1. Spirit Fanfics >
  2. Dallas >
  3. Dallas - capítulo 3

História Dallas - Dallas - capítulo 3


Escrita por: biancamota

Notas do Autor


Como vocês puderam observar, não tenho criatividade pra nome de capítulo. Quem sabe um dia.

Capítulo 3 - Dallas - capítulo 3


Gabby - capítulo 3   18/03/2019

Eu não deveria estar assim. Meu Deus, não deveria mesmo. 

Com todo o corpo tremendo, minha pele formigava e meus pulmões berravam por ar. Aquilo era mais que horrível. 

Tobias era horrível. Eu nunca tinha ficado tão nervosa perto de uma pessoa em toda minha vida. E ele era tão irritante!  

Tinha ficado me encarando por tanto tempo, de um forma tão… Argh. Ridículo. Ele que enfiasse todo aquele seu ar sedutor pelo rabo. 

Me recusava a ficar assim. Eu não ia ser mais uma para sua lista de garotas-que-morrem-de-tesão-perto-do-Trenty. 

Já fazia quase vinte minutos que estava sentada no banheiro. Tinha ouvido o sinal bater, cinco minutos atrás, mas não estava preparada para aquilo. Aquilo, no geral. Garotos. Não fazia parte do meu plano de vida. 

Tudo bem. Tudo estava bem. Tudo ia ficar bem. 

Ia chegar em casa, ver mamãe e todas as marcas que os anos sofrendo por caras que não valiam a pena no mundo tinham feito, e me lembrar que era por isso que não havia me dado o luxo de fazer amizade ao longo dos anos. 

O colégio era pequeno, mas todos pareciam mais do que pontuais. Por isso, tudo me levava a crer que Tobias já havia saído da sala, e se encaminhava agora para a próxima pessoa que iria persuadir a ficar louca de tesão perto dele. 

Deus. Até a professora babava por aquele garoto. 

Alguém entrou no banheiro, cantarolando uma música. Dei descarga, para não entregar o quão patética estava sendo, sentada no vaso me escondendo de um menino, e saí. 

O desgraçado estava parado no mesmo lugar. Me olhava como se fossemos amigos de anos, com um sorriso tão grande que eu poderia arriscar dizer que tinha sentido minha falta. 

–Você só pode estar brincando... –murmurei. 

Não estava irritada apenas com ele –o que definitivamente estava –, mas comigo mesma também. Como podia me deixar ser tão fracote, com os joelhos bambos e as bochechas pegando fogo, evidenciando o quanto eu estava interessada? Aquilo era coisa de... fracote!  

–Acho que passei a impressão errada sobre ser um psicopata. –respondeu, colocando as mãos nos bolsos. Ainda sentado, dava para ver o quanto suas pernas eram compridas. 

–Acho que você continua passando. –rebati. 

Ele era um daqueles caras. Aqueles, que fariam uma aposta sobre quem pega a aluna nova mais cedo, ou quem faz ela ficar de joelhos primeiro. Quem seria o brilhante e heróico cavaleiro que iria descobrir que tamanho de sutiã eu usava? 

Não era a garota de Ela É Demais. Eu, sim, sabia me preservar desses idiotas. 

–Falo sério, Dallas. Você não deu a chance para que eu mostrasse todo meu potencial em química. –ele estava fazendo beicinho. Deus. Como alguém podia ficar irritantemente tão bonito fazendo beicinho? Ele nem sequer tinha aquelas celulites bizarras no queixo quando fazia aquilo. 

–Nem preciso ver. 

Não me importava de fazer todo o trabalho do mundo no próximo trimestre, se isso fosse fazê-lo me deixar em paz. Quer dizer, eu tinha certeza que Tiffany e seu vestuário tamanho 36 estavam nesse exato momento precisando de uma mão grande como a de Tobias para apertar sua cintura e viver um felizes para sempre. 

Eu e minha calça tamanho 40 só queríamos uma cama e uma TV. Sem mãos, obrigada. 

–Posso pagar um almoço para você, quem sabe, para recuperar toda minha confiança sobre como sou cavalheiro e nunca deixaria uma dama fazer o trabalho todo sozinha. –ele estava sorrindo. Como se aquilo fosse tudo uma grande piada! 

Argh. Que. Ódio. 

–Tobias, só... –franzi a testa, olhando de baixo da mesa. –Cadê aquela porcaria? 

Comecei a vasculhar por tudo, tentando lembrar onde havia colocado. 

–Você está falando daquelas regras? –concordei com a cabeça, o encarando de onde estava, ajoelhada no chão. –Joguei fora. Você não precisa delas. 

–Você... o que? –minha voz não havia saído tão irritada quanto minha cabeça estava. 

–Não somos nenhum tipo de ditadura, independente do que Tiffany pense. –ele revirou os olhos, quase como se já tivesse tido essa discussão milhares de vezes. –Você pode, sim, falar comigo. 

–Então você realmente estava naquelas regras? 

Como eu ainda podia estar surpresa? 

Tobias encolheu os ombros, quase envergonhado, depois sorriu para mim com culpa. 

–“Não toque, não olhe e não fale com Tobias Trenty”. Em vermelho. –seus ombros subiram e desceram, como se quisesse falar mais. –Não fui questionado sobre isso. E quero tocar, olhar e falar com você, sim. 

Ainda bem que estava no chão. Não sabia se meus joelhos aguentariam aquelas palavras. 

–Sabia que falar que quer me tocar não ajuda em nada sua aparência de psicopata, não é? –falei, engolindo saliva. Não conseguia parar de encará-lo, por mais que quisesse. 

–Droga. Tava torcendo para você deixar essa passar. –ele balançou a cabeça, mas ainda puxava o canto do lábio em um sorriso. –Acho que tenho que reforçar minha oferta de almoço, então.

Não estou brincando quando digo que o garoto era um gato. Olhando desse ângulo, era como ter um ao vivo de todas as melhores capas de revista que eu já tinha visto na vida compiladas. Sua camisa branca apertava nos pontos ideais, não deixando nada dos músculos dos braços e da barriga para imaginação. Era esguio e forte, sem exagerar em nada.   

–Isso não vai funcionar, Tobias. Não do jeito que você quer. –apertei minha têmpora, sentindo a cabeça explodir. –Não... sou igual a Tiffany, ok? Eu não saio em almoços divertidos.  

Estava a ponto de dizer que tinha problemas demais na vida para que ele sequer considerasse ficar me ouvindo por uma refeição inteira. Nunca haviam sido tão insistentes. As pessoas geralmente se afastavam, porque não queriam ser amigos de alguém que não queria amigos.   

Aquilo dava certo, até agora. 

Ele pareceu surpreso, quase decepcionado, mas abriu um sorriso tranquilizador. 

–Sei que você não é igual a Tiffany. E ainda quero me desculpar com um almoço. –suas mãos se cruzaram atrás da cabeça, relaxadas. Como se tivesse todo o tempo do mundo para mim.  

Qual o problema com aquele garoto? 

Bufei, coloquei a mochila atrás das costas e comecei a caminhar para fora da sala.  Não ia acontecer. Não ia, de jeito nenhum. 

–Ei, Dallas. Espera aí. –ouvi o barulho que fez quando empurrou a cadeira para trás e alcançou sua mochila. –Espera! 

Comecei a caminhar mais rápido, até que estivesse quase correndo. Continuei até passar as portas do colégio, até que olhasse para trás e não visse mais Tobias.

Eu ainda tinha duas aulas e a caminhada até o trabalho era pequena, provavelmente chegaria muito cedo. 

Mas não me importava mais nada, a não ser sair de perto daquele menino e todas as 347 reações diferentes que causava em mim. 


 

Safford era uma cidade mais do que pequena. Você poderia pesquisar sobre ela, mas o máximo que iria encontrar era que tinha míseros nove mil habitantes. E todos eles sorriam para mim, com olhares de “ah, então essa é ela”. Nada ajudava, porque só queria ficar sozinha. 

–Gabby! Ei, Gabby! 

Por um momento pensei que era Tobias. Mas, quando virei, quase vomitei de alívio. 

O garoto era pouca coisa mais velho que eu. Loiro, não tinha pernas do tamanho de troncos de árvores e os olhos eram só castanhos. Seu sorriso abriu, mas nem de perto era parecido com o de... 

Inferno. Por que eu estava pensando sobre isso? 

–Oi...? –perguntei, tentando não olhar para seus braços. O cara era malhado, bem malhado. Dava para abrir um pote de maionese lacrado há vinte e cinco anos. 

–Richard. –ele estendeu a mão, apertando a minha com firmeza. 

–Eu falaria Gabrielle, mas algo me diz que você já sabe. –apesar de relutante, abri um sorriso simpático. 

Com ele dava para lidar, porque era igual os outros garotos. Não ameaçava nem um pouco minha decisão de morrer sem me envolver emocionalmente com ninguém. Era só um garoto. 

–Ah, é. Não sou um stalker, nem nada. Só sei isso porque você está trabalhando no café da minha mãe. –ele começou a caminhar, apontando com o queixo a direção do café. 

–Nem passou pela minha cabeça. –dei de ombros. Todo mundo na cidade já parecia saber meu nome mesmo. –Você acha que ela se importará se eu chegar adiantada? 

Richard balançou a cabeça, colocando as mãos no bolso. Tobias, mesmo que estivesse um calor infernal, estava usando calça jeans. Ele estava de manga curta e bermuda. 

Merda. Eu estava pensando nele de novo. 

–Você está brincando? Chegar mais cedo, no seu primeiro dia de trabalho? Ela vai beijar seu pé. –Richard sorriu, mas depois olhou para minha mochila. –Só talvez não deva contar que está matando aula. 

Expirei o ar. Não achava que o garoto ia entender se eu tentasse explicar o quanto necessário era aquele mal. 

–Vai ser só hoje. –eu esperava. –Foi meu primeiro dia, meio impactante. 

Ele concordou. 

–Saí de lá ano retrasado, e ainda sinto aquela ditadura estranha impregnada em mim. –o observei tirar as chaves do bolso e abrir a porta do café. 

A Step Back in Time Coffee and Deli: era o nome mais bizarro para um restaurante que já havia visto em toda a minha vida. Mas o local era bom, comprido e dividido por um balcão de mármore, que ia até o final. As mesas eram colocadas em uma fileira encostada na parede, metade de madeira e metade pintada de verde. Era bem decorado, completamente delicado e ultra convidativo. 

–Deixa eu adivinhar: você era do grupo popular. –coloquei a mochila em cima do balcão, começando a tirar as cadeiras de cima das mesas para arrumá-las. 

–Foi o charme natural ou o ar de jogador de futebol?  

–Definitivamente foi a ditadura estranha que ainda está impregnada em você. –retruquei, de costas para ele. 

Olhei para trás, depois de notar que Richard não havia rido. 

Ele me encarava, com uma linha dura entre as sobrancelhas cruzadas. Aquilo era uma cara de bravo? Merda. Eu realmente precisava daquele trabalho, não podia me dar o luxo de ser odiada pelo filho da dona.

–Você vai ficar aqui por quanto tempo? –sua pergunta saiu bem mais subliminar que direta. 

Eles sabiam que o emprego era temporário. Eu tinha dito a Marny, porque, por experiência própria, não gostava de abandonar as pessoas sem antes avisar. Então não deveria estar nervosa com essa pergunta, nem com medo que me mandassem embora.     

–Ainda não sei. –não era verdade. Provavelmente em dois, três meses eu e mamãe estaríamos bem longe. –Por quê? 

Ele aliviou um pouco a expressão, abriu um sorriso e me jogou um pano que fedia a produto de limpeza. 

–Nada. Mas se você ainda não sabe, acho melhor começar a limpar essas mesas logo. 

Vinte minutos depois, e estávamos prontos para abrir. Ric, que aparentemente não gostava de ser chamado de Richard, me olhava do outro lado da bancada enquanto discutíamos sobre coisas aleatórias.

–Você tá na faculdade? –perguntei, ainda que tivesse dito que a maior parte do seu tempo passava no café. 

–Sim. Mas tranquei por um tempo, porque mamãe precisava de ajuda aqui. –ele soltou um sorriso. –Estou na esperança de que, com você aqui, talvez possa voltar. 

Merda. Eu odiava o jeito alegre com que estava me olhando.           

Para meu alívio, poupando todo meu discurso de como ele não podia tentar apoiar nada em mim porque tinha uma mãe imprevisível e tendencialmente louca por caras idiotas, Marny apareceu no restaurante com um sorriso no rosto. 

Tinha gostado dela, de cara. As bochechas eram gorduchas, a pele enrugada e o corpo fisicamente estável. Lembrava uma mulher de sessenta anos, mas não se comportava como uma. Ela agia como se ainda estivesse no auge de seus vinte. 

–Ah, Gabby! Achei que você só chegaria mais tarde. –ela olhou para Ric, como se ele pudesse explicar o que estava acontecendo, de algum modo. 

–Consegui sair um pouco mais cedo do colégio. 

–Imaginei que fosse almoçar com sua mãe. 

Fazia anos que não sabia o que era almoçar com ela. Desde os doze anos, quando começara a trabalhar no mercado que havia na esquina da nossa casa da época, ia da escola direto para o trabalho. 

–Gosto de chegar cedo e cumprir os horários. –era uma desculpa horrível, e Marny sabia disso, mas apenas confirmou com a cabeça. 

–Pelo menos vai almoçar? 

Ela foi para trás do balcão, começando a vestir o avental e uma toca que a deixava com mais cara de velha ainda. Pensei que poderia ter os dentes arrancados na hora, se comentasse isso em voz alta. 

–Tenho uma barra de cereal na mochila. 

–Você tá de brincadeira? –Ric perguntou, quase indignado. 

–Eu não faço o melhor taco dessa cidade pra você comer barrinha de cereal, filha. Senta aí. –observei enquanto os dois andavam em sincronia pelo balcão, alcançando coisas um para o outro. 

–Não precisa. De verdade, consigo viver só com barrinhas de cereais por muito tempo. –tinha provado essa teoria ao longo dos anos. Não gostava de comer e ter de descontar do salário, porque o dinheiro era mais importante que meu almoço. 

Me levantei, prestes a alcançar minha mochila, quando o garoto a agarrou e colocou embaixo do balcão.

–Você vai sentar aí. –Ric falou, passando a mão pelo cabelo loiro. –Até porque, a gente precisa de alguém que já tenha comido outros tacos para dizer pra velha aí que os dela não são os melhores do mundo. 

Marny bateu com uma colher de madeira no braço dele, indignada. 

–Quem você está chamando de velha? 

–A Gabby! –ele berrou, esfregando o lugar onde a colher tinha pego. –Você não viu os cabelos brancos que ela tem? Horrível! 

Por mais que estivesse rindo, realmente não queria gastar mais do que o necessário, ainda que amasse taco. 

–Não tenho como pagar, Marny. Agradeço de verdade, mas não quero comer fiado no seu restaurante. 

Ela me olhou por uns segundos, depois me ignorou e continuou a preparar a comida. 

–Esqueci de comentar com você que o almoço vinha incluído no salário. –vi quando Ric a encarou, surpreso. –Agora, traga para cá esse seu traseiro jovem e bonito e aprenda a fazer os melhores tacos do mundo todo. 

Não havia lugar para discussão. Então, eu não discuti. 

Estava sorrindo sem nem perceber, porque gostava dos dois. De um jeito bizarro, pareciam como uma família que eu nunca iria ter. 

Uma hora depois, as pessoas começaram a chegar. Sabia que a maioria dos adolescentes passava por ali todos os dias, mas não fazia ideia do quanto literal poderia ser “a cidade toda”. Os médicos, enfermeiras, policiais, cabeleireiros, professores, comerciantes, empresários... Todos eles passavam para pegar um café, almoçar, comprar uma água, e todos se conheciam. 

Não era a toa que Ric tinha trancado a faculdade para ajudar. Mal dávamos contas nós três. 

–Oi, Marny. –um cara alto e sorridente cumprimentou. Ele era bonito, de um jeito que poucos homens de cabelo branco nos quarenta anos poderiam ser. 

–Evan! –ela apoiou os cotovelos no balcão, como quem tem muito a conversar. –Como vai indo? 

Ric estava do outro lado do café, conversando com algumas estudantes, e não havia nada que eu pudesse fazer depois de atender todos os clientes que esperavam. Simplesmente me encostei, e tentei não sentir culpa escutando a conversa toda. 

–Bem, na verdade. Ainda temos alguns problemas, mas vamos superar. –ele balançou a cabeça, com o cabelo sem mexer sequer um fio. –E você? Sem nada mais para reformar por aqui? 

Tinha algo familiar nele. O tom de voz, o jeito que se mexia. Algo muito... parecido com alguém. 

–Não. Você sabe que eu o chamaria na hora. –ela se virou para mim, e abriu um sorriso. –Essa é a Gabby; ela vai me dar uma força por aqui. 

Devagar, os olhos dele se fixaram em mim, e tudo que eu queria fazer era piscar até sumir sua semelhança com Tobias. 

–Prazer. –ele deu um pequeno aceno de mão, combinado com um sorriso gigantesco. –Soube que você e sua mãe se mudaram recentemente. 

Confirmei com a cabeça. 

–Viemos na sexta. –queria acrescentar também que iríamos embora logo, só por garantia. Ele parecia bonito demais para que minha mãe conseguisse resistir. –É uma cidade um pouco diferente das que já moramos. 

–Bom, quase oitenta por cento é construção minha. Então, espero que seja um diferente bom. –seus olhos azuis piscaram, como se estivesse tentando descontrair. 

–Evan é o arquiteto da cidade. Se você e sua mãe decidirem ficar e construir uma casa, ele é fenomenal. –ela levantou uma sobrancelha, com um sorriso bondoso. –E solteiro. Sua mãe não está à procura de um partidão?

Senti meu coração rasgar no peito, aos poucos. 

–Ela está só brincando. Sobre a parte de... me oferecer como um pedaço de carne. Mas sobre a construção da casa, pode me chamar a hora que quiser. –eu odiava que fosse tão simpático. Minha mãe com certeza morreria de amores por ele. 

Assenti com a cabeça, enjoada demais para responder. 

–E como tá o Trenty? Ele não veio almoçar, então imagino que esteja melhor. 

Tobias. Eu sabia que tinha algo a ver com ele! 

–É, mais ou menos. A terapia tá ajudando, mas Jon não se curou totalmente, e isso afeta muito em tudo. –Evan balançou a cabeça, como se quisesse desesperadamente mudar de assunto. –Pode me ver o de sempre, Marny? 

Não sabia descrever o grau de parentesco dos dois, mas me indignava estar tão interessada no assunto apenas porque envolvia Tobias. Ou ter ficado tão desapontada por não ter aparecido, o resto do dia inteiro. 

A casa que eu e mamãe estávamos dividindo era devidamente pequena. Tinha uma sala, dois quartos, um banheiro e uma cozinha minúscula. Mesmo assim, entrar lá era bom. Minhas mãos estavam cansadas, minha cabeça lotada e meu corpo exausto. 

–Ei, querida! –minha mãe berrou, da cozinha. –Tô fazendo omelete, para você e para mim. Como foi seu dia? 

Joguei a mochila no sofá de dois lugares, sentindo o peso escorregar pelas minhas costas. 

–Você foi ao mercado? –perguntei, esfregando os olhos. No caminho do café até a casa, tinha descoberto o quanto ter dormido apenas quatro horas na noite anterior tinha acabado comigo. 

–Sim. Usei um dinheiro que achei no meu casaco. –ela deu de ombros, se virando para me dar um beijo na testa. 

Não pela primeira vez, suspirei ao notar seu sorriso. Era linda demais para seu próprio bem. Tinha um corpo deslumbrante, e o rosto era tão delicado e simpático que fazia estranhos sorrirem na rua como se fossem amigos de longas datas. 

Não era surpresa nenhuma sua facilidade em entrar em relacionamentos tão rápido. 

–Fez alguns amigos? 

Revirei os olhos. Milhares de vezes. Até que eles estivessem doendo. 

–Não. Nem conheci nenhum garoto, nem um professor extremamente legal, nem um emprego maravilhoso, nem nada que nos obrigue a pensar duas vezes antes de fugir daqui. Pode ficar tranquila. 

Mamãe respirou fundo, largando a frigideira. Observei seus ombros subirem e descerem, para depois analisar sua expressão neutra. 

–Gabby... 

–Tá tudo bem, mãe. –neguei com a cabeça, sentindo a cabeça doer. –Desculpa, foi um dia longo. 

Dei um beijo na bochecha dela, porque era o que a fazia evitar brigar comigo.

–Não vai querer sua omelete, então? –dava para ouvir na sua voz o quanto estava chateada. 

Marny tinha me mantido alimentada, ao longo da tarde. A ideia de comer qualquer coisa naquela hora me fazia ficar enjoada. 

–Não. Pode comer.

Meus tênis faziam um barulho alto se arrastando pelo chão, mas levantar os pés exigia esforço demais. 

Conseguia sentir no ar o quanto mamãe estava chateada, mas não me preocupava tanto pedir desculpas. No dia seguinte iria acordar e sentir remorso, mas naquele momento só pensava o quão macia era a cama. 

–Gabrielle. –chamou, me fazendo virar aos poucos. –Vamos almoçar juntas amanhã. 

Almoçar juntas? Como mãe e filha, normais? Para sentar e comer algo, conversando sobre o clima?

–Tipo... almoçar? 

Ela confirmou com a cabeça, mordendo o lábio. Era o que fazia quando estava nervosa demais para falar o que queria. 

–Claro. Sim. Vamos... almoçar juntas. –tentei não sorrir na frente dela, porque só mostraria o quanto queria aquilo.   

Não gostava que mamãe se sentisse culpada pelo que acontecia. Ela só… se envolvia com as pessoas erradas. E ficava quebrada em tantos pedaços que não dava conta de lidar com as situações. Eu entendia. 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...