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História Dallas - Dallas - capítulo 11


Escrita por: biancamota

Notas do Autor


DESCULPA, DESCULPA, DESCULPA, FALTA DE CRIATIVIDADE, DE TEMPO, DE IDEIAS E DE TEMPO MESMO

Capítulo 11 - Dallas - capítulo 11


Gabby - capítulo 11 30/03/2019

Acordei com alguém batendo na janela. Batidas leves, com ritmo e não muito seguidas, daquelas de quem está com medo de fazer barulho. 

Basicamente, eu tinha certeza que não era a Winnie. 

Mesmo intelectualmente incapacitada por conta do sono, tentei fazer uma lista mental de quem poderia ser. Hoje era sábado, e mamãe estava dentro de casa, então não bateria na... 

Puta que pariu.  

Minha memória voltou aos poucos pro momento, as dez da manhã, em que meu braço se mexeu e bateu no despertador até que ele estivesse no chão, quebrado, e não tocasse mais. 

Naquele exato momento, qualquer chance que eu tivesse de ver o horário estava rachada, despedaçada, e olhando para mim com aquelas orelhas idiotas de gatinho que eu havia colado quando tinha dez anos. 

Droga de objeto frágil. 

Tobias bateu de novo na janela, dessa vez com mais força e murmurando um monte de xingamentos idiotas. 

Eu já estava totalmente acordada e irritada quando abri a janela com tudo. 

–Tá, tá. Pode parar de falar palavrão. Não combina com seu jeito de garoto do interior.  

Tobias ficou me encarando, com a mão levantada como quem estava preparado para bater de novo no vidro. Teve alguns segundos, onde ele ficou simplesmente ali parado, enquanto eu analisava todos os detalhes possíveis: desde o cabelo, mais bagunçado do que nunca, até o fim de onde eu podia ver da sua camisa branca de gola v. 

Inferno de menino bonito. 

–Dallas! –ele respirou fundo algumas vezes, com a mão no coração. –Graças a Deus, você não se mudou! Ou não morreu, ou foi doar sangue, ou adotar gatinhos na rua, ou saiu do país. 

–Doar sangue? 

–Faz vinte minutos que eu tô aqui na frente da sua casa. Deu tempo de pensar muita coisa. –seu sorriso de repente se abriu. –Merda! Isso! Você tá aqui, tá bem, e a gente vai ter um encontro. Ok. Isso aí, merda! Já me sinto preparado para cantar We Are The Champions de novo. 

Meu corpo todo teve um espasmo, daqueles que começam no dedo mindinho e percorrem toda a coluna vertebral até que mesmo o último fio de cabelo esteja arrepiado. 

–Não acredito que eu perdi a hora. 

Na verdade, acreditava. Tinha ido dormir quatro da manhã, na noite anterior -tá, já não era bem de noite. Física e mentalmente incapaz de fechar os olhos e ter paz de espírito, enquanto tinha um encontro marcado com a pessoas mais bonita da face da terra, a madrugada tinha se tornado um looping de rolações na cama e bufadas longas. 

Dei uma rápida olhada para conferir se a janela do quarto da Winnie estava mesmo fechada, porque não sabia se aguentaria dar explicações a ela sobre aquilo depois. 

Tobias estava sorrindo, com os braços apoiados na janela. Sua pele tinha uma textura diferente, de quem tinha feito a barba a pouco tempo. Mesmo que ele não tivesse quase nenhum pelo no rosto. Estava me olhando tão feliz e sereno, como se fosse muito sortudo por estar ali, na minha janela. Meu coração cedeu um pouquinho.

Ai. Sério. Eu não tinha condições psicológicas para aquilo. Por que ele não levantava a camisa de uma vez, e a gente se casava ali mesmo? Eu com certeza não conseguiria resistir.  

–Você, para com isso! Vou entrar, me trocar, escovar os dentes e aí podemos ir. –comecei a fechar a janela. 

–Sim, senhora. 

–E não ouse levantar essa camisa! 

–O que? 

Antes que pudesse pensar mais um segundo no quanto aquele momento era inconveniente e como eu estava usando um short de ursinhos, comecei a correr para o banheiro. 


 

Era onze e trinta e sete quando me olhei no espelho de novo, consideravelmente pronta. A blusa azul era da mamãe, então era consideravelmente mais justa e com um decote V mais acentuado do que eu estava acostumada, e o short tinha uma mancha de quarta, quando trabalhei com ele na Marny, mas nada no armário parecia ser melhor. 

Conferir mais uma vez se eram meus cílios que estavam colados na pupila ou aquela sensação era mesmo efeito do rímel, antes de sair pela porta.

O motor do Jeep de Tobias ligou assim que pisei no gramado.

–Ok, eu vou dar cinco minutos para você inventar uma boa história que não me faça sentir patético por estar aqui esperando há trinta minutos. –ele abriu a porta para mim, sem precisar esticar muito o braço longo.  

–Não tem história. Eu só... quebrei meu despertador. 

–Você ainda tem quatro minutos e cinquenta e três segundos. Pense melhor. 

Revirei os olhos. 

–Mas é sério! Foi um acidente. Quer dizer, não muito, mas eu não achei que fosse tipo se espatifar no chão... 

Ele começou a dirigir, mas ainda me encarava com o canto dos olhos, decepcionado. 

–Quatro minutos e quarenta e dois segundos! 

–Eu não tenho nenhuma história melhor! 

Estava tocando uma música verdadeiramente ruim. Algum rock antigo muito meloso, que me fez questionar um pouco o gosto de Tobias. 

–Quatro minutos e trinta e cinco segundos... 

–Ai, meu Deus! Eu… sei lá, tive que salvar gatinhos indefesos a madrugada inteira e fui dormir muito, muito tarde, por isso perdi o horário. Melhor?

Fiquei alguns segundos quieta, notando que todo meu corpo estava contorcido no banco, de modo que estivesse virada de frente para Tobias. 

Ele sorriu. Estávamos passando a frente da escola, em direção a praça da cidade.  

Eu estava me remoendo no assento para não enchê-lo de perguntas. Tinha imaginado cerca de cinco mil quatrocentos e vinte e cinco cenários diferentes de como seria o nosso encontro, e em todos eles as minhas probabilidades de estar vestida de maneira errada, ou acabar com ketchup no nariz, ou… estragar tudo, eram muito grandes. Mesmo. 

–Todo mundo sabe que uma boa história tem que levar alienígenas no meio. Mas, melhor sim. 

Naquele momento, os olhos dele estavam bem mais verdes que azuis. Ou talvez estivessem os dois.  

Balancei a cabeça, virando o corpo para frente. 

–Esqueci de mencionar que os gatinhos estavam sendo abduzidos.  

Tobias deu uma risada. 

–Ah, você devia ter me contado esse detalhe. Eu ia acreditar pelo menos cinquenta por cento a mais. 

Em quase todas as casas por onde passávamos, as pessoas ficavam na porta, acenando, como se estivessem esperando por nós: a Rainha Elizabeth e o duque Filipe. Não tinha absolutamente nada melhor para fazerem em um sábado de manhã?

Eu esperava que eles não estivessem com grande expectativas de que iria acenar de volta. O máximo que consegui fazer foi uma careta azeda, mas que pareceu não abalar ninguém. 

–As pessoas sempre se comportam como se estivessem em uma procissão, nesta cidade? –respirei fundo algumas vezes. Precisava de muito para me acostumar com aquilo. –Quer dizer, até parece que… Ah, não. Não. Tobias? 

O garoto apertou os lábios em uma linha fina e tênue, como se estivesse sido pego no flagra. Não! Não, não, não. Não. Merda. 

–Você contou para todo mundo? 

Ele respirou fundo, apertando bem o volante. Duas vezes. Me deu alguns olhares de culpa, para depois começar a falar muito rápido. 

–Para falar a verdade, eu contei para Nanny. Mas se nós considerarmos que isso é igual subir em um banco e berrar no meio da praça, então, sim, pode ser que eu tenha contado para todo mundo. Mas olha, não foi por mal. Sério. E a gente até que se deu bem, porque aí… 

–Tobias! -eu estava quase socando a cara dele. 

Não podia acreditar. Aquelas pessoas não conheciam a palavra privacidade? Espaço pessoal? Eu me sentia totalmente… exposta. 

Conseguia imaginar meus vizinhos da esquina, segunda feira, saindo de suas casas enquanto eu caminhava para escola, para perguntar como tinha sido meu encontro. 

Eu ia matar alguém. De certeza.  

-Olha, não é tão ruim, tá? Se parar pra pensar, claro, é… bem estranho, para falar a verdade. Mas eles são assim. Pensa pelo lado bom, a gente ganhou comida de graça, livros para ler por dois anos, se ficarmos entediados, e…

-Você não vê realmente o problema disso? -perguntei. 

Tobias me encarou por um tempo, como se pensasse. Não sabia que tipo de julgamento poderia dar a alguém que achava normal ter seu encontro como o assunto da cidade. Mas, ao mesmo tempo, todos aqueles anos morando ali poderiam ter afetado o cérebro do garoto.

O que, na verdade, também era preocupante.  

Ele deu de ombros. 

–No meu aniversário de quatorze anos, que a Kylie e a Nanny organizaram, todos tinham que levar uma foto comigo de quando eu era bebê. A Fran, da floricultura, até fez um vídeo e foi... –houve uma pausa, que ele pareceu notar que não estava fazendo o mínimo sentido. –Na maioria das cenas eu tava pelado. Totalmente. É que nasci no verão, e a maioria das fraldas me davam alergia, então... 

–Tobias...

–Enfim, foi meio constrangedor no início, sabe? Mas... eles são assim. Sei que não é por mal. E no final pareciam muito felizes com as fotos, mesmo vendo partes minhas onde o sol não bate mais. Se importam comigo. É só que demonstram de uma forma meio bizarra. 

Inferno. Eu não acredito que estava me simpatizando com a estranheza daquelas pessoas. 

 

Já vi muitos dos melhores e piores romances já feitos. Eu e mamãe éramos consumidoras natas de locadoras de filme, sempre a favor da exclusão do Netflix, que impedia as pessoas de conhecerem os clássicos dos anos em que dançar como os personagens de Footloose era o maior sonho que poderia existir. 

Todos eles falavam de como eram as experiências dos primeiros encontros. Com toda a coisa do flerte, do estômago embrulhado, do calor no rosto. Até as conversas ruins. 

Mas nenhum tinha me preparado para a vontade que eu estava de vomitar. Toda vez que Tobias me olhava –e ele fazia isso com muita frequência, aquele idiota –a bile subia pela garganta e todo o comprimento da minha espinha tremia. Era como... Ah, droga, não fazia ideia de como era. Aquilo vinha, fazia eu me sentir patética, e depois descia. 

–Pra onde a gente tá indo? –fechei as mãos em punho, tentando conter o tremor. Inutilmente, todo o resto do meu corpo tremia também. 

–Quais as chances de eu receber um tapa se disser que é surpresa? –Tobias começou a sintonizar o rádio, passando por um monte de pop eletrônico e country barato. 

–As mesmas que você tem em acabar numa estação tocando Justin Bieber. –bati na sua mão, tentando fazer qualquer movimento para aliviar o que estava sentindo, e procurei eu mesma uma música boa. 

–Sendo assim, estamos indo para o Parque Estadual do Lago Roper. –ele se esticou para perto de mim, e por um breve minuto fiquei estática, porque pensei que fosse… sei lá, encostar em mim. Era muito cedo para aquilo. Era muito cedo para qualquer coisa. Eu não estava emocionalmente preparada para intimidade física com ele. Nem com ninguém, na verdade. Mas principalmente com ele. –Acho que tenho um pen-drive no porta luvas. 

Seu braço se esticou um pouquinho mais, tentando passar pelo meu corpo. Quando pisquei, já estava com as costas coladas no encosto do banco, contando os segundos para aquele encontro acabar. 

Não era eu. Não podia ser. Eu não aceitava sair com ninguém, muito menos com caras como Tobias. Aquilo era errado, idiota, inconsequente e eu ia vomitar já, já. 

–Ah, achei. Tem bastante Jack Johnson, não sei se você gosta. 

Balancei a cabeça, porque pareceu a única maneira de o fazer calar a boca.

Ele continuou falando. E falando, e falando. Tenho certeza que eram coisas engraçadas, tentando me livrar do olhar de pânico que Tobias sabia que eu estava, mas não consegui ouvir. Não consegui prestar atenção em nada, porque estava em outra realidade. 

Uma lembrança tinha me atingido tão vividamente que fiquei sem ar. De repente, era como se eu tivesse doze anos novamente, feliz por finalmente ter  convencido o dono do mercadinho japonês na esquina do nosso apartamento a me deixar trabalhar por meio período.

Estava com a mochila nas costas e, diferente de todas as expectativas de trabalho que as pessoas normais tinham, o sorriso no meu rosto só aumentava em pensar que depois do almoço ia poder enfileirar um monte de latas de feijão em prateleiras. 

A legging da escola estava rasgada e mamãe já tinha dito que ia costurar, mas ela não parava em casa fazia dois meses, então tinha prometido a mim mesma que aquela noite ia aprender a dar um jeito sozinha. 

Estava meio frio, de um jeito quase agradável, e sentia as pernas ardendo da caminhada da escola, com o sangue pulsando divertidamente por todo o corpo. 

Soube que tinha algo errado quando subi o primeiro degrau que dava para o nosso andar no prédio. Ouvi um copo se quebrando, e depois outro. Alguém gritava, descontroladamente e compulsivamente. Um monte de palavrões, muitos que eu nunca nem tinha ouvido. Então teve um baque bem mais forte, alto o suficiente para ser uma cadeira, seguido de outros palavrões. 

Não quis acreditar que fosse minha mãe. Por isso, continuei subindo as escadas.

Não era a primeira vez que ela berrava, claro, mas mamãe sabia ser discreta. Nunca seria assim. Poderia ser a Rebecca, nossa vizinha. Ela sim era louca daquele jeito. Além disso, fazia só três meses que tínhamos nos mudado, por causa de uma praga com... baratas, na outra cidade. Algo assim. Não dava tempo de... 

Cheguei no nosso andar com a testa suando e o corpo tremendo. Quando me aproximei da porta estava tão convencida de que não era ela, de que minha mãe nunca gritaria daquele jeito, que quando a vi, toda descabelada e descontrolada, surrando um homem alto e forte pelo peito, tranquei a respiração. 

Nem me lembro o que ela estava berrando. Lembro que, quanto mais berrava e esmurrava, mais o cara ia ficando vermelho, até que estivesse segurando os punhos dela e minha mãe não passasse de nada mais que uma criança mimada esperneando e chorando compulsivamente. Ele tentava calar a boca dela, mas parecia não notar que só a incentivava a gritar mais alto ainda, xingando de tudo possível, querendo que o bairro inteiro escutasse. Nem me viram.   

Acho que foi nesse dia que meu inconsciente decidiu que eu nunca agiria daquela forma. Como uma adulta infantil, ridícula e vulnerável. Que nunca, nada e nem ninguém, me afetariam da forma como ela se deixou ser afetada. 

Virei as costas e fui para o trabalho, sem nem pensar em algum tipo de comida. Quando voltei, às sete da noite, ela já estava com tudo no carro. Nunca mais almocei em casa, e mamãe nunca mais me pediu para almoçar.

 

Quando voltei para o carro, com dezoito anos de novo, meu peito estava doendo e minhas unhas furavam a palma da minha mão. Trancar a respiração tinha me deixado tonta, mas parecia impossível sugar o ar com tudo tão pequeno e apertado. 

Levou um tempo para sair daquele momento, da dor que senti naquele dia. Era tão real e tão natural, que meu coração estava ardendo e minha testa, pingando. 

Tobias tinha parado o carro e me encarava, esperando. Só notei que estava tendo tremores fortes quando ele segurou minha mão, totalmente estável, e tentou pará-la. 

–Dallas? Tô aqui. Se precisar, tô aqui, ok? Você tá segura. –ele sorriu de lado, me olhando de uma forma muito, muito doce. –Retiro minha proposta. Vou pegar meu cavalo branco, minha armadura, levar você para casa e te deixar em paz. Como um verdadeiro Lancelot. 

Apertei um pouco mais sua mão, até que conseguisse sentir de verdade aquilo. Não os momentos de minha mãe e seus Call’s, mas aquilo: eu e Tobias. 

–Vou te deixar em paz. Sério. E você pode ficar com os doces. É realmente algo que vale a experiência. –ele, por apenas dois segundos breves, pareceu realmente magoado. –Não sei o que você acabou de lembrar, mas quero que saiba que nada, nem ninguém deveria se sentir desse jeito. Gosto de você, mesmo, e queria muito que nos divertíssemos hoje. Mas nada vale tanto a ponto de ignorar o que acabou... Bom, vê-la sofrer assim. 

Eu gostaria de não acreditar nele. Gostaria que ele fosse um pouco mais parecido com os seus amigos e aquelas expressões idiotas deles de segundas intenções. Mas Tobias era tão puro, seguro e ingênuo que tudo o que fiz foi soltar a respiração e toda minha auto preservação junto. 

–Gosto de você também. Só… preciso ir com calma. –soltei sua mão, para apertar o botão de passar no rádio. 

Ele levou alguns segundos me olhando, com uma expressão desconfiada na cara. Quando começou a tocar uma música country estranhamente boa, Tobias deu partida no carro, rindo baixinho. 

–O que foi? -perguntei. 

-Eu nunca consigo adivinhar o que você tá pensando.

 


Notas Finais


me avisem se ficou dramático demais, mas eu queria explicar mais sobre a mãe da Dallas, então...


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