1. Spirit Fanfics >
  2. Cursed Lovers >
  3. Ato VI - Valsa

História Cursed Lovers - Ato VI - Valsa


Escrita por: UchihaKonan

Notas do Autor


Oi! Oi!
Bem, mais um capítulo.
Ah, já estava me esquecendo. Eu sei, gramofone não existia no ano que escolhi para a minha estória, porém, as vantagens de se escrever fantasia! Esse é um mundo completamente imaginário e repleto de artefatos que não se prendem a uma data em específico. Só não teremos nada tecnológico, claro. O ano é mais para ilustrar um acontecimento, não se prendam a fatos históricos, porque eu não o farei. Certo?
Não sei se terei a chance de publicar um capítulo antes do Natal, então, quero desejar a todos um Feliz Natal e nos vemos em breve!
Beijos e abraços.

Capítulo 6 - Ato VI - Valsa


  / VALSA                                                              

Folheou o livro de anotações com descaso.

Desistindo de se obrigar a ler, Sasuke se levantou de sua confortável cadeira e se dirigiu até a janela. Com um brusco e rápido gesto, afastou as cortinas para longe. A luz entrou convidativa, em largos e claros feixes a tocá-lo, movimentou os dedos pálidos diante da iluminação, sacudiu a cabeça em puro desânimo. Não conseguia crer que estava a se importar com um mero sonho, qual se repetira pela terceira noite seguida e que o obrigava a despertar antes do nascer do sol. 

Em todos estava no mesmo lugar, cercado por chamas que ardiam em altas labaredas e lambiam-lhe a pele, derretendo-o aos poucos. Mas, independente de onde o fogo o tocava e tornava a carne repleta de bolhas e mole, logo iam se refazendo, como se nada tivesse ocorrido. E, ao fundo, não era o crepitar da madeira ou da mobília do cenário que vinham até seus ouvidos e o enchiam de uma ira incalculável, eram os gritos o chamando pelo nome, quais o forçava a acordar no escuro e olhar por todo o quarto, até pousar os olhos no vazio da cama ao seu lado. 

Pressionou os dedos contra a palma da mão, cravando as unhas e sentindo a dor do ato. Tinha aprendido isso com o irmão no passado, ele vivia a dizer que se estivesse em meio a um pesadelo, bastava buscar por apertar a própria mão e que logo despertaria. Mas isso havia sido há tanto tempo... Em outra vida, Sasuke pensou.

Girou no próprio eixo e ergueu os olhos para a direção da porta, aberta e com a figura sorridente de Sakura lá parada. Não devo ser o único com problemas com o sono. Nada disse. Era surpreendente como esta não o temia, ou então fugia desesperada pelos corredores, em prantos. As outras tinham partido, sempre, todas desertando e desaparecendo do mapa por temê-lo de certa forma. Mas, oh, a Haruno não conhecia tal sentimento. 

Suspirou pesado ao perceber que ela também nada diria e continuaria a sustentar aquele sorriso que, de certa forma, o irritava.

— O que quer, Sakura?

— Vim buscá-lo para o seu café da manhã, Lorde Uchiha — e ela manteve o sorriso, agora acompanhado de olhos brilhantes e cristalinos.

— Pode trazê-lo aqui — ele disse e se acomodou em sua cadeira, retomando o livro em mãos.

Mas a jovem não se moveu, viu-a, mesmo que de canto, levar a mão à testa e mordiscar seu lábio inferior - à maneira costumeira que ele tinha notado, quando ela se preparava para tentar algo que demandava perigo.

— Há algo que quero mostrá-lo, meu senhor.

Foi forçado a lançar os olhos na direção da mulher. Não tinha notado que esta vestia-se em tons de púrpuro, mostrando a ponta de seus sapatos bege. Os longos cabelos róseos pendiam numa pesada trança, qual se desfazia aos poucos. Uma correntinha dourada caía sobre a pele alva e o tecido do vestido, o pingente era um anel solitário, com a pedrinha num azul claro e límpido. Demorou-se demais observando a peça, curioso em não tê-lo feito antes.

Nada disse, apenas tornou a se erguer e gesticulou para que ela liderasse o caminho. Se for mais uma de suas intervenções em minha vida, a deixarei presa, pensara enquanto a seguia.

Cruzaram o salão principal, passaram pelas galerias ao lado oeste do castelo, todas bem iluminadas e com plantas a ganharem vida nas janelas. Viram a biblioteca e logo em seguida o salão de festividades, qual ainda mantinha o seu lustre gigantesco preso ao teto, cintilando com a luz que vinha do telhado de vidro. Alas e mais alas surgiram ao longo do caminho.

Dobraram para o jardim privado, qual localizava-se ao centro de todo o castelo, cercado por muros altos e em um círculo bem feito de pedra. O carvalho com folhas verdes de uma tonalidade escura erguia-se alto ao centro de tudo. Logo abaixo, uma mesa estava montada e ao redor, próximo das altas vidraças, vasos repletos de rosas que já desabrocharam davam cor ao lugar escuro e sombrio. O Uchiha permaneceu na entrada, observando tudo, mantendo a sobrancelha arqueada.

Haruno Sakura sorria e puxou a cadeira para ele, hesitante, deu um passo na direção da figura feminina. 

— Ainda não é a primavera — ela disse —, mas Ino cedeu-me algumas roseiras já desabrochando — Sakura colheu uma das rosas e a estendeu a ele. — Vermelha. Como prometi.

Ignorou o gesto dela e se sentou.

— Espero que tenha um bom dia, Lorde Sasuke — a Haruno pousou a flor ao lado da taça cheia de água. Fez uma reverência curta e se afastou.

Por um momento achou-se imobilizado, como se uma flecha envenenada o tivesse feito perder os movimentos. Em outra vida aquele espaço fora tomado por cores muito mais vibrantes, preenchidas por uma euforia que no farfalhar da copa da árvore não se encontrava agora. 

Ficou tempo demais apenas olhando, tentando reconhecer que ela fizera um bom trabalho em restaurar o lugar, mas seu âmago dizia-o que não estava certo. Abrir um porta para o passado não lhe soava correto, tinha deixado muito para trás, para de repente tomar dessa taça e se deixar levar pela brisa que vinha com os gestos dóceis e gentis, carregados por uma inocência atrelada à coragem que compunha a jovem Sakura.

Culpa ou diversão?, recordou-se da questão feita por seu maior diabo dias antes. 

Preencheu a xícara com o chá fresco e cítrico. Bebericou e cravou a visão à rosa, vermelha vibrante e se destacando entre o pálido da toalha da mesa. Furtivamente, correu os dedos para a flor e tocou a pétala macia como lençóis de seda. Um mínimo e pouco notável torcer dos lábios poderia ser chamado de sorriso, ainda mais quando vinha de Lorde Uchiha. 

Moveu a cabeça de um lado ao outro, entornando a bebida uma vez mais, sentindo o ácido e quente escorrer pela garganta e aquecer-lhe o frio. Afundado na cadeira, olhou para a direção da Haruno, com a tesoura em mãos e podando as heras que se atrelavam aos vãos da rocha, formando linhas e desenhando na pedra figuras incompreensíveis. 

Reconhecia que deveria estar sentido-se irritado, tão fora de si que tê-la arrastado para as masmorras seria pouco. Sabia que não a devia permitir tanto, mas... Não se pode mudar o passado, pensou de repente e suspirou, e nada a fará sentir-se melhor ou realocar no lugar do que perdeu,

Sakura sorriu ao notá-lo a observando. Desviou o olhar e encheu a xícara uma vez mais.

Ainda que esta jovem se vestisse tão simples, sem adornos para enfeitá-la ou joias a cintilar em contraste à sua pele, negar a beleza que a revestia era negar a veracidade dos fatos. E, quanto mais a olhava, mais notava como as orbes cristalinas e verdes dela o chamavam a atenção. Não sendo o bastante, sua mania de mordiscar o lábio quando pensativa o enchia de curiosidade. Seus sorrisos o irritavam por jamais conseguir segui-los ou prever, tornando-se espontâneos a ponto de jamais saber quando um viria aos lábios rosados. 

Oh, mas o seu ato preferido, era a bravura da pequena. Tomada por uma coragem e força que o surpreendia a cada encontro, Sakura jamais se demonstrava passiva. Quando o irmão desta lhe veio falar sobre ela, havia imaginado centenas de personalidades, todas atadas pela submissão às ordens e sem jamais contestar. Entretanto, ao que ela se opôs a ele tantas vezes, irritar-se era apenas a reação que não conseguia conter dentro de si. Jamais em seus longos anos de vida alguém o tinha feito aceitar ordens. Era sempre ele quem ditava as regras, até ela aparecer.

Com um movimento de mãos simples, a Haruno deslizou poeira pela bochecha vermelha do sol, seus olhos verdes ganharam ainda mais destaque. Fios de cabelos pendiam diante dos olhos dela, Sasuke anotava tudo mentalmente, seguindo-a em seus gestos involuntários e comuns. 

Não, repreendeu-se. Não se deixe levar. Ela não significa nada. 

Levantou-se e caminhou a passos pesados em direção da saída. Agora a irritação o tinha tomado por completo, encontrando-se num cerco em que não iria permitir se formar ao redor dele. 

Sakura é apenas a criada, disse a si mesmo enquanto passava por ela. Não é nada para você. Nada que valha a pena se interessar.

— Já vai? — ela o perguntou, curiosa e fitando intensamente.

Nada disse em resposta. Continuou seu caminho, pisando duro e se enfiando ao longo dos corredores e galerias, retornando à solidão de seu escritório.

 

Com um puxão único, o tecido rubro e espesso que cobria o quadro acima da lareira no salão principal escorregou até o chão, formando um amontoado aos pés dela. Sakura ainda segurava a ponta, enquanto os olhos verdes fitavam a pintura. 

Ela sorriu. 

Um casal estava em pé. Ele usava tons escuros, enquanto o manto ricamente em carmesim pendia-lhe dos ombros. Ao seu lado, uma mulher se mantinha em pé, usando um vestido azul profundo e o colar de pérolas a se perderem em voltas ao seu pescoço, nos cabelos negros uma tiara se enroscava aos fios, ornamentando-os. O homem mantinha as mãos da mulher nas suas, ela sorria adoravelmente e o volume em seu vestido azul destacava a gravidez avançada. O brasão Uchiha era bordado no estandarte atrás, numa torre alta e de vidraças coloridas. A Haruno reconhecera a fachada da mansão. Roseiras vermelhas, a grama verdejante e a grande fonte a funcionar com águas limpas e claras. Não havia visto algo tão belo quanto o que olhava agora. 

Abaixo, no rodapé do quadro, o ano da pintura havia muito se apagado. Mas, ao se aproximar, percebeu os riscos de raspagem, como se alguém o tivesse retirado de propósito. Deslizou os dedos pelo lugar, sentindo os arranhões. 

Fitava o quadro com curiosidade, provavelmente aqueles eram alguns dos ancestrais de Lorde Sasuke. Notava que não era algo recente ou novo, pois o cenário de fundo se espelhava agora num deserto em que a própria Sakura ia trazendo vida e cor.

Desviou a atenção da pintura para olhar para o Uchiha que manteve o livro suspenso nas palmas, conforme descia os degraus vagarosamente e também observava o quadro. Ele parecia surpreso e irritado.

— É muito bonito — a Haruno se prontificou a dizer, antes mesmo dele abrir a boca —, deveria deixá-lo à vista, meu senhor.

— Não.

— Por quê?

Sasuke a olhou com a mesma surpresa de sempre. Ela tinha notado que toda vez que se arriscava em confrontá-lo, questionar ou então agir como se tivesse perdido a sanidade, os olhos escuros dele a contornavam por inteiro, carregados de um brilho que se misturava à surpresa e descrença do que esta estava a fazer.

— Quero isso do modo como estava — o Uchiha disse. — Sem perguntas, ou a mando para as celas — Sakura suspirou e olhou para o quadro. — Não faça isso...

— Isso o quê?

Como se ele não tivesse que ter dito a última frase, o silêncio os acomodou em seus braços. Apenas os olhares se encontraram e ela o viu reprimir-se por deixar seus pensamentos escaparem de modo furtivo, sem tê-los notado a tempo de conter. A Haruno sorriu e baixou a cabeça, mirando os próprios pés. Sentia as bochechas arderem, como em toda vez que o tinha olhando-a da sua forma séria.

— Foi uma ordem — Sasuke soou mais rude que de costume.

Pensou em argumentar e tentar convencê-lo, mas, antes que pudesse dizer algo, Lorde Uchiha tornou a subir as escadas, tendo toda a atenção voltada para o livro. Observou-o até perder de vista.

Ele não deveria ser tão amargo assim, pensou, talvez apenas esteja desacostumado com a organização. A teimosia que a acometia a forçou a jogar o tecido vermelho para longe e se colocar a retirar toda a poeira da pintura.

 

Horas mais tarde, após tanto esfregar o piso de mármore do salão, retirar a camada de poeira da mobília e de desnudar os quadros, Sakura encontrava-se exausta e agradeceu quando chegou à cozinha e encontrou Karin ralhando com Suigetsu. Bolos de mel estavam colocados sobre a mesa junto de uma jarra de leite. Mesmo que não tivesse sido autorizada, serviu-se do frio leite e tomou um dos bolos.

— Oras — o cocheiro resmungou —, por que não grita com Sakura também?

— Ela não tem nada a ver com suas manias de furto — Karin cruzou os braços sobre o peito, segurando a colhe de madeira com ira. — Aviso-o uma outra vez, se tornar a mexer no meu forno, arranco a sua mão e dou aos lobos!

— Seguindo a linha de ameaças que me fez — Suigetsu coçou a cabeça e moveu um dedo até os lábios, pensativo —, acredito que meu corpo todo já tenha dado um excelente banquete aos lobos.

— Ora seu...

— Lobos? — Sakura perguntou, entre uma mastigada e outra.

A ruiva a olhou por sobre o ombro, sorrindo de forma afável. A Haruno prendeu o riso ao notar que o outro se aproveitara da distração para pegar um dos empadões de frango. Ele fez sinal de silêncio a ela, enfiando o salgado nos bolsos e se apoiando no balcão ao lado da cozinheira.

— Na mata há vários — Suigetsu disse, sacudindo os ombros —, são ótimos para caçar e as peles rendem bom ouro.

— Do meu quarto posso ouvi-los uivar a noite toda — Karin declarou. 

— Se me fizer um banquete, trago a pele dos lobos a você.

— Nem que me traga todos os lobos do mundo — a ruiva disse —, farei um banque para você, Suigetsu.

Num único movimento, ela atingiu as mãos ligeiras dele, que iam se dirigindo para o prato repleto de bolos.

— Toque e não terei misericórdia — ela o alertou e então se virou para  a Haruno. — Tem feito um ótimo trabalho com o jardim. Lorde Sasuke me disse que tem admirado a renovação do lugar.

— Ele disse? — Sakura quase se engasgou.

Tentou pensar em Sasuke Uchiha a elogiando pelas mudanças que vinha causando. Ele próprio nada a tinha dito, mas se confidenciara isso à Karin...

Sorriu e limpou os dedos no vestido. Sentia-se completamente satisfeita, em diversos aspectos. Finalmente algo que o agrade, pensou. Mesmo que diga isso em segredo...

— Oh, sim, ele diz — a ruiva sorriu. — Deixarei seu jantar no forno, tenho uma visita por fazer essa noite. Consegue manter tudo em ordem até eu voltar?

— Sim.

Sakura ergue-se rápida, precisaria apenas de um banho e então do jantar quente, para em seguida cair no colchão de penas e... Essa noite os pesadelos não virão. Mas sempre vinham, com a mesma escuridão de sempre, rostos desconhecidos e promessas feitas entre gritos. Todas as vezes ela despertava tremendo, com um frio imensurável.

Deixou-os na cozinha e se enfiou ao corredor, indo para o quarto e banho.

— Por que mentiu a ela, Karin? — Suigetsu perguntou —, sobre Sasuke ter dito algo a respeito do jardim?

— Há segredos que apenas uma mulher esperta como eu consegue descobrir — ela sorriu. — E também, já é tempo de seguirmos em frente, não acha? 

 

Após o jantar que fora servido no solitário e deserto escritório de Lorde Sasuke Uchiha, a jovem Haruno deu por si sem sono e caminhando pelas galerias e corredores do castelo, mantendo nas mãos um candelabro de prata, qual ia iluminando o seu caminho de forma vívida junto dos archotes e lamparinas distribuídos ao longos dos corredores.

Não havia um lugar em mente para ir, mas deu por si indo em direção do jardim privado, com as roseiras em flor. No céu noturno as estrelas cintilavam, adoraria observá-las e sentir a brisa morna do outono a acariciar a face.

Como uma sombra, ia avançando pelo caminho que tornara-se o seu favorito desde então. Pensar naquele espaço e na confissão que Karin a fizera, sobre o Uchiha ter aprovado e a admirar por isso a fez sorrir e sentir uma imensa vontade de correr por todo o corredor, carregada de uma euforia incompreensível a ela. Mas deteve-se.

Começava agora a compreender o porquê dele a ter ficado observando por longos momentos durante a manhã, de uma maneira que a deixava sem modos e curiosa. Porém, Sakura não podia julgá-lo por seus atos expiatórios, ela própria o vinha fazendo sempre que possível. A cada refeição, visita à sala dele ou então quando se encontravam pelos corredores. Jamais deixava de notá-lo, com suas expressões duras e fechadas, preso num universo próprio. Mas, entre tudo isto, seus olhares aparentavam cruzar-se mais do que o permitido, eram atraídos uns aos outros. E ela adorava este gesto simples.

Pensar em Sasuke a fez sorrir timidamente, sentindo as bochechas arderem e ela  levar a mão até o anel que sustentava na correntinha ao pescoço. O anel pertencera à mulher que a ensinara sobre as rosas e que havia feito o papel de mãe por longo anos, até esta cair de cama e encontrar seu fim numa febre cruel. Depois disso, Hikaru e Sakura tinham mudado de casa, ido para junto dos amigos da mulher. O presente em si veio muito antes da morte dela, fora quando completara seus de anos e tivera a melhor nota entre os estudantes da academia.

Pressionou a pedrinha azul contra os dedos, sentindo-a gélida.

Um som veio doce e suave, tocando uma canção composta por flautas e teclas que se harmonizavam, como se ali tivesse um bando de bardos a tocar um lai, sem a voz, é claro. Ainda assim, um rangido se fundia à canção. Curiosa quanto ao som, ela caminhou até a ala de onde este provinha, com a porta aberta e a forte iluminação a romper pelo umbral.

Caminhou até lá, para encontrar uma sala vazia e um gramofone a tocar, girando.

Pousou o candelabro sobre a mesa e se aproximou, procurando por uma vivalma além da sua. E não encontrou. Completamente só e com a música a envolvê-la, Sakura manteve as mão unidas nas costas, andando vagarosamente pelo espaço, sussurrando a música. Não reconhecia a canção, mesmo assim se arriscou em cantarolá-la.

Automaticamente, pegou-se movendo os pés e rodopiando devagar no próprio eixo, fazendo as saias do vestido circularem ao redor. Cada vez mais avançava nos giros, dançando sozinha e sem um passo correto a seguir. Livre e se deixando levar por movimentos que vinham à mente, a Haruno fazia círculos, deslizava de um lado ao outro e, acima de tudo, ria. Estava se divertindo ali, sendo dominada pela sensação de estar sozinha e liberta.

Ria alto enquanto girava e bagunçava os cabelos nesse movimento.

Mas o riso morreu ao se deparar com a figura de Sasuke na porta. Atrapalhadamente, tropeçou e caiu sentada ao chão acarpetado.

— Ai — ela grunhiu ao sentir o impacto. Afastou um mecha de cabelos dos olhos e olhou para a mão dele, que se estendia diante de si, num convite a ajudá-la a se erguer. Acanhada, aceitou, sentindo a textura morna e macia da mão do Uchiha. — Obrigada.

Com um menear de cabeça, ele a respondeu. O silêncio já vinha os seguindo, como se fosse a companhia que falava por ambos.

— Também está sem sono, milorde? 

— O que fazia aqui? — ele a ignorou e perguntou, parando diante dela.

— Ouvi a música e fiquei curiosa — mordiscou o lábio —, e estava dançando...

— Chama aquilo de dançar? — Sakura sentiu as bochechas queimarem ainda mais. Ele sorriu minimante de uma maneira zombeteira. Em seguida, esticou a mão para ela. — Posso ensiná-la.

Relutante, a jovem aceitou o convite e prendeu a palma junto da dele. A mão livre se alocou ao ombro, sentiu o dedos dele se posicionarem em sua cintura. Lançou os olhos para os pés, mas foi tomada por ele, para fitá-lo.

— Não olhe para os pés — o Uchiha sussurrou.

Assentiu e o deixou a guiar conforme a música tocava. De um lado ao outro, em passos medidos e calmos, ambos deslizavam juntos e, hesitante, ela olhava para os pés, fugindo dos olhos escuros.

Concordava que fitá-los à distância era seguro, mas tão próximos e distantes apenas por meros centímetros a parecia perigoso. Você o enfrenta sempre, pensara ela. Mesmo assim teme encará-lo. E isto não era o bastante, senti-lo a segurando rente ao corpo e  a conduzindo, enquanto observava os lábios e o rosto, apenas a deixavam constrangida e dominada pela timidez. 

Ao longo de toda a sua vida, apenas havia dançado duas ou três vezes, Hikaru jamais a quisera ensinar e, por insistência, a acompanhara uma vez no festival. A segunda vez fora em  seu aniversário de quinze anos, onde Jiraya a tomara por mera brincadeira, dizendo que faria o papel de pai por esta ser debutante. Mas, em nenhuma das ocasiões, sentira-se tão acometida por uma sensação afável e desconhecida, a obrigando a ter o coração batendo forte ao peito, enquanto as pernas estremeciam.

Num ato de coragem, olhou para cima, encontrando as orbes negras, quais a olhavam completamente intensas. Pararam antes mesmo da música acabar e assim ficaram, se observando, notando as linhas da face, o contorno dos olhos e da boca. Sakura apertou a mão dele, qual a correspondeu com um pressionar suave. O tempo parecera tê-los parado, enquanto se estudavam e mergulhavam num sentimento tão convidativo, sugestivo ao extremo.

— O que quis dizer — o Uchiha começou a dizer —, quando falou sobre fazermos tolices por amor?

Ela sorriu e manteve-se olhando-o.

— Ah, todos cometemos algo por alguém que amamos — Sakura murmurou. — Mesmo que nos machuque ou... não seja do nosso agrado.

Lorde Sasuke estreitou a visão em direção a ela.

— Quando era mais jovem e vivia com meu irmão, Hikaru, na fazenda da senhora Mei — ela sorriu melancolicamente —, vi-o roubar as moedas de cobre que ela guardava para as flores. Mas, invés de entregá-lo e dizer a verdade, escondi o ocorrido, pois o amo de todo coração. Mesmo ele sendo como é. Hikaru sempre será minha única família, milorde, mesmo que isso signifique que eu deva me machucar e não me sentir bem, pelo amor que sinto por ele, é o suficiente.

Ambos calaram-se e ele nada mais disse. Apenas os olhos se encontraram.

Um passo a mais e já sentia-o respirar próximo, seu peito contraindo e expandindo a cada lufada de ar. Elevou-se na ponta dos pés, para encontrá-lo ao baixar a cabeça, os lábios tão perto e quase selando-se.  Ela fechou os olhos e o sentia roçar devagar.

— Sei que deve ter cometido algo do mesmo gênero — ela sussurrou, sentindo-o tão próximo de seus lábios. — Oh, todos cometemos...

Abruptamente, a canção acabou e Sasuke se afastou, soltando-a. Durante seu gesto brusco, ele enroscou a manga do casaco na correntinha dourado que estivera atada ao pescoço da jovem Haruno. Dando passos para trás, ele manteve o anel na mão, apertando e a encarando com uma sombra de irritação. Pálido, o Uchiha a olhava fixamente, sem piscar.

— Sakura — ele chamou —, saia daqui.

— Sente-se bem?

— Saia!

Teimosa e surda à ordem, se aproximou dele.

— Não chegue perto — disse. — Você não sabe nada sobre mim.

— Milorde — Sakura sentia-se confusa —, não compreendo...

— Saia —  tornou a dizer —, apenas saia!

— Mas...

Irritado, Lorde Sasuke lançou o anel dela ao chão, fazendo o cristal se estilhaçar ao atingir o solo. A Haruno observou os cacos e ao levar a mão ao pescoço, não sentiu-a ali. Lágrimas subiram-lhe ao olhos, caiu ao chão e se colocou a juntar as partes, enquanto soluçava. 

— Por que é sempre tão cruel? — perguntou a ele, que a encarou surpreso. — Por que sempre machuca as pessoas? 

Mesmo que se sentisse paralisado, ele criou forças e a deixou sozinha, chorando.

Mas, no fundo, o que sentia era uma junção de arrependimento. Era a sua vez de colecionar mais uma culpa e de buscar recompensá-la. Porém, como faria, se já tinha tirado algo mais valioso que um mero anel?



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...