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História Cursed Lovers - Ato VIII - Monstro


Escrita por: UchihaKonan

Notas do Autor


Último capítulo deste ano tenebroso. São tempos difíceis, não há como negar.
Desejo-lhes um 2017 gentil, regado por feitos bons e sonhos realizados. Dou o conselho que me deram: tenham paciência e tudo irá alcançar. Usem isso como lema e conquistem o mundo.
Obrigada por tudo até este momento, nos vemos no próximo ano?
Um beijo!

Capítulo 8 - Ato VIII - Monstro


  /MONSTRO                                                                            

Andava de um lado ao outro da sala, sustentando o sorriso de sempre para receber Lorde Uchiha. Sakura acordara mesmo antes da alvorada, com a fina camada de neve a serpentear por sua janela conforme os flocos caíam contra o vidro. Acendera o braseiro da biblioteca e ali ficara, ansiosa por falar com ele. Culpava o silêncio do último mês por se encontrar assim, afogando-se em palavras. E o beijo tinha sido suficientemente quente para deixá-la ainda mais suscetível a pensar nele. A faísca que tentava apagar ia se transformando em uma chama maior, vinda de um interesse em ajudá-lo que agora tomava proporções dramáticas. 

Foi só um beijo, pensou. Mas ela sabia que tinha sido muito mais. Os dedos correram curiosos para o pescoço, puxando de debaixo do manto a correntinha e em seguida o anel de pérola ali enroscado. Alguém importante, Sasuke havia dito. Por que mais ele a daria algo de valor que varria além do comercial, mas o sentimental? Talvez ele sinta algo por mim. O pensamento eclodia a cada passo que dava, o sorriso acompanhava os lábios em seguida, corando as bochechas e tremulando as mãos.

— Lorde Sasuke — ela disse ao vê-lo surgir no corredor, caminhando e fazendo as botas baterem com um som suave ao solo —, já acordou.

O Uchiha demorou um pouco para virar em direção dela, encarando-a com seus olhos escuros e comprimindo os lábios. Ele parecia hesitante, como se a moça o fosse uma ameaça. E o era. Mas não para a vida, para o coração. Os sentimentos que vinham o deixavam atordoado.

— Sakura.

— Ahn — ela fechou os olhos, reprimindo o nervosismo e tentando falar-lhe de forma suave. Queria entender os motivos por detrás de seu ato na noite passada —, sobre ontem...

— Esqueça — Sasuke disse —, não vai se repetir.

— Não, não é isso. Sobre... — mordiscou o lábio. Pensar no beijo era aceitável, mas falar sobre justamente com ele parecia uma ideia terrível. — Você sabe, milorde. 

— O beijo — ele suspirou —, esqueça-o. Foi errado de minha parte.

Ele recomeçava sua caminhada quando a jovem foi atrás, tentando seguir os passos ligeiros dele pelo corredor. Segurando a barra do vestido e iniciando uma corrida, conseguiu alcançá-lo antes de virar para uma abertura. Prendeu os dedos na manga do casaco de veludo de Lorde Sasuke e ele suspirou, fechando os olhos momentaneamente e tornando a abri-los para encarar a moça de bochechas rosadas e respiração levemente alterada. 

— Solte-me, Sakura — ele pediu calmamente, sussurrando as palavras que ecoavam pelo espaço côncavo. 

— Escute, por favor — ela insistiu, agarrando-se ainda mais à veste —, não é sobre... sobre o beijo. É sobre isto — colheu o anel que pousava entre os seios sobre o vestido e o Uchiha olhou-o de soslaio —, não entendo a razão de tê-lo dado a mim.

— Sakura — Sasuke disse, dessa vez grunhindo numa suposta ira que deveria causar na jovem terror. Mas ela continuava esperando-o por uma resposta à sua dúvida. — Me solte. 

E a jovem Haruno não o fez, mas também não tivera tempo. Antes que pudesse deixar os dedos escorregarem para longe dele, o Uchiha a tinha pego pelos ombros e guiado em direção da parede. Colocada de costas à rocha fria, ele a prensava ali, segurando firme em seus ombros finos e delicados. As mãos pesadas dele desceram para os braços, ainda mantendo a força de segurá-la. 

Sasuke Uchiha nada disse, apenas fitou-a e se perdeu nos olhos brilhantes e verdes. Ela entendia que as palavras dele deveriam vir e bater contra a parede de dentes, enquanto ele próprio evitava falar, como se fosse uma maldição. Ela própria sentia um ligeiro frio na barriga, entretanto, não temia as orbes negras. Se não tinha tido medo antes, não seria agora que criaria tal sentimento por ele.

Mediados por uma proximidade tão ou mais oportuna que a da noite passada, vigiavam-se, buscando um no outro uma rota de escape para o momento que os dominava. Sakura adoraria que ele a contasse de suas intenções e talvez explicasse a necessidade do beijo. Ela tinha gostado e em sua mente a vontade de senti-lo de novo possuía vida própria. Mas não se atrevia a admitir em voz alta. E o silêncio do Uchiha murchava essa expectativa. Pensara que após a noite passada haveria mudança no comportamento dele com ela, via agora que tinha se enganado.

— Esqueça isso — ele murmurou —, não entenderia de qualquer forma.

— Então explique-me.

Sasuke comprimiu os lábios e depois os manteve abertos num fino espaço, prestes a dizer algo. Mas seu avanço foi algo melhor. De lábios entreabertos, a Haruno o recebeu, sentindo os dedos dele se afundarem na manga de seu vestido enquanto a boca tocava a sua.

Faminto e ela ligeiramente tomada por ele, fechou os olhos e o sentiu suave e devagar, encostando-a ainda mais na parede de rocha fria. Pensou em diversas coisas, porém, tê-lo beijando-a pela segunda vez era ainda melhor. Aproveitava do instante, tendo-o a segurando, tão próximos e num beijo ainda mais doce.

Ao se separarem, ele ofegava e a olhava como quem tinha cometido um crime. As orbes negras a encaravam duramente, ora culpando-a por seu pecado, ora agradecendo-a por ter aceito. Mas Sakura não sabia, pois ainda tinha o gosto dele em si.

— Isso é loucura — o Uchiha praguejou baixinho, sem soltar da Haruno —, por que faz isso comigo? 

Ela manteve-se calada, recuperando-se do ato e observando-o de perto, anotando cada linha de sua face. Dos olhos à boca. 

— Você é diferente dos outros — ele tornou a dizer —, as pessoas da vila não gostam de mim. Sequer se aproximam. Mas você...

— Eles não podem gostar de algo que não podem ver — Sakura disse, encarando-o ainda mais, enquanto ele tomava expressões de curiosidade.

— Não entendo o que diz.

— Milorde, ficas aqui a vida toda, não se junta ao povo — obstinada ela dizia sem temê-lo, aguentando a força que ele a impunha contra a parede —, não pode esperar que eles o amem se não dá uma visão de sua figura a eles. Se se juntasse aos aldeões, partilhasse de um jantar ou conversa, isso poderia mudar. 

— Sakura, não é fácil como diz — aos poucos ia soltando-a.

— Nada é fácil, meu senhor. Mas transformar em impossível não diminuirá a dificuldade do problema. 

As mãos pesadas e firmes dele soltaram-a por fim. Ela permaneceu na parede, olhando-o caminha em direção da alta vidraça que dava para o exterior do castelo. Com o vidro embaçado e impedindo a visão, Sasuke deslizou a mão pelo vidro e abriu uma brecha para o mundo lá fora. 

De costas, Sakura não sabia dizer o que poderia estar passando pela mente dele nesse instante. Dessa forma, deu um passo adiante e se pôs ao lado do homem, sentindo o perfume que tanto a inebriava os sentidos. Com a mão apoiada na pedra da parede, ele espiava o cenário do jardim, onde mesmo com a queda de neve as roseiras deixavam uma ou duas pétalas escaparem e destacarem-se ao branco. Apoiou a própria mão à dele, sentindo-o gelado, enquanto ela ardia.

De esguelha, o Uchiha a observou. Acariciando a mão dele, esquecendo-se de todas as recomendações anteriores feitas por ele de não tocá-lo, Sakura tentava sentir o que ele sentia, adivinhar os pensamentos que deveria cruzar aquela mente solitária e distante.

— Posso ajudá-lo, se quiser — ela sussurrou —, deu-me algo. Hikaru ensinou-me que sempre se deve retribuir um presente. 

Não obteve resposta, apenas o teve movimentando os dedos juntos aos dela e desviou o olhar, indo em direção do vidro que outra vez embaçara. 

— Posso levá-lo à vila e apresentar a algumas pessoas. Sei que o vão tratar bem, milorde — também movimentou os dedos contra os dele. — Estarei ao seu lado, não deixarei que nada o aconteça. 

Os cabelos negros caíram na face dele, ocultando qualquer reação visível por ela. Mesmo assim, ele não xingou ou a deixou falando sozinha, como na maioria das vezes. 

— Me deixe fazer isso por você, Lorde Sasuke.

Uma mecha de espessos cabelos escuros ocultavam um dos olhos quando o Uchiha tornou a olhá-la. A Haruno sorriu, soltando da mão dele e indo em direção do teimoso cabelo. Mas Sasuke se afastou do toque, segurando o pulso da moça antes de ela completar o que pretendia.

— Por que quer fazer isso? — ele a perguntou. — Foi-me vendida para ser uma criada. Vendida — ele reforçou a palavra —, deveria me odiar.

— Talvez — Sakura inclinou a cabeça sobre o ombro e o observou —, mas não consigo.

Pela primeira vez o confessara algo íntimo demais. O fato de não conseguir odiá-lo a tinha sido o começo de todo o silêncio. Se sentir antipatia não era possível, ignorá-lo parecera mais aceitável e fácil de se realizar. 

— Vá se trocar — ele disse por fim, quebrando o silêncio e soltando o braço da Haruno —, iremos até Konoha.

Antes mesmo que pudesse agradecê-lo pela decisão ou então sugerir o que poderiam fazer na vila, ele saiu a passos pesados, desaparecendo no corredor. Ainda assim, era um começo e tanto.

Suigetsu entrou na cozinha tremendo, mesmo que fizesse uso de um espesso manto.

— Sente-se, preparei um bolo — Karin disse, puxando-o em direção da mesa.

Mesmo que estivesse intrigado, deixou-se levar por ela, até se sentar e a mulher começar a encher a mesa com doces, pães e xícaras. O chá aparentava estar quente, o que lhe era mais do que bem vindo. Instantes antes estivera no estábulo, sentindo o frio se prender aos ossos. Agradeceu quando pôde voltar ao interior quente e agradável. Inverno nunca fora sua estação preferida, o verão tinha a ele um aspecto melhor, favorável em diversos sentidos.

Observando a mulher de cabelos ruivos servi-lo, não podia deixar de se perguntar por qual razão esta resolvera tratá-lo bem. Viviam sempre a discutir, discordar de tudo e se tornarem mais inimigos que amigos. Mesmo que a convivência não fosse algo recente, anos e mais anos somavam-se, multiplicavam-se e se tornavam uma cálculo longo demais para a mente. 

Karin encheu a xícara dele até a borda, a fina camada de vapor subia e aquecia-o o rosto.

— Se estiver envenenado, não funcionará — ele disse.

— Não seja estúpido — ela replicou —, aparentemente, você estava errado desde o início. 

— Sobre o quê?

Levou o líquido fervente aos lábios, aquecendo-se por completo após um frio terrível. Melhor que aquilo seria somente a cama e uma lareira bem acesa em seu quarto. Quase sentia o toque dos cobertores.

— Sabe bem, Suigetsu, não seja tolo.

— Ah...

Outra dose do chá e compreendia então o motivo do banquete a ele. Desde que entendia sobre sua pequena e considerável condição de vida, ele já havia desistido de crer que haveria uma alternativa para se ver livre disso. Quantos anos tinha até então? Não havia contado-os, sentia desnecessário, afinal, teria muitos e muitos para contar. E os números também não o agradava, exceto pelo ouro. Mas diferente dele, Karin buscava sempre uma solução para o problema. Tentara explicar a ela as vantagens de não se ferir e de poder ter uma vida longa. Eterna, dissera o homem de casaco preto e cabelos com sinos de prata. 

Alguns anos antes, quais ele não contara, a mulher tinha descoberto uma possível solução. Não a perguntara como o fizera, mesmo assim, isso a tinha sido suficiente para encher de esperança. Algo que nessa altura de suas vidas já tinha que estar dissipada, transformada em nada. Viver para sempre, ele suspirou pensando, que tolice desperdiçar isto.

Mesmo Karin parecia disposta a ir até o fim com seu plano. Sakura seria uma ótima escolha, ela o tinha dito. Na possível solução dela, se Lorde Uchiha encontrasse seu amor verdadeiro, estariam todos livres da maldição. Mas quem garantia que seria a Haruno? Tantas outras fracassaram da mesma forma.

— Isso é tolice, Karin — Suigetsu murmurou, o que atiçou a ira dela. A mulher tomou a xícara das mãos dele e bufou, cruzando os braços sobre o peito. — Ei, o que houve com a cortesia?

— É mesmo estúpido, não é? 

— Não pode me culpar por ser mais esperto que você! — ele disse alto —, gosto dessa condição. É cheia de vantagens, deveria tentar ver por outro ângulo. 

— Você não entende — a ruiva suspirou —, mas ainda que não  faça, estaremos livres disso até o fim do ano.

A mulher o deixou sozinho. 

Gostaria de poder entender o problema de Karin a respeito de tudo, mas o aparentava ser difícil demais. Dessa forma, permaneceu sozinho, com o pequeno banquete montado. Nunca fora de recusar nada, por isso aceitara a oferta do homem, o tinha sido vantajoso, afinal. Entretanto, se tivesse que  se livrar disso, talvez não fosse assim tão favorável. Não posso deixá-la tirar isso de mim, pensou, tenho de fazer algo também.

A estrada serpenteava à frente. Coberta por neve, as folhas que outrora se prendiam aos galhos agora já não existiam, e se existiam, estavam pálidas e quebradiças. Trotando devagar e atrás de Lorde Uchiha que ia sempre à frente, afastado da coluna de guardas para escolta, Sakura o observava cavalgar com seu corcel negro como a noite. Ele aparentava a ela estar livre. Como havia sido da vez em que ambos tinha ido juntos e sozinhos à vila, Sasuke ia rápido e então esperava-os. Mas a Haruno corava ao notar como ele a observava por baixo do capuz repleto de pequenos flocos brancos.

Quando ele parava para esperá-los, a Haruno desabrochava-o um sorriso. Obviamente que o Uchiha não a correspondia, mesmo assim ela o fazia e entendia que com o girar da face para outro lado, ele tinha notado. 

Dessa vez Lorde Sasuke trouxera uma escolta de guardas do castelo. O rapaz de cabelos alaranjados ia junto do Uchiha, um pouco atrás, outrora na frente. Falava algo que à distância a moça não ouvia, mas o senhor concordava ou fazia seus próprios comentários. Um ruivo, com uma marca diferente na testa ia ao meio, enfiado num manto pesado e que parecia quente. Este nada dizia, vez ou outra assoviava para um pássaro. Ao lado da Haruno, Kakashi, o qual vivia por olhá-la de canto ou então de cara amuada e irritadiça, mantinha-se calado e vigiava-a de esguelha. Atrás da coluna, o homem que na noite passada atirara o pássaro dourado ao voo cantarolava ou então tocava uma pequena flauta.

Entediada pelo silêncio, segurou a velocidade de seu cavalo para se aproximar dele. Os olhos azuis dele cintilaram e um sorriso surgiu.

— Como fez aquilo? — ela o perguntou.

Deidara arqueou a sobrancelha e ao que ela gesticulou as faíscas coloridas com as mãos, ele sorriu e inclinou a cabeleira loira ao ombro. Tinha nele um ar de satisfação.

— Parecia magia — Sakura murmurou.

— Não é magia, apenas arte — o homem disse —, é um truque que aprendi, jovem senhora. O seu senhor foi bondoso em dá-la uma visão daquelas.

Instintivamente olhou para a figura de Sasuke que ia distante, sem olhar para trás. Um novo sorriso veio aos lábios Não entendia o motivo dos feitos dele, pensara que o anel e o beijo tinham sido os únicos acontecimentos, mas não esperava que a noite sendo invadida por milhares de cores e faíscas, como se as estrelas se partissem diante de seus olhos também fosse um ato dele. Por quê? A pergunta ia e voltava em sua jovem mente.

— Deixe-a em paz, artista — Kakashi resmungou, se colocando ao lado dela —, a moça não precisa de conversa fiada. Venha, Sakura.

— Fui eu quem o chamei para conversar — a Haruno disse, abandonando o sorriso e fitando duramente o guarda. — Não deveria se intrometer. 

— Moça, tenho ordens para escoltá-la — ele disse, irado —, então se puder avançar com seu cavalo e evitar tagarelar, agradeço-a.

Bufando, a Haruno bateu os pés na sela e fez com que seu cavalo ganhasse mais velocidade. Cavalgando rapidamente, passou pelo ruivo, que se calou e a observou passar como um raio. Instantes depois e ouviu Kakashi gritar qualquer coisa, ele também fazendo o cavalo ir rápido, mas não o deu ouvidos. 

Parou só quando alcançou Sasuke, que curioso a olhou por sobre os ombros, para em seguida tornar a ignorá-la. Mas entendia o porquê dessa vez. 

Os portões da vila de Konoha estavam abertos, como de costume, exceto que agora alguns guardas marchavam de um lado ao outro, com  a mão apoiada no cabo das espadas durante a ronda. Viu naquilo uma certa estranheza, pensou que talvez fosse o inverno rigoroso que viria e o medo dos aldeões de que bárbaros se aproveitassem para se instalar ou atacar o vilarejo. 

Ao atravessarem o arco da entrada, Lorde Uchiha acenou aos guardas que fizeram uma reverência curta, em mero sinal de respeito. A Haruno sorriu minimamente, imaginando que ele se sairia bem ao falar com os outros. Tinha uma lista boa de pessoas da vila que ele deveria conhecer, para que ficasse bem falado e fosse aceito.

Saltou da sela rapidamente, ajustando o manto ao corpo e impedindo que o vento entrasse por qualquer fresta. A praça do mercado estava lotada, mesmo com o frio que fazia e a promessa de tempestade de neve. Mas dessa vez não eram frutos doces e de cor vibrante que enchiam as bancadas, agora vinha os peixes salgados, verduras para caldos e uma infinidade de peles tingidas de diferentes animais eram estendidas para venda. Também o populacho estava diferente, cobertos por mantos e casacos bem fechados e forrados, com luvas a aquecer as mãos.

— Podemos ir para o boticário da senhora Tsunade primeiro — Sakura disse ao se aproximar do Uchiha, que mantinha as mãos acariciando o corcel —, ela faz um chá dos sonhos doce. Gostará de provar, milorde. 

Ele assentiu e entregou as rédeas para o rapaz de cabelos alaranjados. Juugo, ela se recordou. 

Atravessaram a multidão que gritava pela venda de seus produtos, também pelas pessoas que conferiam os mercados e iam se enfiando ainda mais entre todos, se perdendo. Caminhava ao lado do Uchiha, notando como ele parecia apreensivo e a forma como os olhares das pessoas na direção dele continuavam iguais: acometidos por desprezo e terror. A Haruno tentou ignorá-los, mas se tornava cada vez mais difícil. Enquanto andavam, uns desviavam do caminho. E Sasuke notava a reação de todos.

Ligeira, se aproximou um pouco mais de Lorde Uchiha.

— Não ligue para os olhares — sussurrou —, apenas não estão acostumados a vê-lo.

— Não é novidade eu vir ao vilarejo, Sakura. Sei reconhecer o medo e desprezo quando vejo.

— Sempre vem à vila? — perguntou e ele encolheu os ombros. Tomada por um desconforto, a jovem engoliu em seco a ideia que relampejou em sua mente de instante. E se ele tiver uma amante? As bochechas arderam, fazia todo o sentido. Afinal, por qual razão iria ele querer ter vindo sozinho da outra vez, recusando até mesmo a companhia dos guardas? — Não me importo se quiser ir visitá-la. Posso esperar.

Os passos do Uchiha cessaram e ele a encarou, desconfiado e sem compreender a questão. Arqueou a sobrancelha e a olhava, esperando a explicação.

— Sua... — mordiscou o lábio e corou —, se quiser ir visitar a sua... sua amante.

— De onde tirou essa ideia? 

— Bem, é que... eu pensei que... ah... — sacudiu a cabeça —, apenas pensei que um homem como você, milorde...

— Não tenho uma... amante — na boca dele a palavra soou com gosto amargo. — Esqueça e vamos logo com isso.

Assentiu e o guiou para mais adiante na praça, que agora já não estava mais tão lotada. O letreiro da taberna se sacudia devagar, com bêbados a cantarolar na frente. Algumas coisas nunca mudam, ela pensou enquanto passavam pela construção. Coração Gelado era o bar mais requisitado da vila, não era atoa que Jiraya tornara-se rico. O que mais dava dinheiros se não bebidas e homens dispostos a pagar? 

Pensou em entrar e dar um olá ao irmão, mas não o faria estando junto do Uchiha. Hikaru seria a última pessoa que Sakura gostaria de apresentar a ele, mesmo que ambos já tivessem se falado, a ideia dele agora querer encontrar um outro assunto a apavorava por inteiro. O irmão jamais tivera as melhores ideias, então seria bom evitar o lugar.

— Lorde Uchiha! — a voz chamou, forçando-os a parar e olhar em direção da voz.

Um homem com cabelos pálidos como ossos chamou, sorrindo e se aproximando. De sua toga de lã pendia um medalhão que a Haruno não reconhecia, mas fez Sasuke arquear a sobrancelha. 

— Sou Hidan, se prouver, senhor — ele disse, fazendo uma reverência. — Sua visita ao vilarejo não podia ser mais propícia. Tenho uma forja e gostaria que visse o meu aço, pode ser que aprove que eu faça armas aos guardas que cedeu para nos defender. 

Sakura olhou para o Uchiha, que aparentava estar perdido. Aproximou-se dele e o olhou, acenando devagar com a cabeça, indicando a ele que fosse. Não era o começo que ela havia planejado, mas era uma começo bom. 

— Vá — sussurrou a ele —, esperarei por você, milorde.

Sem olhar para trás, Lorde Sasuke seguiu o ferreiro, optou por não ir com ele, se iam tratar de negócios era melhor que ficasse por ali, rondando o mercado. Ao vê-lo entrar no casebre, onde uma forja ardia vivamente na varanda, sorriu e girou nos calcanhares, pronta para fazer um passeio por si só. 

Os guardas que os tinham acompanhado estavam na porta da taberna, conversando com alguns homens. O único que a notou passar fora Kakashi, que a observou de canto e parecia desconfiado, mas ela o evitou, desviou do caminho dele e se enfiou por outro lado, próxima das lojas de poções e artefatos únicos. 

Começava a se interessar por um par de sandálias, quando ouviu a voz rouca que tanto conhecia. Procurou pela multidão e encontrou, escorado numa escada, Hikaru, seu irmão. Ele segurava firme uma garrafa de rum. Ao vê-lo bêbado e com as vestes manchadas tanto por sangue seco quanto pela bebida, não pode evitar de revirar os olhos e caminhas até ele, que ao notá-la, sorriu de canto e levou a garrafa parcialmente vazia aos lábios. Realmente algumas coisas não mudam, pensou.

— Lorde Sasuke trouxe-a para passear, querida irmã?

— Hikaru — deu um passo na direção dele, para ajudá-lo a levantar —, ainda se embebedando? Espero que não tenha gasto todo o ouro.

— Ah, não — ele resmungou —, e se fizer cobrarei do Uchiha por tê-la. Já se enfiou na cama dele, Sakura? Seria bom se fizesse, um filho e teríamos uma vida boa.

Suspirou pesado, evitaria aquela conversa de bêbado com o irmão. Passou os braços dele ao redor de seu pescoço e mesmo com as pernas tropeçando ele se apoiava nela, caminhando lentamente. O peso dele a tinha se tornado nada, diversas vezes havia feito o mesmo trajeto o carregando até Jiraya.

— É bom te ver também, Hikaru.

— Sabe, sempre achei que fosse tola, querida irmã — ele atirou a garrafa para longe, qual se estatelou contra a rocha se partiu-se. Assustou algumas pessoas desprevenidas, mas estas ignoraram-os. — Mas foi bom ter trazido Lorde Sasuke para a vila. Iam mesmo mandar alguém capturá-lo. 

— O que quer dizer com isso? — parou de súbito, encarando o irmão que sorria.

— Ele é um demônio, Sakura. Todos o querem morto. Que momento mais oportuno senão esse, que ele está na vila? — o coração da moça batia rápido e a forçando a respirar ainda mais ligeiro. — Hidan dará conta, tenho certeza. Fogo mata bruxas, por que não um demônio?

A camada de fumaça cinzenta que subia aos céus alertou-a como nunca. Se desprendeu de Hikaru, abandonando-o a uma breve queda, mas qual ele se apoiou e ficou engatinhando no chão.

— Ai — ele grunhiu —, não poderá fazer nada, Sakura! Deixe-o morrer!

Ignorou os gritos de Hikaru. Correndo por entre a multidão que agora se reunia ao redor de onde fora a forja, ela via que se tornava impossível de se aproximar. As pessoas do mercado agora voltavam os olhos para as labaredas que lambiam a madeira do casebre. De tocha na mão, viu mesmo que de longe, o homem de cabelos pálidos atirar mais fogo na construção. Também viu os guardas do Uchiha por perto, talvez ele estivesse em segurança.

Mas ele estava lá dentro, algo em seu interior gritava que Sasuke estava lá, sendo queimado. Entretanto, era a sensação de ser culpada por isto que a tomava por completo. Se eu não tivesse convidado. Se não tivesse insistido...

Cotoveladas a atingiam, mesmo assim Sakura não os sentia, a necessidade de chegar logo na porta da construção a dominava. Poderia derrubar aquilo com ajuda dos guardas e então resgatá-lo, poderia...

Não enxergava nada ao redor, a pressa misturada com o medo de perdê-lo e ser a culpada de sua morte a deixava cega. Se enfiando entre as pessoas, empurrando e se esquivando automaticamente, apenas ia na direção do fogo que agora já estava mais intenso e transformara o telhado de palha em cinzas grotescas e retorcia a madeira, fazendo-a estalar. Os olhos dela marejavam, tanto pela vontade de chorar quanto pela fumaça nauseante. Ao que os braços a tomaram o corpo, foi segurada e sentia o calor tórrido em sua pele.

— Sasuke! — ela gritou, sendo segurada por Kakashi —, Sasuke! Por favor... não... Sasuke!

Tentou lutar contra a força dos braços do guarda, tentando se soltar dele, mas o homem era mais forte maior. Esperneava, gritava e chorava. A cada faísca que subia e estourava na atmosfera ao redor, imagens vinham na mente dela, podia vê-lo morrer aos poucos, a pele estourando em bolhas e virando cinzas.

— Tire-o de lá! — gritou para Kakashi —, salve-o, por favor... Sasuke!

— Não temos mais tempo — o guarda disse. — Tentamos invadir a construção mas a fumaça é forte.

Outra vez tentou se soltar dele, mas então o guarda impunha mais força para contê-la.

— Pare, Sakura! — ele gritou —, não queremos outra vítima. 

— Sasuke...

Já não havia mais forças para gritar, as lágrimas a cegavam mais ainda e já estava prestes a desistir de lutar contra os braços de Kakashi, quando o barulho de explosão a trouxe de volta ao momento. 

Olhando para a porta, Sasuke Uchiha respirava ofegante, tendo as roupas queimadas em diversos pontos, escuras pela fumaça. O rosto sujo por cinzas o tornava uma visão terrível, mas seus olhos pareciam ainda mais cruéis que antes. Furioso, esta era a descrição exata. Caminhando pelas chamas como se estas não fossem nada, ele deixou a construção que se tornava cinzas.

O populacho calou-se e os olhos de todos tinham a expressão de terror bem definida. Alguns se ajoelharam, outros fugiam pelos cantos. Houve até quem gritasse por misericórdia, mas Lorde Sasuke ignorava a todos. Seus olhos negros agora já pareciam vermelhos, talvez fosse pela fumaça que os irritava. Ainda assim, ele realmente tomava a forma monstruosa. E seu grito confirmou.

A voz ecoou por todo o espaço, arrancando lágrimas de todos.

— DEI TUDO A VOCÊS — a voz dele rugiu —, CEDI GUARDAS PARA DEFENDÊ-LOS DE BÁRBAROS E DOS LOBOS! PARA QUÊ? SE NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE TENTAM ME MATAR?

Vozes de súplicas por perdão vieram de todos os cantos, além das chorosas e gritos aleatórios.

— MATAREI A TODOS POR ISSO — ele gritou, puxando a espada do cinto e dando um passo adiante. — NÃO ME IMPORTO DE GOVERNAR CINZAS! FIZ UM CONTRATO POR VOCÊS TODOS! MAS AGORA VEJO QUE ESTIVE ERRADO!

E Lorde Uchiha vinha, alterado e  armado sobre a multidão. Libertando-se dos braços de Kakashi, correu até Sasuke e o segurou ao peito, recebendo as orbes escuras para si, furiosas e ele próprio tremulando com ira. Ele a encarava, com os lábios comprimidos e respirando rápido, fora de ritmo.

— Não — ela sussurrou —, por favor, não faça isso, milorde — o pedido não veio acompanhado de lágrimas, mas sim do olhar que sempre o dava, calmo e doce. Ele pareceu entendê-la. — Não seja o monstro que dizem que o é — ela murmurou, segurando-o e fitando seus olhos escuros. A ira ia se esvaecendo e, naquele momento, confirmou o que já sabia desde o início: Sasuke é apenas um homem solitário cuja a raiva tornou-se companheira.  Por favor, milorde, faça isso por mim.

Já não havia mais raiva para ele, ainda que segurasse a espada, Sasuke cedeu ao pedido dela. Porque além da raiva, agora ele compreendia a razão pela qual ela era diferente dos outros.

 





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