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História Crying Lightning - Se for pra gente se entender, vai ver que a vida passa


Escrita por: Lanaconda

Notas do Autor


Ola amores.

Sim, queridas, chegou o momento que vocês tanto queriam. Aproveitem babys ❤

P.s.: A foro do capítulo é de um casal maravilhoso que vi esses dias e que super podia ser Fernanda e Aline durante o tempo de Daydreaming. Segurem esse OTP, mores. Elas são Larissa Dare e Thayná Britto e é maravilhoso acompanhar o amar dessas duas.

Capítulo 37 - Se for pra gente se entender, vai ver que a vida passa


Fanfic / Fanfiction Crying Lightning - Se for pra gente se entender, vai ver que a vida passa

Fernanda

A caneta atingiu a mesa quando a soltei, cansada de continuar tentando compor algo. Coloquei os óculos de grau ao lado e decidi me levantar, saindo da sala que acabei descobrindo ser a minha. O relógio da recepção informava que já era madrugada e que eu muito provavelmente deveria ir embora para casa. Mas eu não queria. Ao invés disso comecei a andar pela extensão da gravadora, explorando aquela que agora era a nova filial da LKM Music Group.

 

Eu estava começando a achar que tinha atingido a idade onde tudo se resumia a lembranças. De quando decidi abrir uma filial da LKM aqui no Brasil e deixei de lado minha parte cantora para me dedicar a produção e agenciamento de novos artistas. Agora me perguntei se foi a melhor decisão. Era incrível como o peso das minhas escolhas anteriores estavam voltando e me incomodando profundamente.

 

Parei em frente a primeira ilha de produção que encontrei e em menos de um segundo estava entrando pela porta. O computador se iniciou, o gravador foi ativado e o estúdio foi liberado. Uma parte de mim sentia falta do palco, da sensação de fazer aquilo que meu coração mais gostava, de me entregar a canção e agradar milhares de pessoas com o som feito pelo LP. Sentia falta do calor do público, dos gritos e da voz uníssona que acompanhava todas as músicas.

 

Mas a maior saudade era de me sentir realmente completa quando segurava o violão e de como fazia dele uma extensão de mim. Eu conhecia cada pequeno pedaço desse instrumento, tanto que ajustava sem prestar muita atenção o violão que estava ali, dedilhando ao tentar encontrar a afinação correta e voltar a me acostumar com ele em minhas mãos.

 

Meus olhos já estavam fechados, sentindo a energia fluir entre meus dedos e as 12 cordas, numa conversa própria que logo deu início a melodia misturada de mpb e samba, características que tanto me agradavam em Maria Rita. A música que comecei a tocar sem nem perceber foi Abismo e então me entreguei a letra.

 

A sua voz é o silêncio

O seu olhar, um abismo

O medo de me encarar

 

De onde vem esse jeito

Se eu não fiz nada contigo

Não sei por que me julgar

 

Uma parte de mim estava concentrada na canção agora, mas a outra começou a pensar em vários outros arranjos possíveis para a música, trazendo uma nova roupagem para uma das letras que mais emocionava no mundo. E que conseguia traduzir meus sentimentos de agora de forma tão fácil e real.

 

Na dor, não cabe a gente culpar ninguém

Sem ter motivos, do nada

Fazendo disso piada

Se for pra gente se entender, vai ver

Que a vida passa e acaba

E ficam marcas pisadas

Do mal que ainda me faz

Sem perceber

 

Levada pela criatividade e pela emoção de fazer uma homenagem, preparei novos canais de gravação e nas próximas horas me dediquei a encontrar novas conexões e possibilidades para incrementar a canção. Uma vida na música me possibilitou conhecer muitos sons e aprender a lidar com eles e seus instrumentos, encaixando combinações diferentes em músicas e gerando resultados que agradavam.

 

Eu não sei exatamente o momento em que as coisas começaram a ficar claras em minha mente. Uma torrente de ideias foi me atingindo e na minha cabeça eu já conseguia idealizar essa obra que me daria muito orgulho assim que estivesse feita. Em poucas horas estava tudo pronto, eu havia feito novos arranjos e mudado a melodia quase inteira da letra, mas ainda faltava algo. Não me senti completamente satisfeita como achei que estaria. 

 

_ O que falta... O que falta... - Eu repetia baixinho, olhando para a tela do programa a minha frente, mostrando as faixas de áudio intercaladas com o resultado final. Eu não conseguia pensar em uma resposta e por isso fechei a aba do editor, tentando dispersar minha mente. 

 

Escutei novamente a faixa e acompanhei, cantarolando até que chegou uma parte em que cantei um trecho diferente do que havia sido gravado. 

 

Tão rápido quanto a ideia anterior, entendi o que deveria fazer. Tinha que ir ao estúdio mais uma vez! Por isso abri um novo canal e fui gravar o trecho que surgiu a minha mente, sorrindo ao cantar do meu jeito a parte mais famosa de Coração em Desalinho.

 

Tamanha desilusão

Me deste, oh! flor.

Me enganei redondamente

Pensando em te fazer o bem

Eu me apaixonei

Foi meu mal

 

Agora!

Uma enorme paixão me devora.

A alegria partiu, foi embora.

Não sei viver sem teu amor.

Sozinho curto a minha dor.

 

Promovendo um mashup incrível de duas músicas maravilhosas continuei a editar minha arte e finalmente sorrindo ao ver que eu estava conseguindo. 

 

Eraisso! 

 

Eu amava essa sensação, de criar e transmitir sentimento. Ali estava, uma parte de Fernanda Betcher que tristeza alguma poderia prejudicar. É quem eu sou, música e sentimento, ligados por um fio invisível capaz de me fazer esquecer de tudo e me trazer sorriso ao rosto mesmo em tempos difíceis.

 

Não notei que já era quase de manhã, muito menos que daqui a pouco alguém chegaria para abrir a gravadora. Apenas continuei ali, lapidando e dando os últimos ajustes àquela bela arte.

 

Bom, pelo menos até eu decidir que precisava dormir um pouco para continuar, mas não queria sair dali. Me contentei com o sofá que ficava ali, para acomodar confortavelmente a equipe e os cantores, mas que agora serviu perfeitamente para aconchegar uma cansada senhora com alma de adolescente. Depois de muito tempo, soube que eu dormiria com um sorriso no rosto. 

 

[...]

 

Ouvi quando a porta do estúdio se fechou com um baque surdo e foi o que me fez acordar assustada. A luz continuava desligada e eu não conseguia ver nada além dos quadradinhos de led vermelho que mostravam que o equipamento estava sendo religado. Alguém tinha chegado. Por um segundo me lembrei do projeto que me fez dormir ali e tive medo de ter perdido, mas respirei aliviada ao lembrar que a rede era online e estava tudo guardado..

 

_ Olá?! - Me sentei e olhei ao redor na escuridão tentando encontrar algo, mas não foi possível.

 

_ Quem está aí?

 

A voz soou distante e veio seguida de alguns barulhos que depois acreditei ser do disjuntor elétrico sendo ligado, já que a sala se iluminou de repente. Meus olhos se incomodaram com a mudança súbita de claridade e por alguns segundos não consegui distinguir muita coisa.

 

_ Sou eu, Fernanda. - A voz que saia de mim transparecia um pouco da minha dificuldade. - Quem está ai? Como conseguiu fazer isso funcionar?

 

_ Não é nada de outro mundo. É só apertar um botão e virar um padrão. 

 

Pelo vidro transparente consegui ver quando uma mulher saiu pela porta lateral do estúdio e entrando assim na minha linha de visão. Ela apertou os olhos ao me ver ali, parecendo um pouco desconfiada, mas ainda assim continuou se aproximando. Parou perto da porta que dividia o estúdio entre o local de gravação e a ilha de equipamentos, se encostando no vão da porta.

 

_ Só espero que você não tenha medo do escuro. - Ela sorriu, desviando o olhar apenas para apertar uma série de botões na mesa de mixagem. - Devo dizer que não esperava encontrar a chefe dormindo aqui, ainda mais num sofá.

 

_ Eu não planejei ficar até tarde. Quantas horas são?

 

Ao me olhar, ela novamente apertou os olhos e cruzou os braços na altura do peito. Me encolhi ao sentir o peso dos seus olhos em mim, me avaliando pouco a pouco. 

 

_ Cedo. Você poderia ter avisado que viria, Fernanda. A gente teria preparado melhor a estrutura aqui. Isso não é nenhuma daquelas táticas para testar os funcionários, é?

 

_ Não. - Sorri de verdade com aquilo ao me sentar. - Eu apenas vim trabalhar em algo ontem a noite.

 

_ Bom, ainda assim, peço desculpas por isso. Meu nome é Tatiane, mas todos me chamam de Taju. Fique a vontade para me chamar assim também. 

 

_ Bom, você já sabe o meu. - Estendi a mão, sem graça, para cumprimentar a mulher. Sua mão era suave e o toque gentil, quente, acolhedor. Por um momento quis estender aquele toque por mais do que os poucos segundos que durou, mas eu sabia que não deveria. 

 

_ Ah sim, claro. A famosa Fernanda Betcher.

 

_ Gentileza sua. Então, Taju... Você trabalha aqui? Nunca te vi nas vezes em que apareci. Que não foram muitas, para falar a verdade.

 

_ Na verdade sou técnica de som e aqui é onde passo dez horas do meu dia produzindo e editando sons. - Visivelmente mais relaxada, a mulher puxa uma cadeira e se senta entre mim e a mesa, ligando um dos computadores a sua frente. A observei dominando aquele espaço de forma habilidosa, movendo os controladores corretos para zerar o som e deixar a ilha pronta para mais uma. Agora, aqui de perto, pude observar melhor a mulher, desde os cabelos pintados de loiro até às pinceladas de dourado que apareciam em seus olhos castanhos. Por alguma razão seus olhos me lembravam os de Aline, que por anos me fascinaram.

 

De alguma forma, eu não percebi que já estava encarando ela de uma forma estranha e so me dei conta quando notei ela me olhando por cima do ombro com uma de suas sobrancelhas levantadas.

 

_ Espero que que esteja gostando do que está vendo.

 

_ Você é boa. Nisso de controlar essa ilha inteira.

 

_ Bom, é meu trabalho. - Ela moveu mais um controlador antes de se deixar recostar na cadeira. - Voce é um assunto recorrente aqui, sabia. Todo mundo fala sobre você.

 

_ Mesmo?

 

_ Sim. Em sua maioria é sobre como você entende disso aqui, de música em si. Que quando você se dedica a certos artistas e que essas ilhas de edição por aqui já viram várias vezes seu talento... Que você operou alguns milagres aqui, transformando relês cantores em artistas. Também dizem que você é uma ótima chefe.

 

_ Fico feliz de ouvir isso. 

 

_ Bom, também dizem que você é uma pessoa incrível. De bom coração, gentil, alegre e que... - Ela desviou o olhar rapidamente, observando o monitor em branco, antes de voltar a me encarar, dessa vez com um leve sorriso se abrindo em seu rosto. - Você não merece estar passando por essas situações, em relação a sua família.

 

Um pesado suspiro saiu por mim, levando um pouco da tensão que de repente havia caído em meus ombros. Eu não esperava escutar isso aqui, muito menos de alguns que acabei de conhecer, e por isso fiquei sem graça. 

 

_ Realmente falam isso?

 

_ Desculpe, não foi minha intenção te deixar constrangida ou triste. Foi um vacilo meu. 

 

_ Tudo bem. - Abri um pequeno sorriso, mesmo que no momento não estivesse muito no clima. - Acho que já estou me acostumando.

 

_ Eu só... Eu só queria te dizer que todo mundo aqui gosta de muito de você, até quem entrou a pouco tempo, como eu. E, claro, eu acho muito bom o que você está fazendo.

 

_ Durmir aqui na empresa e acordar parecendo uma louca e te assustando?

 

_ Bom, na verdade sim. - Apesar do teor da conversa, ela mantinha o sorriso leve em seu rosto. - Você está aqui enquanto poderia estar jogada em algum lugar lamentando tudo. Mas você não desistiu. 

 

_ Às vezes, desistir é mais difícil do que simples seguir em frente.

 

_ Isso claramente poderia aparecer em alguma música sua. 

 

Dei risada, um pouco surpresa com isso. Eu não conseguia me lembrar da última vez em que compus algo meu, não apenas uma montagem como a de ontem. 

 

_ Então você conhece as minhas letras?

 

_ Quem não? Quando eu era adolescente eu ouvia o Living Paradise e até mesmo cheguei a cortar meu cabelo como o da Chloe. 

 

Por algum motivo, em minha cabeça, uma imagem de uma Taju mais nova e de cabelos coloridos me fez sorrir. As tatuagens ela já tinha, uma câmera analógica posta em um antebraço e enquanto perto do ombro havia a a tatuagem de uma árvore com folhas caindo. Ohana vinha escrito logo abaixo.

 

_ Não sei se isso me faz sentir bem ou velha. 

 

_ Não há por que se sentir velha, já que você está muito bem.

 

_ Obrigada. - Sorri para a mulher que ainda me observava, sem restrições. Seus olhos não se moviam muito e, apesar do elogio, não a vi observando muito algo além do meu rosto. Eu poderia estar enganada, mas até a ideia dela flertando comigo me fez sorrir. - Bom, eu acho que já te incomodei demais. Foi um prazer te conhecer, Taju. Nos vemos por aí.

 

[...]

 

_ Droga. - Gritei exasperada.

 

O pano de prato, que às vezes parecia desaparecer na bancada da cozinha, mesmo sendo de cor diferente, serviu para limpar a massa que agora tinha sujado toda a frente da blusa que eu usava. Foi impossível não me lembrar de uma das mil vezes em que Aline se dedicou a me ensinar a cozinhar e que me dizia a importância de sempre fechar corretamente a tampa do liquidificador. 

 

_ Se você me visse agora, Line... - Suspirei pesadamente, aceitando que por hora a única forma de poder me sentir ao lado da minha esposa era através de lembranças e pensamento. Em pouco tempo joguei a camisa de lado e continuei cozinhando, não ligando de estar apenas de sutiã. Talvez não fosse mais uma cena tão linda ou provocante, como fora antes, mas agora era apenas a preguiça falando mais alto que a precaução. Tomando todo o cuidado, virei parte da massa na frigideira enquanto cantarolava junto a Renato Russo.

 

A noite acabou, talvez tenhamos que fugir 

sem você

Mas não, não vá agora, quero honras e promessas

Lembranças e histórias

Somos pássaro novo longe do ninho

 

Eu sei

Eu sei

 

_ Eu definitivamente não nasci para isso. - Cheguei a conclusão, ao virar a panqueca que tinha queimado um pouco. - Pelo menos Allie não esta aqui para ver essa tragédia. 

 

A animação de continuar cozinhando foi diminuindo de vez e só continuei por estar sentindo muita fome. Estava me sentindo novamente uma adolescente que tinha que se virar com o que encontrava na geladeira. Eu definitivamente sentia falta de casa e das comidas de Hilda - no bom sentido, é claro. O que eu não daria por mais uma oportunidade de comer o frango ensopado que ela faz. Se iguala apenas ao da minha mãe, mas eu não iria ligar para minha mãe só para que ela cozinhe para mim. Eu conhecia bem Danielle Betcher e, provavelmente, iria receber uma bronca.

 

Essa panqueca teria que servir aos meus propósitos culinários dessa tarde. Essa era a minha tentativa de conseguir comer esse pedaço de comida que me esperava num prato a minha frente. Com as expectativas já.baixas, consegui me frustar ainda mais e acabei desistindo antes da segunda garfada.

 

_ Chega. Vou ir comer fora.

 

Rapidamente me livrei daquilo que por uns momentos chamei de comida e fui para meu quarto, procurando por uma roupa. Quase no mesmo momento a campainha tocou e tive que ir até lá, antes mesmo de acabar de amarrar o vestido que acabei escolhendo.

 

_ Só um minuto. - Anunciei ao procurar a chave, que deveria estar entre a mesa de entrada e a bancada da sala. Não estava em nenhum dos dois e fui encontrá-la jogada ao lado dos tênis de Allie, no chão. 

 

A bagunça era herança de família.

 

_ Desculpe a demora... Ah, olá.

 

Surpresa ao ver a garota da gravadora ali na minha porta, me limitei aí aceno de cabeça. Taju sorriu para mim, sem graça.

 

_ Fernanda, espero que eu no esteja atrapalhando... - Ela esperou por uma reação minha antes de continuar. - Bom, eu queria conversar com você um instante, posso?

 

_ Claro, entre.

 

Abri espaço para a mulher que entrou no apartamento rapidamente. Levei um momento a mais para fechar a porta, tentando imaginar qual seria o motivo dessa visita inesperada. Quando me virei encontrei a mulher sentada no braço do sofá com um porta retratos na mão.

 

_ São meus filhos. - Falei, antes mesmo que a pergunta viesse. Ela acabou comigo a cabeça e voltou com o objeto ao seu lugar antes de voltar a me encarar. - Então...

 

_ Ah sim. Ontem, depois que você foi embora, encontrei alguns arquivos soltos no computador. E eram seus.

 

_ Sim, foi apenas uma brincadeira que fiz num tempo livre.

 

_ Se aquilo foi você brincando, mal posso esperar por ver você fazendo isso de verdade. Eu tomei a liberdade de escutar e gostei muito. De verdade.

 

_ Obrigado. - Agradeci, mesmo sentindo o rubor crescer em minhas bochechas.

 

_ Estou falando sério. E eu... Bem, eu vi que não estava completamente finalizado, então eu meio que fiz alguns pequenos ajustes e terminei. - Só então percebi que ela rodava um pequeno objeto em suas mãos. Ela me mostrou o pensamento drive antes de ir até perto da televisão. - Posso por para você escutar o resultado final?

 

Por alguns segundos a fitei, sem disfarçar a surpresa. Aquilo tudo estava me deixando intrigada. Eu havia relembrando algumas vezes a mais do que o necessário o nosso encontro na gravadora, me perguntando se eu teria interpretado as cosias erradas naquele dia. Mas aqui estava ela, no meu apartamento e mostrando as modificações que fez em um projeto meu. Eu acho que havia mais ali do que apenas uma oportunidade para uma promoção, ela queria me impressionar. Estava explícito em seus olhos que insistiam em me fitar de volta.

 

_ Claro. - Em poucos segundos configurei a televisão para transmitir a imagem do blue-ray enquanto a garota conectava o pensamento drive.

 

O começo da música era o mesmo, os acordes originais se seguiram até a metade da música. Mas após isso ela utilizou a base dos instrumentos que eu havia gravado posteriormente e adaptou a letra de Coração desalinhado no meio do áudio, para depois encaixar o resto na mesma base instrumental.

 

Foi uma modificação esperta e que eu não havia considerado. Quando.notei estava sorrindo e olhei para a mulher a minha frente, impressionada com o resultado.

 

_ Eu adorei. De verdade, deu uma nova vida a música.

 

_ Fico feliz. - Taju não tentava esconder sua expressão satisfeita e feliz. Ela ajeitou seu cabelo antes de tirar a blusa de frio e se sentar direito no soda. - Eu achei que talvez você pudesse achar errado da minha parte ter mexido, por isso tenho a sua cópia salva também. 

 

_ Fica tranquila, eu prefiro essa versão nova.

 

_ Sou só eu ou... - Ela respirou mais fundo, seu rosto meio contorcido enquanto parecia procurar algo pelo cheiro. - Algo queimou aqui?

 

Sem graça, eu apontei para a cozinha.

 

_ Eu fui tentar cozinhar, mas não saiu bem do jeito que eu quis. Na verdade eu estava indo comer em um lugar. 

 

_ Eu conheço um lugar aqui perto que faz um macarrão na chapa maravilhoso. E eles entregam, então se você quiser eu te passo o número. Claro... - Ela voltou a falar, depois de ver a minha reação um tanto quanto silenciosa. - Se você gostar.

 

_ Não, eu gosto. Gosto bastante. - Eu ainda estava um pouco sem reação. Ela queria ficar? Já fazia tanto tempo desde a última vez em que eu estava aberta ao flerte que já não sabia se podia identificar. 

 

Enquanto eu parecia incomodada, Taju rapidamente localizou o telefone e ligou, pedindo dois macarrões. Enquanto isso me levantei, querendo clarear minha mente para entender melhor a situação, e fui parar na cozinha. Eu tinha vinho na geladeira. Deveria abrir e oferecer? Sim, eu provavelmente poderia fazer isso, seria educado. Mas eu deveria? Eu queria realmente continuar com isso?

 

_ Você esta bem? - Ela perguntou, aparecendo ao meu lado. - Está parada aí já tem um tempo.

 

_ Eu só queria lembrar onde estava isso. - Levantei o abridor de rolhas, para sustentar minha desculpas. - Sempre perco.

 

_ Te entendo. Esses danados sempre somem. Onde está o vinho? Vou pegar. 

 

Apontei para a geladeira e a observei indo até lá e abrindo a geladeira. Era isso. Eu estava realmente fazendo isso e de alguma forma aquilo não me parecia de todo errado.

 

[...]

 

_ Como é isso? Casamento? Estar com a mesma pessoa por quase vinte anos?

 

As pernas de Taju estavam sobre as minhas, já que ela tinha se sentido confortável o bastante no sofá. Ela segurava a taça perto de sua boca e acabava dando pequenos goles a cada instante. Eu obssevava cada um desses movimentos, pensando em.como parecia algo simples, mas como um efeito tremendo. Eu já tinha percebido que ela sabia do efeito que tinha nas pessoas. Ela não era um modelo de beleza, mas sabia muito bem jogar com o que tem é ela me atraia. De verdade. 

 

Eu havia decidido a deixar isso rolar até o momento decisivo. Se na hora eu continuasse tranquila, provavelmente eu me deixaria aproveitar ainda mais a companhia de Taju. Se não, eu também não me julgaria. 

 

_ É difícil, claro. - Respondi a sua pergunta anterior. - Só que os dias bons sempre compensaram os ruins. Bom, pelo menos era assim. Claro que às vezes há o desejo em outras pessoas. Me lembro que um dia Aline chegou para mim e me contou de uma mulher nova que havia entrado para a sua corporação. Ela disse que a mulher era muito bonita e que chamava muito sua atenção... - Sorri ao lembrar dessa situação em específico. - Foi a primeira vez que eu entendi a expressão morrer de ciúmes. Por um momento eu só quis fazê-la esquecer que existia qualquer outra mulher no mundo além de mim. E me perguntei se ela constantemente sentia essa atração por outras pessoas, mas ao mesmo tempo... Eu não sei explicar direito, mas eu sabia que ela não faria nada. Nós tivemos uma das nossas transas mais loucas naquele dia. E na semana seguinte também, e na outra, e na outra. E isso se repetiu várias vezes durante nosso relacionamento. Assim como ela, eu também fui sincera quando alguém me chamava bastante atenção, mas é diferente. Porque eu sabia que Aline era mais do que só desejo. Ela é minha esposa, a mulher que escolhi e podem ter se passado vários anos e eu ainda a desejo mais do que já quis alguém.

 

_ Então vocês nunca... Digo, nunca mais se envolveram com mais ninguém.

 

_ Nunca passou dessas confissões. - O que aconteceu entre Aline e Elias não me incomodava tanto e também não o comentei. Já houve erros maiores em nosso relacionamento.

 

_ Como é ficar longe dela?

 

_ Eu não consigo dizer. É duro, é como se eu não conseguisse começar meu dia direito sem dar um bom dia a ela, muito menos acabar com ele sem receber um beijo de boa noite. Mas eu meio que aprendi a conviver com a ausência dela.

 

_ Você é uma mulher gentil e doce, Fernanda. E muito apaixonada.

 

Meu sorriso se transformou, ficando mais vivo e maior ao escutar tais elogios. Poderia ser efeito da bebida, mas eu estava realmente gostando daquele tempo com ela. Nossos olhares se cruzaram e se manteram unidos, sem desviar. 

 

_ Está tarde. - Ela comentou depois de um tempo.

 

_ Sim, esta um pouco.

 

_ Eu não sei por que estou aqui. Eu só... - Sua expressão se fechou um pouco antes dela acabar com o conteúdo da sua taça de vinho. - Não é adequado. Me desculpe.

 

_ Você não precisa ir agora. Já está aqui. A não ser que tenha algum lugar para onde tenha que ir. 

 

_ Não, eu quero ficar.

 

Por alguma razão não fiz nada quando ela se sentou em minhas pernas, nem quando se inclinou e me beijou. Eu poderia ter dito não, ter impedido qualquer aproximação, mas não o fiz e não pensei no que isso poderia acarretar.

 

Minhas mãos se preocuparam em retirar sua blusa, que se pudesse teria saido sem interromper o intenso beijo. Por anos eu beijei uma única boca e eu havia me acostumando a tudo sobre ela. Conhecia cada centímetro de Aline como a palma da minha mão e me orgulhava por isso. Talvez fosse esse o motivo do beijo ter sido estranho para mim num primeiro momento, mas isso também já não me incomodava. Agora, com ela, o beijo era diferente, novo, caloroso. Cada movimento era novo, cada parte dela era um território em branco para ser explorado e apreciado. A cada segundo meu corpo ansiava por mais daquele furor, desta explosão de sensação que me abalava e me fazia sentir viva de novo.

 

E, Deus, como eu precisava daquilo. Precisava me sentir mulher, me sentir desejada. Eu precisava ser tocada novamente. Não só precisava, como merecia. Mas, por melhor que estivesse, não era a mesma coisa. Eu sabia que não a causa daquilo não era apenas Tatiana, mas também era meu desejo de sentir prazer novamente. Mesmo sem Aline, por mais que eu quisesse que fosse Aline, no momento eu me contentava alegramente com o que está mulher aqui fazia comigo.

 

[...]

 

_ Oi. - Taju comentou antes de se sentar ao meu lado na cama. Ela sorriu e me deu um beijo na bochecha antes de por o celular a minha frente.

 

_ Seu telefone estava tocando.

 

_ Mesmo? - Deixei minha cabeça cair no travesseiro, fechando os olhos. No momento eu não queria nenhum problema, nada que pudesse me fazer não aproveitar a sensação boa em meu peito. - Deixe tocar.

 

_ Eu atendi, espero que não seja um problema. - Acenei com a cabeça, sem me importar com isso, ainda de olhos fechados. - Era a Alisson, ela pediu para você retornar assim que puder. 

 

_ Eu ligo depois. 

 

_ Ela disse que é sobre a Aline. 

 

_ Aline? - Aquilo sim chamou minha atenção. - Mesmo?

 

_ Sim. Posso te perguntar uma coisa?

 

_ Claro.

 

_ Vocês duas tem conversado?

 

_ Apenas sobre as crianças. Ela não me procura e eu tento não ligar para ela a cada segundo. 

 

_ Posso te perguntar mais uma coisa? Você acha que foi um erro? Nós duas?

 

_ Nenhum pouco. Você é linda, me ajudou a entender algumas coisas e... - Parei de falar quando vi ela se levantando rapidamente da cama, ficando de costas para mim. - Qual é o problema?

 

_ Você, Fernanda.

 

_ Por que eu?

 

_ Você não pode me falar coisas assim, sabia? Não se não vai continuar com isso depois.

 

Deixei minha cabeça tombar para a frente, pensando em como lidar com aquilo. Rapidamente, revisei a noite passada tentando perceber alguma coisa que eu tenha dito que pudesse mostrar que eu quisesse algo mais sério.

 

_ Você sabe que eu não posso te prometer nada, não é?

 

_ Não pode ou não quer?

 

_ Os dois. Todo esse processo vem sendo muito difícil e longo para mim. Eu te falei isso, você sabia.

 

_ Sim, eu sabia, mas só agora caiu a minha ficha. Foi assim que começou e é assim que deve terminar.

 

_ Me desculpa por vacilar com você. 

 

_ Tudo bem, eu estou acostumada. Devia saber que você não começaria do zero, assim. - Ela parou e apertou os olhos, como se refletisse sobre algo. - Ouch, isso saiu mais dramático do que deveria.

 

_ Está tudo entre a gente? 

 

_ Por mim, sim. Se bem que eu transei com a minha chefe, talvez fosse a hora de eu tirar umas férias. Me afastar um pouco.

 

_ Se você quiser, é sua. Na verdade, eu conversei com Pablo hoje. Ele me falou sobre você e como vem o impressionando com seus trabalhos de edição. E o que você me mostrou hoje, com os arranjos, eu tenho certeza que ele está certo. Ele acha que uma vaga pode aparecer na produção. Eu ficaria muito feliz se você aceitasse.

 

Ela balançou a cabeça e sua voz ficou mais amarga, até mesmo um pouco decepcionada.

 

_ Como um presente de consolação?

 

_ Se você acha que é por isso, não aceite. Mas eu nunca faria isso. Nunca.

 

_ Me desculpe. Eu sei que não. É que essa única noite de sexo mexeu comigo. Mais do que imaginei ser possível.

 

_ Eu me diverti, você não?

 

_ Olha o que aconteceu agora... - Ela abriu aquele que provavelmente não era o maior de seus sorrisos, mas ela também não parecia tão chateada enquanto me olhava. - Você acha mesmo que eu não me diverti? Só acho que talvez eu não esteja pronta para só isso. Para esse sexo casual, sem compromisso. 

 

_ Se você não se sente confortável com isso, não deve fazer. Você merece alguém que possa te fazer feliz.

 

_ Viu só? Não dá para simplesmente deixar isso casual com você falando essas coisas. - ela me repreendeu, mesmo que brincando. Deu um beijo em minha bochecho antes de se levantar. - Eu acho que já estou indo, então. Fique bem. A gente se vê por aí.

 

_ Se cuida. 

 

Taju parou ao lado da porta e sorriu ao piscar o olho antes de sair por lá.

 

Quase o mesmo tempo o telefone tocou. O nome de Alisson apareceu e suspirei antes de atender.

 

_ Oi, Allie. Tudo certo?

 

_ Sim, Mômma. E contigo? 

 

_ Sim, acabei de acordar. - Fez-se um silêncio na linha e eu imaginava o porquê. - Olha Allie, sobre a moça que atendeu ao telefone antes...

 

_ Ela já foi embora?

 

_ Sim. 

 

_ Ela é alguém importante?

 

_ Não. Não foi nada.

 

_ Que bom, porque eu tenho notícias. Aline quer se encontrar contigo. 

 

Apesar de estranhar o fato de Aline ter preferido falar Allie antes, eu prefiri não questionar muito. Ela queria me encontrar. 

 

_ Quando?

 

_ Depois de amanhã, a tarde. Você pode?

 

Faltava muito tempo ainda, mas a ansiedade já havia começado. Mesmo que dependesse da minha vida, eu não perderia por nada. 

 

_ Eu estarei lá. 

 

[...]

 

Respirando fundo, bati na porta da minha casa. Parecia estranho esse tipo de formalidade, mas eu não sabia como Aline reagiria com a minha presença aqui agora. Talvez fosse tranquila, talvez não... A verdade é que eu tinha medo de descobrir. 

 

Não se passou muito tempo e a porta foi aberta. Uma Aline de expressão serena e tranquila me esperava do outro lado. Meu coração se apertou um pouco e me perguntei se era por causa da saudade ou pela emoção que eu constantemente sentia ao estar perto dela. Era algo forte, maior e tão surpreendente que eu não entendia, por mais que tentasse. Os anos se passavam, mas o modo como eu ficava deslumbrada com essa mulher, não. 

 

Ela era apaixonante.

 

_ Olá.

 

_ Entre, por favor.

 

Deu dois passos para trás e entrei para a sala que eu reconheceria em qualquer lugar. Tudo era familiar e eu sabia o lugar de cada coisa naquela casa. Onde ficava nosso porta retrato favorito. Sabia o lugar exato onde Allie bateu a cabeça quando tinha seis anos. Sabia qual era a poltrona favorita de Giulia e Breno, dada às brigas recorrentes quando eles eram menores, lutando para se sentar lá. Além de tudo, poderia apontar de olhos fechados todos os lugares aonde, durante anos, Aline e eu aproveitamos nossos momentos de intimidade. Se as paredes falassem, assim como os móveis e objetos, poderiam nos deixar encabuladas ao citar qualquer um desses momentos. Eramos felizes, o desejo era mútuo e eram minhas melhores lembranças.

 

_ As crianças não estão?

 

_ Não. Estamos sozinhas. - Com um sorriso de canto, Aline se sentou no braço do sofá. Ah, eu reconhecia aquela expressão, que evidenciava exatamente o que estava pensando. Ela também era assombrada pelas lembranças, por cada detalhe picante e cheio de amor. Isso era bom, né? - Mas precisamos conversar.

 

_ Claro, mas antes eu preciso dizer que você parece melhor.

 

_ Um pouco. - Confidenciou, desviando seus olhos dos meus. - Allie me pediu desculpas, a gente conversou e acho que finalmente posso perdoá-la. De verdade. 

 

_ Eu fico muito feliz por isso.

 

_ É como se tirasse um peso gigante dos ombros. Eu confesso que talvez tenha exagerado e me deixei levar pelas emoções. Não foi um período fácil.

 

Ela suspirou e aproveitei a deixa para me aproximar. Seus olhos encontraram os meus ao mesmo tempo em que agarrei sua mão, entrelaçando nossos dedos juntos.

 

_ Ei, ninguém te julga por isso.

 

_ Mas eu sim. E eu pude pensar bastante, desde que tudo aconteceu.

 

_ E no que você pensou?

 

_ Que por mais que eu tente, não consigo entender como a vida é de verdade. - Ela levantou nossas mãos ainda unidas, fitando-as como se fossem a coisa mais bonita na qual já pôs os olhos. Ela deu um beijo terno sob a minha antes de separá-las e se levantar, ficando de costas para mim. - Eu acho que a gente devia continuar com o divórcio.

 

Respirei fundo ao me aproximar dela, o máximo possível sem que nossas peles se tocassem, suas costas e meu peito a milésimos de distância. Ali, de onde estava, tinha acesso total à sua nuca e ombros e foi onde pus minhas mãos primeiro, afastando algumas mexas do cabelo que cresceu desde a última vez que a vi. 

 

_ Me dê uma razão. - Ela tremeu sobre minhas mãos quando ouviu minha voz bem perto de seu ouvido. Qualquer um não teria percebido, mas eu notava tudo sobre ela e vi o momento em que sua cabeça pesou um pouco para o lado, deixando seu pescoço livre. - Um único motivo para não eu tentar te fazer mudar de ideia.

 

_ Tudo isso não te fez perceber a necessidade da gente se separar?

 

_ Na verdade, não. Cada dia que se passa só aumenta a minha necessidade de você. Inteira e completamente.

 

Agora um dos meus braços a abraçou pela cintura, colando nossos corpos. Meus beijos eram distribuídos entre seu pescoço e orelha, reforçando o quanto eu a queria. 

 

_ Fernanda.

 

_ Aline...

 

_ Eu não posso. - Sua cabeça caiu para frente e seu corpo se retraiu. Foi o suficiente para que eu pudesse rodá-la em meus braços e encará-la de frente. Suas mãos tampava seu rosto, sua voz saia chorosa por entre as brechas dos dedos - Me desculpe, eu não posso.

 

_ Por que não? Amor, me diz. Por que não?

 

_ Você sabe de Elias. Eu não consigo lidar com isso, com a minha consciência pesada enquanto você diz coisas como essas. Eu não te mereço.

 

Os próximos segundos pareceram horas enquanto eu me perguntava se deveria ser sincera e falar sobre o que aconteceu. Tentando ser o mais delicado possível, pus minhas mãos em seu rosto, aninhando-o. Os polegares faziam uma espécie de carinho sobre suas mãos, que logo deixaram de estar ali.

 

_ Se eu disser que estive com alguém também deixa as coisas melhores?

 

_ Claro que não. - Agora ela me encarava, os olhos ávidos em ler minha expressão. - Por que? Você esteve?

 

_ Estive. Anteontem.

 

_ Qual a necessidade de você me dizer isso? Quer se vingar?

 

Aline se mexeu em meus braços, querendo sair, mas não permiti. A verdade é que ela também não queria sair, verdadeiramente. Ela tinha instrução e técnicas para se livrar de situações como aquela, mas ela não usou nada. Apenas ficou lá, irritada. 

 

_ Não somos mais adolescentes, Aline. Nós temos uma vida juntas, construída com nosso esforço e nesse tempo amadurecemos juntas. Eu não quis me vingar de você, nunca faria isso, mas eu precisava de alguém para me relembrar que eu posso tentar seguir a minha vida sem você, só que não vou conseguir. Eu já pedi, torci, implorei para você voltar. Nos últimos tempos eu até comecei a aceitar a ideia desse divórcio, mas eu não aguento. Não aguento viver sem você.

 

_ Se escuta um pouco, Fernanda. Eu sei muito bem do que estou falando, olha como estamos nos machucando?! Nós não podemos voltar o relógio para trás, não agora que estamos começando a nos sentir menos miseráveis.

 

_ Se for preciso que eu engula meu orgulho mil vezes e venha atrás de você, eu vou fazer. Não é voltar no tempo, mas sim melhorar as coisas para a gente daqui para frente.

 

_ Parece que você não mudou não mudou nada nesses anos! 

 

_ Bom, até onde eu saiba foi isso que fez você gostar de mim. Se eu não valesse a pena não teria me chamado aqui, para início de conversa.

 

_ Você acha que foi para isso que eu te chamei? Para voltar?

 

_ Sinceramente? Acho que sim. Nós temos uma história juntas. Não adianta virar o rosto e fingir que não é verdade, você só precisa de alguém para falar isso na sua cara. -  Dei um passo a mais quebrando a distância centímetro por centímetro. Quando dei por mim menos de meio metro nos separava. - Só me diz que não está feliz em me ver! Para de inventar desculpas para impedir isso. Para de falar coisas que eu já ouvi diversas vezes antes, porque eu continuo sem me importar. Eu sempre te amei, Aline e continuarei amando até que meu coração pare de bater.

 

_ Você por acaso pensou nisso direito? No que você está pedindo? No que você realmente está fazendo?

 

Sorri enquanto passei dois dedos lentamente na curva de sua bochecha. Aline estava lutando para manter seu autocontrole, que já parecia frágil. 

 

_ Você não consegue me mandar embora, não é? Não mais.

 

_ Eu não preciso provar isso, Fernanda. - Ela sussurrou com raiva.

 

_ Você não consegue falar isso de verdade agora na minha cara, porque você não quer que eu vá. Você nunca quis, só estava ouvindo essa parte teimosa dentro de você que não quer mais sofrer com tudo o que estava acontecendo. Eu errei com você, mas não vou fazer novamente.

 

_ Eu estou cansada, Nanda. Cansada de continuar quebrando a cara. Eu quero continuar sendo feliz contigo, mas o que eu posso fazer se não acredito que isso seja possível ainda? 

 

_ Então vamos acabar com tudo que impeça que a gente tenha uma vida juntas, amor. Não acredite em mais nada além de mim, por favor!

 

_ Com a gente é sempre assim. - A mão de Aline estava repousada em meu peito, nas lapelas de minha jaqueta. Eu só queria sentir ela comigo novamente e aqui está ela, tão, tão perto. O cheiro familiar de seu perfume era como um fio invisível que me conectava com diversas lembranças ao longo dos anos. - Não importa o quanto nos amamos, sempre há algo maior.

 

Olhos nos olhos, era como nós estávamos agora. Aline insistia em acreditar nisso, mas eu já não estava escutando as coisas que ela falava. Ao invés disso me concentrei em seu rosto, nos olhos que vi ao acordar durante anos, na pele clara que esteve colada na minha por tanto tempo. Eu observava o nariz que já trilhou meu corpo inteiro ao me provocar. Olhei para a boca que me beijava e me deixava sem ar quando recitava palavras de amor ou um poema em italiano. Olhei para aquela que era a mulher que eu vi se tornar alguém incrível, mas também vi a garota Goulart que eu conheci e me apaixonei perdidamente. A garota que me fez enfrentar meu medo, a garota que me fez questionar sobre o que era certo e me fez aprender que amor também significa sentir e enfrentar a dor. Era ela, a metade da minha laranja, minha alma gêmea, a tampa da minha panela. Era a mulher que me completava e que sabia lidar comigo de uma forma maestral. Era a mãe dos meus filhos e a mulher mais sexy que já vi na minha vida. Eu só torcia para que eu ainda fosse para ela tudo o que ela significava para mim.

 

_ Fica comigo. - Pedi, um sorriso gigante em meu rosto e a esperança presente no olhar. Ainda assim eu me sentia um pouco tonta, como se estivesse bêbada

 

_ O quê?

 

_ Fica comigo esta noite. Janta comigo. Conversa comigo. Me conta seus novos medos e me deixa te mostrar que nada pode ser maior que a gente. Você sabe que é verdade. Ai no fundo do seu peito, você tem certeza que a gente pode superar isso. Eu novamente peço desculpas por ter feito você duvidar, mas eu ainda sou a mesma mulher que te fez sorrir por todos esses anos. Sou a mesma mulher que se apaixonou por você, mesmo depois de perder a memória. Você é e sempre será a mulher que me fará agradecer todos os dias pela minha vida.

 

_ Nanda, eu não s...

 

_ Caramba, Aline! Nós estamos no controle da nossa vida. Você quer, eu quero! A gente pode fazer o que quiser e eu te quero, como sempre quis.

 

Ela era linda. Linda e me orgulho por sempre ter dito, porque ela merece saber. E agora, aqui, estando o mais próximo de recuperar minha vida de volta fiz o que meu corpo ansiava por meses. Eu a beijei, sem precisar dizer nenhuma palavra. Enquanto o beijo se aprofundava eu a senti cedendo, se aproximando um passo a mais para colar ainda mais nossos corpos juntos. Era o que eu precisava, a confirmação que eu necessitava para voltar a acreditar. E, eu sabia exatamente, sem nem precisar pensar, no que ela estava pensando. Ou melhor, no que iria fazer a seguir. Quando percebi minha jaqueta já estava no chão e o vestido dela começava a deslizar pelo seu corpo. Sim, era o seu corpo, o corpo que eu conhecia e desejava, exatamente do jeito que era, com as marcas do tempo e de seu serviço. 

 

Num segundo, enquanto nos separamos para recuperar o ar, meus olhos encontraram com os dela e eu vi ali o amor novamente, alem do traço selvagem que fazia meu coração bater ainda mais rápido. E então o mundo girou quando ela caiu por cima de mim no sofá fazendo aquilo que sempre fez.

 

Me amou.

 

[...]

 

_ Estamos aqui agora, como nos velhos tempos. 

 

Aline comentou enquanto entrou na cozinha, de banho tomado. Infelizmente, aproveitou a situação para se vestir novamente, mesmo que fosse com seu menor baby doll. 

 

_ Obrigado senhor, por essa visão. Amém.

 

Ela apenas ignorou e comeu um pedaço da carne que eu estava fazendo. Aproveitou e serviu mais vinho numa taça e deu gole, trazendo para mim logo depois.

 

_ Então é isso? Estamos bem? - No mais singelo toque, minha mão cobria a de Aline sob a taça. Eu queria acabar logo com aquilo, apesar de entender a necessidade dessa conversa. Mas, pela primeira vez em muito tempo, meu coração se permitiu ter esperança de que a gente pudesse se entender e eu queria aproveitar aquilo ao máximo. 

 

Aline sorriu e novamente foi como se uma onda de adrenalina passasse pelo meu corpo. MAs ela se afastou, rápido demais, para encher o copo novamente.

 

_ Nós estamos discutindo os termos da nossa reconciliação.

 

_ Não fale como uma policial, você sabe que isso sempre me atiça. 

 

_ Você ainda me deseja? Mesmo depois de tudo?

 

Eu achava que não era preciso dizer mais nada depois da tarde que tivemos. Era impossível Aline ainda ter dúvidas do meu desejo, assim como eu não tinha do dela. Porém, mesmo assim, falei o que eu pensava.

 

_ Como nunca antes. A gente está conversando agora e eu só penso em me livrar de qualquer barreira que nos impeça de ficarmos tão juntas quanto se é fisicamente possível. Essas roupas que usamos, essa mesa aqui na frente... Estou me segurando para não te agarrar agora e te levar para o nosso quarto.

 

_ 30 anos depois e você ainda age como uma adolescente?

 

_ O que posso fazer se você me deixa assim... - Para comprovar levantei a barra da minha camisa para mostrar a trilha de mordidas e chupões que cobriam minha barriga. Após isso, peguei sua mão e levei até meu coração e a segurei ali. - E também me deixa assim.

 

_ Como?

 

_ Como se fosse a primeira vez. Como na primeira vez que eu te trouxe para jantar. Ou na minha franca tentativa de ser ardilosa para te conquistar. Em como eu estou te desejando como se fosse a primeira vez. Em como já te imaginei em mim agora, como na primeira vez. Em como estou querendo utilizar a bebida para criar uma desculpa e te beijar... - Eu sorri, ao me lembrar de uma noite anos atrás, quando nos beijamos pela primeira vez num quarto na casa de Letícia. Parecia te sido a mais de uma vida atrás. Na época eu namorava com Giovanni, Henrique era vivo e Aline ainda era a ex namorada do meu melhor amigo. - Como da primeira vez.

 

Aline se aproximou de mim e então eu pude admirar a mulher que hoje estava deslumbrante como nunca. Os anos passaram e muita coisa nela acabou cedendo com o tempo, mas se me perguntasse se eu a trocaria por qualquer imagem do passado minha resposta muito provavelmente seria não. Aquela era a Aline certa para a Fernanda de agora. Uma Aline linda, experiente e que continuava a me olhar de uma forma que era capaz de me matar de tesão. 

 

_ E por que não beija?

 

Aos poucos ela se aproximou até parar na minha frente, bem próxima. Se esticasse o braço, poderia rodear facilmente sua cintura. Mas não o fiz, ao invés disso me levantei e a encarei de igual para igual, nossos rostos separados por uma camada ínfima de distância. 

 

_ Eu já disse que te amo?

 

_ Você sabe como eu adoro ouvir.

 

_ De todo o meu coração, eu te amo, Aline Betcher. 

 

Só de ver ela sorrir, acabei com qualquer distância que nos separava e a beijei.


Notas Finais


Beijinhos da Tia Izzy.


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