História Crystalia - Flashback II

Eu entrei naquele lugar sozinha, e assim que vi aquela Obsidian meu coração gelou. ENTÃO ERA AQUI QUE ELA ESTAVA?! TRABALHANDO PARA AQUELA NUUMMITE?!

Morri!

Ela usava seu uniforme usual, um sobre-tudo com um losango no peito e nas costas, calças e botas pretas, além das luvas.

Quando nossos olhos se encontraram eu pude ver que tinha problemas.

Ela me olhava com tanta raiva!

-Você... – Ela rangeu os dentes.

-Você... – Estremeci.

Tentei me virar para sair correndo, mas vi que estava trancada, como imaginei ficarei presa aqui, mas sério que não posso sair nem se eu estiver correndo risco de vida?!

Havia muitas Jaspers ao nosso redor, todas nos olhavam confusas. Eu olhava assustada. O QUE EU FAÇO AGORA?!

Olhei para trás, esperando que ela não me atacasse pelo grande número de Jaspers que havia ali, mas foi o contrário, ela partiu em minha direção pronta para me destruir.

Mas graças aos cristais uma Jasper a parou, defendendo-me. Sua pedra ficava na testa, e seus cabelos eram levemente mais curtos e arrepiados que as das outras, ela parecia também ser mais forte.

-TRAIDORA! SABIA QUE TINHA ALGO DE ESTRANHO COM VOCÊ! – Gritou, evocando uma espada.

As outras Jaspers se reuniram ao nosso redor, mas nenhuma delas fez nada, apenas ficaram olhando. Acho que sabiam que não precisariam agir, aquela Jasper cuidaria bem dela.

-SAIA DA MINHA FRENTE! EU VOU MATÁ-LA! – Gritou.

-Não antes que eu faça o mesmo com você! – Avançou em sua direção.

-NÃO!

Eu só vi os estalos, e então duas Jaspers se enfrentavam. Uma era a Jasper mais forte, que me defendeu, e a outra, era ELA.

Jasper, a minha Jasper.

-O QUE ESTÁ FAZENDO?! – A mais velha quis saber.

-Vai mesmo destruí-la?! Depois de tudo que ela fez por nós?! Depois de todos os momentos bons que ela passou conosco?! Você nem sabe as motivações dela!

-Ir contra um superior já é motivo suficiente para ser punida, imagina ameaçar uma Nuummite de morte! É inadmissível!

-Mas ela é nossa amiga! – Jasper defendeu-a.

-EU NÃO TENHO TEMPO PARA A DISCUSSÃO DE VOCÊS! EU VOU MATÁ-LA!

A Obsidian pulou por cima das duas e avançou em mim, pronta para me matar, por sorte eu desviei a tempo, e cai sentada de costas para a porta.

-Por que está fazendo isso?! – Perguntei.

-Por que você merece, depois de mandar para a morte todas as minhas irmãs Obsidians, apenas por que elas não eram “perfeitas” e obedientes... EU ODEIO VOCÊ!

Ela me atacou de novo, dessa vez eu não resisti. Como nunca pensei nisso? Aquelas Obsidians tinham vida, eram vidas... E eu as matei... Eu não as defendi, eu as mandei para a morte por que não sabia lidar com suas diferenças, por que tinha medo de ter o mesmo destino.

Eu matei elas...

Comecei a chorar, esperando que ela acabasse comigo de uma vez. Mas de repente me veio à mente. O que vai acontecer com ela... Se eu for morta?

-E o que vai acontecer com você se me matar?

-... Que? – Ela parou o ataque a centímetros de mim.

-O que vai acontecer com você? Se me matar as Jaspers vão testemunhar contra você, e será morta... Isso vai vingar suas amigas? Sua morte vai trazê-las de volta e proteger outras Obsidians do mesmo destino que as que estiveram em minhas mãos?

-... Não... Mas-...

-Você está apenas sacrificando sua vida toda numa alternativa mais fácil de se livrar de mim e vinga-las, para se sentir melhor, mas isso não vai mudar o futuro, elas vão continuar a sofrer, como todas as Pearls, Rubys, Bismuths e Gems desprezadas por Homeworld...

Silêncio, pelo menos eu sou boa de argumentação.

-E o que você sugere? Que eu te deixe viver?

-... Que você se deixe viver... – Respondi – Eu já vou viver o resto da minha eternidade presa aqui... Com minhas únicas companhias sendo Jaspers que vão sempre olhar pra mim e se lembrar das atrocidades que cometi ao mandar aquelas Gems para a morte... Enquanto a você... Você pode sair, você pode viver, você pode salvar as outras, você pode mudar o seu futuro, em vez de sacrificá-lo e não mudar nada...

Novamente silêncio. Eu não estou mentindo, estarei presa aqui para toda a eternidade, guardando informações, como um livro em sua estante, mais nada. Isso já não é castigo suficiente?

-... O que acha que me fará sofrer mais? Viver a eternidade presa me lembrando de tudo o que fiz... Ou morrer?

-... Tem razão... Mas não ache que vou poupá-la... Algum dia, vou salvar todas as Obsidians, e quando isso acontecer eu vou matar você.

-Ok... Mas até lá... Vamos fazer o possível para parecer Gems normais... – Me levantei – Que não estão em pé de guerra.

-Não ouse exigir nada de mim! Você não me dá ordens!

-... A menos que queira que eu deixe aquela Jasper mata-la, você vai ter que fingir que sim...

Obsidian rosnou e ajeitou a postura, seguindo para o lado esquerdo da minha cadeira, onde deveria ficar para me “servir”.

-... Ufa... Salvei meu pescoço...

-My Wisdom... Está bem? – A Jasper se ajoelhou a minha frente.

-Estou sim... Não se preocupe... – Olhei ao redor – Obrigada por ser a única a me defender, apesar de eu não merecer.

-... A senhorita n-.

-Por favor, sem mentiras... Eu sei que até você não aprova o que fiz... Fez apenas sua responsabilidade.

Silêncio. Eu sabia, não tenho que esperar empatia de nenhuma delas... Na verdade eu nunca tive ninguém para chamar de “amiga”.

-Bem... Melhor eu trabalhar... – Subi e sentei.

Todas as Jaspers se colocaram em suas posições e eu suspirei, não tinha muito o que eu fazer, apenas guardar informações, que o tempo todo acabavam chegando até mim, organizá-las, selecioná-las, enviá-las quando as Diamonds precisavam. Eu era um arquivo ambulante.

Nem tão ambulante assim, eu estava presa aqui afinal.

Enquanto trabalhava meus olhos acabaram caindo em uma Jasper. A que tinha defendido a Obsidian, ela parecia inquieta.

Na verdade, isso me é bem estranho, elas estão a horas eretas, olhando para todos os cantos, mas sempre atentas, protegendo-me.

Elas não tem um descanso?

-Jaspers...

-Sim? – Todas responderam firmes.

-Vocês podem descansar se quiserem.

Praticamente todas – com exceção da mais velha – soltaram o ar e relaxaram os músculos. Acho que elas precisavam disso.

-Haha, vocês pareciam mesmo cansadas... Não precisam ficar tão atentas assim, é muito difícil algum inimigo chegar até aqui...

-Tem uma bem do seu lado – uma Jasper comentou.

-... Acho que eu meio que pedi por isso... Mas ela não vai me matar agora, então posso relaxar um pouquinho – Sorri – Então... Me falem de vocês.

E começou a conversa. Conversamos sobre tudo e eu comecei a dar apelido a todas.

Jaja era a mais apressada e veloz das Jaspers, seu cabelo era bem curtinho. Sua pedra ficava na mão esquerda.

Jasperzinha era a menos forte e um pouco mais baixa que as outras, mas era muito boa de luta. Sua pedra ficava no bíceps direito.

Jazinha era a mais alta delas, mas nem tão forte assim, seus cabelos eram encaracolados e arrepiados. Sua pedra ficava nas costas.

Jeje era a mais animada, seus cabelos eram arrepiados para cima. Sua pedra ficava na barriga.

J era a mais caladona, mas não faltavam sorrisos naquele rostinho lindo. Seus cabelos eram medianos. Sua pedra ficava na coxa.

Jotinha era a mais tímida, seus cabelos eram longos até o chão. Sua pedra ficava na nuca.

PJ era a mais doida, seus cabelos eram mega arrepiados, e sua pedra ficava na língua.

JP era a mais despreocupada, seus cabelos eram quase tão arrepiados quanto de PJ, e sua pedra ficava no olho esquerdo.

Pepe era a mais velha, e como já disse, tinha a pedra na testa e seus cabelos eram medianos e até bastante lisos.

E tinha a Jasper mesmo, a conhecida de todos nós.

-Então, como é ser importante? – Perguntou Jaja – Deve ser legal não ter ninguém pra ficar te dando ordens ou depreciando.

-Na verdade não é bem assim... Ainda recebemos ordens das Diamonds, e meio que no meu antigo posto de trabalho eu era muito depreciada se não fizesse certo meu trabalho.

-Sério? Mas que tipo de Gem tem mais autoridade que uma Nuummite? – PJ perguntou surpresa.

-Eu quase morri menos de uma semana depois da minha criação por que não recebi as informações corretamente... Levei uma bronca e uma das minhas colegas quis me matar.

-Eita – JP arregalou os olhos – Foi por isso que a Obsidian que trabalhava pra você foi morta?

Silêncio. Acho que até a JP percebeu que fez merda e se encolheu, tava na cara que ela tinha feito uma observação infeliz.

O pior mesmo era o olhar que Obsidian me lançava. Tava na cara que ela me odiava muito.

-Eu... Bem... É... – Respondi abaixando levemente a cabeça – Minha supervisora exigiu satisfações sobre a falta das informações e quando eu disse que Obsidian não tinha me dito nada... Ela disse que era defeituosa e mandou mata-la.

-E por que você não fez nada?! – Obsidian se exaltou.

-... Por que se eu dissesse não teria sido morta... – Disse baixo.

-E sua vida vale mais do que a dela?! É isso que você pensa?!

-Não eu... Eu apenas...

-Apenas o que?! Admita logo que não passa de mais uma hipócrita nojenta daqui!

-Eu apenas não sabia o que fazer! – Gritei, e se fez silêncio – Eu tinha acabado de ser criada! Tinha acabado de vir a Homeworld e não sabia o que fazer, eu fiquei assustada, apenas fiz o que as outras diziam que era o certo por que não tinha noção de que isso era errado!

-E acha que isso justifica suas ações?!

-Não! Não justifica! Elas morreram e eu deveria ter ajudado elas! Mas agora não adianta remoer o passado! Elas não vão voltar! Eu não preciso mais de você para me sentir mal pelo que fiz com elas! Eu posso fazer isso sozinha enquanto passo o resto da eternidade presa aqui!

Novamente ninguém disse nada, Obsidian se calou e retomou a postura como todas as outras, enquanto eu sequei as poucas lágrimas.

E não deu cinco minutos alguém entrou na torre, e eu pude ver que era uma Black Cianite. Seu olhar era sério, odeio coisas assim.

Ela fez uma reverência e eu continuei sentada lá em cima, olhando-a.

-Quem deu permissão para que entrasse? – Falei imponente, era algo necessário na sociedade de Homeworld.

-Fui mandada por White Diamond My Wisdom – Mostrou o holograma da ordem – Ela mandou para você um agrado, para tornar sua adaptação ao novo posto melhor.

-Mostre-me.

Cianite deu passagem ainda em posição de reverência, dando passagem para uma Pearl passar.

Seu cabelos eram curtos e jogados para a frente, sendo mais curtos atrás. Sua pele era cinzenta e sua pedra ficava no peito. Ela usava um collant decotado, um véu tão longo que formava uma capa até seus joelhos, meias ¾ e sapatilhas.

-Essa é sua nova Pearl particular My Wisdom, espero que seja do seu agrado.

Eu estendi a mão chamando por Pearl, e ela veio na minha direção com calma e graça, até parar a minha frente, ajoelhando-se com o tronco curvado e os braços bem abertos.

-My Wisdom... – Ela disse baixo.

-Black Pearl...

-Ela está de seu agrado My Wisdom? – Perguntou Cianite.

-Está... – Respondi séria – Obrigada Cianite... Retire-se.

-Sim, my Wisdom.

Ela saiu e eu pude suspirar, agora eu tenho uma Pearl, como a minha primeira Obsidian, ela vai me servir e vai errar, e quando isso acontecer...

-Sou Nuummite... E você? – Perguntei estendendo minha mão em sua direção.

Ela me olhou confusa.

-Eu... Sou sua Pearl...

-Eu sei, mas não quero saber o que você é, eu quero saber QUEM você é... Então vou perguntar de novo. E você?

-... Black Pearl... Mas... My Wisdom pode me chamar de Black...

-Black... É um prazer conhecê-la, eu sou Nuummite, APENAS, Nuummite – Sorri – Mas melhor me chamar de Senhorita na frente de outras Gems.

-... Nuummite... – Ela sorriu e com muito medo e timidez ela estendeu e pegou na minha mão.

Eu sei que isso não vai mudar tudo que fiz com aquelas Obsidians, mas eu vou compensar com Black... Eu não vou deixar ninguém machuca-la... Assim como Obsidian, eu vou protege-la, mesmo que ela me odeie para sempre.