Harry não foi em casa nenhuma vez na semana e pela primeira vez em meses (pelo o que meu pai teve o prazer em me contar) faltou ao jantar da sexta-feira. Até mesmo o Fill tinha ido, dessa vez levando Louise. Ele contou que Harry tinha um encontro e riu quando eu perguntei se era com a Erie, "Ele não tem coragem de falar com ela desde o dia que a beijou" me contou. Eu o perguntei quando o primeiro beijo tinha acontecido e descobri que tinha sido dois dias antes do nosso quase-beijo.
Dois dias.
Por mensagem, Harry me respondia com monossílabos, dando desculpas sobre não poder me encontrar, quando o perguntei sobre o encontro, ele nem mesmo se deu o trabalho de responder.
"Harry cancelou comigo, não vamos andar de moto" ouvi meu pai falando no sábado de manhã. Tinha acordado excepcionalmente cedo com a esperança de encontra-lo. Quando domingo chegou, eu cansei do silêncio.
Me arrumei e fui decidida até minha mãe que tomava seu café da manhã tranquilamente.
- Acabei de fazer café, querida. - ela disse sorrindo, enchi minha xícara e parei em sua frente.
- Mãe, eu preciso ver o Harry. - disse com seriedade.
- Ah, querida, eu também sinto falta dele, mas o coitado está tão ocupado esses dias que...
- Agora, mãe. - cortei-a. - Eu preciso o ver agora. Onde ele mora?
- Margarida, é cedo ainda. Nem mesmo sei se ele acordou e...
- Mãe, por favor. - implorei, pronta a me jogar de joelhos se fosse preciso. Por sorte, minha mãe não parecia disposta a discutir comigo.
- Eu te levo.
Menos de meia hora depois já estávamos na frente do prédio que Harry morava. Para a surpresa de ninguém, era o mesmo do meu irmão. Dois grandes idiotas.
Por ter ido lá dias antes, meu nome já estava liberado na recepção. Somente subi para o andar que minha mãe disse que Harry morava e logo estava apertando a campainha da sua casa. Depois de dez minutos ainda esperando para ser atendida percebi que realmente era muito cedo para aquilo, mas não iria desistir agora. Mais alguns minutos depois e a porta, finalmente foi aberta com certa brutalidade. Harry parou, seus olhos não se passando de fendas para conseguir me ver com toda a claridade. Seu cabelo jogado para todos os lados, os cachos amassados pelo o travesseiro.
- Muito. Cedo. - falou encostando na porta. Se ele ficasse ali mais alguns segundos voltaria a dormir.
Harry usava somente calças de pijama que estavam baixas deixando a mostra sua cueca. Seu peito estava a mostra e eu me forcei a não olhar muito aquela parte do seu corpo.
- Posso entrar ou terei que ficar aqui te vendo dormir de pé?
Ele abriu caminho para mim e ficou mais alguns segundos parado até ter coragem suficiente para se mover. Seu apartamento, como o escritório, tinha paredes brancas, mas daquela vez não tinha quadros de bandas pendurados, mas sim uma parede inteira feita de estante para guardar cada cd que Harry tinha. E eram muitos. Eu nem mesmo sabia se já tinha escutado aquele tanto de músicas, ainda mais completos. Tudo era limpo e arrumado. O sofá de couro preto estrategicamente posicionado de frente a televisão, o tapete tendo o tamanho perfeito para a mesa de centro. As decorações eram pretas e todos os móveis eram de mogno.
- Você tem o apartamento mais legal de todos. - elogiei, Harry contudo não parecia me ouvir ao se jogar no sofá de barriga para baixo para grunhir.
- Por que você está aqui tão cedo? - choramingou. - É domingo.
- Você sabe exatamente o que eu estou fazendo aqui. - acusei. - Se não estivesse me evitando eu não teria te acordado cedo em um domingo. E, de verdade, cancelar com o meu pai para não me ver? Isso foi tão cruel e infantil. Ele ficou devastado, você sabe que é o filho preferido dele, seu insensível.
- Não sei se continuaria sendo o filho preferido se ele soubesse o que eu quis fazer com a filha dele. - Harry grunhiu com a voz rouca e baixa. Sentei-me na poltrona sabendo que minhas pernas não aguentariam mais de pé depois te escutarem aquilo. - Estou evitando o seu pai também, eu não sei se consigo o olhar. Sinto que o traí. Até mesmo com o maldito do seu irmão. Você me estragou. Por isso que eu estou te evitando.
- Eu te estraguei? - revirei os olhos. Por dentro, tudo mexia. Eu me sentia próxima a um desmaio. - Não fiz nada para você, Styles.
Ele riu sem vontade e virou para me olhar, sentando-se na ponta do sofá. Forcei-me a não olhar a forma que seus músculos da barriga se contraiam com o movimento.
- Você voltou. - falou subitamente com uma frieza que não lhe pareceu comum. - Foi isso que você fez.
Esperei por uma explicação que nunca aconteceu. Revirei os olhos e grunhi, me afundando na poltrona.
- Você me odeia? - perguntei quando tive coragem, Harry voltou a se jogar no sofá, seus olhos em mim. - Bo?
Ele suspirou.
- Não.
Respirei aliviada. Pelo menos isso eu poderia tirar da minha lista de preocupações.
- O que você quis fazer comigo? - voltei a perguntar. Harry arregalou os olhos com a minha pergunta e escondeu o rosto com as mãos.
- Não. - exclamou parecendo exausto. - Não, eu não vou responder isso. É muito cedo. Eu não posso.
- Certo! - falei antes que ele entrasse em colapso. Harry parou de falar, mas não voltou a me olhar. Quis me aproximar para ver seus olhos, contudo continuei parada sabendo que ele não gostaria. - Não fizemos nada de errado, Harry, e você não traiu o Fill e o meu pai. Nada aconteceu.
- Por favor, Margarida, pare de falar. - choramingou. - Eu não consigo lidar com isso agora e não sei conseguirei um dia.
- Eu só não quero que você fique estranho ao meu redor, ou me evitar completamente. Você é o meu único amigo aqui, Harry, e eu não quero te perder porque você sente vergonha do que quase fez.
Harry voltou a me olhar e parecia subitamente muito serio.
- Você não entende, Margarida. - disse. - Eu não sinto vergonha do que quase fiz, por isso é tão ruim.
- Harry, foda-se! - exclamei exasperada. - Você quer esquecer? Certo, vamos esquecer e nunca mais conversar sobre isso. Eu somente não quero perder a porra do meu único amigo, você pode entender? Ou você cansou de mim?
- É claro que não.
- Então pare de agir assim! Você quase me beijou, acabou. Esqueça e siga em frente. E, pelo amor de Deus, pare de grunhir toda vez que eu falo "beijo", você tem vinte e seis anos. Onde está sua maturidade para lidar com um beijo?
- Pare de falar essa palavra.
- Beijo. - resmunguei, ele voltou a esconder o rosto com as mãos. - Beijo, beijo, beijo, beijo. B-e-i-j-o.
Então Harry riu. Seu rosto continuava enterrado em suas mãos, mas agora ele ria, o que definitivamente era algo bom.
- Você está me torturando.
Revirei os olhos.
- Se você parar de agir como uma criança sobre o nosso quase-beijo, eu te deixo tocar no meu rosto.
Harry apoiou o corpo com os cotovelos, segurei a risada, mas sorri de qualquer maneira.
- Você está sem maquiagem?
- Sim.
Ele hesitou por algum tempo antes de se sentar completamente.
- Vem aqui. - falou cruzando as pernas para me deixar espaço. - Como estão as costas?
Me sentei ao seu lado e dei de ombros, mesmo que elas continuassem doendo na maior parte do tempo. Harry tocou as costas dos seus dedos em minha bochecha e eu ri quando ele me tocou como se eu pudesse quebrar. Ele sorriu de volta e continuou passando as costas dos seus dedos por toda pedaço de pele que eu tivesse. Ele subiu para a testa, passou para a outra bochecha, tocou os meus lábios. Até mesmo foi ao pescoço, onde ele rapidamente mudou de ideia e voltou para a bochecha. Ficamos em silêncio enquanto minha pele era explorada e eu quis que seus olhos encontrassem os meus para tentar entender o que passava em sua mente.
Sua casa tinha um cheiro bom. De café, perfume amadeirado e menta. Eu gostava muito, muito daquele cheiro.
- Não é tão ruim o contato com outros humanos, huh? - Harry brincou, suas covinhas se afundando em suas bochechas. Estiquei minha mão para toca-las, e elas se aprofundaram ainda mais sob o meu toque. Corri a ponta dos meus dedos para o começo de barba que tinha em seu queixo e mordi a boca ignorando os pensamentos que aquilo que dava. Merda.
- Acho que vou embora. - resmunguei quase sem voz, abaixei minha mão e ele repetiu o ato me olhando triste. - O quê?
- Você não vai ficar? - perguntou baixinho. - É domingo. Podemos passar o dia no sofá assistindo filmes e ninguém poderá nos impedir.
Eu sorri, mesmo que meu coração se apertava por dentro. Agora não tinha mais tanta certeza sobre esquecer o quase-beijo. Droga, a única coisa que eu queria agora era aquilo. Eu somente queria sentir seus lábios nos meus e descobrir que gosto eles tinha. Queria saber que tipo de beijo Harry gostava e como seria ter mais que suas mãos em mim.
- Deita sua cabeça na minha perna, quero mexer no seu cabelo.
Porra.
Eu estava completamente fodida.
- Como foi o encontro? - perguntei assim que entrei na cozinha. Harry parou de cozinhar para me olhar pelo o ombro.
- Legal.
- Vocês se beijaram de novo?
Ele demorou mais para me responder daquela vez.
- Sim. Como você...
- Fill. - expliquei. - E você acha que tem um futuro para vocês?
- Que tipo de pergunta é essa? - ele riu.
Eu, entretanto, estava seria.
- Só estou curiosa. Relacionamentos na sua idade são considerados sérios, não é?
- Sim.
- Eu só quero saber se você está atento de que está com a pessoa certa para então entrar em um desses relacionamentos sérios que a sociedade julga importante. Afinal, é interessante para a economia que duas pessoas se casem e ainda mais tenham um filho. Mas ter um filho é também interessante...
- Margarida, o que você está falando? - Harry riu. O encarei boquiaberta e forcei uma risada.
- Não sei.
Eu não estava feliz. Na verdade, estava praticamente na miséria. Eu queria ir embora, mas ao mesmo tempo o pensamento de me afastar de Harry e do cheiro do seu apartamento me machucava.
- Você está bem? - ele se aproximou e tocou meu rosto. - Você quer conversar?
- Não é nada.
- É o... Zeke?
Não, idiota. É você. Eu não consigo falar com o Zeke desde domingo passado, porque estava com medo de ter estragado as coisas entre nós.
- Não.
- Então o que é? - ele estava verdadeiramente preocupado. Aquilo de alguma forma me machucou ainda mais.
- Se o papa morre... - comecei a falar a primeira coisa que veio em minha mente. - Ele é demitido ou promovido?
O seu rosto se quebrou em um sorriso de covinhas e olhos inocentes.
- Eu nunca pensei nisso. - respondeu esquecendo do assunto anterior. - Eu acho que... Oh, meu Deus. Você está fazendo minha mente derreter.
- Pessoalmente, eu acho que ele é promovido.
- Faz sentido. Ele chegou ao nível superior, está com Deus. Mas, ele também é demitido porque alguém entrou no seu lugar.
- Exatamente. - exclamei. - Você me entende, Styles.
Ele beijou minha testa de uma forma doce.
- Sabe o que eu penso? - perguntou encostando seu queixo no topo da minha cabeça. Automaticamente o abracei pela cintura e fechei meus olhos, em seguida me arrependendo de ser tão aberta ao seu toque. - Se pessoas ruins vão para o inferno, por que o diabo as maltrataria? Ele não deveria as receber com um "ei, eu vi o seu pecado no dia cinco de dezembro, parabéns! Toma aqui uma cerveja, vamos festejar"?
Ri sem acreditar que Harry Styles com vinte e seis anos conseguia ter pensamentos idiotas como aquele. E eu, com dezenove, estava me apaixonando para ter novamente meu coração despedaçado. Talvez fosse um vício.
Harry gostava de me torturar, e eu gostava de ser torturada por ele.
Ótimo.
- Você está certo. - respondi. - Se ele pune pessoas pelo os seus pecados, ele deveria ser considerado bom, não é?
Harry se afastou e eu quase grunhi, porém seus braços continuaram ao meu redor. Abri meus olhos para encontrar os seus.
- Eu nunca pensei nisso. - ele assumiu. - Ah, meu Deus. Nós estamos começando a ver a vida da forma que ela é, isso pode ser perigoso.
- Podemos ficar loucos ou o governo pode tentar nos matar.
- Teremos que mudar nossos nomes e morar em uma ilha deserta.
- A comida está queimando. - falei subitamente, Harry franziu a testa sem entender o que aquilo tinha a ver com a nossa fuga. - O fogão, Styles.
- Ah!
Ri o vendo correr para desligar o fogo e xingar baixinho por ter queimado o fundo da panela.
- Quer comer a sobremesa primeiro? - Harry perguntou sorrindo, revirei os olhos.
- Não, hoje vou seguir os padrões.
- Vai?
- Sim, eu já te deixei me tocar. Estou me sentindo excepcionalmente normal hoje.
- E como a experiência está sendo?
Dei de ombros o assistindo derrubar o macarrão em nossos pratos. Quis o pedir para deixar aquilo para depois e voltar a me abraçar, mas não tive força o suficiente para conseguir fazer as palavras saírem. Engoli em seco como se tentasse as fazer sumir.
- Pensei que seria pior, mas não tenho tanta repulsa do seu toque.
- Bem, fico feliz em saber disso. - riu. - Pegue o seu prato, Margarida, temos um filme a continuar assistindo.
Dirigimos até minha casa quando o sol começava a se por. Harry, depois de alguns minutos, finalmente aceitou jantar em casa. Por todo o caminho ficou inquieto e quase passou no sinal vermelho porque eu falava do nosso quase-beijo. O vendo agindo assim fazia meu peito se encher de felicidade. Ele sentia traindo meu pai por me querer.
Silenciosamente, me perguntava por que eu não simplesmente o beijava já que a decisão estava tão difícil para ele. Nós queriamos. Mas o medo era maior. Ele poderia se afastar e então, me ignorar de uma vez por todas. Eu não poderia o ter longe de mim novamente. E se isso significava que eu teria que morrer um pouco mais todo o dia o vendo sem poder o tocar, tudo bem, não é como se eu não fosse capaz de aguentar a dor.
Talvez eu devesse seguir em frente. Não era tão difícil, já tinha passado pelo o processo de desintoxicação uma vez na minha vida. Harry gostava de Erie, me lembrei. Eu tenho dezenove anos e começarei a universidade em algumas semanas. Conheceria pessoas novas e interessantes, e eu já tinha uma pessoa nova e interessante que me queria. Zeke.
Ao sair do carro estava decidida. O plano superar Harry Styles havia começado.
- Tenho uma surpresa! - gritei abrindo a porta de casa.
- O quê? - meu pai gritou do segundo andar. Ouvimos os seus passos pelo o corredor e ele logo apareceu no topo da escada abrindo um alegre sorriso. - Harry!
- Seu filho preferido voltou. - cantarolei.
Não obtive resposta, entretanto. Meu pai estava muito entusiasmado abraçando seu filho preferido. Harry não tinha mais a mesma expressão de antes e também abraçou minha mãe quando ela desceu a escada.
- Não preparei nada! - minha mãe disse exasperada. - Nem mesmo sabia se você iria jantar em casa, Margarida. Passei a tarde te ligando, mas parece que o usa o celular de acessório. Nunca mais me deixe sem resposta, eu estava quase indo a casa do Harry te buscar pelo os cabelos.
- Que pessoa carinhosa. - resmunguei ironicamente. - Tenho certeza que você pensará em algo para comermos, mãe, acredito no seu potencial. E enquanto isso nós poderiamos jogar sinuca...?
- Oh, sim. - meu pai rapidamente concordou.
- E me deixar com todo o trabalho?! - mamãe exclamou ofendida. - A culpa foi sua por eu não ter preparado nada, então você cozinhará e nós jogaremos sinuca.
- O quê? - perguntei boquiaberta. - Mãe, você sabe que eu não cozinho.
- Não me importo. - retrucou. Grossa! - Vamos, meninos?
Minha mãe e pai andaram em direção a garagem, Harry ainda do meu lado riu e passou seu braço ao redor do meu ombro.
- Vamos, Margarida, eu te ajudo.
Ao entrarmos na cozinha, Harry não me deixou fazer nada. Olhou pelo os armários e começou a tirar ingredientes, cortando cebolas e dentes de alho. Quando tentei o ajudar ele me pediu para "fazer um grande trabalho" como disse, e picar uma cenoura inteira.
- Você tem que lavar antes, Margarida. - resmungou. O olhei de sobrancelhas levantadas. - Só estou te lembrando.
Suas dicas, entretanto, não pararam ali.
- Corte em tamanhos menores. - falou.
- Não segure a faca dessa maneira, pode escorregar e acabar te cortando.
- Você realmente lavou essa cenoura? Ela parece suja...
Quando Harry reclamou sobre a forma bruta que eu cortava a cenoura, eu joguei a faca sobre a pia e dei um passo para trás.
- Eu juro que vou te matar, Styles. - falei entre dentes. - E não com a faca porque será mais fácil, mas com as minhas mãos. Vou te torturar, arrancar fio por fio do seu maldito cabelo e arrancar sua pele. Diga mais uma única palavra que será um homem morto.
Harry piscou em minha direção e mordeu a boca tentando esconder um sorriso. Suas covinhas, entretanto, já estavam a mostra.
- Tem algo a falar? - perguntei, ele mexeu a cabeça para os lados. - Fico feliz que entramos em um acordo.
Voltamos a trabalhar em silêncio. Harry colocou azeite em um panela e juntou a cebola e alho que havia cortado. Ele voltou a andar pela a cozinha, pegando mais ingredientes e temperos, seus olhos virando para a cenoura.
- Pelo amor de Deus, Margarida, você é um perigo ambulante.
Grunhi.
- Cuide da sua própria vida!
- Você vai acabar se cortando ao segurar a faca dessa for... EU NÃO DISSE?
No segundo que eu virei para o olhar, a faca não cortava mais o legume. Agora, entretanto, estava em meu dedo indicador. Harry se aproximou a passos largos, tirando a faca e a jogando dentro da pia para ver o machucado que começava a sangrar. O líquido vermelho se espalhou rapidamente ao redor, pingando e escorrendo por minha mão.
Quis me afastar do seu toque, mas ele já havia deixado o corte sob a água corrente.
- Está doendo.
Harry olhou para mim, mas minha atenção estava no sangue se misturando com a água. Seu braço livre passou ao meu redor enquanto o outro insistia em me segurar sob a cascata de água fria. Quando finalmente fechou a torneira, Harry envolveu meu dedo com um pano seco, segurando com força para o sangramento parar.
- Não quero falar isso, mas...
- Você avisou. - completei irritada. - É, eu sei. Vá a merda. Eu não sei cozinhar, não sei nem mesmo segurar uma faca, meu dedo está sangrando e doendo, eu não preciso ouvir você agora, Styles. A faca já me deu uma lição.
- E qual foi?
- Que eu deveria ter a usado para te matar em vez de ameaçar em usar minhas mãos. Ela se sentiu traída. A culpa é toda sua.
- Minha? - riu.
- É claro! - me afastei para sentar sobre a mesa, Harry cruzou os braços e me olhou divertido. - Se você fosse mais maduro sobre o nosso quase-beijo não teria ignorado o jantar na sexta e nem o passeio de moto com o meu pai. Eu não teria ido na sua casa hoje e você não estaria jantando aqui, o que significa que não teria cortado a merda do meu dedo.
Ele não me respondeu, o que foi estranho. Somente ficou ali, me olhando, de uma forma que eu não entendia.
- O quê? - perguntei por fim.
- Você está dizendo que foi minha culpa por não ter sido maduro sobre... você sabe e não pelo... você sabe?
Oh, merda.
- O que você está falando?
Eu sabia o que ele estava falando.
- Você acabou de falar que era a minha culpa por eu não ter levado o assunto do nosso... quase-beijo - oh, merda, ele disse. Merda, merda, merda - de uma forma tranquila em vez de me culpar por eu ter tentado te beijar.
Meeeeeeeeeeeeerda.
- Sim. - concordei.
- Você não está brava?
- Não.
Harry desviou o seu olhar para o chão e molhou os lábios calmamente, eu o assisti hipnotizada.
- Você quis? - sua voz saiu baixa como se tivesse medo do que perguntava. Minha garganta secou e eu tinha esquecido como que se respirava. Então ele olhou para cima e tudo que eu sentia piorou. Eu iria desmaiar.
- E-eu...
- Que cheiro de comida queimada é essa? - meu pai perguntou entrando subitamente na cozinha. Harry piscou algumas vezes e virou a cabeça de volta para o fogão.
- Porra! - exclamou desligando o fogo. - Eu torrei tudo.
- Como vocês não sentiram o cheiro? - meu pai nos encarou boquiaberto.
- Eu cortei o meu dedo. - contei uma meia verdade. - Acabamos nos distraindo.
Meu pai me aproximou preocupado e eu o assegurei que agora estava bem, mostrando o machucado que agora não sangrava mais.
- Vai deixar cicatriz. - ele disse beijando minha testa. - Como você se machuca tanto? Ainda nem mesmo se recuperou de ter caído da escada.
- É um dom. - brinquei.
- Certo, crianças, deixem as panelas de lado. Vou pedir pizza.
Meu pai saiu da cozinha com seu famoso sorriso acolhedor e no momento que eu olhei para Harry soube que novamente ele se sentia estar o traindo.
- Eu não posso fazer isso. - sussurrou. - Não com ele, Margarida.
Revirei os olhos quando fiquei sozinha na cozinha e aproveitei para pegar o meu celular. Entrei em minhas mensagens e apertei para o teclado aparecer, com a mão boa, digitei:
Ei, Wildcat, a convite continua de pé?
Me surpreendi quando a resposta veio em seguida:
Nunca negaria algo a uma sonserina.
Mordi o canto da boa enquanto meu pai me avisava que a pizza já tinha sido pedida, digitei:
Pode vir a Cambridge amanhã?
Em um piscar de olhos a resposta apareceu em minha tela:
Amanhã, estarei aí.
A primeira fase do plano Superar Harry Styles estava feita. E eu me sentia suja por usar Zeke.
Droga, Harry, você me estragou.
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