1. Spirit Fanfics >
  2. Cursed Lovers >
  3. Ato XV - Decisão

História Cursed Lovers - Ato XV - Decisão


Escrita por: UchihaKonan

Notas do Autor


Oi. Alguém sentiu minha falta nessas duas semanas?
O título parece tão promissor, mas o capítulo nem tanto.
Até aqui boa quantia já deve ter adivinhado o final, apesar de não poder/dever confiar em minha mente. Pretendo publicar o Epílogo na próxima semana, então, prepare-se.
Aproveite o capítulo!

Capítulo 15 - Ato XV - Decisão


 / DECISÃO                                                           

O barco deslizou suave na água. Pacífico, silencioso e abraçando ao corpo de Karin com carinho. As flores silvestres e coloridas deixavam-a mais bonita do que estivera algum dia, os cabelos rubros esvoaçantes e, com um toque de sentimentalismo, Suigetsu adicionara o chapéu esfarrapado de couro que uma dia ela usara com afinco.

Todos os outros já haviam partido quando o sol engoliu o pequeno barco em sua despedida. Sentado à beira do rio, ficou, arrancando a grama onde a mão repousava inerte. Havia tanto que desejava dizer a ela, contar-lhe e prometer. Tanto... Que a espera de um amanhã o roubou esse momento pelo qual tato quis. 

Sentia-se vazio sem a ideia de entrar na cozinha e vê-la furiosa, o acusando de qualquer ato sem importância para o mundo. Era frio e solitário pensar nisso, que Karin partira. Mas, sabia que era a realização de um sonho para a mulher. Estaria agora navegando com seus companheiros, embebedando-se de prazer com seu amante e sorrindo, enquanto desbrava o oceano de estrelas. 

Suigetsu imaginou o que seria dele a partir desse momento. A guera encontrara seu fim, as pessoas iniciavam uma nova vida, Sasuke e Sakura seriam felizes com a filha. O mundo  parecia não ter espaço para ele agora. Talvez nunca tivesse tido. Não sem Karin para discutir e rir.

Levantou-se do lugar em que estivera por horas e foi até o cavalo, ainda com a mente oscilando no vazio do agora e na ausência do passado. Quando parou diante do corcel, viu a feiticeira. Konan usava um vestido de cetim escarlate, com alguns bordados em dourado e prata. Ela baixou a cabeça ao vê-lo, sacudindo a flor pálida e esculpida como uma taça.

— Ela conseguiu o que tanto pediu — Konan disse, brincando com a flor em seus dedos. — Uma vez ela me pediu para ver o futuro que a aguardava. Nunca a contei a verdade, mas não é a minha culpa, é?

Ele nada disse, apenas se resumiu em pegar a corda que prendia o cavalo ao tronco do carvalho e puxar, arrumando a montaria para a partida. Os finos raios de sol davam um aspecto sombrio à feiticeira em suas vestes esvoaçantes.

— Karin se foi — ela disse. — Você ficou. Há algo que queira, não?

Suigetsu a ignorou e olhou para o outro lado, vendo os últimos sulcos na água por onde o barco passara. Se havia algo que queria com tanta força nesse momento, isso estava partindo para longe.

— Não posso trazê-la de volta —Konan murmurou.

— Então não há nada que eu queira de você.

A feiticeira sorriu e as pétalas brancas voaram junto da brisa, para repousarem à beira do rio.

— Homens pedem por amor, força e coragem — ela disse e ergueu os olhos a ele. Cintilavam na meia-luz. — Mas há algo que pedem quando perdem o que amam. Não justiça, pois essa é a palavra reconfortante — Suigetsu arqueou a sobrancelha quando ela sorriu. — Vingança.

Puxando o capuz rente à face, o artista inclinou-se na clareira, dando ao seu rosto um aspecto sombrio que fez as crianças encolherem-se em seus mantos.

— E então, voando entre as colinas mais altas do mundo conhecido — Deidara abriu os braços e seu manto o fez parecer uma ave —, o mais belo dos dragões surgiu, voando por entre as casas e chamando a atenção dos guardas da vila — como se planasse no ar, o artista captava a atenção dos pequenos que sequer piscavam — Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Os pequenos saíram correndo quando Deidara levantou-se e rugiu para eles. Uma corrida iniciou-se no grande salão do vilarejo. Algumas crianças se enfiaram por entre os aldeões que bebiam e cantavam, outras riram e até brincavam com um graveto que em sua mente fértil não passava de uma espada, capaz de colocar o dragão ao chão. O artista ainda os perseguia, fazendo o manto esvoaçar atrás de si e gritando, alegrando ainda mais a noite de festividade.

Sakura sorriu por ver como a noite parecia tão mais convidativa agora que a guerra tinha se dissipado da vida de todos. A vitória não demorou para vir, quando o dia amanheceu, os inimigos haviam fugido e os poucos que não tiveram tempo e sorte para encontrar o caminho de casa acabaram sendo levados à prisão. Danzou nunca enviou um tratado de paz ou algo que o fizesse ser derrotado. Porém, Sasuke tinha feito o seu melhor e todos os outros domínios e condados souberam do feito do Duque do país do Fogo. 

Nessa noite todos comemoravam a vida e a vitória, o céu estrelado dizia a todos que a paz reinaria, afinal. E Lorde Uchiha pela primeira vez em décadas sentia-se acolhido enquanto a música tocava alta pelo salão, dando risos de sobra, com bebida a ser servida aos montes e a alegria iniciando uma dança. Todos estavam felizes.

O Uchiha bebeu um pouco do seu hidromel, sentado no cadeirão num estrado elevado com a mesa do banquete diante de si.A fartura era visível e não faltava a ninguém um prato recheado de frutos, assados e doces. Sasuke observava a esposa brincar com a filha junto de Hinata. Ambas tinham construído um laço nos últimos tempos que ninguém seria capaz de romper. E da mesma forma elas ajudaram na reconstrução da vila, todos tomaram partido de algum afazer e as semanas após a batalha se tornam uma missão de recomeço, estratégia para esquecer-se do ocorrido. Exceto pela parte que cabia à lembrança daqueles que partiram.

— Perdão por interrompê-lo, milorde — a voz atraiu Sasuke para a direção oposta a que olhava. 

Naruto fez uma reverência curta e pareceu relutante por um tempo, remexendo a caneca com cerveja nas mãos. Mas com um gesto Sasuke o instruiu a sentar-se no lugar que pertencia a Sakura, ao seu lado no estrado. Com o alvoroço das cantorias seria mais fácil de ouvir o que o rapaz o tinha a dizer. Mas com um aceno cortês recusou e manteve-se em pé, alto e com os cabelos loiros e espetados o fazendo parecer ainda maior. Foi preciso inclinar a cabeça um pouco mais para encarar os olhos azuis.

— Agora que a guerra terminou, imagino que os cargos vagos na vila serão preenchidos — Naruto disse elevando a voz.— O de Capitão da Guarda está vago e... — o rapaz bebeu um pouco e respirou profundamente, aquele era o gole de coragem que o faltava para dar sequência à fala. — Meu pai serviu muitos anos o senhor nessa posição, é meu desejo saber quem pensa em colocar no lugar dele.

— Minato me serviu com lealdade e honra, a perda dele me pesa mais do que pensa — Sasuke disse, já havia pensado a respeito do cargo e a decisão partira primeiramente de Sakura, qual o fizera passar parte do jantar ouvindo as inúmeras qualidades daquele que ao ver dela, era o digno de ser o Capitão. — Imagino que terá de ser um homem de grande valor como ele o foi. Infelizmente conheço poucos com essas características, algo que não me ajuda diante de tal decisão. 

— Independente de quem for, só o peço para que me dê um lugar como um dos guardas. É meu desejo defender o vilarejo.

— Meu marido sabe disso — Sakura disse ao se aproximar e com um toque suave segurou ao ombro do marido, que a olhou de baixo. A Haruno ainda tinha a filha nos braços, aninhada numa manta branca —, por isso seu pedido será concedido.

Por breves instantes Naruto sorriu e surpreendeu-se com o seu pedido ser aceito. A Haruno sorriu a ele e sentou-se ao lado de Sasuke, dessa vez ela acariciava a face de Sarada, entoando uma canção e sentindo a alegria do Uzumaki, a atmosfera de felicidade não parava de crescer. O rapaz parecia prestes a gritar e se juntar aos outros que dançavam, tudo para deixar a alegria transparecer.

— Minha esposa me sugeriu que fazer de você um simples soldado seria tolice — Sasuke tornou a falar —, por isso sei que será tão leal e justo quanto seu pai. A posição de Capitão é sua se aceitar. Lutou e liderou bem durante a batalha, não pude deixar de notar e sei que muitos também o fizeram. Diga-me, consente com o que o ofereço ou prefere o que pediu?

— E-eu... será... — Naruto riu e caiu num joelho. — Será uma honra defender o vilarejo em vosso nome, milorde.

— Dessa forma, levante-se, Capitão Naruto — Sakura disse. — Fez pelas pessoas o que esperamos que faça pelos anos seguintes: os defenda. Meu marido fez uma escolha decente, espero que não falhe conosco.

— Jamais! Servirei com lealdade e farei o possível sempre para manter as pessoas a salvo.

— Ótimo — Sakura sorriu.

O jovem capitão ergueu sua caneca e virou-se para a multidão, um lai animado tocava e ao centro do salão os convidados se amontoavam ao redor de Hinata. O vestido de tecido leve dela flutuava a cada vez que ela girava no ritmo da canção. Os risos e palmas explodiam ao redor da moça como luzes. Mas, para Naruto, tudo que podia notar era a maneira livre e bela com que ela dançava, o seduzindo através de seu véu de sorrisos e olhares.

Atraído por ela, permaneceu estático onde estava, em pé no estrado com o casal Uchiha atrás. Por mais que desejasse desviar o olhar e ignorar a presença da jovem, mais impossível ficava. Bebeu a cerveja por impulso, numa tentativa qualquer de se livrar dessa atração. E os tecidos não paravam um segundo sequer de ocultar e então revelar Hinata numa dança misteriosamente sedutora.

— Vá até ela — Sakura disse e conseguiu a atenção de Naruto, que corou e virou-se para encarar a senhora.

— Milady? — a pergunta o deixou atônito.

— Hinata. O nome dela é Hinata — Naruto corou e vislumbrou a jovem Hyuuga por poucos segundos, até voltar a fitar Sakura. —  Vá, não perca a chance. A vida é muito breve para ser desperdiçada com temores e hesitações.

— Ela sabe o que diz — Sasuke completou, tomando a mão da esposa às suas.

E Naruto foi, tomado por uma certeza de que aquela era a mulher de seus sonhos.

— Obrigada pelo o que fez — ela disse quando ficaram a sós. — Ele fará muito por esse vilarejo, tenho certeza.

Lorde Sasuke segurou a mão da esposa ainda mais firme, acariciando a pele macia e quente dela, sentindo-a cada vez mais perto. Ela inclinou a cabeça e sorriu a ele, com os cristalinos olhos verdes brilhando de alegria. Esse gesto só o fazia amá-la cada vez mais, dando a chance de se entregar  ao mar de emoções que apenas os braços dela o traziam.

— Venceu a guerra, defendeu a todos nós — Sakura disse —, diga-me que se permitirá ser feliz a partir de agora, Sasuke.

O Uchiha desviou o olhar dos dela, metido em toda aquela alegria quase se esquecera do preço de tudo. A cortina de euforia, paz e aceitação em anos o agora tomava por inteiro, quase como o elixir necessário para sua existência. Sentia-se vivo, como nunca antes. Entretanto, a sombra de Madara no canto afastado do salão ainda pesava. Vigiando-os, era como uma recordação ruim. E o tempo para o pagamento chegaria, Sasuke sentia isso e sabia que o preço por salvar aqueles que se ama é o mais alto de todos.

— Tudo ficará bem — Sakura disse, prometendo ao Uchiha e o reconfortando.

Mais uma vez a  sombra se foi quando o sorriso dela se abriu, iluminando o mundo que um dia fora frio e escuro. E nesse momento, apenas nesse, ele sentiu como se tudo fosse mesmo ficar bem. Até aquele ano vir.

ANO DE 1153 d.C

— Sarada, venha querida, já é hora do chá — Sakura chamou a filha, que com sua pequena idade deu à mãe um sorriso doce e correu, fazendo as fitas do vestido seguirem-a por todo o jardim.

Os quatro anos que se passaram depois da guerra se tornaram pacíficos e o vilarejo de Konoha crescera ainda mais. As fazendas lucravam, os portos estavam sempre cheios e as colheitas eram tão fartas que sobrava para inventarem festivais. Nunca se tinha visto um povo tão unido e feliz. Os aldeões que outrora chamavam a Lorde Sasuke de monstro agora o acolhiam em suas casas para algum agradecimento, fosse pelo bom estado da vila, ou então apenas por fortificar o laço. Nada mais era como uma sombra ou anúncio de tempestade, a fina linha que um dia prometeu se arrebentar se fortificou ao máximo nos últimos anos.

Naruto e Hinata casaram-se logo que a reconstrução da vila terminou, no mesmo ano em que ambos tiveram o primeiro filho. os cuidados com a segurança de Konoha iam bem e as taxas de prisioneiros caia pela metade a cada ano. Como um reino dos contos de fadas, a vida e alegria reinavam.

Naquela tarde em questão, quando a primavera fazia as roseiras desabrocharem no jardim do centro, Sakura recebeu uma visita que jamais julgou ser possível.

— Este é o seu tio, Sarada — ela indicou Hikaru, que ainda hesitante sorriu à pequena. — Vê como ele é alto?

A menina esticou os bracinhos curtos ao rapaz, que sem saber o que fazer lançou um olhar para a irmã, qual assentiu e o instruiu a pegá-la. Sarada sorriu e curiosa como sempre, apalpou a barba por fazer do tio, que riu baixinho.

— Sente-se — Sakura disse ao irmão. — Sarada, querida, vá buscar a sua boneca para mostrar ao seu tio, sim?

Afastando-se para ir de encontro à tolha com seus pertences, ambos ficaram a sós. Sakura não imaginara em momento algum desde a discussão que tivera com o irmão há quase dez anos, que agora estariam ali. De fato ela jamais o odiou, seu coração parecia incapaz de sentir antipatia por ele, ainda que suas palavras fossem duras e frias, seus atos ausentes, amava-o como deveria ser, como um irmão.

Olhar para ele nesse instante, com os cabelos róseos já se tornando branco, com a barba por fazer e as roupas remendadas, sentia pena dele. Em sua mente e com  imagem de Hikaru ali, tão sujo e tão desprovido de finos tecidos para envolvê-lo, pensou que estava ali apenas para tirar algum ouro. Com esse sentimento, ela sentiu-se dividida. Por um lado queria nunca mais ter de encontrá-lo outra vez, mas outro pedia-a para enfrentar a fera que se escondia nessa porta. Assim, só com esse desejo de fitar o passado e consertá-lo,  recebeu naquela tarde para um chá.

— Sei que pensa que vim pedir algo — Hikaru disse, cortando o silêncio. — Mas não vim. Há algo que sempre guardei e... — ele tinha os olhos marejados e ela sentiu-se tola por ter pensado que ele viera para tomar dinheiro ou algo do gênero. — Quando a mãe e o pai saíram para ir atrás das ervas para te curar, me deram um colar, que pertenceu à família por gerações. 

— Um colar?

— É, sim. Queria que pudesse vê-lo e soubesse que jamais me esqueci de ambos, como fiz parecer quando a... — ele engoliu em seco e a encarou pela primeira vez —, quando a vendi para  Lorde Sasuke. Nunca me esqueci dos dois, às vezes revivo a noite em que eles saíram. Ainda posso sentir o perfume doce da mãe e as mãos duras do pai, é como se uma parte de mim fosse o culpado.

— Eu sinto muito — Sakura disse. No fundo, quando decidira pensar a respeito de tudo que o irmão a tinha dito, percebeu que a culpa poderia ser dada a ela. Mas, no fundo, a decisão sempre foi dos seus pais que jamais poderiam evitar o destino. Ela sabia bem que o que está escrito não pode ser apagado, dessa forma conseguiu perdoar a si e ao irmão. Nenhum dos dois poderia ser culpado pela morte da mãe ou do pai, nenhum. Ainda que no fundo a verdade estivesse enterrada, era o bastante para acalmá-la. — Não foi a sua culpa.

— Não sei — Hikaru forçou um sorriso que se desfez —, mas sei que ao menos está a salvo, como quiseram.

Sakura sorriu.

— Foi o que você me deu — ela indicou todo o espaço florido. — No fim me deu a chance de fazer algo.

— Não, fez isso sozinha, Sakura. Sozinha. — e uma lágrima escorregou pela face dele. — Agora tem uma família. Fico... fico feliz por isso. Todos na vila são gratos a Sasuke e a você. 

— Bem, fale-me sobre o colar.

Hikaru concordou e se inclinou na cadeira, com um risinho pronto a explodir de seus lábios rachados.

— A verdade é que o vendi — ele disse. — Lembra-se de quando fomos morar com o mercador do país do Rio?

Ela concordou.

— Depois que ele tentou nos vender àquele alquimista, vendi o colar e comprei nossas passagens para Konoha — e Hikaru riu. 

— Do que tanto ri?

— Nunca gastei todo o ouro, Sakura — e ele ria ainda mais. — A boneca de porcelana, a sua boneca — Hikaru já não mais se continha. — Aquela que enterramos quando se partiu, todo o ouro estava nela. Pensei... pensei que fosse ser o lugar mais difícil de encontrarem se tentassem nos roubar. Bem, nunca fomos roubado.

Sakura riu e aliando a confissão à memória daquela época, esqueceu-se de que na maioria do tempo passaram fugindo e mendigando. Se soubesse que acabaria com um lar e família depois de sobreviver a tudo, diria a si mesma que percorresse aquela estrada até o fim, pois valeria a pena.

Quando o irmão retornou para a vila no começo do anoitecer, ela ficou observando-o do alto da torre. Tinha insistido para que ele aceitasse algum ouro para se manter, mas orgulhoso acabou negando, disse que tinha conseguido um trabalho no porto. A tarde tinha sido ótima para ela, como se o sonho de alegrias e paz se estendesse ainda mais, trazendo uma surpresa a cada minuto.

— Na vila os magos cantam, dançam e falam sobre a noite escura que virá — o bardo cantarolou no canto do salão, dedilhando sua harpa prateada —, crianças vão chorar, as mães vão voar e os pais a escuridão tentará ganhar...

Sasuke olhou para o cantor de canto, algo na figura dele o deixava incomodado. Talvez fosse o seu rosto moreno marcado por gravuras, ou então a voz rouca e repleta de um tom sombrio. Passou por ele, que continuava cantando com melancolia na voz.

— Pague-me um corno de hidromel, enquanto a noite não vem — a nota soou alta —,  oh linda dama, digas-me que vem. 

Subiu as escadas em caracol que levavam para o andar de cima da taberna, mesmo ali a cantoria o perseguia. Entrou sem bater, como de costume. Madara que até então estava virado para a janela e encarando a movimentação do dia na vila, olhou-o por sobre o ombro e indicou a cadeira.

— Pensei que tivesse se esquecido de mim — ele disse. — Veio pedir algo? O fim de uma guerra, o nascimento de outro filho, riqueza infinita ou então um diamante raro para a esposa?

— Não vim pedir nada. Sabe o porquê de eu estar aqui.

— Recebeu a minha carta, como imaginei — Madara se virou e sorriu. — Temos uma dívida por cuidar, espero que queira discutir a respeito.

Mesmo hesitante Sasuke se sentou e o viu sorrir, até também se sentar e encarar o lorde a sua frente. Era estranho tudo isso, quatro anos tinham se passado e Madara em momento algum falara sobre algo, sequer tinha aparecido no castelo. Mas sua ausência não era novidade ao Uchiha, acostumara-se com o tempo aos sumiços dele. Entretanto, seus desaparecimentos não faziam as dívidas sumirem também.

— O que irá querer? — Sasuke perguntou.

— Antes, deixe-me te contar algo — Madara afundou-se à cadeira macia em que estava, pensativo e sem o sorriso de antes. A feição sombria do homem equiparava-se com a do bardo no salão. Com o profundo silêncio que caiu ali na sala, ainda se ouvia a voz do cantor, distante e rouca, mas melancólica. O verão tem vinhos doces, mas no inverno é amargo como a morte... — Gosto deste lai, traz-me recordações.

Ela tem o sol nos olhos, mas na queda há escuridão...

— Diga a ela que a desejo, oh nobre dama do amor — Madara riu entre o verso que cantou, até sua seriedade retornar. — Há certa curiosidade quanto a essa canção ser tocada hoje, nesse dia em especial. Pois bem, como eu ia dizendo — ele cruzou as mãos sobre o colo e encarou o Uchiha. — Criaturas como eu, Sasuke, servem a alguém cujo poder é maior. Do mesmo modo como me serve, também sirvo a essa pessoa. Uma cretina, eu diria, com seus poderes limitados e vivendo sorrateiramente pelas cidades...

— Uma pessoa? — Sasuke arqueou a sobrancelha em curiosidade. — Está fugindo, não é?

— Talvez — Madara encolheu os ombros —, apesar de saber onde me achar, essa vil criatura me atormenta com sua demora.

— Então quer que eu a mate?

Madara levantou-se sem dizer nada. A lareira da sala tinha se apagado e o calor do ambiente se dissipado. Mesmo sem olhar diretamente para o que o outro fazia, sabia que ele estava colocando mais lenha no braseiro e atiçando fogo para que a suavidade do lugar retornasse. Mesmo assim a quietude de Madara o deixava sem saber se era este o pedido. Se fosse, seria um preço baixo a se pagar.

— Diga-me o que quer, Madara.

— Veio até aqui porque quer se livrar dessa dívida e viver livremente sob a vida comum, Sasuke — e através do vidro, o Uchiha viu o outro em pé, sério e encarando o vazio a sua frente. — Também quero minha liberdade.

— Ótimo, então me fale o que fazer e onde encontro essa pessoa.

— Não entendeu ainda — Madara se aproximou. — Para te libertar, você me faz um favor, me dá algo. Mas, para que eu possa me libertar, tenho de oferecer algo à feiticeira. E, a única coisa que ela me pediu e nunca consegui cumprir, é você quem possui, Sasuke.

Sem compreender as palavras do homem, Lorde Sasuke olhou para a direção dele que sequer se movia. O brilho da lareira acesa enchia os olhos negros de Madara e nesse momento curto, pôde sentir medo.

— E o que eu possuo que precisa?

— Ofereci a ela a sua filha, Sasuke.

Num salto súbito Sasuke se levantou e fez com que a cadeira caísse, interrompendo a voz do cantor que ficara ainda mais sombria. Tentando acreditar no que acabara de ouvir, lutava para manter-se sóbrio. Ainda assim os olhos de Madara diziam que era isso que tinha ouvido, não uma armadilha da mente ansiosa por liberdade. Não, Madara pedia por Sarada.

Pensar na menina e no que ela significava a ele o encheu de desespero. Sakura jamais concordaria e nem mesmo Sasuke se sentia capaz de entregar a sua única filha, aquela que formava o laço mais forte de toda sua existência.

— Não — Lorde Uchiha disse. — Não. Sarada não.

— Sinto muito — Madara sorriu. — Mas eu a terei e nada ou ninguém me impedirá de ser livre.

— Não!

— A buscarei durante o entardecer, avise sua esposa e faça os preparativos.

— A minha filha não — Sasuke rugiu, irritando-se. — Peça o que quiser, mas não a minha filha!

Madara suspirou e se sentou na macia cadeira, sorrindo com a expressão de desespero do outro.

— Já fiz minha escolha. Pague o que me deve, Sasuke. Salvei a sua cidade, sua esposa e filha, dei o que queria. Agora, me dê o que eu quero!

Não soube explicar mais tarde quando deixou a taberna e cavalgou de volta ao castelo. A mente estava tão cheia que não ouviu Naruto o chamar enquanto passava pelo vilarejo. Os guardas vinham atrás, galopando com o tilintar de suas armaduras. Ainda assim Sasuke jurava não ouvi-lo. O único som que tinha em mente era o da voz de Madara pedindo Sarada como pagamento da dívida.

Claro que não entregaria a filha, fosse como tivesse de ser, nada tocaria a sua menininha. precisava estar ao lado da sua família nesse instante, conhecia Madara o suficiente para saber que ele faria de tudo para ter o que desejava. 

Somente quando os portões do castelo surgiram Sasuke retomou a consciência. Ao descer do cavalo correu o quanto podia para o interior do castelo, chamando pela esposa e filha. Os poderes de Madara poderia surpreender a qualquer um, exceto a ele que tinha os visto meia centena de vezes.

Procurou por ambas em todas as alas que pôde, chamando, gritando e se tornando cada vez mais desesperado. 

Tinha atravessado quase todo o castelo em busca de ambas, sem nunca encontrá-las. Nem mesmo as criadas e guardas pareciam estar presentes. O medo que o acometeu o forçou a gritar por Sakura. Mas não obteve resposta alguma, apenas sua voz ecoando nas paredes.

Foi para o segundo andar, atravessando a fileira de corredores e busca de qualquer ruído. No fim do corredor, através do vitral notou que a escuridão da noite chegara mais rápido que imaginou. De repente sem ser convidada, a voz do cantor começou a soar friamente na mente do Uchiha, que apenas iniciou uma corrida pelo espaço, batendo os pés de forma dura contra o piso de mármore.

Na vila os magos cantam, dançam e falam sobre a noite escura que virá...

...crianças vão chorar, as mães vão voar e os pais a escuridão tentará ganhar.

A última porta que o restava abrir era a do quarto da filha. Abriu-a com tanta rapidez que somente quando o batente de ferro ressoou contra a rocha, ele percebeu que tinha usado força demais no ato.

Suspirou aliviado ao encontrar Sakura de joelhos ao lado da cama da filha que se preparava para dormir. Correu até a esposa e levantou, segurando-a firme num abraço que se pudesse permaneceria pelo resto da eternidade. Sarada sorriu ao notar que o pai afundava o rosto nos cabelos da mãe, sentindo o perfume dela e a protegendo.

— Me assustou — Sakura sussurrou a ele, o abraçando com seu afeto. — Aconteceu algo?

— Não — mentiu, engolindo o desespero e observando os olhinhos pequenos e brilhantes da filha. — Não, apenas...

— Entendo — ela disse e se soltou, encarando a face pálida do Uchiha. Claro que ela pressentia que algo não estava certo, mas se o fez não disse nada. — Papai irá te contar uma história de dormir.

Sarada sorriu e puxou os cobertores para junto de seu corpinho, mergulhando na vasta quantia de peles.

Com a Haruno sentada na poltrona, Sasuke olhou para ela em busca de alguma dica do que contar. Na maioria das vezes inventava alguma história qualquer, cada dia aprimorando-a. Mas nessa noite em especial, lembrou-se de um conto que sua mãe contara no passado. Lembrava-se nitidamente de um dia ter estado numa tal qual Sarada estava, com a mãe a se sentar no colchão e falar por horas, o aninhando nos braços em meio da longa trança de cabelos macios.

— Num reino distante, onde se pode colher estrelas dos céus e enfeitar os cabelos, uma princesa nasceu e desde cedo foi enviada a uma vida solitária numa torre — ele falava com calma. — Numa noite, uma pequena e brilhante estrela disse a ela que um guerreiro se aproximava, montado num cometa capaz de subir até o topo da alta torre. E ela esperou, esperou e esperou...

— E depois? — Sarada perguntou.

— E depois? Bem, ela continuou esperando, até que num dia, enquanto se preparava para dormir, algo brilhante chamou a atenção dela no céu. Um brilho laranja que vinha direto para a torre. Quando ele chegou, a princesa estava na janela, chamando-o para que a visse e a tirasse daquele lugar horrível. Mas...

Calou-se de súbito, ao notar que a menina já tinha encontrado o sono. Acariciou o rosto fino e os cabelos negros dela, o preço pelo qual Madara pedia era caro demais. Não iria entregá-la, isso ficava cada segundo mais certo.

— Mas ele a salvou — Sakura completou e se aproximou, segurando a mão do marido. — Sei que algo o atormenta e sei que me dirá. Por favor, me deixe te ajudar.

— Tenho medo de que algo aconteça a Sarada — ele disse.

— Como o quê?

Havia sustentado a mentira sobre o tratado por anos, não poderia simplesmente dizer a ela nesse instante. Amava-a de todo o coração, mas não significava que machucá-la com suas mentiras fosse alguma prova. Segurou a mão de Sakura firme, fitando os olhos cristalinos.

— Qualquer coisa — disse por fim.

— Peça a algum dos guardas para ficar na porta do quarto dela essa noite, se isso o fizer se sentir melhor — ela o beijou a testa. — Esperarei no quarto.

Deitado ao lado da filha, Sasuke ficou por mais tempo do que planejou. Abraçado à menina acabou adormecendo e acordou com o latido dos cães de guarda, além da brisa gelada que entrava pela janela. Os archotes ainda iluminavam uma parcela do quarto, viu a filha dormir pacificamente e a beijou a testa, para em seguida se levantar.

Fechou a janela e olhou para o jardim abaixo. Algumas tochas iluminavam partes do espaço abaixo, permitindo ver a sombra dos guardas em suas rondas, seguidos pelos cães. Puxou a pesada cortina e olhou para Sarada uma última vez antes de sair do quarto. Juugo estava na porta, com a mão apoiada ao cabo da espada. Ao notar Sasuke, ele se endireitou.

— Senhora Sakura pediu-me para ficar de guarda — ele disse prontamente.

— Claro — Sasuke respondeu e deu um tapinha no ombro dele.

Ainda se sentia sonolento e dessa maneira caminhou arrastando os pés pelo corredor em direção do próprio quarto. Tentava se lembrar do sonho que tivera ainda a pouco, mas apenas fragmentos sem sentido vinham em sua mente. Talvez tivesse sonhado com a história que contara para a filha, ou então apenas era algo sem sentido.

Empurrou a porta com cuidado, temendo acordar Sakura. Porém, ao entrar, notou que a cama sequer estava vazia e com os travesseiros bagunçados. Um ruído vindo da ala leste do quarto o fez pensar que a mulher estava lá. Sentou-se na cama e começou a desfazer os nós da bota, apenas escutando o som de algo batendo do outro lado.

— Soube que seu irmão esteve aqui — Sasuke disse, tentando ouvir a voz da esposa. Mas nada veio em resposta. Levantou-se e caminhou até a abertura. Despertou rapidamente e correu pelo quarto, procurando por qualquer sinal da esposa. Foi só quando notou a porta que levava à torre do quarto que sentiu o sangue congelar.

Piscou diversas vezes, imaginando que aquilo era um sonho. A porta tinha estado trancada por séculos, acreditava até que estivesse emperrada. Nem mesmo a força de todos o guardas foram capazes de abri-la, no entanto...

...no entanto, Sasuke compreendeu que só podia ser Madara. Correu pelos degraus acima, sentindo as rajadas de vento frio e cortante rodopiarem pela escada. Cada passo que dava em direção do topo e o vento se assemelhava a lâminas afiadas, que cortavam a pele como gelo.

A primeira visão que teve foi a de Sakura. Ela estava sendo segurada por Madara. Os lábios estavam roxos, os cabelos bagunçados e o vestido de linho branco serpenteava ao redor do corpo. A Haruno tremia nos braços dele e ao ver Sasuke abriu e fechou a boca, engolindo qualquer suplica que viesse a fazer. Quando ela deixou uma lágrimas escorrer pelo rosto, o Uchiha sentiu-se culpado como nunca.

— Sakura...

— Te disse que viria buscar a menina — Madara disse. — Mas não cumpriu com o tratado.

— Solte-a — Sasuke pediu.

—  Me dê a sua filha primeiro.

— Não. Peça outra coisa que não a minha filha... ou Sakura.

Madara estalou a língua e deu um passo na direção do Uchiha, ainda mantendo a Haruno presa. Notou como as unhas dela se enterravam na manga do braço que a segurava, tão desesperada e esperando por um sinal qualquer de alguém que a pudesse ajudar.

— É triste que me desaponte no final — Madara disse. — Mas temo que se não me der Sarada, jogarei a sua esposa dessa torre. Bem, escolha. Se ficar com a Sakura ainda poderá ter mais filhos, se optar pela menina, bem, veremos.

— Solte-a e me mate se quiser.

— Não me vale de mais nada, Sasuke. Já disse, decida-se.

Sakura encarou o marido com desespero, ele via bem a vontade de gritar e chorar que dominava as expressões dela. Ainda assim, foi o aceno de cabeça que o deixou sem reação alguma. Ela estava concordando com o fato de ser jogada dali para salvar a filha. Sasuke deu um passo para mais perto e Madara a apertou ainda mais, forçando-a a gemer de dor.

— Leve-a — o Uchiha disse por fim. — Vai encontrar Sarada no quarto dela. Pegue-a e vá.

— Viu como foi fácil? 

— Solte Sakura e vá embora.

Ele ainda deu alguns passos mais na direção da saída antes de soltar a Haruno. Quando começou a desapertá-la de seu braço, Madara a empurrou para a direção de Sasuke. Mas, como tinha planejado, atacou-o antes de ver que a esposa tinha sido libertada. Sakura rolou pelo chão frio e trombando com a amurada, atravessou o baixio e se agarrou de forma desesperada nas rochas. 

Um olhar para baixo e ela pôde ver a longa queda que a aguardava se soltasse da rocha. Tentou se segurar firme e puxar o corpo para cima, porém o vento a agarrava e instigava a ir para baixo. Sakura gritou e inutilmente lutava para se manter firme.

Enquanto ela fazia seu melhor para não cair em direção da morte, viu que Madara e Sasuke lutavam. Um desferindo ataques sobre o outro, empurrando e acertando socos que fazia os ossos rangerem. 

Deslizavam de um lado ao outro se atacando com ponta pés, socos e se atracando numa luta que os fazia sangrar e gritar. Um golpe de Madara fez com que Sasuke caísse de joelhos, ele tinha o rosto completamente ferido e o sangue escorria aos montes. Se aproximando de Lorde Uchiha, Madara  cambaleava, mantendo as mãos no tórax. Antes que pudesse alcançar Sasuke, ele caiu de joelhos e apoiou as mãos no solo.

— SASUKE! — a Haruno gritou, sentindo o dedos deslizarem da pedra.

Com apenas um dos olhos possibilitando alguma visão, ele viu sua esposa na borda da torre, sendo agarrada pelo vento e puxada para baixo. Já não havia mais força no corpo do Uchiha, mesmo assim se forçou a se arratar em direção dela. 

Cada passo que dava aparentava não o ter tirado do lugar, as dores se espalhavam como nunca ao longo de todo o corpo, o impedindo de seguir em frente. Com o vento frio cortante a açoitá-lo complicava ainda mais a aproximação da amurada.

O último passo que deu foi o qual o fez cair ao chão, grunhindo de dor no peito. 

A última coisa que pôde sentir foi os dedos frios de Sakura e viu os olhos verdes se tornarem opacos, enquanto a queda a engolia, com os dedos escorregando vagarosamente da pedra...

Sasuke... 


Notas Finais


Se tiver alguma dúvida/pergunta restando, agora é o momento de fazê-la.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...