História Cupido Ordinário - Ainda o pertenço

– Já esta sabendo do mais novo casal do Planalto? - era minha melhor amiga, Diana, que tinha acabado de sentar na mesa onde eu estava com outras de nossas amigas. 

  Ela era assim, adorava uma fofoca! Não que ela seja mentirosa, ela não era, mas ela amava saber de tudo que acontecia naquela escola. E, infelizmente ou não, vamos dizer que eu sou “popular”, ou seja tudo chegava a mim. Nunca procurei por isso, mas estudo nesse lugar a tanto tempo que acabei conhecendo muita gente. Muita gente ainda estou sendo humilde, porque eu realmente conhecia todo mundo naquele lugar, desde a tia da limpeza até a direção.

  Enganados são aqueles que acreditam que só porque você é “popular”, você não lembra do nome das pessoas e da fisionomia. Eu sei quem é cada um naquele colégio. Conheço até quem não estuda no mesmo horário que eu. Sei de segredos das pessoas que elas nem imaginam!

  E pelo contrario que é contado nos filmes americanos, eu nunca abri minha boca pra contar mentiras de ninguém. Comentava apenas entre as minhas amigas os fatos, mas se elas contavam pra outras pessoas, isso ja não era mais comigo. Não sou dessas patricinhas que esnobam todos e trata mal aqueles que chamam de amigos. Sempre fui muito educada com todos. Quem nunca falou comigo, com certeza foi por falta de oportunidade.

– Ih, não to sabendo de nada não! Conta essa história ai! - disse animada, doida pra saber do mais novo babado.

– Shawn e Adelina! - e caiu na gargalhada, acompanhada de Brenda, uma de nossas amigas, a mais quieta do grupo.

– Não estou entendo o porque da risada… - disse Christina, outra de nossas amigas. Ela é a lerdinha do grupo, que nunca entende nada de primeira. Eu sabia que tinha algum dedo de Diana nessa historia de namoro, mas ainda não sabia o que ela tinha feito.

– O que você fez dessa vez, Diana? - perguntei, e ela me lançou um olhar fingido de espanto.

– EU?? Eu não fiz nada! - sonsa. - Bom, a historia é o seguinte… - eu só não fico rica com jogos de azar porque não jogo, porque olha… - Shawn estava na duvida se pedia ela em namoro ou não, e ela estava doida para que ele pedisse. Eu apenas dei uma forcinha. Joguei meu pózinho e funcionou! Agora está ai o mais novo casal do Colégio Planalto, que ate agora não se beijaram! - não sabia se ria ou se revirava os olhos com esse ultimo comentário.

– Ainda?! - perguntou Chris. - Gente, não pode ser! Eles estão nesse nhé nhé nhé a um tempão! Como pode começar a namorar sendo que so deram selinho?!

– Vale lembrar que foram apenas dois selinhos. - Brenda sempre solta os melhores comentários.

– Pra que você fez isso, Diana? - perguntei ainda rindo de toda essa história. - Daqui a pouco o menino vai terminar com ela, porque não consegue beija-la! E ainda vai ficar puto contigo, porque você colocou pilha! - não estávamos conseguindo falar sério.

– To nem ai! Essa vaca, quando fui tão amiga dela, ela simplesmente virou as costas pra mim! Agora que reconquistei a confiança, vou acabar com a graça dela. - Diana guarda muito rancor de uma briga que ela teve com a Adelina no ano passado.

  Eu nunca soube direto o que aconteceu entre elas duas. Porque no ano passado, eu tinha ido estudar em outro colégio, e acabei não vendo o acontecimento, e também nunca me preocupei muito em saber. Christina nem da nossa escola era ainda.

  Christina era nova na escola, a mais nova agregada do nosso grupo e estudava na mesma turma que eu. Já Diana, Adelina, Brenda e Shawn eram de uma turma diferente da nossa.

  Christina era muito parecida comigo. Não na aparência! Ela era loira do olho verde, e eu a típica morena dos olhos castanhos mel. Ela tinha um jeito festeiro, cachaceiro e solteiro que eu também tinha, então logo nos identificamos.

                                                         ***

  Era mais uma tarde chata e comum de aula. Passei meu cartão na roleta e fui entrando pelo pátio. Antes que eu pudesse ver qualquer uma das minhas amigas, vi um bando de menina em volta de algum garoto. Pensei que fosse mais um aluno novo que tinha chegado atrasado alguns dias do começo das aulas. Fiquei parada olhando de longe para ver a cara do aluno novo.

  Não pude acreditar quando percebi que era o Shawn! Ele tinha simplesmente cortado o cabelo e estava muito gato! O que era aquilo Deus?!

  Ele tinha o cabelo até os ombros antes, e agora estava cortado igual gente, e assim pude ver o quanto ele era bonito. Nossa, eu estava realmente de boca aberta! Não podia acreditar em tanta beleza.

  Ai desculpa pelo exagero dos meus pensamentos, mas é que não consigo controla-los.

  O que fiquei impressionada foi que a Adelina estava fazendo propaganda do namorado dela para outras garotas. Parecia até que estávamos em algum país que a poligamia é legalizada, e que as mulheres faziam propaganda do seu marido.

  Quando tive a oportunidade de passar um pouco mais perto de todo aquele agrupamento, consegui dizer para Shawn “bem melhor assim”, e ele me respondeu com um “obrigado” bem sorridente antes que eu virasse o rosto e continuasse andando. Tentei dizer isso para que só ele escutasse, mas a Adelina escutou e veio toda sorridente virando pra mim.

– Eu que falei pra ele cortar! - ela parecia muito feliz com isso, não passava nenhum olhar de que estava com ciúmes de ter varias garotas em volta dele.

– Ah legal! - respondi sem graça e sem entender, ainda, aquela felicidade toda com isso. - Foi a melhor coisa que você já fez! - me referi ainda a Adelina.

– Eu sei! - disse convencida. Dei um ultimo sorriso para Shawn e sai de perto daquilo.

                                                        ***

  E assim começava a “fama”de Shawn Mendes no Colégio Planalto… Um menino que tinha o cabelo esquisito, cortou e agora é um dos mais gatos.

Shawn era um dos alunos novos nesse ano, por enquanto ninguém sabia muito dele. Eu mesma, não sabia nem de que colégio ele tinha vindo.

                                                        ***

  Com o tempo Shawn acabou ficando muito conhecido no colégio por todas as turmas. Ainda mais depois de entrar pro time de futebol. Eu era do time feminino, e as vezes o feminino e masculino jogavam juntos. Mas só tive uma oportunidade de jogar no mesmo dia que ele. Não jogamos nem no mesmo time, e acabou que nossos times não se enfrentaram. Enquanto meu time estava no banco, o dele estava em campo, enquanto o dele estava no banco, o meu estava em campo…e por ai foi.

  Mesmo nossos horários de treino não batendo, eu ou ele, sempre ficávamos nos treinos que não eram nossos, apenas para ver o jogo. As vezes até para ver como seria o nosso. Por conta disso, conversamos algumas poucas vezes. Acho que nada além de futebol. Não que de vez em quando eu não desse uns moles pra ele fora do treino né!

  Mas até que ele jogava bem, muito bem alias, e tinha um corpo que eu delirava quando ele resolvia tirar a camisa no final do treino. Aquele corpo molhado de água e suor, que fazia seus pequenos músculos ficarem realçados… era de me deixar sem fôlego!

  Jogar no time de futebol feminino da escola tinha suas vantagens. Tais elas, era você poder assistir treino que não era seu, poder ver um bando de garoto sarado sem camisa, e o melhor de tudo era poder fazer isso sem que ninguém pensasse que você estava ali só pelos caras, mas sim pelos treinos.

                                                      ***

– Nossa, dormi muito nessa ultima aula! Peguei no sono firme. - comentei com Chris enquanto descíamos as escadas da escola.

– Eu percebi! Seu rosto esta até com a marca do estojo. - disse ela rindo, o que me fez passar a mão no rosto e rir também.

Fomos andando pelo corredor até chegarmos no pátio e encontra Brenda, Diana e outras garotas da sala delas.

– Oi gente! - cumprimentei todas e Chris me acompanhou.

– Menina, você não sabe do babado! - Diana e seus babados…

– E pelo jeito todo mundo já sabe, menos eu né! - disse olhando para as meninas, e Diana logo entendeu o que quis dizer.

– Elas ja sabem de tudo. Elas viram! - e nisso começou todas riem discretamente.

– Fala logo! - Chris estava mais curiosa que eu!

– Shawn terminou com Adelina! - depois disso todas começaram a rir, menos eu e Chris que não sabíamos dos detalhes ainda.

– Menina, você precisava ver aquela cena! - disse uma das garotas da sala da Diana. Comecei a rir, só de pensar.

– Garota, ela ficou arrasada! E ele nem ai pra ela! Cagou dois kilos na cabeça dela. - o tom de voz que Diana fazia para contar os babados, era melhor do que os próprios babados.

– Vocês não valem nada mesmo! - Christina disse para as meninas, e elas riram.

– Eu não tenho culpa se o namoro deles era uma merda. - disse outra daquelas meninas.

– Mas eu não preciso nem dizer quem contribuiu pra esse namoro acontecer. - disse olhando diretamente para Diana, que apenas fez um “rum”.

– Olha, só sei que foi a melhor cena que ja me proporcionaram! - Brenda finalmente disse algo.

– Agora faz todo sentido aquela felicidade toda que ele estava lá em cima. - disse olhando para Christina, que também tinha visto aquele menino todo sorridente e pulando, que quase levou a gente escada a baixo quando sem querer esbarrou em nós em um dos seus pulos com os novos amigos.

– Verdade! - disse Chris. - Eu nunca vi ele tão feliz assim. Nós vimos também a Adelina saindo da sala logo atras dele, reprovando aquela atitude dele.

– Ah meu amor!! Lembra o que eu falei pra vocês? Eu ainda não terminei. - disse Diana se empolgando também.

– Meu deus! Tenho até pena desse menina. - disse Christina, e depois disso fomos todas andando para a saída rindo.

                                                      ***

  O final de semana estava finalmente chegando e teria uma festa de aniversario ótima! Era de uma garota de uma turma mais nova, mas teria muita gente do meu ano e mais velha.

Seria a primeira festa depois do termino do “casal do ano”. Pensei até que poderia rolar um primeiro beijo do, agora. ex-casal.

  Pude rir sozinha dos meus pensamentos, enquanto me arrumava.

  Estava nervosa com essa festa, pois sabia que encontraria o Austin.

Vamos dizer que ele era meu ex. Não chegamos a namorar, mas ficamos um bom tempo juntos e gostávamos muito um do outro. Sinceramente, eu não conseguia explicar o que eu sentia por ele. Ele conseguiu despertar um lado em mim, que ninguém nunca tinha conseguido. Ele sempre me fez muito bem, eu que nunca fiz bem pra ele. Infelizmente, eu fui muito ruim pra ele. Traí sua confiança e mesmo assim ele foi capaz de pensar e me perdoar.

  Mas todo esse nervosismo era porque na ultima festa que nos encontramos, ele tentou me beijar e eu fugi dele. Eu queria muito que isso acontecesse outra vez. Estava doida para sentir seus lábios outra vez, sentir aqueles braços me segurando e poder olhar para aqueles olhos verdes que se misturavam com um azul e quase os via cinza. Era capaz de sentir suas mãos segurando meu rosto nesse momento.

  Austin era muito bom comigo até descobrir que eu havia o traído. Eu mesma quis contar isso a ele. Algumas pessoas até me chamam de idiota por isso, mas achei que se ele soubesse por mim seria menos pior. Porque de uma forma ou de outra, ele ia ficar sabendo, pois tinham amigos dele na festa, que o traí. Eu poderia também acreditar na sorte, e ele nunca ficar sabendo daquilo. Mas era de mais pra mim, aguentar aquela situação. Não podia o enganar tanto.

  Desde então criamos uma “relação montanha russa", uma hora estávamos la em cima e de repente caímos, e sempre nesse caminho vicioso. Quando estávamos brigados, eu ficava muito mal, e quando estávamos bem, estávamos bem demais. Eu preferia dizer que com ele, eu andava numa corda bamba.

  Finalmente terminei de me arrumar e ja fui ligando para as meninas, pra saber quem ja tinha chegado. Ainda iria passar na casa de uma antiga amiga para busca-la.

  Cheguei na festa e parecia até que era eu que estava fazendo aniversario. Eu só não conhecia a família, porque de resto eu conhecia todos, nem que fosse apenas de vista.

  Me sentei numa mesa onde estava um pessoal da minha escola. Tinha a Brenda, Adelina, e mais algumas garotas e garotos da sala deles. Tinha pouca gente da minha sala na festa.

  Conversa vai, conversa vem… eis que vejo Austin chegando com seus amigos. Logo virei o rosto e fingi que não tinha o visto, continuei conversando com as meninas.

– Ih Karen, olha quem chegou! - Adelina fez questão de falar alto o suficiente para os meninos da escola, que estavam na mesa bem perto da nossa, escutarem. Nunca escondi de ninguém sobre o Austin, mas não precisava dessa atenção toda para toda vez que ele chegasse.

– É eu ja vi. Agora fala baixo por favor! - disse revirando os olhos pra ela. Mas ela é tão tonta que foi incapaz de perceber que eu estava odiando ela.

– Desculpa. Foi mal mesmo.

– Ta tudo bem! - respondi ela. - Continua o assunto Brenda. - e Brenda continuou a contar sobre o show que ela tinha ido na semana passada.

  Antes de Austin me ver, conseguimos entrar no assunto "Shawn". Dei força para Adelina voltar com ele ou pelo menos para eles se beijarem essa noite. Mas ela disse que seria muito difícil, porque ele queria distancia dela. Não que ele tivesse falado isso à ela, mas ela diz que sente isso nitidamente.

  Austin infelizmente me viu. Na verdade, eu nem sei se é infelizmente. Ele me causa tantas sensações estranhas, que ora eu quero me afastar e ora eu quero ficar grudada nele.

  Ele veio em direção a nossa mesa e tentei disfarçar, querendo não vê-lo. Brenda olhou pra ele, e quando voltou o olhar pra mim, já era tarde, ele ja estava do meu lado.

  Quando nossos olhares se encontraram eu parei por alguns segundos, e só acordei quando ele pegou em minha mão e pude sentir o arrepio subir por todo o meu corpo. Ele me rodou, depois me abraçou, cheirando meu pescoço, e mais uma vez me subiu um arrepio.

– Você esta a cada dia mais linda. - disse Austin, ainda abraçado a mim e com seu rosto escondido em meus cabelos.

– Obrigada. - respondi extremamente sem jeito.

– E seu perfume!? Talvez eu esteja me apaixonando outra vez. - pude sentir meu rosto ficar mais quente após essa frase.

– Sempre fui cheirosa, tá! - respondi, fugindo de seus braços. - E toma cuidado pra não se apaixonar mesmo não. Já sabe que é perigoso. - disse tentando fazer graça para quebrar um pouco o clima.

– É… Estou ciente disso. - respondeu com um olhar um pouco insatisfeito, vamos dizer.

  Austin saiu de perto e foi cumprimentar as outras pessoas. Sentei e suspirei todo o ar que estava segurando durante essa conversa.