esses pensamentos rapidamente. Além de ser velho demais para mim — o que eu espero que ele seja, mesmo sabendo que é apenas uma bobagem  da minha cabeça (Edward possui a idade perfeita para uma jovem) —, não o quero de forma tão intensa. Fomos bons e velhos amigos; apenas isso. Tenho plena convicção de que agora, após vê-lo, as circunstâncias estão favoráveis a mim – o príncipe de olhos azuis e postura desajeitada cresceu, porém nosso relacionamento estagnou no tempo.

— Ahn, posso saber o que faz aqui? — pergunta, mas logo seus olhos se arregalam, vendo o quão grossa aquela pergunta soa — Quero dizer, não é algo ruim, muito pelo contrário... Apenas não esperava sua visita aqui.

Edward mexe em seus cabelos mais uma vez, desajeitado e demonstrando estar nervoso. Luto bravamente com meus olhos para que parem de prestar atenção nos movimentos do príncipe e me concentro na resposta que preciso proferir. Droga... O que eu digo?

— Nossos pais têm um encontro marcado. Minha presença é apenas  companhia distrativa — faço uma leve careta ao falar mas, juro solenemente, é involuntária.

Meus pés balançam disfarçadamente por debaixo do longo vestido azul. Não haveria nada mais deselegante na face da Terra do que espremer nervosamente minhas mãos na frente do futuro rei por mero capricho, assim como desviar o olhar, então agradeço mentalmente dezenas de vezes pela mãe e pela melhor amiga insistente que tenho por terem escolhido um vestido tão pesado que tenha de ser arrastado pelo chão. 

— Interessante — responde, sorrindo discretamente.

— Interessante — repito, assentindo.

Ficamos em silêncio por alguns instantes terríveis, mas então Sheeran levanta a cabeça repentinamente como se se lembrasse de algo muito importante.

— Não vai me dar ao menos um abraço?!

— Ora, o quê?

— Um abraço! Sabe o que é isso, não sabe, Phoebe Georgie? — suas palavras são pronunciadas com imensa naturalidade; como, se no mundo paralelo de Ed Sheeran, abraçar velhas amigas seja um ritual diário. Mas é claro, no meu mundo, intimidade com o sexo masculino  não é uma coisa recorrente. Quantos abraços ele deve ganhar por dia de meninas sedentas por atenção especial?

— Eu deveria...?

— Não seja tola — ele dá alguns passos em minha direção, cortando o espaço presente entre nós e me envolvendo em seus braços quentes numa recepção calorosa. Eu não deveria ter reparado, Deus me perdoe por ser tão indiscreta, mas não posso deixar de notar em como seu cheiro é bom. Ed sempre foi, e pelo visto continua sendo, a pessoa mais perfumada que conheço. Tímida e desajeitadamente, apoio  meu queixo em seu ombro e o aperto um pouco contra mim. Sendo mais alto, ele precisa se curvar. 

— Estava morrendo de saudades — ele admite ao me soltar.

— É, acho que eu também — rio levemente, sem graça com a forma direta de sua fala, mas também por não ter sentido sua falta a ponto de voltar entusiasmada para o castelo; isto continua sendo uma tormenta para mim. Outro sorriso largo surge em seu rosto, evidenciando que ele não captou a mentira em minha expressão constrangida.

— Olhe, o que acha de irmos fazer algum passeio agora? —pergunta — Digo, se você quiser, é claro. E se não houver nada mais importante para fazer. Sinceramente, o que seria mais importante do que acompanhar um príncipe? Ele realmente faz este tipo de questionamento intencionalmente?! Eu sequer posso negá-lo algo. 

— Não irá atrapalhá-lo? Príncipes tendem a ser ocupados, se é que entende o que quero dizer.

— De maneira alguma, Phoebe — Ed coloca as mãos nos bolsos laterais da calça e chacoalha levemente os pés. O movimento cai-lhe bem, de forma charmosa, totalmente o contrário do que seria com uma dama; sinto inveja de sua liberdade até no mais simples dos atos.

— Então acho que é uma proposta irrecusável, vossa alteza.

— Pelos céus, você sabe que pode me chamar apenas pelo nome costumeiro, não é?

É a minha vez de sorrir, feliz e envergonhada, sentindo minhas bochechas corarem.

— Sei, Ed. É claro que sei.

Edward estende-me o braço como um cavalheiro e eu o aceito de bom grado. Vamos andando pelos corredores até o saguão e então saímos novamente, indo cada vez mais longe das paredes sufocantes e esmagadoras do castelo. Não sei qual suas intenções quanto a me levar para a parte de trás do palácio, mas a simples ideia de ar puro e grama verde me agradam imediatamente. Infelizmente, a quantidade de guardas fica cada vez maior, mesmo que não haja muita coisa interessante por aqui; ou ao menos é o que eu me lembro. Mas, obviamente, muita coisa mudou.

O pedaço pequeno da grandiosa e densa floresta que fica no lado de dentro dos muros, separada do restante do bosque, não está muito longe de onde estamos. Quando éramos menores, adorávamos fugir para lá quando algo de ruim nos acontecia ou quando simplesmente não havia mais nada a fazer. São boas lembranças. 

Primeiro, começamos a conversar sobre coisas fúteis.

— Com quantos anos está agora?

— Quinze — respondo, dando de ombros — Quer dizer, quase quinze, você sabe... Completo mais um ano em alguns meses — sorrio sem graça. Olho-o com as sobrancelhas franzidas, embora já saiba sua resposta. Edward sorri amarelo.

— Dezoito. Quer dizer, quase dezoito, mas você sabe também — ele me imita, rindo logo em seguida — Não gosto de falar disso, não é o assunto mais agradável do mundo.

— Não gosta de falar que vai assumir o trono? — retruco curiosa, achando a situação extremamente exótica — Você deveria se gabar por isso.

— Deveria, talvez, mas não acho que devo. Queria que Rupert fosse mais o velho, desejo isso quase todo os dias — suspira pesado e, ao ouvir isso, tenho de repetir o ato. É indiscrição minha não lembra desta parte.

Ed sempre fez o estilo espirito livre, sem muitas regras ou limites em sua vida pessoal. Acho que isso se deve ao fato de sua vida sempre ter sido regulada na medida certa para tudo e, em vez de o prenderem em uma gaiola, fizeram com que ele arrumasse uma forma de se expressar. É um lado pessoal que poucas pessoas conhecem. Ed esconde tudo o que não quer que saibam, num modo de autopreservação; e ele é bom nisso. Um dos fatores contribuintes para isso é sua crescente responsabilidade e, claro, a educação que lhe foi dada. Mas sei que, mesmo se tivesse opção, ele não renunciaria ao trono. Se há uma coisa que conheço melhor do que ninguém em sua oersonalidade e sei que nunca vai mudar é a vontade de ter todo o poder necessário para tornar o país  um lugar melhor. É o jeito Sheeran. Ele fará isso, não há dúvidas.

— Como vai a família? — ele pergunta, continuando a sessão de perguntas incessantes.

— Vai bem e a sua?

 — Ótima. Rupert está com saudades suas! — nós rimos pela pergunta fora de questão, pois é óbvio que sua família está bem — Ele sempre reclama da sua falta, espero que não tenhamos mais esse problema agora. Mas e quantos aos melhores amigos? Fui substituído?!

 — O quê? Não!  — indigno-me, respondendo sem graça — Só a mesma coisa de sempre. Barbra e Zach, meu irmão. Lembra-se dele? — ao ver o consentimento com a cabeça, continuo — E Corn, irmão mais velho de Barbra.

— Fascinante.

— E você, Christopher?

— Não tenho nenhuma amiga especial, não tanto que seja relevante. Na verdade, nenhuma amiga além de minha mãe — ele ri sozinho, como se achasse engraçado — E você. Venho andando com muitas influências masculinas nos últimos anos.

Após essa confissão, não posso deixar de bajulá-lo ao menos um pouco.

— Isso será péssimo para você! — zombo.

— Eu sei — concorda, rindo.

Edward acaba me levando a um lugar especial, repleto de memórias satisfatórias. O estábulo, sem dúvida alguma, é significantemente mais bonito do que qualquer outro que se possa encontrar em Lânia, possuindo mais cavalos e mais luxo. Novamente, quando éramos mais novos, sempre vínhamos aqui. Pode parecer bobeira frequentar um lugar como este mas, quando se é o trio real, não há lugar mais seguro que um estábulo “fedido”. Nunca entendi essa definição imposta por nossos pais; o cheiro dos cavalos é agradável para mim.

— Lembra-se daqui, não é?

— Nunca poderia esquecer — admito.

— Você era muito nova, me admira que tenha um memória tão boa — ele sorri largamente — Foram ótimos momentos. Eu não consigo me esquecer do quão bom era.

— Nunca me subestime, Sheeran — acompanho seus passos, tendo visões de velhas memórias a cada um centímetro que miro algo. Cada mínimo espaço deste lugar possui marcas nossas.

— Ei, você quer andar? — pergunta subitamente, assustando-me.

— Sinceramente, não se se poderia.

— Ah, claro que poderia. Por que não? — desvio o olhar, sem graça — O que foi Phoebe, não quer minha companhia?

— Não brinque com uma coisa dessas, Ed.

— Então o que é?

Como não obtém resposta ele apenas ri, me deixando sem jeito.

— Vamos, apenas por alguns minutos —implora, juntando as mãos. Pensei que príncipes não implorassem por nada, principalmente por cavalgadas com “velhas amigas” insignificantes das quais eles nunca se deram o trabalho de enviar uma mínima carta. 

— Estou de vestido. E ele é imenso, caso não tenha percebido. Eu nem deveria ter sonhado em colocá-lo na grama.

— Isso nunca foi um problema para você.

— Talvez não quando eu tinha sete anos.

— O.k., o.k. — levanta as mãos em forma de rendição — Podemos arrumar algo para vestir, neste caso. Como velhos amigos, lembra?

Olho-o desconfiada.

— Está tentando me sequestrar?

Edward solta uma risada gostosa, quase como uma gargalhada.

Não há modo de achar que ganhei, ao menos essa vez. Ed sempre me convenceu a extrapolar em várias coisas que eu hesitava ou não queria; é natural, ele sempre teve esse poder idiota sobre mim. Ed me olha com aquele olhar travesso e os olhos cerrados em minha direção, pois acabo de me sentar em um bloco de palha.

— Tá, tá. Você ganhou, está bem?

Levanto-me do rolo carrancuda e de má vontade, vendo Christopher levantar os braços para cima como símbolo de vitória enquanto me puxa novamente para dentro do castelo. Seguida por um príncipe louco e animado, entramos em vários corredores, a maioria por engano. É engraçado ver como o futuro rei não conhece os corredores de serviço. Sugiro que ele peça ajuda a um dos muitos criados que passam por nós mas ele nega, dizendo que gostaria de explorar os andares abaixo de nossos pés e falar com a costureira ele mesmo, para que deixe um modelo separado somente para mim. Idiota, imaturo e infantil, mas é a cara de Edward. Ele simplesmente não sabe para onde ir e, mesmo que more aqui, parece que não sabe o que virá a seguir se virar à esquerda. No começo é  engraçado, mas após virar em tantos lugares começo a ficar preocupada.

— Ed, não me diga que...

— Sim, estamos perdidos.  

.........
 Você tem estado na minha mente, conheço você há muito tempo
Mas eu estive pensando baby que você deveria saber
Baby, podemos chegar a um acordo? 
Quero muito que você seja minha
                                                                            Say You're Just a Friend – Austin Mahone 

.........

                                    Lavern (Europa)

Definitivamente, a pior e mais dolorosa parte de todos os dias é acordar. Norman foi ligeiramente cuidadoso ao fazê-lo, mas isso não minimizou a falta de vontade de começar o dia cedo e pôr-me de pé. Ao menos não fico de mal humor, Reedus é a minha salvação. Levanto cambaleante e vou acordar meus companheiros, já com a água do cantil preparada para o caso de nos enrolarem por mais meia hora. Sinceramente, eu adoro as ideias de Norman; ele é terrivelmente doce e cruel. 

Gostaria de manter meus pensamentos maldosos para brincarmos com eles, mas ao ver Max e Barbra aconchegados de forma dócil e tranquila aos braços do outro, meu coração derrete e os acordo cordialmente. Norman já sabia que eu faria isso, então apenas ri e assente.

Atordoada com a imagem constante do amor de Max e Barbra, cambaleio para perto da água corrente e sento-me na parte rasa do rio Kromm, molhando desde as pernas até a cintura. Encaro meu reflexo e um mal-estar atinge lugares há muito esquecidos. Ou, ao menos, não lembrados. Quem é que irá me querer agora, neste estado? Pois eu tenho plena certeza de que Edward não fará as honras. 

Várias memórias que são no mínimo perturbadoras vêm à minha cabeça. Os momentos íntimos com Edward e meu período vergonhoso com Marcus; os luxos e mimos recebidos no castelo e até mesmo a lembrança da megera Lillian deixa-me comovida. Mentira é dizer que não sinto falta da comida em excesso e dos espaços grandes e confortáveis, das companhias agradáveis e da autoridade que me fora instituída um dia... Mas tudo isso acabou e estou conformada. Este é meu destino, eu o recebi de braços abertos; não posso reclamar por um ato que tomei em sã consciência.

Depois do nascer do Sol, quando tudo clareia, vamos seguindo em frente. Sempre em frente, nunca olhando para trás. Seguimos o rio, nosso amigo e aliado, com apenas os farrapos de roupa no corpo, algumas armas simples e a bolsa com utensílios indispensáveis.  

— Como conseguiram a espada? — Norman pergunta o que eu tenho certeza que está entalado em sua garganta.

Rio leve e baixo, atraindo seu olhar curioso e desconfiado para mim. Miro a estrada à frente e saco a espada da bainha.

— Bem onde disseram que ela estaria — breve e curta, digo mínimo possível, deixando-o questionar exatamente aonde. Passo a ponta dos dedos levemente pela lâmina afiada e entrego a ele — Foi moleza.

Reedus olha-me incrédulo e segura firme e desajeitadamente Ravermom.

— Se com moleza você quer dizer: “quase fomos mortos dezenas de vezes em período tão curto de tempo que parece impossível”, então sim, foi moleza — Max intervém com um sorriso torto vigarista e sua ironia habitual, fazendo-nos rir. 

— Gostaria de dizer que estão brincando e que essa é só mais uma das espadas falsas já forjadas, mas nunca duvidei da capacidade de vocês. Eu mesmo vi a luz de cima do Monte.

— Viu? — Barbra pergunta surpresa, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— Claro, não estava muito longe, isso me ajudou a localizar vocês. Qualquer pessoa em um raio de cem léguas¹ viu aquilo. Até mais.

— Wow — exclamo baixinho, tentando não me surpreender. As lembranças deste momento são, ao mesmo tempo, as mais vivas e as mais vagas que já tive. É difícil tentar me concentrar e focar em algo que ocorreu naqueles instantes, pois não é possível.

— Então conseguiu decifrar? Mesmo? É até engraçado pensar!

 O encontro dos três gigantes de pedra. Está em todos os lugares e em lugar nenhum. Foi difícil para caralho, mas uma hora as coisas fizeram sentido — esclareço — Passei várias noites em claro tentando entender. Ravermom realmente está em todos os lugares e em lugar nenhum, aquele templo mágico é extraordinário... Foi uma grande merda descobrir isso tão tarde, poderíamos ter pensando e descoberto antes, mas não... Fiquei revoltada quando percebi o significado. 

Norman ri, alheio a uma parte da história. 

— Não era para ser fácil, Phoebe.

— E não foi mesmo, Reedus, mas teria sido mais rápido, sabe ? Eu não consigo me conformar, sempre raciocino muito rápido quando estou curiosa.

— Talvez a gente não quisesse saber, já pensou nisso?

— Não, Barbra — olho-a instigada — Eu não havia pensado. Faz sentido.

— Ou talvez não.

— Cale a boca, Max. Faz todo o sentido.

— Desculpe, amor. Faz todo sentido.

— De qualquer jeito — Norman nega, rindo comigo — Vocês irão me contar como conseguiram fazer essa merda.

— Primeiro, depois daquele ataque ao vilarejo, nós... — a pequena Barbra começa. 

{...}

Avistamos uma casa pequena e velha no final da tarde, ao pôr-do-sol, no meio do bosque úmido e fechado. A ideia é animadora: um teto para passar a noite, enfim. A aparência é rústica, a madeira está podre e Norman diz que provavelmente está abandonada há alguns dias. A cautela é máxima até atingirmos a fachada completamente destruída.  A porta está aberta.

Reedus entra primeiro com a besta para examinar o lugar enquanto esperamos do lado de fora.

— Tudo limpo — avisa, suspendendo a arma na altura do joelho e voltando para dentro.

— Alguma coisa? — Barbra perguntou esperançosa, referindo-se à comida.

Sento-me à mesa redonda de madeira que há na cozinha empoeirada, o primeiro cômodo depois da porta de entrada e vejo Max revirar os armários a procura de mantimentos. Para nossa salvação, e não que seja novidade, Norman volta de outro aposento com alguns potes de barro e todos sorrimos.

— Comida! — Max exclama, surpreso — Estava quase jurando que não íamos achar nada por aqui, isso é uma miragem?

Ele leva o dedo indicador aos potes, com cara de tolo, como se fossem desaparecer.

— Eles não iam guardar comida no armário, não é, seu idiota? — Norman ironiza, batendo na cabeça dele — Não somos os únicos que guardamos coisas.

— Aonde estava? — pergunto, curiosa.

— Numa tábua solta, embaixo do piso do banheiro. Quase não percebi.

— É melhor que comida, é comida de verdade — Barbra aparece repentinamente e tira os potes a força dos braços de Norman, rindo quando vê o que há dentro deles — Trigo e arroz. Podemos ter uma refeição descente agora.

— Ótimo — digo — Quem vai cozinhar?

Levanto-me rapidamente e apoio os braços na mesa, me inclinando com um sorriso perverso. Os três olham de volta para mim e meu sorriso esvai.

— Ah, qual é! Vai sobrar mesmo para mim?

— Meu negócio é caça, não fogão e panelas — Norman ri, me entrando os potes e puxando Max para fora da casa, antes que sobre para ele também.

Dou um sorriso para Barbra e ela revira os olhos.

— Você vai me ajudar, não pense em mover nem o pezinho — jogo dois dos cinco potes em seus braços e vou até o fogão de lenha presente no cantinho da cozinha suja, analisando-o — Barbra, vá falar para os garotos de caça que precisaremos de lenha... E é bom que eles achem algo decente no meio desse lugar úmido. 

Antes mesmo que eu possa terminar de falar, ela sai e não posso deixar de rir sozinha. Estar numa cozinha me lembra dos velhos tempos. Não gosto de lembrar do passado, mas Barbra e eu vivíamos cozinhando antes de tudo acontecer.  Quando fomos morar no castelo, nos aperfeiçoamos mais ainda no meio culinário. Se eu não fosse uma rainha e ela uma das minhas Damas de Honra, não tenho dúvidas de que teríamos sido cozinheiras em algum lugar... Ou então só empanturraríamos nossos maridos com comidas deliciosas, como esposas normais e não-revolucionárias fazem.

Os caçadores voltam após alguns minutos e começamos a cozinhar. Está simples mas, quando tudo está pronto, é uma das refeições mais fartas que já tivemos em meses. A comida sobra e ainda podemos repetir. Não é uma das melhores vezes em que cozinhamos, pois não há temperos nem nada que possa tornar a comida mais apetitosa, porém não fica ruim. Sempre damos um jeito de fazer funcionar, é assim que acontece.

— Acham que é seguro para passarmos a noite? — pergunto ao sair da mesa, recolhendo os poucos utensílios que encontramos na cozinha.

— É um grande avanço do chão da floresta para cá — Max comenta.

— Eu concordo — Barbra e Norman assentem.

— Então partiremos amanhã de manhã.

— Para onde? — pergunto, surpresa — Podemos ficar mais um pouco, estamos rodando em círculos há semanas, não sei qual será o próximo passo.

— Eu sei.

— Sabe? — Barbra se vira para ele, arqueando as sobrancelhas — Norman Reedus, do que está falando!?

— Ouvi falar de dois bruxos que se rebelaram contra a monarquia em Camelonios. Os boatos dizem que estão dispostos a tudo para derrubar o rei e possuem meios para fazê-lo. Imagino que já saiba o próximo  passo agora.

— Está sugerindo que está na hora irmos à Camelonios, uma das cidades que me odeia profundamente ou ao fato de invadir o castelo?

— Estou me referindo aos dois, porém vamos dar um passo de cada vez — olho-o espantada, assim como Barbra — Vocês duas sabiam que essa hora ia chegar, principalmente depois de pegar a espada. Espero que estejam ansiosas para rever seus entes “queridos”.

Dois dias depois...

— Vamos — Norman faz sinal para que avancemos, e assim vamos.

Barba, que está segurando firmemente um facão do tamanho do meu braço contra o peito, se esconde atrás de uma pilastra de gesso qualquer. Posso ver o quanto ela está nervosa desde que saímos da cabana, o ponto alto dela não são os momentos de perigo.

Sabemos que o boato dos bruxos pode ser uma emboscada do governo, mas ignorar este fato está simplesmente fora de cogitação. Bruxos! O que eles não podem fazer em nosso favor, afinal?

Max se esconde atrás de uma casa e eu me agacho em um beco escuro e úmido ao lado de Norman. Acabamos de chegar em Camelonios, ao lado da cidade de Norse, que ficou a dois dias de viagem de onde estávamos. Camelonios tem pouco mais que doze mil habitantes e sua segurança não é máxima ou forte, mas ainda assim os rumores sobre a rainha traidora deixaram o povo com raiva e revolta. Em contragosto, Norse tem mais de cem mil habitantes e seu povo é duas vezes menos amigável quanto ao nome Phoebe Bailke. Aqui, no mínimo, nós seremos apedrejados. Lá, seremos levados até a capital de Lavern e enforcados ou decapitados em praça pública.  

Com muito cuidado, conseguimos passar despercebidos até o bosque que fica atrás da cidadezinha. Duas pessoas importantes nos esperam lá.

Correndo e com a besta na mão direita, Norman vai na frente dando cobertura. Com a arma recém arranjada de algum infeliz, Barbra também corre o mais rápido que pode entre as árvores. As ordens de sobrevivência são claras: a qualquer sinal de vida próximo, nos escondemos.

Ao avistarmos a casa isolada que procuramos, diminuímos o passo. Preparo a faca na mão e toco a adaga guardada na bota, apenas para me certificar de que, se for mesmo uma armadilha, estou preparada. Novamente, Max se esconde atrás da casa. Como foi dado morto há alguns meses pelo governo, ele é a nossa vantagem. Manter as coisas como estão é essencial. Eles pensam que estamos enfraquecendo, uma vez que também Norman havia sido promovido como desaparecido. Mas nosso núcleo continua intacto. Max é o mais rápido e o mais inteligente nas horas de desespero. Ele saberá como agir se as coisas derem errado.

Reedus chega em frente à porta de madeira branca com a besta apontada para ela, bate e se afasta consideravelmente. A porta se abre, revelando uma mulher morena, com um belo corpo e olhos extremamente verdes. Ao ver Norman, ela sorri e olha para a floresta, como se procurasse mais alguém.

— Norman Reedus? — ela pergunta, ainda encarando o amontoado de árvores verdes.

— Quem é você?

— Sou Malena Alarcon, é realmente um prazer conhecer você! — ela sorri — Estávamos à sua espera. É seguro, pode falar para seus amigos saírem.

Mas que... merda!


Notas Finais


Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=vGVFgYvCE-k&index=4&list=PLA-tSOmDx5ECxYzB0fMLCCwIQCA88KEmI

Légua: "medida de distância em vigor antes da adoção do sistema métrico, cujo valor varia de acordo com a época, país ou região; no Brasil, vale aproximadamente 6.600 m."

Aqui estou eu de novo haha Então, gostaram? Odiaram? Amaram? Comentem a opinião de vocês, é importante pra mim!
Olha gente, prestem bem atenção nos capítulos, porque em mínimos detalhes pode haver algum spoiler ou a antecipação de um fato... Gosto de trabalhar nas entrelinhas u_u

Tia Lu fez uma resenha ótima de CRH, se quiserem ler: https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-originais-resenhando-com-a-tia-lu-3706843/capitulo2

Ufa, acho que é isso, obrigada!
Kisses XxGigi


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