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História Cure (Larry Stylinson) - Ninty.


Escrita por: MillaWand e curlystylesx

Capítulo 94 - Ninty.


Louis Tomlinson > 

Às oito horas da manhã, abri as gavetas da pequena cômoda no banheiro atrás que algo que pudesse me aliviar. Não é possível que Mariana tenha escondido tudo de mim, deve haver algo que pode ser útil. 

Acabei achando umas cartelas de comprimidos, umas quatro ou cinco. Analisei-os e não tive em consciência para o que eram, mas mesmo assim os levei para o quarto comigo, colocando sobre a mesa-da-cabeçeira. Ao invés de amassá-los ou dissolver com água, fui engolindo um por um a seco mesmo. Em menos de cinco minutos, as quatro cartelas já estavam vazias e eu havia tomado uns trinta comprimidos. 

Me deitei na cama e esperei atenciosamente que os remédios fizessem o efeito contrário e me sufocassem. Enquanto isso, peguei um dos livros que eu não havia rasgado e abri na primeira págia, vendo os créditos.

''Para quem eu dedicaria esse livro se sou sozinha?'' -A própria autora fez uma jogada de palavras, me deixando curioso pra saber o começo da história. 

''Nada neste mundo acontece por acaso.'' 

Por que aquela primeira linha, justamente num momento em que eu havia começado a morrer? Qual a mensagem oculta que tinha diante de meus olhos, se é que realmente existe alguma coincidência ali. 

Em meia hora, os comprimidos ainda não tinham efeito. Apenas uma fraca dor de cabeça que não foi útil nem pra me fazer dormir. Achando que nunca iria fazer efeito, cheguei a considerar a ideia de cortar os pulsos, mas não há com o que. Eu estava até disposto a não causar nenhum transtorno, mas se cortar os pulsos for a única possibilidade, então não há jeito, e se alguém limpasse o quarto, teriam dificuldade em usá-lo de novo. Sujaria tudo de sangue. 

É claro que eu também poderia pular de uma ponte e meu corpo desaparecer nas correntesas do rio, ou pular de um prédio... Mas como seria o sofrimento das pessoas ao terem que identificar um corpo deformado? Não, essa era a pior solução pra morrer, eu não queria deixar marcas indeléveis em muitas pessoas que só querem meu bem. 

Quedas de prédios, tiros, enforcamento, nada disso combina comigo. Eu sei que a vida era uma questão de esperar sempre a hora certa. E assim eu penso, acho que foi o suficiente por esses anos, acho que já não adianta mais nada. Agora estou aqui, entediado porque não sei o que fazer com o tempo que me restava. Olhei pela janela vendo os pequenos prédios comerciais que se escondiam atrás de um parque. Então descobri um jeito de passar o tempo já que quarenta minutos depois nada tinha efeito. O último ato de minha vida ia ser uma carta para a pessoa que eu mais amo. Deixaria um recado no final que deveria ser entregue a Harry, caso eu morresse primeiro que ele. De resto, não daria nenhuma explicação sobre os verdadeiros motivos de minha morte. É claro que nem eu mesmo sabia os motivos, mas não devo satisfações. 

Escrevi a carta. O momento de bom humor fez com que eu tivesse várias ideias e outros pensamentos a respeito da necessidade de morrer, mas já tomei os comprimidos, era tarde demais pra voltar. 

De qualquer maneira, já tive bom humor como esses, e não estava se matando porque era um menino triste, amargo ou 'se afundando na depressão' como todos dizem, estou morrendo porque minha vida está morrendo. De qualquer maneira, não preciso me importar com isso, eu saberia daqui a poucos minutos. 

Quantos minutos? 

Não tinha ideia. Mas deliciei-me com o fato de que ia conhecer a resposta para que todos se perguntavam: Deus existe? 

Começei a sentir um leve enjôo, que foi crescendo rapidamente. Em poucos minutos, eu já não podia distinguir as luzes ao meu redor. Eu só ouvia um zumbido muito forte e uma ância, fora a tontura e não consegui me manter sentado. Era como se meu corpo fosse lançado para trás com tanta força que pareci um saco de batatas caindo. O estômago, agora, começava a dar voltas, e me senti muito mal. Engraçado, eu pensei que isso iria me fazer cair no sono instantaneamente... Esse enjôo... Se vomitar, não morro. 

E pela primeira vez senti medo, um medo terrível e muito desconhecido. Pânico. Mas foi rápido, logo o enjôo passou, as reviravoltas no estômago foram embora... E levaram consigo minha consciência. 

~**~

Abri os olhos, pensei: Não deve ser o céu. Eles não usariam lâmpadas fluorescentes para iluminar o ambiente, e a dor, que apareceu uma fração de segundos depois, é bem típica de gente viva. Eu não morre, nem pra isso eu presto. 

Quis me mexer e a dor aumentou. Uma série de pontos luminosos apareceram, e percebi que não eram luzes do paraíso, e sim algum tipo de ilusão sofrida, como se fosse minha visão apitando. 

-Graças a Deus ele acordou. -Escutei a voz de mulher. -Agora você está com os dois pés no inferno. -Não era possível eu estar no inferno. Por que sinto muito frio, e também tubos plásticos saindo de minha boca e nariz. Um desses tubos estava enfiado na minha garganta, o que me dava muito sufocamento e agonia. Quis me mexer para arrancá-los, mas minhas mãos nem se mexeram. -Estou brincando, sou só mais uma enfermeira qualquer cuidando de você. -É pior que o inferno. Apesar da dor e da sensação de sufocamento, entendi o que havia acontecido. Tentei o suicídio, e alguém chegou a tempo de me salvar. Poderia ter sido Mariana, alguém que tenha batido na porta e se desespera ao que não abri. O fato é que eu tinha vivido, e estava em um hospital. 

Shellerews, o famoso e temido hospital de 'loucos, que existia desde 2002. Vítimas de suicídios e de homicídios andam soltas pelo corredor. Eu só queria saber porque não estou em um hospital normal como deveria. Muitas pessoas, quando queriam se livrar de algum membro da família enviam as pessoas pra cá. 

-Minha tia tentou suicidar-se há alguns meses... -A enfermeira continuou. -Ela passou quase oito anos sem vontade de sair do quarto, comendo, engordando, fumando, tomando calmantes, e dormindo a maior parte do tempo. Tinha duas filhas e um marido que a amava. -Tentei mover minha cabeça na direção da voz, mas era impossível. -Eu só a vi reagir uma única vez, quando o marido arranjou uma amante. Então ela fez escândalo, perdeu alguns quilos, quebrou copos e não deixava ninguém em paz. Até que não aguentou a pressão e cortou seus pulsos. Mulheres... São tão dramáticas que até na hora da morte gostam de fazer drama. -Soltei um gemido de dor, tentando enxergar alguma coisa. 

Tentei mexer minha mão e senti que em mim havia várias agulhas. Para soro, sustância e muitas outras coisas, eu não poderia estar na pior. Além de não poder ver e da dor, essa mulher não cala a boca. 

-O marido terminou largando a amante pouco depois que soube da tentativa de suicídio, apenas pra cuidar dela. -Ninguém pode julgar. Cada um sabe a dimensão do próprio sofrimento, ou da ausência total de sentido de sua vida. Eu queria explicar isso, mas o tubo em minh boca fez com que eu me engasgasse, e a mulher veio me ajudar. 

Senti ela se debruçar sobre meu corpo entubado, protegido contra minha vontade, mexeu o tubo de um lado para o outro na minha garganta, fazendo a mesma se arder muito. 

-Você está nervoso. Não sei se está arrependido, ou se ainda quer morrer, mas isso não me interessa. O que interessa é cumprir com minha função: no caso do paciente mostrar-se agitado, o regulamento é que eu te aplique sedativo. -Parei de me debater-se, mas ela já havia aplicado a injeção em meu braço. Em pouco tempo eu já estava em um lugar estranho. Sem sonhos, onde a única coisa que conseguia ver era olhos verdes, cabelos loiros desbotados e um ar totalmente distante, sem jamais perguntar  porque o regulamento manda isso ou aquilo. 

Estou vivo, pensei. Vai começar tudo de novo. Devo passar um tempo aqui dentro, até constatarem que sou perfeitamente normal. Depois me darão alta, e eu verei de novo as ruas de Oxford, suas ruas, as pontes e as pessoas normais. Como as pessoas sempre tendem a ajudar as outras só pra se sentirem melhores do que realmente são, eles me deixarão voltar pra Universidade, voltarei a frequentar bares e boates, conversarei com meus amigos sobre injustiças e problemas do mundo, irei ao cinema, passearei no lago.

Como escolhi os comprimidos, não estou deformado ou machucado. Continuo jovem, inteligente e não terei dificuldade em arranjar um emprego. Eu voltarei para meu dormitório, tento ler um livro e ficar deitado na cama observando a neve cair pela janela. Colocarei o despertador sempre às seis, mas levantarei às seis e meia e chegarei atrasado na aula, como um sanduíche na cantina rindo de como os professores são ingênuos, juntos com outras pessoas que também escolhem os mesmos bancos para lanchar, que têm o mesmo olhar vazios, mas fingem ser preocupadas com tudo. 

Mas essa não seria minha vida sem desgraças. A vida perfeita na qual eu nunca tive e nunca senti saudades ou vontade de ter. 

Minha 'família' vai se recuperar do susto e continuará me perguntando o que vou fazer de minha vida, porque não sou igual às outras pessoas, já que, afinal de contas, as coisas não são tão complicadas como eu penso que são. 

Um dia eu me canso de ouvi-los sempre repetindo a mesma conversa, e para agradá-los me caso com uma pessoa que me obrigo a amar. Eu e ele terminaremos encontrando uma maneira de sonhar juntos com nosso futuro, a casa de campos, os filhos, o futuro dos nossos filhos. Faremos muito amor no primeiro ano, menos no segundo, a partir do terceiro ano a gente talvez pense nisso uma vez a cada quinze dias e depois só em meses. Eu me forçarei a aceitar isso, e me aprofundarei no fim de um relacionamento que deu errado. E quem sabe pensar em me suicidar depois de o fim do casamento, voltando a ficar internado aqui e quem sabe ouvir mais uma vez a história da tia dessa mulher. Imaginei uma vida perfeita. 


Naquela noite, dormi e acordei várias vezes, notando que o número de aparelhos a minha volta aumentava, o calor do meu corpo aumentava, as enfermeiras mudavam de rosto, mas sempre havia alguém do lado delas. As cortinas verdes e a porta de vidro fina deixavam passar o som de alguém chorando do lado de fora, ou sussurros de pessoas preocupadas. Num de meus momentos rápidos de raciocínio, uma enfermeira me perguntou: 

-Você quer saber seu estado? -O cano ainda em minha garganta quase me engasgava quando tentei falar. A enfermeira ainda tentou conversar um pouco comigo, mas fingi que dormia. 

 

Harry Styles > 

Eu não sabia quanto tempo fiquei dormindo. Lembro-me de ter acordado em algum momento ainda com os aparelhos de sobrevivência ligados, ouvindo uma voz que me dizia: ''Você quer que eu o masturbe?'' 

Mas agora, com meus olhos abertos e olhando ao redor do quarto, não sabia se isso tinha sido da minha cabeça ou realmente ouvi isso. Os tubos seriam retirados de meu nariz pelo que acabei de ouvir agora. Mas eu continuava com agulhas enfiadas por todo o lugar, fios conectados na cabeça e na área do coração, os braços amarrados e coberto por um lençol até a altura de minha cintura. Eu estava sendo acompanhada por uma enfermeira, dessa vez era uma mulher diferente, tinha olhos escuros e cabelos castanhos. Mesmo assim fiquei em dúvidas se era ou não a mesma pessoa que converso durante dias. 

-Pode tirar isso de meus braços? -Pedi fracamente, olhando umas fivelas segurando meus braços. Ela levantou seus olhos, respondeu um ''não'' seco e voltou a ler um livro que estava em seu colo. -Há quanto tempo estou aqui? -Perguntei, percebendo que tenho muita dificuldade de pronunciar palavras. 

-Três dias nesse quarto, depois de dois dias na sala de cirurgia. -Respondeu. -E dê Graças a Deus por estar aqui. -Pareci surpreso, como se essa última frase não combinasse muito com a realidade. De imediato notei a reação dela... Eu tinha ficado mais tempo aqui? Eu ainda estou correndo algum risco? Começei a prestar atenção a cada gesto, cada movimento; sei que é inútil fazer perguntas, ela jamais diria a verdade, mas se fosse esperta, poderia entender meus recados. -Há uma coisa que me mandaram te entregar quando acordasse.

-O que é? -Perguntei fraco, tentando manter meus olhos abertos.

-Não sou cuiriosa a ponto de ver as coisas de meus pacientes. -Ela me entregou a uma folha mas não sei se terei forças pra ler. 

''Oi meu amor. Como você está? Espero que esteja bem. Assim como eu estou agora.. Não sei que horas ou que dia você está lendo isso, só queria te pedir desculpas. Sei que estou tendo uma atitude um tanto egoísta depois de tanto me ajudarem o único que não consegue se ajudar sou eu, sempre levei uma vida desarranjada sem zelo e amor por aquilo que fazia, chegou um momento que não consigo tocar mais a vida passei a ser um dependente e isso agora me incomoda... Bem, eu não queria que tivesse siso assim, mas a sociedade me obrigou, me perdoe por isso, eu queria que tivesse tido outro final, um feliz talvez, mas não foi possível, vai ver que finais felizes só existem em contos de fadas. 
Sei que amanhã após o meu velório, ninguém vai se lembrar de mim, se é que alguém vai se dar o trabalho de ir ao meu velório, ou até mesmo ler essa carta. Minha vida nunca teve muito sentido, mas minha morte teve vários motivos que não convém falar aqui. A verdade é que minha morte foi bem antes disso, várias coisas me mataram aos poucos no decorrer do tempo, até que aguentei muito, afinal, aguentar 18 anos não é pra qualquer um! Não queria ter morrido, queria poder viver mais, mas finalmente eu vou poder fazer algo que vocês queriam: Sair da vida de vocês. Deixarei o caminho livres para vocês viverem do jeito que querem, prometo não atrapalhar nunca mais. Só não se culpem, era o meu destino passar por tudo isso e agora acabou finalmente.
Só queria dizer-lhes: ADEUS! Até nunca mais! Sei que não vão sentir saudades.'' 

Depois de longos minutos sendo observados, amassei a folha entre minhas mãos com tanta força que não sei de onde veio. 

-Quem me deu isso? Quem escreveu? 

-Eu já disse que não sei, só estou cumprindo ordens. 

-Onde está Louis? Eu quero vê-lo agora. Por favor, me deixe ver ele. 

-Perdão, eu não sei quem é essa pessoa. Se acalme, não fique nervoso. -Ela olhou rapidamente para o quadro onde marcavam os batimentos cardíacos e percebeu que eles aumentavam muito rápido. -Se acalme, por favor! -Levantou-se da cadeira e rapidamente pegou uma agulha. -Você precisa descansar agora. -Neguei com a cabeça e a agulha foi espetada em mim. 

-Não... -Senti meu braço já dormente e todo meu corpo foi ficando desse jeito. -O que voocê feeeeez... -Minha fala foi ficando pesada demais e não consegui manter meus olhos mais abertos. Eles se fecharam e a escuridão tomou conta de mim. 

 

Louis Tomlinson > 

Silêncio. Estava tudo calmo e silêncioso. E escuro, ainda não consegui abrir meus olhos ou enxergar alguma coisa. O tubo já não incomodava mais minha garganta mas eu podia ouvir o barulho que o caninho ao meu nariz fazia ao que eu sugava o ar. Alguém segurava minha mão, isso eu conseguia sentir. Mexi um pouco meus dedos e ouvi uns murmúrios, depois uma mão gelada sobre minha testa. 

-Ele acordou. -A voz feminina que sempre me acompanhava soou delicadamente pelo quarto. 

-Você sabe se ele está bem? -Tentei mexer minha mão novamente e falar alguma coisa, mas é impossível, não consigo movimentar meu rosto. 

-Ele está bem sim, vai ficar bem.

-Louis... -A voz me chamou. -Você consegue me ouvir? -Tentei apertar a mão da pessoa. Eu queria responder que sim, não estava reconhecendo quem era pela voz, por favor, diga seu nome. -Por favor, diga alguma coisa. -Forcei minha garganta, fazendo um breve barulho ecoar de mim. -Ai meu Deus... 

-Calma Maru... Ele deve estar tentando falar alguma coisa. -Era ele ali, tentei abrir meus olhos mas não dá. Forçei meu braço e consegui o levantar um pouquinho, segurando a mão dele novamente. 

-Vocês precisam sair agora, ele precisa tomar os medicamentos. -Aquela minha companheira os alertou e a mão se afastou de mim. Entrei em pânico, puxando o ar com tanta força que meus pulmões doeram.

-Não posso deixar ele aqui dessa maneira! Deixe-me ficar com ele!

-Desculpe garoto, vamos, siga as regras do hospital. -Eu não ouvi mais nenhum barulho depois. -Seus familiares são bem teimosos, não querem te deixar por um segundo. -Tombei a cabeça para o lado, gemendo em resposta. -Eu sei que pode ser horrível pra você não conseguir se comunicar com ninguém, mas nós vamos te curar, eu prometo. Podemos ter um jogo de códigos, o que você acha? Que tal um aperto de mão para sim e dois para não? -Ela segurou minha mão levemente e apertei uma vez. -Ótimo, já começamos bem. Você está sentindo dor em seu rosto? -Apertei duas vezes e ouvi seu suspiro. -Em sua barriga ou peito? -Apertei uma vez. -Em mais algum lugar? -Uma vez. -Você consegue me mostrar onde está sentindo essa dor? -Com um pouco de esforço, soltei da mão dela e tentei levantar meu braço. -Vamos lá, onde você está sentindo dor? -Coloquei a mão calmamente sobre a região de meu coração e o caninho parou de chiar no que parei de puxar o ar. 



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