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História Cruentamque - A sobrevivente de Sahana


Escrita por: Zyesio

Capítulo 3 - A sobrevivente de Sahana


Puxamos nossas cadeiras e sentamos um do lado do outro:

— É o seguinte, Stolz — disse Roger, e tomou um gole do café —  Esse laboratório foi criado para desenvolver as pesquisas de ponta da empresa. Com o estouro do Cruentamque, todos os esforços estão sendo concentrados em encontrar a cura. Aqui estão apenas os melhores e todos estamos trabalhando nisso.

— Mas eu não entendo como nós vamos conseguir encontrar essa maldita cura.

— É o seguinte. Você sabe que as cidades atacadas ficam inabitáveis e todos que chegam perto ou saem de lá morrem antes de chegar em outra cidade para passar o vírus, certo?

— Certo.

— Errado, existem pessoas que sobreviveram e assistiram aos seus familiares e amigos vomitarem sangue e desmaiarem sem poder fazer nada. Eles podem ficar até o segundo dia, quando não há mais ninguém para ver morrer. Ou podem fugir e tentar chegar a outra cidade. Mas a polícia bloqueia todos os caminhos para que a doença não se espalhe. Esses sobreviventes são detidos e tomam um banho para desinfecção. Depois vão para laboratórios para que sejam estudados e ajudem a encontrar a cura.

— E quantos desses sobreviventes há? — perguntei.

— Dois — disse, eu fiquei surpreso com a resposta — mas só um foi noticiado, o outro trabalhava em uma de nossas filiais e como não tinha mais conhecidos vivos ele ligou para a matriz da B&Y. Pela sua importância para a pesquisa, ele foi recolhido em um ponto de encontro fora da zona de contaminação e fora dos pontos em que a polícia estava.

— Quando foi isso?

— Ontem, ninguém sabe ainda quem é essa pessoa e ela deve chegar aqui hoje à noite — Ele parou por um momento e me encarou com os olhos azuis — você não pode contar a ninguém sobre isso, a existência desse sobrevivente e dessas pesquisas não podem sair desse laboratório, entendeu? — eu fiz que sim com a cabeça — Ótimo, agora eu preciso que você assine uns papéis para garantir que você não irá contar nada, desculpe, são ordens.

Ele foi até sua mesa, abriu uma gaveta e retirou um monte de papéis em que era possível imprimir toda a bíblia duas vezes. Depois veio andando até mim e jogou tudo em cima da minha mesa:

— Esse é o termo de responsabilidade, você assina aqui na capa e em todas as páginas, quando terminar pode deixar em cima da minha mesa.

Ele só podia estar brincando. Se eu fosse ler tudo aquilo eu ia entregar só na outra semana. Achei melhor começar logo. Depois da trigésima página recheada de palavras rebuscadas e informações inúteis eu parei de ler e comecei a apenas assinar as páginas. Já era sete horas da noite quando eu terminei de assinar todas as folhas. Todos ainda estavam trabalhando e eu deixei o monte papéis assinados em cima da mesa dele:

—Isso foi rápido — ele disse, não muito surpreso — quando eu tive que assinar isso eu li duas páginas e ainda desenhei uns pintos e outros desenhos obsecenos em algumas páginas. Aposto que nem eles ligam para isso.

— Como você veio parar aqui? — meu plano de não parecer rude no primeiro dia foi por água abaixo — Quero dizer, por que te escolheram para trabalhar aqui?

— Não precisa disfarçar, eu sei o que você está pensando. Eu pareço meio bobo, é verdade. Mas se eu estou aqui é por um motivo — ele ajeitou os cabelos loiros e virou a cadeira na minha direção — Chega de falar de mim, eu quero saber um pouco de você — quando ele terminou essa frase a porta do elevador abriu e todos olhamos para ver quem era.

Uma mulher de cabelos roxos e olhos azuis, saiu do elevador. Ela estava em uma roupa branca de paciente de hospital, possuía piercings na sobrancelha, no nariz, na boca e nas orelhas, tatuagens no braço esquerdo e uma cara de tédio. Um dos cientistas, que parecia ter uns sessenta anos, levantou e falou para ela se sentar em um banco próximo à cafeteira. Depois se virou e mandou todos nos reunirmos do outro lado da sala.

Eu e Roger nos levantamos, e no caminho eu olhei para ela, parecia machucada no braço esquerdo e  não olhou para mim, ficou encarando o frigobar, acho que estava lendo o papel em que estava escrito as bebidas que havia lá dentro.

Chegamos do outro lado da sala e todos formamos uma roda, pude ver agora todos os rostos com mais clareza. Havia apenas uma mulher, que devia ter uns cinquenta anos. O homem que havia convocado a reunião começou a falar:

— Aquela é a sobrevivente do ataque de Sahana — todos ficaram surpresos e olharam na direção dela, que estava furtando um refrigerante do frigobar.

— Essa é a única sobrevivente de um ataque em uma cidade inteira? — falou a mulher, incrédula — eu preferia um paraplégico com marcapasso do que isso — completou.

— O importante é que temos uma cobaia para descobrir a cura — falou um homem de cinquenta anos, calvo e entediado.

— Isso é verdade — falou o homem que convocou a reunião — Não obtivemos nenhum resultado significativo até agora. Ela pode ser a chave de que precisávamos.

— Vamos apenas fazer análise do sangue e das células e amanhã nós começamos a procurar uma maneira de criar a cura. Ela vai ter que dormir aqui hoje — falou o homem calvo de cinquenta anos.

— Ela vai por esse laboratório em chamas! — disse a mulher, indignada.

— É só dar um sedativo e ela vai dormir a noite inteira, não se preocupe. Acho que já sabemos o que fazer, acabou a reunião, voltem ao trabalho!

Ninguém pareceu perceber a minha existência. Eu preferia assim. Quando eu e Roger voltávamos para nossas mesas a cobaia gritou:

— Me tirem daqui! Eu não vou deixar você me furar com essa agulha! Me solta! AAAAH! — e saiu correndo pelo laboratório, não deixando que ninguém a encostasse. Depois de muita gritaria e correria, eles desistiram.

— Ei! Novato! Venha cá! — me chamaram — olha, todos nós estamos velhos demais para isso. Nós queremos ir para casa e descansar. Você vai ficar ficar aqui e esperar esse monstrinho dormir. Quando ela dormir, você injeta esse tranquilizante no braço dela, tira uma amostra de sangue e uma de pele. Boa sorte — e todos foram para o elevador, deixando eu e a sobrevivente sozinhos.



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