Abri os olhos assim que ouvi os berros da minha mãe do outro lado da porta.
Acordei, mas não queria.
"Se você não se levantar agora, vai se atrasar pro colégio de novo, Jihoon!", ela gritou novamente enquanto esmurrava a porta. "E abre essa porta agora, já te pedi pra não trancar essa porra!"
"Que inferno", resmunguei baixinho. Os gritos da minha mãe deixam qualquer um louco e o pior é que ela tem plena consciência disso. "Já levantei, mãe", disse alto o bastante para ela ouvir.
Ainda zonzo de sono, me sentei na cama, esfregando os olhos e bocejando alto.
Deveria ser ilegal acordar antes das 10 da manhã.
"Bom dia, Jihoonie", uma voz bastante familiar murmurou, me fazendo quase ter um ataque cardíaco matinal.
"Que porra você tá fazendo na minha cama!?", exigi saber, lançando um olhar gélido em direção ao meu amigo.
Sem se deixar afetar pela minha irritação, ele apenas piscou seus olhinhos 10:10 e abriu seu típico sorriso idiota.
Maldito seja Kwon Soonyoung e seu sorriso!
Rapidamente desviei o olhar, ignorando o efeito avassalador que aquela criatura tinha sobre mim.
Por que foi que eu deixei que ele dormisse aqui mesmo!? Ah é, porque eu adoro sofrer.
"Não fica bravo, Jihoonie. Eu acordei no meio da noite morrendo de frio e sabia que a sua cama estaria quentinha, então..."
Quentinha o caralho!
"Na próxima vez que eu acordar e te ver na minha cama, juro que você vai se arrepender", o ameacei enquanto me levantava.
"Nossa, tudo bem, já entendi. Parece que alguém acordou estressadinho hoje."
"Vai se foder, Hoshi. E sai do meu quarto."
"Eu preciso trocar de roupa."
"Vai trocar na sua casa", disse, olhando para ele no momento em que ele estava abaixando a calça do moletom. Sangue de Jesus tem poder!
"Que porra você pensa que tá fazendo!?", gritei em pânico, sentindo meu rosto em chamas e meu coração vacilar. Obrigado por ferrar meu psicológico, Hoshi.
"Trocando de roupa", meu amigo respondeu com uma naturalidade que só serviu para me deixar ainda mais constrangido e frustrado.
A verdade é que nós já tínhamos trocado de roupa na frente um do outro diversas vezes ao longo dos anos, mas naquele momento a visão do Soonyoung só de cueca era demais para meu psicológico fodido (e apaixonado), por isso peguei meu uniforme e me enfiei dentro do banheiro o mais rápido possível.
Kwon Soonyoung veio ao mundo para me foder mesmo (e não é da forma que vocês estão pensando).
O sinal para o intervalo mal tocou e eu já estava do lado de fora da sala. Eu tinha dormido nos dois primeiros horários, mas ainda estava cansado. Esperava ansiosamente o dia em que não seria mais obrigado a ir para aquele inferno, mais conhecido como escola.
Assim que senti dois braços enlaçando minha cintura por trás já soube quem era, porque só uma pessoa ousaria tocar em mim sem pedir permissão primeiro.
"Bom dia", Mingyu sussurrou no meu ouvido.
"Não me toca, encosto", pedi calmamente. Mentira que eu não nasci pra pedir, eu nasci pra mandar.
"Que isso, Ji, por que tão mal-humorado!?", meu amigo (de quase 2 metros) perguntou, tendo o bom senso de desgrudar de mim.
"E por acaso eu tenho algum motivo pra ficar de bom humor?", rebati ranzinza.
"Você tá conversando com o cara mais gato dessa escola, isso deixaria qualquer um feliz."
"Ah tá."
"Ah é, eu tinha me esquecido de que não faço seu tipo", Mingyu comentou com uma risadinha provocativa.
Lancei-lhe um olhar mortal, mas a girafa fingiu não perceber. Se arrependimento matasse, eu já estaria morto. Maldito dia em que caí na lábia desse infeliz e contei para ele que estava a fim do meu amigo de infância, popularmente conhecido como Hoshi.
"É sério, Jihoon? O Mingyu não faz seu tipo?", Soonyoung praticamente se materializou do meu lado, quase me matando de susto pela segunda vez no mesmo dia.
"Meu Deus, Hoshi, qual é o seu problema!?", reclamei, com a mão no peito, sentindo meu coração acelerado.
"O que foi que eu fiz agora?", ele perguntou todo manhoso, seus lábios formando um maldito biquinho. Desgraçado!
"Você quase me matou de susto, infeliz", respondi, desviando meu olhar dos seus lábios.
"Desculpa, Jihoonie, eu não fiz de propósito" Ele me quebra toda vez que me chama assim. "Agora me fala, quem é que faz seu tipo?"
"Quê!?", me fiz de desentendido mesmo.
"É sério que você não vai me contar?"
"Eu não tenho nada pra contar, você já ouviu o Mingyu falando que eu não faço o tipo dele."
"Mas você tem um tipo ideal, não tem!?"
Por que diabos ele está tão interessado nisso!?
"Sei lá, nunca pensei nisso", menti na cara dura.
"Ah tá", Mingyu murmurou com uma expressão de puro divertimento. Naja. Com um amigo desses, quem precisa de inimigos?
Antes que o Soonyoung pudesse dizer mais alguma coisa, o Wonwoo se aproximou do nosso grupinho.
"Oi, Jihoon", ele me cumprimentou, ignorando propositalmente o gigante do meu lado. Mingyu também fingiu que não o viu, virou pro lado e começou a conversar com uma das meninas da nossa sala. Esses dois vão acabar se casando um dia.
"E aí, beleza!?", o cumprimentei, aliviado com sua aparição repentina, porque era bem desconfortável falar com o meu crush sobre meu tipo ideal.
"Hoshi, eu preciso falar com você", Jeon disse, já puxando o amigo pelo braço.
"Agora?", Soonyoung perguntou relutante.
"Agora. É rapidinho. Você já passou a noite toda com o Jihoon, dá um tempo pra ele sentir saudade de você."
Senti meu rosto queimar violentamente ao ouvir aquelas palavras. Pra piorar, duas colegas de sala olharam diretamente para mim e cochicharam animadamente entre si após ouvirem a frase "passou a noite toda com o Jihoon". Em questão de minutos o colégio todo iria pensar que eu e Soonyoung dormimos juntos, mas não literalmente.
Eu devo ter sambado em cima da cruz mesmo para ter que passar por situações como aquela. Eu parecia estar de boa, mas na verdade queria morrer ali. Mas antes de morrer, eu mataria o Wonwoo com minhas próprias mãos. Essa desgraça do capeta merece ficar com o Mingyu mesmo, duas najas. Pelo menos o Hoshi tinha ido embora com o amigo sem notar minha reação patética.
Sinceramente, está cada vez mais difícil segurar essa barra que é gostar do meu amigo de infância.
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