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História Crush On You - Numa Escala De 0 a 10 qual o nível da sua dor?


Escrita por: jiwont

Notas do Autor


Eu tive muitos problemas pra editar esse capítulo o app tava saindo toda hora e deus me ajude a paciência que já não tenho tava indo pro espaço, mas enfim, segue o baile e espero que gpstem do capítulo

Capítulo 2 - Numa Escala De 0 a 10 qual o nível da sua dor?


Apesar de todos momentos constrangedores e vergonhosos de silêncio e comentários desnecessários no início, com o decorrer dos dias eu conseguia ser menos patético e nunca mais tive um quase ataque de asma na frente de Taehyung. Aos poucos nós conversávamos um pouquinho mais e eu me sentia menos tímido em sua presença, eu me forçava sempre a iniciar um assunto, por mais chato que fosse. E eu descobri que o que mais Taehyung gostava de falar era sobre Jimin e a paixão desenfreada que ele alimentava pelo astro do time super gostoso, e por mais que eu me magoasse e sentisse meu coraçãozinho ser espremido por mãos cruéis e ásperas sempre que ele falava, aquele era o único assunto que se eu iniciasse ele passava o tempo inteiro falando. E eu gostava da sua voz, de saber que era diretamente comigo que ele falava, só eu e ele. Não importava se ele diria o quanto Park estava gostoso no vestiário um dia desses ou o quanto ele estava decidido a pedir o número do moreno. Eu só queria que ele se sentisse bem falando comigo, e tudo bem se me machucava um pouquinho, as vezes precisamos sentir um pouco de dor para lembrarmos que estamos vivos e ainda sentimos. E eu já estava acostumado com aquele sentimento, só que agora eu estava encontrando uma forma de me aproveitar dele. Pois, permitir que Taehyung se abrisse em relação a Jimin era como deixar nas entrelinhas que eu o ouviria sempre que ele precisasse, com qualquer coisa, e se o que mais ele pensava era Jimin, bastava eu aceitar e conter a dor na garganta por um tempo. Eu era paciente. Tinha de ser. 

 

Eu era tão paciente que em pleno sábado acordei às oito da manhã só para buscar Taehyung e levá-lo até o campo de futebol da escola pois teria um jogo importante para Jimin. Na arquibancada ele não parava de dizer o quanto apreciava os movimentos de Jimin pelo campo, e eu assentia o tempo inteiro, enquanto comia meu segundo cachorro quente e me enchia de refrigerante.

 

As vezes eu pensava em deixar o refrigerante, ou as comidas gordurosas e que me levariam a um enfarto qualquer dia, somente para me tornar alguém tão belo como Park Jimin. Porque já havia notado que aquele era o tipo ideal para Taehyung. Seco e cheio de massa magra muscular. Mas sempre que eu pensava nisso eu me lembrava do sabor de uma torta de chocolate desmanchando em minha boca, ou de um refrigerante bem gelado descendo a minha garganta. E então eu simplesmente dava de ombros e ignorava aquela vontade.

 

Em um mundo fantasioso eu ainda esperava viver sem precisar me adaptar ao tipo ideal de alguém para ser correspondido. E eu no fundo, no fundo, acreditava que se por um milagre Taehyung me notasse seria por eu ser como sou, e não por ter o corpo como de Park Jimin. Mas era sonhar alto demais, certo? O cara era fascinado demais naquele moreno e nas suas curvas. As únicas curvas que eu tinha eram das ondinhas da minha barriga, se ele estivesse interessado nesse tipo de curva eu até que estaria bem.

 

Por isso a cada segundo que eu passava com Taehyung, mais eu me convencia de que não tinha chances com ele. Era meio que abaixo de zero; e era bem melhor ficar no mundo de fantasias. Amar em segredo era muito bom quando se tratava de mim, desse modo eu não precisava ser verbalmente rejeitado e ainda podia me ludibriar com a ideia de que talvez em um universo alternativo as coisas poderiam ser diferentes.





 

Eu sempre me esforcei em fazer tudo que o Taehyung queria para mostrar que estaria sempre ali para ele não importasse para o que fosse. Namjoon dizia que às vezes eu parecia um capacho, e nem era porque eu fazia somente os trabalhos dele, ía muito além disso. E só para que fique claro, às vezes até que é legal estar a disposição dele para qualquer coisa. Porque naquele dia quando eu lhe ofereci um pouco do meu cachorro quente ele somente abriu a boca. Sim, ele abriu a linda boca e esperou que eu o alimentasse.

 

Céus!, Eu quase caí para trás e não seria nada legal cair ali sabendo que nós estávamos na última fileira da arquibancada. Imagina só me quebrar todinho só porque Kim Taehyung fez um pedido mudo para que eu o alimentasse como um bebezinho.

 

Prontamente eu coloquei o cachorro quente em sua boca e ele deu uma mordida considerável arrancando um pedaço, escorreu um pouquinho de molho no canto dos seus lábios, e ele estava tão concentrado no jogo e obviamente em Jimin que mal havia notado a sujeirinha que fez.

 

Por quase dois minutos inteiros eu me contive para não limpar aquilo. Em partes porque eu eu era muito ligado nessas coisinhas de limpeza e qualquer coisinha já me incomodava e eu precisava limpar. Mas, seria mentira descartar a ideia de que eu só queria sentir a sensação de passar o guardanapo ali como se fosse um namorado cuidadoso. Porque é isso que namorados fazem.

 

Bom, eu nunca namorei, mas dizem que é isso mesmo.

 

Quando eu olhei pela enésima vez para aquele molho ali no cantinho dos seus lábios, de pouco a pouco escorrendo para o seu queixo eu não me contive, foi mais forte que eu. Sabendo que era muito estranho e inapropriado fazer aquilo eu levei o guardanapo até o local e delicadamente passei o papel macio, limpando-o. E ele sobressaltou, é claro, pela primeira vez desviando sua atenção do jogo para olhar para mim e eu me encolhi tão envergonhado que desejei ser como um super herói dos quadrinhos da Marvel e ter o poder de me tornar invisível.

 

“Desculpa, é que estava sujo.” Me justifiquei entregando o guardanapo a ele.

 

“Tudo bem, você pareceu até a minha mãe quando jantamos fora. Ela odeia como eu sou desajeitado para comer.” Ele disse descontraído.

 

Ah, ele era tão bacana, e eu achando que levaria um soco por ser tão invasivo. Só não sei se isso é pior do que ser comparado a sua mãe.

 

Eu não soube o que responder depois disso então enchi minha boca com o cachorro quente devorando-o com duas últimas mordidas. Sendo assim ele voltou sua atenção para o jogo - diga-se de passagem Park Jimin.

 

Era legal ficar admirando ele bem de pertinho, eu me perdia diversas vezes observando sua imagem tão bela, ele mal parecia um mero adolescente. Para onde foram suas espinhas? A oleosidade na sua pele? Ele não tinha imperfeição, era como se o deus da beleza de alguma forma o invejasse e quisesse tomar seu lugar de volta. Sei que parece exagero, mas, não era; não quando o sol daquela manhã de sábado destoou na sua pele e ele parecia tão angelical e imaculado sendo banhado parcialmente por aquela luz natural. Eu até mesmo suspirei e acredito que quem olhasse para mim estaria me considerando o sujeito mais estranho de todos, o mais estúpido também; talvez o mais apaixonado.

 

Eu estava tão concentrado nele e nos seus pequenos detalhes que se salientaram com aquela luz que mal me dava conta do que ele falava, para ser sincero ele gritava e parecia estar comemorando por algum motivo. Talvez alguém tivesse feito um gol, eu não me importei em descobrir. Os seus cabelos castanhos estavam uma bagunça, saindo do elástico que ele usava para prender de qualquer forma no topo da cabeça, caiam livremente por seu rosto e ele apenas se preocupava em por alguns fios para trás das orelhas grandinhas e de “abano” - como Namjoon costumava dizer. Ele e metade da arquibancada se levantaram eufóricos, os braços erguidos, os gritos a todo fervor, me despertaram a curiosidade de saber o que acontecia ao meu redor, então, sugando o líquido gelado no canudo grosso, eu olhei para o campo; estavam anunciando os vencedores, e no placar destacam-se os três pontos marcados por nossa escola e os dois pontos da escola rival. A euforia entre os jogadores era considerável, e de onde eu estava pude ver Jimin correr em direção a Taemin, um rapaz loiro e de sorriso absurdamente bonito que também estava no time. Ambos comemoraram a vitória bem abraçados no meio do campo e ainda sugando meu refrigerante eu levantei a cabeça para olhar a reação de Taehyung.

 

Sinceramente eu deveria ficar feliz em ver o sorriso morrer naqueles lábios, quer dizer; as pessoas fazem isso, certo? Comemoram quando esse tipo de coisa acontece, quando assiste a pessoa que você gosta interessada em outra ter uma bela de uma frustração assim como você mesmo tem com ela todos os dias da sua vida. Mas, ainda que eu desejasse com todas as minhas forças sentir um pouco de felicidade com aquela expressão, não consegui. Sequer me deu uma satisfação maior vê-lo se encolher e abaixar os longos braços. Então eu fiz o que faço de melhor quando se trata dele, demonstrei o tipo de amigo que eu era e queria ser ainda mais para ele.

 

Soltando o canudo um pouco e deixando o grande copo de refrigerante ao meu lado, eu levei a mão direita até a bermuda do Kim e puxei o pano, tentando ter sua atenção.

 

“Por que não vai lá falar com ele? Digo… Depois que a movimentação no campo acabar.” Ofereci um sorriso fechado, sem mostrar meus dentinhos cobertos de ferro.

 

Aguardei em silêncio uma resposta e soltei o pano da sua bermuda, deixando sem querer que minha palma escorresse por sua pele. Aquele breve e mínimo contato de poucos segundos me deixaram um pouquinho sem ar, a sua pele era tão macia. Eu gostava de poder chegar a essa conclusão, de poder sentir a maciez sublime e única que aquele cara tinha. As vezes eu me questionava como seria tocar aquela pele com os lábios, com a língua. Céus, eu nunca descobriria, mas sempre que colocava a cabeça contra o travesseiro eu imaginava, eu fantasiava.

 

“Você acha que é uma boa idéia?” Ele perguntou, após um tempo. “Nós não nos falamos muito então eu não queria que ele me achasse estranho nem nada.”

 

“Elogie ele como atleta, fale sobre o jogo, com certeza ele não vai te achar estranho. Depois, se surgir uma brecha no assunto… O convide para sair.”

 

Naquele momento, dizendo as últimas palavras, eu desejei ter outro cachorro quente imenso em mãos, somente para enfiar tudo na minha boca e me impedir de falar uma coisa tão absurda e sem noção. Não diria que eu era masoquista, mas olhando bem, aquilo era exatamente algo que um masoquista idiota faria. E minha maior esperança no segundo após ter dito a maior besteira de todos os tempos era que Taehyung se recusasse. Mas era um pouco impossível dado que ele só precisava daquele incentivo para que conseguisse coragem de chegar em Park.

 

O plano era só ser um bom amigo e incentivar uma conversa para que ele não ficasse triste demais depois daquele abraço de comemoração, não empurrá-lo de uma vez para cima de Park.

 

Jung "gordo" Hoseok e sua maldita boca tão descontrolada quanto a própria fome novamente estragando tudo.

 

“Certo, quando todos forem embora eu vou até ele no vestiário.”

 

Eu até poderia responder mas estava com medo de incentivar que eles se casassem então voltei a me entupir de refrigerante e só ergui meu dedão para ele agitando a cabeça concordando. Eu estava de boa por fora mas a vontade mesmo era de chorar até secar toda água do meu corpo horroroso.

 

Taehyung se sentou ao meu lado de novo e ele estava tão pertinho dessa vez que nossos joelhos até se tocavam. Ele era todo despojado, onde sentava era com as pernas abertas e de modo solto e só dele, e por isso ele costumava sentar em uma distância considerável, mas naquele sábado ele simplesmente não ligou. Quando o refrigerante acabou eu fiquei mordendo a ponta do carnud9 em uma forma forma de me manter quieto, mas meus olhos ainda se focavam nele.

 

Taehyung usava uma camiseta branca larguinha no seu corpo, tanto que caía um pouco para o lado direito e eu podia ter a visão parcial da sua funda clavícula marcada, os ossinhos bonitos sobressaltando naquela pele amorenada tão atrativa me encantaram mesmo que eu tivesse bastante habituado a vê-los pois ele era adepto ao uso daquele estilo. Sua bermuda era uns dedos acima do joelho e possuía um pano fino, eu podia ver toda a definição de suas coxas quando ele se sentava e o pano subia mais um pouco. Tão inacreditavelmente bonito, eu não podia negar que ele e Jimin seriam como um casal de modelos ou coisa assim. Ambos bonitos e talentosos, ambos com interesse em esporte e essas coisas.

 

Quando eu vi seu pescoço girar em minha direção, rapidamente desviei o olhar e fingi que estava muito concentrado naquele pessoal chato pra cacete gritando e comemorando no campo. Sempre que ele olhava para mim sem que estivéssemos conversando eu sentia vergonha, vergonha porque ele estava olhando para o meu rosto gorducho, para os meus braços apertados nas camisas, ou minha barriga saliente que muito raramente eu conseguia esconder com um moletom grande ou uma camisa maior que meu número. Eu tinha vergonha do que ele podia reparar em mim, para ser sincero. Mas eu sabia que era um paranoia minha, ele podia estar olhando por qualquer outra razão.

 

“Então, depois daqui, o que você vai fazer?” Ele me perguntou, e eu o olhei. Ele estava ajeitando cabelo, soltando-o de uma vez, para novamente prender aqueles fios emaranhados e ainda assim aparentemente sedosos e bem tratados. Seu cabelo cheirava tão bem e parecia sempre tão vivo e bonito que eu diria que ele cuidava meticulosamente dos fios. “Hoseok, você costuma olhar assim pra todo mundo?” Ele riu meio bobo.

 

Bem, admito que sutileza não era meu forte. E deste modo eu senti-me sendo pego em flagrante, o constrangimento foi tanto que não consegui responder de imediato. Engoli em seco e desviei o olhar de novo, me virando totalmente para frente. E deixando o copo de refrigerante vazio no banco novamente.

“Eu me distraio fácil.” Respondi.

“Eu percebi, nem parece que você ‘tá aqui, sabe? Fica meio desligado.” Disse, rindo. Ele ajeitou melhor seu cabelo já preso, e eu voltei a sentir como se ele estivesse me encarando. “Acho engraçado. Mas me diga, o que vai fazer?”

 

“Eu… Eu… Eu vou te levar em casa e depois eu vou me arrumar pro trabalho, não sei se você vai querer que eu te leve então...” E lá estava eu gaguejando e falando quase desesperado.

 

“Eu peguei folga hoje. Você não pode faltar?”

 

Eu o olhei, me questionando o porquê daquela pergunta. Por mais que o trabalho dele no shopping tenha nos aproximado, não era como se fizéssemos tudo juntos - o que eu queria que acontecesse -, então era, no mínimo, estranho ele me fazer aquela pergunta. E se ele queria fazer algo comigo? E se ele quisesse me convidar pra um encontro? Sei que pode parecer meio impossível mas realmente considerei aquelas opções.

 

“Eu nunca faltei então eu não sei, mas por que?” Tentei não gaguejar e nem soar auspicioso.

 

“É que esse é o último jogo do campeonato estadual, costumam dar festas sempre que ganhamos. E dessa vez a festa vai começar a tarde em uma casa afastada da cidade. Sabe? Piscina, bebidas, mais lugares pra pegar quem quiser… Essas coisas.”

 

“Ah…” Agitei a cabeça assentindo. “E você está me convidando? Eu não sabia que aconteciam essas festas.”

 

“Sim, estou te convidando. E bom, você não sabia porque…” Ele pressionou os lábios numa linha reta e desviou o olhar.

 

Eu sabia que aquele tipo de festa eram para pessoas populares e “descoladas”, que tinham carros bacanas e com certeza não possuíam o mesmo perfil que eu. Taehyung era o único realmente popular no nosso grupo, não era surpreendente somente ele ter conhecimento sobre essas festas.

 

“Você acha que seria uma boa ideia ir mesmo sabendo que não é o tipo de festa que as pessoas gostariam que eu fosse?” Perguntei e olhei para os meus dedinhos gordos, os quais eu brincava em cima das coxas.

 

“Que nada!” Ele me empurrou de leve. “Você vai estar comigo, de qualquer forma. Olha, parece que Jimin já foi pro vestiário. Eu vou correr lá, quem sabe com sorte não terminamos essa conversa lá na festa.”

 

Ele se levantou de supetão e o vi correr, descendo os degraus da arquibancada as pressas. Suspirando eu levei minha mão até o braço que ele havia empurrado sem força. Eu era bobo demais para desejar que seu flerte desse muito errado e que ele não conseguisse nada além de um belo fora. No fundo, no fundo, eu gostava tanto dele a ponto de querer que ele fosse feliz com alguém que ele realmente merecia. Alguém perfeito, em todas as formas. Acredito que se tudo desse certo para ele, ele ficaria imensamente feliz, eu veria seu sorriso quadrangular o tempo todo, ouviria ele dizer que se sentia completo e que estava tendo dias incríveis. É claro que eu queria que ele se sentisse assim comigo, mas era só cair na realidade para saber que era impossível, então por mais que doesse, ardesse, queimasse como inferno, era melhor assistir sua felicidade com outro alguém no meu cantinho.

 

O tempo passava lentamente naquela arquibancada, de pouco a pouco as pessoas saiam do campo, do local, e por fim eu só conseguia ver os dois zeladores limpando a sujeira tanto do campo, quanto da arquibancada, e eu fiquei ali, esperando. Um dos zeladores chegou a me perguntar se eu estava bem e porque não havia ido embora ainda, e eu timidamente expliquei de forma rasa para ele. Ele levou consigo meu copo de refrigerante vazio e bandeja de plastico que eu havia usado com o cachorro-quente.

 

Por um momento eu conjeturei a idéia de que Taehyung havia pego uma carona com alguém e esquecido de me avisar, e então, pensando nisso eu me levantei. Seria uma sacanagem imensa, mas não seria pior do que a vez em que Yoongi foi embora com o meu carro em uma festa e me deixou para voltar a pé, e eu nem mesmo sabia como ele havia pegado as chaves de Suzy de mim. Desci os degraus em passos rápidos, mas sentia um aperto irritante no peito. Ao sair da área do campo eu caminhei para área dos vestiários, mas logo que eu encontrei a porta desejei ter um super poder que permitiria voltar no tempo, assim eu poderia voltar a alguns minutos atrás e não me levantar, eu poderia só ficar onde estava e esperar por um sinal, mesmo que durasse o dia todo.

 

Taehyung e Jimin estavam se beijando na porta do vestiário e não era um mero beijo, era um beijo desejoso e aparentemente eufórico, eu podia ouvir a respiração pesada dos dois e os sons que as línguas se encontrando faziam. As mãos de Jimin estavam enlaçadas nos fios longos do Kim puxando com posse, ao que este segurava a sua cintura e empurrava contra a parede.

 

Antes que eu pudesse pensar “quero chorar” a minha garganta já doía e meu peito se espremia tanto que eu achei que fosse morrer ali mesmo. Eu não tinha intenção de ser visto então em passadas leves eu tratei de correr para fora dali, daquele lugar, daquele espaço.

 

Minha respiração estava descontrolada e eu sentia um cansaço absurdo a cada segundo que eu corria mais, era a minha recompensa ser um fodido sedentário, e também não ajudava muito os soluços que eu soltava e o choro descomedido. Não fazia ao menos um sentido eu sentir tanto com aquele beijo, eu sabia que aconteceria, mais cedo ou mais tarde, e era óbvio que eles iriam trocar saliva e até mesmo mais que isso. Eu me sentia tão patético por estar desolado e com aquele comichão doloroso no peito, como se eu tivesse sido pego de surpresa.

 

Alcançando meu carro eu não fiquei mais nem um segundo parado. Não porque era a minha intenção deixá-lo ali, eu até podia tê-lo esperado e o levado em casa ou sei lá, o problema era ser visto chorando e não saber como explicar a situação. O que eu diria? “Ah, eu estou chorando porque sou apaixonado por você e acabei de te ver beijando outro cara!” Era patético. E ele riria de mim, ele riria do meu estado ridículo e da forma como minhas bochechas estavam pegajosas pelas lágrimas, ele ria por eu estar triste mesmo sabendo que não tenho chances, ele riria por eu ser um maldito idiota. Tudo bem, talvez ele não risse, mas eu não estava preparado para enfrentar uma reação semelhante a essa.

 

[...]


 

“Droga…” Resmunguei irritado, quando errei pela segunda vez o pedido de um cliente. O rapaz baixinho olhou para mim com os olhos estreitos e curiosos, parecia impaciente.

 

Eu havia enviado uma mensagem para o Kim alegando que não podia faltar, mas sinceramente eu preferia ter ficado em casa chorando as minhas pitangas à  estar no trabalho sendo um embuste atrapalhado e empatando a vida de todo mundo. Eu não conseguia me concentrar em nada que me diziam, não conseguia nem mesmo ouvir o que me falavam. Todos os meus pensamentos giravam em torno do que acarretaria aquele beijo, o que rolaria depois. Era imprevisível. Talvez Taehyung finalmente pudesse ficar com ele mais vezes e isso fosse o combustível para um namoro fogoso e desenfreado; ou não passasse de umas bitocas descompromissadas. Mas também poderiam continuar ficando mas sem firmar compromisso. Eu não sei, eram tantas possibilidades e eu não estava pronto para sofrer por nenhuma delas.

 

“Hoseok…” Senti uma mão em meu ombro, e eu respirei fundo, sabendo que era o gerente. “Estou te esperando nos fundos, deixe o caixa com a Yeri, por favor.” Ele sussurrou em meu ouvido, e eu assenti, logo podendo ver a morena baixinha, quase beirando ao nanismo de tão pequena se aproximar.

 

Sem me pronunciar eu me afastei do caixa e segui até os fundos da lanchonete onde o gerente me esperava com um olhar severo e sério demais para as suas expressões sempre dóceis e amenas. Céus, era o que me faltava naquele dia absurdamente desagradável; ser chamado atenção ou ser demitido por só atrapalhar o andamento do restaurante por horas. Sinceramente eu não consideraria injusto, eu realmente havia cumprido a minha cota de besteiras. Eu cheguei a derrubar refrigerante em uma senhorinha e estragar três hambúrgueres antes de levá-los para os clientes. Com certeza eu receberia alguma punição por isso, talvez um corte no salário, ou realmente a minha demissão.

 

Minseok respirou fundo antes de dizer qualquer coisa, e eu, não me responsabilizaria se começasse a chorar a qualquer momento por qualquer coisa ruim ou desagradável que ele dissesse.

 

“O que está acontecendo?” Ele tocou meu ombro, mas não era como se estivesse sendo gentil ou coisa parecida. “Você não é assim, Hoseok. O que aconteceu?”

 

“Eu…” Comecei a falar, mas ele acabou por me interromper, erguendo o dedo indicador com uma expressão impaciente. Eu estava ferrado mesmo.

 

“Não… Não quero saber. Antes que você atrapalhe mais eu quero que vá embora, vou descontar esse dia do seu salário.”

 

Eu sei, eu sei, aquilo era bem melhor do que ser demitido, e eu também poderia ir para casa cultivar minha plantação de tristeza sozinho em meu quarto ao som de alguma música estúpida, poderia ir choramingar para a vida e me questionar porque aquilo doía tanto o resto do dia, mas eu estava sensível a ponto de chorar mesmo com aquela simples bronca. Minhas bochechas rechonchudas estavam mornas pela vergonha de chorar em frente ao gerente, e eu tentava timidamente secar minhas lágrimas e até mesmo não soluçar, mas estava meio difícil.

 

“Me desculpe.” Eu alternava era tentar conter as lágrimas e gaguejar sem jeito, não era como se eu quisesse que ele sentisse pena e repensasse sobre a decisão, eu só estava sendo um imbecil impulsivo com aquela sensibilidade besta.

 

Minseok apesar de severo era um cara bem bacana, ele deu alguns tapinhas nas minhas costas e disse que eu realmente não tinha condições de continuar no trabalho naquela tarde, e então ele se retirou, me deixando sozinho nos fundos. Eu chorei mais um pouquinho, cobri meu rosto inchado com as mãos e me permiti por para fora toda aquela dorzinha irritante.

 

Alcançar aquela situação lastimável só me fez notar o quanto eu estava preso a aquela paixãozinha que se iniciou de forma tão boba e inocente. Me machucava tanto pensar que Taehyung nunca me desejaria como desejava Jimin, que nós nunca daríamos um beijo daqueles tão sedento e necessitado. Nunca seria eu a ser o motivo uma ereção sua por conta de um amasso nos fundos da escola, ou em uma cabine do banheiro. Me machucava ter a certeza de que ele realmente só tinha olhos para Jimin, e mais ninguém ao seu redor.


 

[...]


 

Eu cheguei em casa por volta das seis, anunciei minha chegada aos meus pais e subi para o quarto, me apressei ao máximo para ir ao banheiro tomar um longo e preciso banho. Eu precisava daquele tempo só para mim, precisava respirar sem sentir meu pulmão pesar me trazendo dificuldade ao respirar, mesmo não tendo nada a ver com a asma. Fiquei no banheiro o quanto consegui, e até que minha mãe batesse na porta me questionando sobre a demora e alertando sobre os gastos que eu faria na água e luz somente naquele dia. Eu poderia passar o resto dos meus dias naquele chuveiro se fosse possível. A água quentinha me acalmava, e eu me sentia mais leve psicologicamente falando. Mas é óbvio que passar minha vida ali não estava nos planos da minha mãe, então eu saí antes que ela voltasse a bater na porta e gritar irritadiça.

 

Voltando para o meu quarto, me vesti com uma calça moletom e uma camisa larga e puída com a estampa do Snoopy no centro. Não me importei em secar os filhos molhados do meu cabelo, e simplesmente me deitei.

 

Queria pôr minha cabeça contra o travesseiro e simplesmente apagar, dormir o resto da noite, esquecer de todos os sentimentos ruins que me apunhalaram em cheio e me focalizar somente nas coisas boas, como o fato de que Taehyung provavelmente devia estar muito feliz e sua felicidade era importante para mim, ainda mais importante que a minha. E isso por si só já é uma boa razão para dar um basta nessa bobagem de chorar a toa e pelo beijo na porta do vestiário.

 

Eu só queria poder dominar meus sentimentos, só queria poder ficar feliz por ele sem sentir essa dorzinha irritante titilando no meu peito.

 

Não consegui dormir ou sequer pregar os olhos sem pensar exclusivamente naquele beijo entre Taehyung e Jimin, era como se minha mente só soubesse processar aquela cena e reprisar como um filme com defeito. Bufei e me sentei na cama, não queria ficar me torturando então procurei por meu celular. Talvez ajudasse um pouco conversar com Namjoon por qualquer coisa banal. Ao encontrar meu celular que deixei em cima do criado mudo desde que saí para trabalhar, eu passei o dedo gorduchinho pela tela, desbloqueando. Verifiquei minhas mensagens e confesso que me assustei quando notei que haviam mais de dez mensagens de Kim. Só podia ser uma brincadeira, era coisa demais para um único dia, meu Deus.  


 

Mas, infelizmente não eram mensagens amorosas, e ele não estava nem de longe declarando seu amor secreto por mim. Eram só várias mensagens de um cara super frustrado por eu ter partido sem levá-lo em casa, e também por não ter como ir para a tal festa que o pessoal do time de futebol estava organizando. Não, não foi uma grande surpresa descobrir que ele havia me convidado somente para ter uma carona a sua disposição. Mas malgrado fosse essa descoberta nem tão impactante assim, eu senti um comichão na garganta desconfortável, e me obriguei a respirar fundo e não chorar loucamente de novo.

 

Eu iria desligar meu celular e procurar por meu computador e passar o resto do meu sábado me entupindo de chocolate enquanto jogava qualquer coisa online e descontava minha frustração e tristeza nos meus oponentes, ou na minha própria equipe caso eu optasse por um lolzinho; mas de repente o celular começou a tocar a música de abertura do anime Tokyo Ghoul e a foto que tirei de Taehyung enquanto ele estava distraído quando fomos com nossos amigos ao Karaokê meses atrás brilhava e se sobressaía na escuridão do meu quarto me deixou ainda mais assustado. O que ele queria? Por que ele estava me ligando?

 

Pensei em recusar a ligação, mas é claro que eu nunca faria isso com ele.

 

“Alô…?” Murmurou trêmulo quando atendi. Logo de primeira eu podia ouvir um som irritante, música alta a mescla de conversas aleatórias não muito longe dali. Certo, ele estava na tal festa.

“É o gordinho da caminhonete azul?” A voz do outro lado da linha me questionou alto, quase gritando, eu respondi que sim. “Taehyung está aqui bem chapado e não consegue nem mesmo levantar do sofá. Ele tá sozinho  e a gente não tem lugar no carro pra ele, cara ajudaria muito se você viesse buscá-lo.”

 

“Ele não está com o Jimin? Por que o Jimin não o leva para casa então?”

 

“Jimin? Amigo, eu sou o Jimin e eu sinceramente não vou ficar cuidando de um bêbado em um dia como esse.”

 

Me senti um pouco patético sendo tão ácido e demonstrando tanto a minha mágoa logo para o motivo de dela. Também fiquei um pouco constrangido em pensar que talvez ele falasse com Taehyung sobre esse modo imbecil que eu tratei.

 

“Achei que você era amigo dele ou sei lá, cara, mas se você não pode, tá tranquilo, ele dá o jeito dele quando melhorar.”

 

“Não… Espera!”

 

“O que foi garoto? Vai vir ou não?”

 

“Ele está realmente mal?”

 

“Ele perdeu os sapatos e não sei o que aconteceu com as calças dele, até brigou com um amigo meu.”

 

“Tudo bem, me diz o endereço que eu tô indo.”

 

“Certo...”

 

Jimin me passou o endereço e me desejou boa sorte, eu só queria poder dar dois tapas na cara daquele idiota por não dar um mínimo de assistência a Taehyung naquele estado mesmo após o beijo. O que custava espremer o garoto naquele carro bacana dele? Era medo que ele vomitasse e sujasse tudo? Céus, todos somos tão idiotas por pessoas que não estão nem aí para a gente.



 

[...]


 

O local era fora da cidade realmente, ficava a mais ou menos meia hora da minha casa e eu quase me perdi em meio as instruções do GPS, porque eu realmente não conhecia o endereço mesmo que Jimin tivesse me explicado detalhadamente o caminho e o lugar. Quando eu encontrei a casa pude ver muitos carros em frente, além de diversas pessoas entrando e saindo pelo extenso e luxuoso portão aberto. Eram realmente a minoria popular que se reunia ali, indo das garotas populares simplesmente por serem bonitas e financeiramente invejadas, às garotas populares por algum esporte, considerando que aquela escola exaltava quem quer que estivesse em algum esporte. Digo, até os caras do clube de esgrima tinham uma certa popularidade, era algo um pouco diferente das outras escolas, acredito. Minha presença não era bem vinda e eu sentia o gostinho dessa indesejada e amarga verdade quando além de receber olhares interrogativos e curiosos eu ouvia muitas piadinhas ofensivas, ou coisas como “aqui não é lugar para você baleia!”. Mas eu tentei me fazer de surdo e segui meu caminho, não era como se fosse do meu interesse estar ali naquela festa idiota também. Eu só queria pegar Taehyung e pronto.  

 

Quando passei pela porta da imensa casa luxuosa dois brutamontes me barraram, eram Kyungho e Yunho, ambos do time de futebol americano e causadores de muita dor de cabeça no fundamental. Quando estávamos no nono ano eles costumavam pegar meus livros e esconder pela escola, nas aulas de educação física eles combinavam com toda a turma para me fazer de alvo e era perturbador aguentar tantas boladas junto às agressões verbais, eles também roubavam meu lanche e gostavam de socar minha cara gorda por pura falta de algo mais produtivo para fazer.

 

Estar diante daqueles dois novamente quase me deu um ataque de asma. Eu estava fedido a medo.

 

“Olha só quem encontramos perdido por aqui.” Yunho, o moreno quase duas vezes mais alto que eu deu um passo à frente, se aproximando mais de mim.

 

Eles não pegavam no meu pé ha muito tempo, mas eu entenderia se quisessem me socar, eu sabia que não seria bem vindo naquele lugar.

 

“Parece que ele se perdeu no caminho para o acampamento para obesos mórbidos.” Kyungho também se aproximou, e logo em seguida empurrou meu ombro, forte o suficiente para que eu sentisse a dor do contato.

Dei um passo para trás e engoli em seco passando a mão no local dolorido.

“Sim, eu me perdi, aliás, estou até mesmo atrasado, só vim dar uma passada aqui para buscar um amigo, então se me derem licença.” Tentei falar firme porque aquele tipo de comentário realmente não me incomodava mais, as pessoas eram assim mesmo, precisavam encontrar algum motivo para humilhar qualquer um e fazer de piada. E, sinceramente, eu já estava acostumado em ser a piada.

Eu iria dar a volta nos dois, mas quando pensei em fazê-lo senti os dedos pesados do Kim Yunho se apertarem no pano do meu casaco me puxando contra si, com força. Eu engoli em seco, me apavorando outra vez.

Era tão injusto aquele dia piorar a cada segundo que passava.

“Onde você pensa que vai? Agora acha que pode falar assim com a gente, gordo nojento?” Ele cuspiu as palavras e eu não sabia como responder, eu só tinha coragem de ser ácido com alguém uma única vez na vida e outra nem mesmo na morte, quem sabe depois dela.

“Tira esse fracassado daqui, a festa perdeu a qualidade só dele ter aparecido!” Ouvi uma voz feminina destilar veneno a uns pouco metros de nós.

“Quebrem logo a cara dele, ele nem merece toda essa atenção.”

“Urg, fracassado!”

“Talvez ele até anime a festa se vocês o obrigarem a tirar a camisa e nos servir umas bebidas, vai ser divertido ver peitinhos masculinos maiores que o da Eunjin-noona!”

“Peitos masculinos, ahaha!”

“Não, não quero ser traumatizada por uma visão dessas.”

“Gordo fracassado!”

 

Okay, às vezes, só às vezes as pessoas conseguiam ser ainda mais cruéis e eu não conseguia me fazer de surdo e naquele dia em especial eu estava realmente sensível, tão sensível que dava o máximo de mim na tentativa de conter as lágrimas que queriam banhar todo meu rosto outra vez. Eu só queria buscar Taehyung e ir para a casa, poxa, porque tinha que ser tão difícil? Por que tinham de ser tão cruéis por míseros dez quilos a mais que o normal?

“O que foi, panaca? Vai chorar?” Yunho me soltou com um empurrou tão forte que eu acabei caindo no chão, o impacto me assustou mais do que realmente machucou, e foi meio que o suficiente para que incendiar a minha vontade de chorar.

 

“O que merda vocês estão fazendo? A carona de Taehyung não é pra ser motivo de chacota, idiotas!” Ouvi de repente, a mesma voz que ouvi no celular. Era Jimin, aparecendo atrás dos jogadores. Ele olhou para mim e ficou me encarando no chão por um breve momento. Eu me senti tão humilhado que desviei o olhar do seu. “Levanta daí, Hoseok, Taehyung desmaiou no quarto de hóspedes e eu acho que você vai ter trabalho em levá-lo embora.”

 

Ele estava me tratando como se fosse algum tipo de obrigação minha ajudar Taehyung, como se eu fosse seu empregado ou coisa do tipo e céus, como aquilo me irritou ao compasso que me frustrou.

Respirando fundo e tentando conter aquela gana besta de chorar eu me levantei e segui Jimin até o andar superior, sabendo que ele me levaria até o tal quarto em que o Kim estava desmaiado. Apesar de todos os pesares e da merda que aquele dia inteiro estava sendo, eu me preocupei com ele, porque pelo que eu sabia ele não era de beber daquele jeito, ele não era de fazer aquele tipo de coisa tão idiota. Pelo menos, não quando saía comigo e os meninos.

Quando ele parou em frente a uma porta eu já estava me estabilizando emocionalmente e tentava manter uma respiração normal e calma, assim como evitava dar atenção para o nó que estava tão embolado na minha garganta.

“Por que ele bebeu tanto assim?” Perguntei a Jimin timidamente antes dele abrir a porta.

“Eu não tenho ideia, nós nos beijamos algumas vezes, eu me cansei dele e fui atrás do meu amigo, depois eu o encontrei de novo e ele tinha bebido uma garrafa inteira de vodka.”

“Seu amigo... Taemin?” Murmurou baixinho, quase sem voz.

“Sim, o Taemin.” Ele deu de ombros. “Enfim, ele me disse antes de encher a cara que te pagava pra fazer tudo que ele quisesse, então achei que era o único que podia levá-lo em casa. Aliás, é por isso que estão sempre juntos, né? É uma boa forma de ganhar dinheiro."

Eu senti como se meu coração fosse quebrado em vários pedacinhos pequeninos. Eu estava ali, naquela maldita festa sendo humilhado por todo ser humano que me olhava de viés, só para ajudá-lo e ele saía por aí inventando desculpas que justificassem o motivo para estarmos sempre juntos? Eu estava tão atordoado e machucado com aquilo que apesar de Jimin ter aberto a porta e dito que o trabalho era todo meu, ao compasso que me dava as costas e saía dali, eu só fiquei ali, parado. Eu não queria digerir aquilo, eu não queria processar aquelas palavras. Tudo bem que ele costumava pedir muitas coisas e que eu fazia por gostar de satisfazê-lo e vê-lo feliz, e entendia que era por puro interesse dele em receber favores, mas porque dizer que me pagava? Porque justificar a nossa aproximação como algo que fosse sem sua real vontade? Era vergonha? Vergonha de ter um amigo gordo? Vergonha de ser visto comigo por vontade própria e por gostar de estar comigo? Porque, às vezes na escola ele não me pedia favor algum, mas aparecia ao meu lado para falar qualquer bobagem ou perguntar qualquer coisa boba. Ele podia dizer que era por interesse e eu acreditava que sim, havia um puto interesse nas coisas que eu fazia por ele, mas eu também acreditava que estávamos ficando mais próximos, eu acreditava que finalmente poderia chamá-lo de amigo. Mas, ao que parece eu estava sendo enganado pela minha insistência em ver um lado bom onde não tinha.

A minha vontade era de deixá-lo lá, mas o que eu faria? Iria correr para casa e chorar até cansar? Iria passar a noite remoendo todos aqueles episódios infelizes que me desestruturaram tão de repente? Uma coisa que eu detestava era me prender a momentos que me magoavam, e tudo bem, na segunda eu poderia dar um gelo nele e tentar esquecer a paixão que se enraizara erroneamente em meu peito, mas naquele momento, o que eu precisava era ajudá-lo e tirá-lo dali.

Entrei no espaçoso quarto e caminhei até a cama, as lágrimas banhavam o meu rosto de modo sutil de novo porque eu não conseguia contê-las apesar de tentar muito. Taehyung estava deitado de bruços e seu rosto estava para a minha direção, os fios bagunçados cobriam um pouco sua face e sua boca estava entreaberta. Sua expressão era leve e ele mais parecia ter dormido do que desmaiado. Reparei que ele usava calças e deduzi que tivessem encontrado e o feito vestir, mas ele estava sem os sapatos e tudo que cobriam seus pés grandes eram as meias brancas sujas de terra. Vi um copo com água em uma mesinha ao lado da cama e o peguei. Passei a mão livre pelo meu próprios rosto limpando-o e em seguida, não me policiei, joguei mesmo a água do copo na carinha bela e impecável de Taehyung. Ele acordou imediatamente, se assustando, mas ainda estava bem mole e tonto então ele demorou um bom tempo para se situar, se sentar, olhar para mim e notar minha presença.

“Você consegue levantar? Vou te levar pra casa.” Recoloquei o copo em cima da mesinha.

“Hoseok…” Ele de repente sorriu todo avoado e se levantou da cama quase caindo ao fazê-lo.

Eu queria ficar com ódio dele, mas eu estava tão magoado com os caquinhos que sobraram do meu coração que não conseguia, eu não sabia como odiar as pessoas, e Taehyung não seria a primeira que eu tentaria focalizar esse tipo de sentimento.

“Eu tô muito tonto…” Ele se sentou de novo, não se mantendo nem mais um segundo de pé, eu só conseguia olhá-lo em silêncio, minha garganta ardia demais para que eu falasse qualquer coisa. “Mas eu tô feliz por você ter vindo.” Ele riu apontando para mim. “Não vamos embora agora não, ainda é cedinho, vamos beber e curtir com a galera ou você pode sentar aqui na cama comigo um pouco, sei lá.” Bateu com a mão livre ao seu lado da cama, e como eu estava sem voz para recusar e muito menos dizer que queria sair dali porque um dos motivos era porque aquela maldita galera queria mesmo era curtir com a minha cara e não comigo; eu me sentei ao seu lado, numa distância considerável. Me assustei piamente quando ele se aproximou e passou o braço sobre meus ombros, puxando-me para perto.

“Eu não sei se eu te disse mas eu consegui ficar com o Jimin, mas aí fiquei me sentindo um merda quando o vi beijando aquele amigo dele do jogo.” Ele encerrou a frase com um soluço, eu só conseguia me perguntar porque continuava ali sentindo meu corpo tremular com aquele braço, eu deveria estar irritado, eu deveria deixar de sentir aquelas sensações. “Ah, Hoseok, eu sou o cara mais sem sorte desse mundo.”

 

“Por favor, vamos embora…” Consegui murmurar, assim como também consegui ter força para retirar seu braço e me afastar dele.

 

“Você é a única pessoa que se importa comigo, sabia?” Ele riu me ignorando totalmente. “É tão legal como você faz tudo isso por mim.”

 

Legal? Como ele conseguia mentir daquele jeito? Como ele conseguia mesmo bêbado agir como se gostasse e não achasse conveniente e producente para seu próprio benefício? Arg, tão idiota.

 

“Taehyung, eu quero ir para casa.” Me levantei, recolhendo toda a coragem que tinha para falar firme sem falhar com o medo do choro repentino. Me posicionei a sua frente e o olhei bem sério, aquele era um bom momento para dizer a ele que não precisava mais mentir, já que ele estava bêbado mesmo, mas não consegui.

 

“As suas mãos são tão bonitinhas…” Ele me ignorou novamente sendo aleatório, mas eu não esperava que ele pegasse a minha mão direita e puxasse com cuidado para ter melhor visão dela.

 

Nossas mãos nunca haviam se tocado antes, era uma sensação nova e totalmente irreal, parecia um dos meus sonhos e fantasias, ainda mais quando ele começou a brincar com os meus dedos. Era tão estranho como ele estava agindo, eu já havia o presenciado bêbado antes e nem de longe ele era do tipo que gostava de tocar as pessoas ou até mesmo me tocar. Taehyung estava agindo estranho e eu só queria chorar por não entender qual era a dele, porquê ele estava agindo daquele jeito comigo mesmo tendo vergonha de mim.

 

“Parecem dedos de bebê…” Ele riu baixinho. “Você na verdade parece um bebê, Hoseok-bebê.” Parecia muito divertido o seu próprio comentário porque ele estava rindo meio bobô.

 

Ele com certeza não estava só bêbado, talvez estivesse drogado ou sei lá. Mas, como alguém tão suscetível e doçuras como eu poderia não esquecer tudo só para apreciar o seu doce comentário sobre mim? Eu estava sendo um maldito idiota considerando o quanto ele havia me magoado num único dia, e em menos de vinte e quatro horas.

 

“Você usou alguma droga?” Questionei quando ele puxou a minha mão levando a palma até o seu rosto molhado.

 

Eu estava tão confuso que não sabia se aproveitava aquele contato tão estranho e repentino ou se me afastava de uma vez e o forçava a ir embora.

 

“Eu não.” Ele gargalhou. “Você usou?”

 

“Ah, Taehyung…” Suspirei. “Vamos embora, sim? Me deixa te levar em casa, você não está nada bem.”

“Eu tô muito bem.”

“Não, não está.” Resmunguei e ele retirou minha mão de seu rosto, mas continuou estranhamente segurando-a.

Ele me encarou em silêncio por um longo e extenso tempo, e eu voltei a sentir meu rosto morno em constrangimento por saber que ele poderia estar notando minhas imperfeições, mesmo que ele estivesse chapado o suficiente para estar olhando para mim e pensando em algo melhor como, comida ou Park Jimin.

“Você é muito fofo, quer dizer, olha essas bochechas.” Ele se levantou e eu engoli em seco quando ele ficou tão próximo outra vez.

A coisa que eu nunca achei que aconteceria em toda a minha vida simplesmente aconteceu, ele apertou minhas bochechas de um jeito gentil e dócil demais, e ninguém nunca havia feito aquilo antes, céus, era assustador.

“Tão bonitinho, às vezes eu tenho vontade de beijar você.”

Okay, okay, acho que a última coisa que ele foi basicamente a minha mente distorcendo as coisas. Não podia ser real. Não era real, não fazia ao menos um sentido ele dizer aquilo tão de repente, em um momento como aquele, depois de toda merda que me aconteceu. Sinceramente, era a última coisa que ele poderia me dizer logo quando eu estava decidido a desistir de uma vez daquela paixão platônica. Mas ali estava ele, num momento tão inoportuno para mim, dizendo o que eu sempre quis ouvir, mas em péssimas circunstâncias. A minha vontade de chorar voltou em cheio e eu queria pedir para que ele parasse de falar, para que ele não fizesse mais aquilo, contudo eu me vi tão preso aos seus atos que não consegui dizer nada.

“A sua boca, ela tem um formato bonito, Hoseok-bebê!” Ele tocou meus lábios com seu dedo indicador. “Você é todo bonitinho.”

Era um sonho. Isso. Essa é a resposta para tudo. Era um sonho. Eu estava sonhando acordado. Era tudo uma alucinação.

Num súbito Taehyung se aproximou de mim, tanto que eu podia sentir seu nariz encostar no meu levemente, a minha respiração estava se descontrolando gradativamente e a minha vontade de beijá-lo me consumia, mas eu tinha medo de me mover, medo dele não ter intenção de me beijar e também, ele estava fora de si e eu não queria beijá-lo sabendo que ele não estava consciente do que dizia ou fazia. Então eu fiquei parado, rezando mentalmente para não ter um ataque de asma com o nervosismo que me consumiu quando ele esfregou a pontinha do seu nariz no meu - como um beijinho de esquimó.

 

“Nossa, que nojo!” Eu ouvi uma voz feminina atrás de mim e no susto me virei, deparando-me com uma garota baixinha na porta do quarto. Eu não a conhecia, mas pelo empurrão que levei de Taehyung, ele sim. “Tudo bem que você é gay Taehyung, mas logo esse gordo nojento?”

 

Taehyung gargalhou e cambaleando um pouco, ele foi até a garota.

 

“O que você tá falando, Bae? Acha que eu teria essa coragem?”

 

Sério, era demais para um dia, era muita humilhação e confusão emocional para conciliar em tão poucas horas. O fato era, Taehyung era um cretino, sóbrio ou não, bêbado ou não, drogado ou não. Ele simplesmente tinha vergonha de mim e provou a sua falta de caráter duas vezes. Eu poderia me desmanchar ali mesmo e chorar o quanto quisesse na frente daqueles dois que riam de mim como se eu fosse uma aberração ou coisa parecida, mas eu preferi recolher o pouco orgulho que me sobrou e sai do quarto.

 

“Procure outro babaca para te levar em casa então, Taehyung!” Gritei do corredor.

 

Eu não estava mais aguentando tanta dor.


Notas Finais


Ainda ficou esses espaços enormes entre um parágrafo e outro mas, arrumo dps, enfim, não deixem de comentear o que acharam


PANFLETANDO MEU AMORZINHO DE FIC DIRTY TALK VHOPE https://spiritfanfics.com/historia/bounce-9986427 Vem gente vem


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