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História Cuimhne (Memórias) - Não Vá Embora


Escrita por: MSirius

Notas do Autor


Olá pessoal!
Recebi uns comentários lindos no capítulo anterior e uns favoritos e isso me motivou um monte, muito obrigada pra vocês todos <3 Não se acanhem e por favor comentem pra eu saber o que vocês acham, o que estão curtindo ou não e tudo mais, é super bom ouvir ;D
Eu estou bem envolvida com essa minha OC e Aizawa Shouta é tudo de bom, então eu pretendo continuar a escrever mais interações dos dois. Tenho alguns planos pra um plot mais extenso, mas por enquanto quero introduzir o relacionamento dos dois melhor, e a personalidade dela.

Capítulo 2 sinopse: No qual Aizawa se abre com relação ao seus medos e Claire tenta confortá-lo e lidar com as próprias inseguranças. Inspiração: “Eu te amo. Por favor, não vá embora.”

Capítulo 2 - Não Vá Embora


Aizawa Shouta não saberia dizer como tudo havia começado. Ele sempre havia sido um homem de poucos amigos, poucas posses, poucas distrações. Considerava este aspecto um dos pilares de sua própria personalidade e, na sua opinião pessoal, algo essencial e importante para um herói. Ter muito de alguma coisa, afinal, era um risco que acreditava ser mortal na sua profissão. Sim, ele sabia disso perfeitamente.

O que apenas fazia com que a situação em que se encontrava agora fosse ainda mais surpreendente. Como isso foi acontecer?

- Shouta, está tudo bem? – Ele levantou os olhos, deparando-se com o olhar inquisitivo e sobrancelhas franzidas de sua namorada. Namorada, meu deus. – Você está fazendo careta pro café. E isso já fazem sólidos trinta minutos. – Ela observou, inclinando a cabeça para o lado, em curiosidade. Um sorriso brincalhão apareceu em seus lábios. – Ou você ainda está tentando achar a revanche perfeita depois da peça que o Mic te pregou ontem? Ela envolve café?

Ele apenas olhou para ela, os cantos de sua boca tremulando com o fantasma de sorriso por um segundo, antes de retornar à sua expressão normal de impassividade.

- Ha! Eu vi isso. Você tem senso de humor, afinal. – Fez graça, sorrindo de canto, tomando um gole da própria xícara de café e desta vez ela mesma fazendo uma careta – Ah, já está frio. O seu foi um desperdício completo, pelo visto, você não tomou um gole - lamentou, resignada – Ou foi porque você não gostou do café? – perguntou, como que só então considerando a possibilidade.

- Não, eu estava pensando e o tempo passou, só isso – Ele se apressou em responder, diante da sutil indicação de insegurança na voz dela. Ela tinha bastante orgulho de seu café – Ele está ótimo – falou, tomando um gole para fins de demonstração, suprimindo a careta automática diante do gosto. Ela estava certa, o café estava positivamente congelado a essa altura.

Ela riu, o som suave flutuando na sala, acariciando seus ouvidos. Era um dos muitos aspectos que ele apreciava nela, seus tons eram amenos, nunca estridentes. Na realidade ela era toda gentil, fator que simultaneamente o confortava e aterrorizava.

Com um sorriso no rosto, ela levantou da poltrona, botando sua xicara vazia na mesa ao seu lado, e caminhando até ele em passos leves. Aizawa sempre gostou de observá-la se movendo. Não que sua aparência fosse desprezível; não, muito pelo contrário, ela era linda. Mas sua linguagem corporal foi o aspecto que mais lhe chamou atenção quando a conheceu; havia uma fluidez na forma com que ela se movimentava, uma aparente simplicidade distraída em cada um de seus gestos. Para o olho alheio, mais parecia a delicadeza de uma ninfa. Contudo ele há muito havia percebido a deliberação do seu jeito, muito provavelmente uma forma intencional de conservação de energia, tornado ainda mais surpreendente pela naturalidade e espontaneidade com que ela conseguia fazê-lo. Não, sua suavidade não era uma promessa de delicadeza, mas sim de agilidade. Não uma ninfa, mas uma lince.

Seus olhos não se desviaram em nenhum momento dos dela, em seu trajeto até ele, como que hipnotizado. De forma consciente, percebeu a mudança sutil no olhar da namorada e, quando ela o alcançou, ele a recebeu em seus braços por instinto. Entrelaçando seus dedos com o dele, deixando-a se aninhar no seu colo. Ele se apoiou no encosto do sofá, abraçando sua cintura e acomodando-a confortavelmente contra ele.

Ela suspirou em apreciação contra o pescoço de Aizawa, fazendo os pelos de sua nuca se arrepiarem, mandando sinais espinha dorsal abaixo. Por ser a área de mais fácil acesso no momento, Claire começou a distribuir pequenos beijos na curva de seu pescoço, quentes e lentos, traçando o caminho até a sua orelha. Ele arfou, apertando a cintura fina contra si, fazendo com que ela precisasse ajustar o quadril contra o dele, criando fricção. Ela riu, um som baixo vindo da garganta, apoiando a mão livre no seu ombro.

- Com pressa? – ela murmurou, mordiscando o lóbulo da orelha dele delicadamente, a respiração quente.

A bem de verdade, ele gostaria - e poderia com muita facilidade - tomá-la naquele mesmo instante. Seus dedos coçavam para prendê-la contra o sofá, sua mente antecipando os movimentos e os sons que ela faria em reação ao seu toque, seus olhos dourados presos aos dele e escurecidos de desejo. A queimação bem conhecida da vontade fez-se sentir no seu abdômem e Claire, como que sentindo a mudança abrupta em suas intenções, afastou-se ligeiramente, cautela no olhar.

Reprimiu sua própria urgência, optando por mantê-la perto atravéz da gentileza. Seu olhar se conectou com o dela, efetivamente impedindo-a de se levantar, sem no entanto precisar segurá-la. Permitiu-se se perder nos seus tons, se aprofundar nela, na sua desconcertante honestidade. Ele reconhecia a transparência com que ela sempre o olhava como um presente, feito mais precioso pela consciência de que era um ato proposital, por si só uma demonstração de confiança. Pois bem sabia, ela era capaz de ser um enigma caso preferisse. Com intenção, trasmitiu tranquilidade e controle no próprio olhar, deixando com que ela o lesse; algo raro. Em resposta, sentiu a sutil mudança no corpo dela, os músculos relaxando sob seus dedos.

Com deliberada paciência, subiu a mão que descansava no quadril dela, percorrendo-a levemente costas acima, usando apenas as pontas dos dedos, sentindo o tecido fino e sedoso do vestido. Nunca desviando o olhar. Sentiu-a se arrepiar quando seu toque entrou em contato com a pele, encontrando os fios macios dos seus cabelos. Eles estavam lisos hoje, e cascateavam ombro abaixo. Afastou-os com delicadeza, abrindo o caminho para que pudesse posicionar a mão na sua nuca, massageando-a. Um suspiro aveludado escapou dos lábios da namorada, atraindo o seu foco.

Apertou-lhe a nuca de leve, a pressão dos seus dedos indicando sua intenção, conduzindo-a para ele sem força. Ela deixou-se levar, seus corpos se reaproximando até se encaixarem. Ele inclinou a cabeça, fazendo com que suas testas quase se encostassem, a respiração quente de ambos se mesclando. Ela envolveu o pulso da mão livre dele e, em resposta automática, ele segurou o dela, estabilizando-a.

Em absorção, seus olhos começaram a traçar as feições Claire e, retirando a mão da sua nuca, permitiu com que a ponta dos seus dedos acompanhassem seu olhar, sem que tivessem um destino específico. Leve como uma pena, tomando cuidado para que a área calosa dos seus dedos não entrassem em contato com a pele sensível, começou a desenhar suas feições. Devagar, traçou o caminho das maçãs do seu rosto, deslizando o indicador pela ponte do nariz arrebitado, até alcançar os lábios avermelhados e limpos, um pouco ressecados. Apreciando seu formato, delicadamente contornou-os com o dedão, buscando entrada, sua própria respiração mudando de ritmo de forma quase imperceptível quando ela concedeu. Posicionou o indicador e o dedo médio em volta do queixo delicado, erguendo-o para encurtar a pouca distância que os separava, simultâneamente compensando a diferença de altura e melhorando o ângulo, as testas se encostando, nenhum dos dois ousando fechar os olhos. Sentiu o toque molhado e tímido da língua contra o seu dedo, e aceitou o convite, aprofundando o contato, explorando. Um som baixo e gutural ressoou no seu peito, sem que o pudesse controlar a tempo, e ela estremeceu contra ele, a mão livre nas suas costas, apertando a camiseta.

Aizawa retirou o dedo de sua boca, usando-o para umedecer os lábios dela, traçando-os. Seu corpo inteiro estava quente àquela altura, o coração batendo rápido, preocupado em mandar sangue para áreas mais urgentes. Sua pele vibrava nos pontos de contato com o toque dela, enviando sinais pelos seus nervos, como energia elétrica. Buscando se conter, trouxe as suas mão ainda unidas até seu peito, posicionando a palma dela contra o seu coração, permitindo com que ela soubesse seu estado, entregando-lhe o controle. A mão agora desocupada envolveu-a pela cintura, puxando-a para si, virando a cabeça ligeiramente, os narizes se tocando, os lábios separados por pouco. Procurando pela resposta nos olhos de Claire, esperou o tempo de um batimento cardíaco. Dois batimentos. Três.

Os lábios se encontraram num beijo imediatamente íntimo. Seus pensamentos se perderam, dissipando-se no vazio, sem tempo para nada que não fossem as sensações. Mordiscou-lhe o lábio inferior, provocando, incentivando-a a aprofundar o beijo. Ela soltou um suspiro, a mão contra o seu peito apertou a camisa, puxando-o. O sabor levemente amargo do café o inundou, misturado com o gosto esfumaçado de malte do whiskey que ela sempre misturava na sua xícara. Ele gostava da bebida, mas sempre era melhor quando a sentia junto ao gosto dela. Afastou-se, abrindo um sorriso malicioso.

- Whiskey, hmm? Não lembro de ter oferecido esse adicional pro meu café – comentou, enrolando os cabelos negros no punho e dando um pequeno puxão de fingida repreensão.

Toda corada e com olhos semicerrados, ainda perdida no estupor do beijo, ela molhou os lábios, abrindo um sorriso artreiro, não preocupada em esconder a mentira – É que acabou.

- Uhum. Sei.

Ele fechou a distância entre eles novamente, capturando seus lábios. Segurou-a contra ele, mudando de posição de forma que as pernas despidas de Claire estivessem de cada lado do seu corpo, os quadris juntos. Ela sentiu-o duro e gemeu contra sua boca, abraçando seu pescoço, a unha longa raspando no seu couro cabeludo.

Ele se deixou mergulhar nela, nos seus cheiros, no seu gosto. Por preciosos minutos a realidade para ele começava e terminava alí, naquele momento, junto a ela. Quando Claire se afastou, ele precisou de um tempo para retornar a si, para os outros detalhes do ambiente voltarem a existir, sua cabeça ainda leve, como se estivesse intoxicado. Abriu os olhos, deparando-se com a íris dourada dela, olhando-o com carinho. Ela estava acariciando sua barba por fazer, gentilmente afastando o cabelo dos seus olhos, e o abraçou então, com um suspiro, apoiando a cabeça na curva do seu pescoço. Ele a abraçou de volta, apertado, afundando o rosto nos seus cabelos, inspirando fundo. Ela cheirava a alecrim, com apenas um toque do que ele achou ser lavanda.

O sol estava se pondo, enchendo a sala em tons de laranja e vermelho, criando sombras. Um grupo de crianças ria na rua, no seu caminho de volta para casa, e os pássaros cantavam, despedindo-se do dia que acabava. Eles ficaram assim, juntos, apenas apreciando a presença e proximidade um do outro.

Com sua mente agora mais livre, Aizawa recuperou o fio de raciocínio que havia abandonado antes. Pensativo, percorreu as costas dela com uma mão, a outra ainda a abraçando pela cintura. Seguiu o caminho, explorando não com desejo, mas com curiosidade, avaliando a estrutura do seu corpo, os ossos menores que o dele, a pele mais sensível. Seguiu pela perna dela, até alcançar o joelho, dobrado ao lado do seu corpo, onde descansou a mão. O peso inteiro dela estava em cima dele, sem que ele sequer tivesse notado.

- Desculpe, eu estou pesada? Quer que eu saia? – Claire perguntou, já começando a se afastar, interpretando a ação dele errôneamente.

- Não, não é isso, você é leve. – Ela relaxou de volta no seu colo, olhando-o. Ele franziu as sombrancelhas. – Você tem se alimentado direito?

- Sim – ela respondeu, afastando-se um pouco. Ele acenou com a cabeça, aceitando a resposta, mas decidindo prestar atenção nos próximos dias. – Porque?

Ele apenas a olhou, não querendo enunciar um pensamento do qual não tinha ainda completo entendimento. Comprando tempo, segurou a mão dela em contraste com a sua. Era menor, mais delicada, as unhas não pintadas, nenhum calo. Sentiu o toque da outra mão dela contra sua têmpora, ajeitando uma medeixa solta para trás de sua orelha.

- É ilógico. Você estar comigo. – respondeu finalmente, seu tom cuidadosamente inexpressivo.

Ela pausou, surpresa, as sombrancelhas arqueadas. Devagar, desceu do seu colo, ajeitando os cabelos longos para o lado. – Porque você acha isso?

- É apenas um risco, e é desnecessário. Na minha profissão... – ele a acompanhou com os olhos, vendo-a se levantar, irrequieta, recolhendo as xícaras usadas – Você sabe bem a situação. Eu não gostaria que você se machucasse por minha causa. – Ele parou, vendo-a ir até a cozinha. Em frustração, passou a mão pelos cabelos, afastando-os do rosto. Com um grunhido, levantou-se e a seguiu.

Ela estava parada de costas para ele, as mãos apoiadas na bancada. – Claire... – Chamou, parando na porta, mas ela levantou a mão, interrompendo-o.

- Só porquê eu não sou uma heroína, você acha que isso me torna uma inútil? Que sou incapaz de me defender? – Ela perguntou, virando-se para ele, o tom de voz baixo e controlado. Ela apoiou o peso na bancada às suas costas, o queixo erguido.

- Não foi isso que eu disse. - Ele a olhou de cima a baixo, avaliando, decidindo. Claire não se irritava facilmente e, embora estivesse tensa, não lhe parecia ser de raiva. Droga, não havia pretendido ofendê-la. Ele fechou os olhos por alguns segundos, sentindo-os secos. Os reabriu, notando que ela o encarava com uma expressão estranha.

- Não, não foi – Ela suspirou, olhando para baixo.

Ele sabia que ela não era incapaz de se defender, mas não era isso que o preocupava. De súbito, precisava deseperadamente que ela entendesse, que visse o que ele via. – Não é esse o problema – começou, procurando as palavras certas – Você sabe lutar, mesmo se não soubesse, poderíamos treinar. O que me incomoda é que existe um limite pro que você pode fazer, especialmente contra individualidades. – passou a mão pelos cabelos de novo, achando dificuldades em se expressar – Existe um limite pro que eu posso fazer.

Ela levantou os olhos, pensativa. Alguns segundos se passaram, até que ela foi até ele, chegando perto o suficiente para que pudessem se tocar, mas sem fazê-lo. Apenas o olhou, e ele enxergou a dor na sua expressão, clara como água. E ele entendeu. Não. Pensou, com alarme.

- Você gostaria... – ela falou, de forma sussurrada, como que com medo de ofender – que eu fosse embora?

Não era o que ele gostaria de ouvir, e arregalou os olhos, em choque. Abriu a boca para responder, mas fechou-a novamente, mudo. Com uma simples frase ela tinha se distanciado, pondo-se longe do seu alcance, um contraste gritante com a proximidade que eles haviam recém experenciado. Não é ilógico. Sua mente argumentou. Seria o melhor, o mais seguro. Então porquê seu estômago se contorcia? Sentia como se ela tivesse lhe dado um murro no plexo, e precisou controlar a respiração de forma consciente.

- Você está certo – ela murmurou – sabe que está. Eu estou perguntando porque... se é isso que você quer, eu posso ir. Limpo, sem argumentos. Eu entendo. – ela adicionou, quase para si mesma – É importante pra você? Que tudo seja lógico?

Sair da sua vida, era o que ela estava oferecendo, sem briga ou complicações. Escaneou o rosto dela, os olhos ardendo, sentindo-se rigído. Não era o que ele queria. E desde quando o que eu quero é importante? A pergunta é se devo ou não. Sua mente batalhava e seu coração protestava, enviando uma dor aguda e física pelo seu peito. Ainda podia sentir o fantasma do toque dela, o calor do seu corpo. Soltou o ar pelo nariz, repentinamente sentindo-se tonto. Quando foi que o significado e o espaço que ela ocupava em sua vida haviam mudado? Levantou os olhos, encontrando os dela; olhava-o com convicção, o queixo levantado, mas suas mãos tremiam.

- Não – ouviu-se dizer, com certa surpresa, como se sua voz houvesse agido sem consultá-lo – Não é isso que eu quero. – segurou-a pelos ombros, com mais força do que pretendia, não deixando com que ela se desvencilhasse. De repente assustado, com medo que ela virasse as costas, que se fosse. Ele não achava que fosse capaz de sobreviver a isso, não de novo.

- Shouta, eu não acho que essas coisas precisam ter lógica. Tem tanta coisa ilógica no mundo, tipo estar vivo. Porque parece, existir não é lógico. – Claire botou a mão sobre a dele, tentando soltar-se, incomodada. Falhando na tentativa, segurou a camiseta dele, suspirando – Vamos simplificar. Me diga o que você quer.

Ele buscou retomar o seu controle mental, mas ainda estava transtornado. Parecia-lhe claro que ela ainda não havia compreendido o que ele estava pensando. - Eu não quero te botar em perigo.

- Eu sei. Shouta... – Não, você não sabe. Notando que a estava machucando, relaxou a força com que a segurava, sem no entanto soltá-la. E assim, sem aviso, seu controle se rompeu, e as emoções passaram a se fazer ouvir na sua voz, como numa súplica.

- Droga, Claire, você não sabe a sua importância? Não entende? Te perder é o pior que poderia acontecer. – Sua voz soava estrangulada aos seus ouvidos e ele limpou a garganta. - Claro que eu não quero que você vá. – murmurou, rouco - Não. Mas e se nos separarmos for o melhor pra você? O mais seguro? – Finalizou, a voz quase inaudível.

Ela não respondeu, muda diante da sua pequena explosão. O sol acabava de se pôr e o ambiente agora tinha tons azuis e escuros, a única fonte de iluminação vinda da rua, mas nenhum dos dois se mexeu para acender as luzes. Sentindo-se inexplicavelmente exausto, ele fechou os olhos, só então notando o seu coração batendo acelerado, o nó no seu estômago, a tensão nos músculos. Medo, percebeu.

Depois do que lhe pareceu um longo tempo, ela falou. A princípio hesitante, incomumente tímida, fazendo-o ter que se inclinar para ouví-la - Não sei se quero que meu mundo não te inclua. – Ela levantou os olhos então, encontrando os dele com firmeza, puxando sua camisa -  Escuta, eu nunca tive a ilusão de que isso seria fácil, ou simples. Você acha que eu não me preocupo contigo? Você é um herói. – Sua voz tropeçou na ênfase, demonstrando sua aflição - Mas essas coisas nunca são fáceis... e ainda são duas pessoas diferentes tentando ficar juntas. Mas as pessoas devem poder se amar, Shouta, e arriscar ter seu coração partido. – Tomado por impulso, de repente precisando senti-la contra ele, ele a puxou para si, num abraço forte. – Não é algo bom? Significa que você verdadeiramente tentou pra alguma coisa, que deu tudo de si. – ela completou contra seu ombro, o agarrando de volta, a voz tremendo.

Aizawa a apertou nos seus braços, apoiando o rosto contra o topo da sua cabeça. Alívio o inundou, fresco como a água de um rio num dia de verão; podia sentí-lo de forma física, espalhando-se da cabeça aos seus pés. Ela havia entendido mais do que ele fora capaz de expressar, talvez reconhecendo nele algo que ela mesma também sentia em alguma medida. Pensou que antigamente ele havia feito do amor um cálculo matemático errado, buscando por motivos concretos para explicá-lo. Com o tempo e com as suas experiências, ele estava começando a perceber que ter alguém com esse tipo de significado na sua vida não era algo fácil. Não, era irracionalmente assustador.  

Ele se afastou, emoldurando o rosto dela entre as mãos, limpando com o dedão a lágrima solitária que ela não havia sido capaz de controlar. Deus, ela era tão linda que partia o seu coração. Ele a queria, com uma intensidade que não era capaz de descrever. Só precisava de coragem, muita coragem.

- Nós vamos ter que ser cuidadosos. – Falou, com seriedade.

- Sim. – Ela beijou a palma da sua mão, e sorriu. A despeito de si mesmo, ele sorriu de volta. – Eu te amo, Shouta. De verdade. – Como que treinado, seu corpo reagiu às palavras dela, mandando sinais elétricos da sua palma e por todo o seu corpo, esquentando-o. Ela o olhou, os olhos molhados e honestos, e seu coração enlouqueceu, parecendo acelerar e perder batidas ao mesmo tempo. Com inesperada urgência, ele a beijou, fundo e sôfrego, como que querendo se afogar nela. Buscando transmitir o que sentia, as palavras tornando-se vazias e insuficientes.

Separou-se por um segundo, para respirar. Levantou-a pro seu colo, botando as pernas dela em volta do seu torço, e apoiou-a contra a parede.

- Me mostre, Claire. – pediu contra seu pescoço, num sussurro rouco, quase um suplício. Ela igualou sua necessidade com a própria, se agarrando a ele, puxando-o, afundando os dedos no seus cabelos e cobrindo a boca com a sua, faminta. Enfim, Aizawa se permitiu ser tomado pelo seu desejo e emoções, deixando-as seguir seu curso.

Se ela era sua maldição ou salvação, ele não sabia dizer. Mas sabia que a queria e, por enquanto, isso bastava. 


Notas Finais


Está aí, espero que tenham gostado /o/ por favor comentem, me falem oq estão achando :)
No mais, foi um capítulo difícil de escrever, desde que tentei abordar um conceito de forma sutil (Consentimento) e um em camadas (medo). São duas coisas que vão aparecer várias vezes entre eles dois, é uma temática bastante presente, e espero fazer jus a suas complexidades e sutilezas.
Para explicar melhor, os capítulos dessa fic funcionam como janelas na vida dos dois, e vários momentos do tempo. O que significa que eles não vão estar, necessariamente, organizados de forma cronologica. Por exemplo, o próximo capítulo poderia ser como os dois se conheceram, que de forma cronológica seria antes do capítulo 1 e 2, mas poderia ser também o dia seguinte. Se os capítulos forem consecutivos (parte 1, e 2, etc) eu vou indicar no titulo e nas minhas notas.
É isso aí, até a próxima *-*~


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