Os degraus da escada eram bem maiores do que pareciam realmente ser. Subi com dificuldade e me deparei com uma cena desagradável: toda beleza peculiar do térreo não era vista no primeiro andar.
Aquele andar tinha um quê de mórbido. Uma sensação estranha e pesada começou a tomar conta do meu corpo. O chão era escuro e encardido, cheio de manchas. As paredes eram brancas como as outras, mas pálidas. Parecia que a luz não batia do mesmo jeito naquele andar como batia no térreo.
Só havia portas do lado direito do corredor. O lado esquerdo era preenchido por enormes janelas com grades. 99, 100, 101, 102, 103. Achei. Uma porta grande, antiga e encardida como o chão. Bati.
- Olá querida. Pode entrar.
Entrei com calma e reparei em cada detalhe. Era um consultório escuro. As duas janelas que tinham estavam cobertas por grossas cortinas cinza chumbo. O chão de madeira era coberto por um tapete laranja e as poltronas pretas de couro pareciam ser confortáveis. Um sofá também preto e de couro ficava de frente pra uma mesa enorme de mogno, cheia de papéis e canetas e receitas. Atrás da mesa, uma estante gigantesca com muitos livros grossos. Algumas plantas nos cantos.
- Pode se sentar, onde preferir.
Eu me sentei no sofá e percebi que realmente, REALMENTE não queria estar ali.
- Vamos, me conte sobre a sua vida.
Os quarenta minutos seguintes foi de tudo que vocês já sabem. E depois ela me fez aquelas perguntas idiotas como "você toma remédios?" ou "você se corta?" e eu já estava revirando os olhos pra tudo aquilo. Odeio as decisões que eu tomo quando estou sentimental.
- Bom, eu percebo só um quadro bem leve de depressão que será muito bem resolvido com as terapias. Agora venha, quero te mostrar o resto do prédio.
Saímos da sala, ela enlaçou seu braço esquerdo no meu direito e fomos subindo as escadas. O corredor de cima era pior que o que estávamos. As paredes eram sujas e aquelas janelinhas nas portas dos quartos dos pacientes também eram sujas, algumas de sangue. Isso me assustou um pouco.
O último andar era horrendo. De verdade. Não tinha janelas, eram apenas solitárias, chão sujo, mais solitárias e gritos. Os olhos dela fixos nas celas brilhavam. Eu fiquei com medo, dela e do lugar.
- No subsolo é o necrotério, mas lá eu não posso te levar. - e sorriu.
Meu celular tocou e eu pulei de susto. Agradeci à todos os deuses que existem por ser o Ed pra avisar que ele estava na recepção me esperando.
Me despedi dela e saí. Parecia que faziam horas que eu não respirava.
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