História Dad? - Capítulo 48 - Resgate - Parte 2

Lucy

Eu, Anny, Noah, Kelsey, e Jeremy estávamos sentados um do lado do outro. Todos em silêncio, porque a dor que estávamos sentindo era mais forte.

Fazia pouco tempo que o diretor tinha vindo e levado o Mattew para algum lugar. Espero que ele fique bem...

Do meu lado esquerdo, Kelsey choramingava de vez em quando. Do lado direito, Anny nem se mexia.

Estava tudo muito quieto para ser verdade. Foi aí que descobri que tinha alguma coisa acontecendo.

-Não está muito quieto? –Noah perguntou. Ele também percebeu.

Eu ia responder, mas então começamos a ver pessoas correndo para lá e para cá.

Ninguém tinha forças nas pernas para levantar e ver o que era.

Foi então que escutamos barulhos estranhos. Demorei para identificar que eram como os de tiros, que vi em muitos filmes.

Senti que a Kelsey começou a tremer.

-O que foi Kelsey? –Perguntei baixinho para ela.

-Eu quero a minha mãe! –Ela disse chorando e tremendo.

Me virei para Anny, mas ela continuava estátua.

-Anny você está bem? –Toquei nela e vi que ela tremeu de leve.

-Ninguém aqui está bem. –Jeremy disse.

-Tá, mas ela tá muito branca... –Mattew disse tocando no ombro da Anny.

-Deixem ela quieta gente. Ela ficou naquela sala mais do que nós. –Noah disse.

Isso era o que mais me deixava furiosa. Eles sempre castigavam a Anny por mais tempo. Como se ela merecesse sofrer mais.

Na verdade, eu queria que tudo explodisse agora. Me sinto egoísta, mas dói muito.

Eu queria ver meus tios, meu pai e a minha mãe. Naquele momento eu só queria abraçar eles.

Acabei me lembrando do dia que nós tiramos nossa primeira foto em família. Foi no acampamento.

“-Vamos tirar uma foto! –Tio Harry disse saindo da barraca, com uma câmera na mão.

-Mas tio Harry, estamos sujos! – Noah disse tirando lama das pernas.

-Ninguém mandou vocês se jogarem na lama! Né, papai?! –Perguntei debochada para meu querido pai, que tinha lama até no rosto.

-Vem aqui me dar um abraço pirralha. –Ele disse vindo na minha direção.

-Nem pensar! –Sai correndo dele.

No fim ele acabou me pegando no colo e minha roupa ficou parecendo um cocô.

Mas tiramos nossa foto sujos mesmo. Anny estava mais suja que eu. Tinha lama em quase todo rosto.

A foto ficou engraçada, mas muito linda. Nossa primeira foto em família. ”

Não percebi, mas a Anny tinha se mexido enquanto eu estava nas minhas lembranças.

Ela tinha se deitado no chão e fechado os olhos. Estava dormindo... eu espero.

Se passaram alguns minutos e o diretor apareceu no lado de fora da nossa cela.

-O que vocês pirralhos fizeram? QUEREM MORRER? –Ele disse, gritando e se cuspindo.

-Não fizemos nada! –Kelsey disse chorando.

-O único que faz coisas ruins aqui é você! –Noah disse para o diretor.

-Ah então é assim? Ninguém vai admitir? Joseph, pegue a loirinha. –Ele disse para o vice-diretor.

-NÃO! NÃO VOU DEIXAR! –Eu fui para a frente da Anny, em posição de defesa.

Eles praticamente me ignoraram e abriram a cela. Se aproximaram lentamente. Tempo o suficiente para o Noah vir e ficar na minha frente.

-Vai ter que passar por cima de mim! –Noah disse.

-Você que pediu, pirralho. –O diretor disse rindo debochado.

Ele pegou o Noah pelo braço e tirou ele do caminho. Fez a mesma coisa comigo, só que com mais força. Eu e o Noah acabamos no mesmo lugar.

O diretor estava indo pegar a Anny, quando ouvimos um barulho muito alto e logo depois vimos fogo.

A sala de tortura estava pegando fogo! Mas eu só conseguia ouvir um zumbido. Era como se o mundo estivesse ficado mais lento.

De repente o fogo estava quase chegando em nós. Não tinha saída. Porque tinha fogo em todos os lados.

Me senti mal por ter desejado que tudo explodisse.

O zumbido parou e pude ouvir os gritos do vice-diretor, quando o fogo chegou nos pés dele.

-ANNY! ANNY! ANNY! –Eu e Noah berrávamos para ela acordar. Mas estava muito cansada.

-Kelsey para de chorar! Jeremy vem ajudar! –Eu gritei para eles.

Estava um caos. O diretor já tinha fugido dalí, tentando se salvar do fogo. Kelsey só chorava e Jeremy estava parado olhando para o nada.

-Vamos colocar a Anny nas minhas costas. Vamos tentar sair daqui antes que piore! –Noah disse se agachando.

Jeremy veio me ajudar a colocar a Anny nas costas do Noah. E Kelsey finalmente parou de chorar.

Noah se levantou e nós também. Saímos da cela e tudo estava coberto de fogo. Porém o lado esquerdo, que era o caminho para sair do porão, tinha menos fogo.

-Temos que correr bem rápido! –Jeremy disse.

Noah foi o primeiro. Jeremy logo depois. Eu estava indo, mas então vi que Kelsey estava hesitando. Peguei a mão dela e praticamente a arrastei junto.

Enquanto corríamos, nossas pernas esquentavam. Era uma sensação muito estranha e muito quente.

Conseguimos sair do porão, mas estava muito pior a situação fora. Não tinha como passar pelo fogo, nem correndo.

-E agora? Corremos para nada? –Jeremy perguntou.

-Aposto que tem pessoas vindo ajudar. Vamos ter esperanças! –Tentei ser otimista.

Kelsey se jogou no chão e começou a chorar. Meu Deus, estou quase batendo nela...

-Chorar só vai pior a situação... –Anny disse com a voz falhando.

Estava ficando difícil de respirar. Eu estava tapando meu nariz, comecei a tossir. Todos começamos.

Me sentei no chão também. Não tinha o que fazer.

-Ei idiota, deve ser menos doloroso morrer sentado... –Anny disse tossindo e com uma voz baixa.

-Nós não vamos morrer! Vira essa boca para lá, loirinha pessimista. –Noah disse.

-Sou realista. Diferente de você, né meu querido?! –Anny quase não conseguia falar, mas continuava forçando.

-Anny fica quieta! Você não pode ficar forçando a voz! –Noah disse se sentando.

Eu ajudei a Anny sair das costas dele e sentar no chão. Ela sentou do meu lado e deixou a cabeça descansar no meu ombro.

-Cadê aqueles velhotes? Está ficando tarde! –Noah reclamou.

-Eles estão vindo. Estão sim. –Eu estava sendo otimista demais, mas quem liga?

Respirar não era uma coisa fácil. Prender a respiração também não. Anny já estava desmaiada no meu lado. Noah estava quase. Kelsey e Jeremy estavam com os olhos quase fechados.

Meus olhos estavam quase fechando, quando eu vi pessoas com roupas estranhas correndo até nós.

E então as pessoas chegaram perto de nós e começaram a nos chacoalhar. Foi estranhamente uma sensação boa. Porque eu sentia que era quem eu mais esperava. Papai.