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História Dandelion - Alianças e Negociações


Escrita por: KakaLeda

Notas do Autor


OIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIE ALIENÍGENAS E TERRÁQUEOS

Vocês me jogaram uma montanha de teorias e de suspeitos, mas como bem sabem, eu não gosto de dar spoilers, e minhas dicas são bem sutis - um aviso: prestem atenção em possíveis dicas ocultas, eu faço isso às vezes ahahahahahahaha *U*
Vou lhes dizer uma coisa importante -> na época da primeira temporada, uma leitora me fez uma pergunta que uma de vocês me fez capítulo passado, a resposta foi a mesma para ambas, mas o significado pode ser outro se for levar em consideração a época da primeira pergunta(resumindo, essa resposta pode eliminar alguns suspeitos)
Ah, e mais uma coisa: Eu nunca disse que só existia um traidor *U*
Enfim, espero que gostem do capítulo de hoje <3<3<3<3
Ps: O carinha da capa do capítulo é HUGO KELLER

MÚSICA NO FINAL♬

Capítulo 46 - Alianças e Negociações


Fanfic / Fanfiction Dandelion - Alianças e Negociações

Sophie

 

            O senhor Conor Saar era realmente bom com o golfe, cada uma de suas tacadas eram precisas e tinham uma pontaria de dar inveja. As bolas voavam pelo campo verde e caíam perfeitamente dentro dos buracos no gramado, acrescentando pontos e muito dinheiro aos bolsos do apostador Hugo.

            – O senhor desmotiva qualquer um numa partida, senhor Saar – eu falei ofegante, meus braços doíam por culpa das várias horas segurando aquele taco gigante e pesado.

            Conor sorriu um meio sorriso.

            – Ele é minha pata dos ovos de ouro, senhorita, Conor tem uma mira inabalável – disse Hugo enquanto checava o dinheiro recém-recebido das últimas apostas.

            – Eu percebo – falei, me preparando para a próxima jogada. Foi então que lancei meu olhar para uma elevação na parte de trás de cinto de Conor, de soslaio reparei que Hugo também portava uma arma no quadril. Dei-me conta que estávamos cercados por seguranças, alguns expostos e outros vestidos como jogadores de golfe, apenas para disfarçar. Conor e Hugo não confiavam em mim, ou não confiavam em ficar próximos de mim.

            Então tive uma ideia para agilizar e fazer a conversa andar ao meu favor, olhei para cima e observei um grupo de gansos curtindo um voo naquele raro dia sem muitas nuvens na Alemanha.

            – Se eu acertar aquele buraco, quero algo em troca dos senhores – eu disse.

            – E o que seria? – Conor perguntou, para minha surpresa, já que ele parecia ser do tipo calado.

            – Do senhor Conor, quero que me mostre suas habilidades em mira abatendo um ganso para mim – e propus, depois me virei para Hugo – E do senhor Hugo, quero saber o motivo de ter tantas armas ao nosso redor... Ou seria ao meu redor? – eu disse, apontando para os seguranças.

            Conor e Hugo trocaram olhares significativos, depois se viraram para mi m e exibiram sorrisos de divertimento.

            – Vou lhe dizer e ainda lhe pago uma bebida – Hugo falou.

            Eu respirei fundo e apertei o taco, depois me curvei e encarei bem o percurso e o alvo, desenhei a trajetória da bola em minha cabeça e calculei tudo que pudesse vir a atrapalhar aquele caminho – vento, grama, pedra, insetos – então levantei o bastão de madeira curvado e usei uma força calculada para atingir a bola. Suspirei fundo de alívio quando a esfera encontrou o destino esperado.

             – Eu gostaria de algo sem álcool, por favor – eu falei para Hugo, com um sorriso vitorioso no rosto.

            Hugo sorriu e chamou um garçom, ele fez o pedido e despachou o rapaz logo em seguida.

            Conor pegou seu revolver e mirou para o alto, então esperou o maior dos gansos passar bem em cima de nós para atirar. Bastou um tiro para o alvo cair morto no chão.

            – E então? O que vai fazer com o pobre animal? – Hugo perguntou.

            – Eu soube que o prato preferido do senhor Saar é ganso assado. E imaginei que um almoço assim agradaria a todos – eu falei, usando um tom de voz cativante. Chamei outro garçom que estava próximo e lhe entreguei o animal, depois lhe pedi que fizesse o prato. Por fim me virei para Conor – E eu também queria averiguar se o senhor também era bom com uma arma. Imagino que não tenha usado armas para atirar apenas em animais.

            Conor me analisou antes de responder.

            – Existem certas pessoas que eu classifico como animais – Conor falou. Sua voz rouca estremeceu minha espinha, aquele homem era definitivamente um assassino.

            – Senhorita Sophie, a sua bebida. Uma Soda Siciliana, sem nenhuma gota de álcool – Hugo falou enquanto pegava a bebida da bandeja do garçom – Agora vamos nos sentar, preciso cumprir minha parte do acordo.

            Assim que todos sentaram-se à mesa a alguns metros de distância, Hugo colocou sua arma sobre a mesa e bebericou seu Martini.

            – Quem é você, senhorita Sophie? Todos pensam que é uma convidada de Milo, mas eu sei quando uma pessoa esconde alguma coisa.

            – O que acha que eu sou então? – bebi um gole da Soda para tentar acalmar meus nervos. Que delícia!

            – Uma espiã... Uma desertora... Uma mercenária... Alguém em busca de objetivos – Hugo sugeriu.

            Eu bebi o resto da Soda e lambi meus beiços adocicados pelo líquido antes de responder.

            – Não, não, não e talvez – eu respondi a cada uma das opções – Acredito que não sou a única aqui que almeja alcançar alguma coisa.

            – Certamente... Com quem a sua lealdade está, senhorita Sophie? – ele perguntou, os olhos me analisavam.

            – Depende, com quem a sua lealdade está? – dei ênfase à palavra “sua”. Hugo curvou o canto da boca, algumas rugas da velhice apareceram.

            – Sou leal aos meus negócios, aos meus fornecedores – ele respondeu, bebericando mais uma vez o Martini – O dinheiro mantém promessas de fidelidade, mas não sinto um desejo por dinheiro em você... E isso é preocupante.

            – E por quê?

            – Vou lhe dar um exemplo: É muito mais fácil calar e domar uma pessoa gananciosa, basta lhe oferecer uma quantia de dinheiro, mas alguém que está atrás de outra coisa pode ser perigoso para alguns... Negócios – ele ameaçou.

            Superei o arrepio em meu corpo com um sorriso nervoso, para minha sorte mais pareceu um sorriso de divertimento.

            – Está certo, eu não estou atrás de dinheiro. O senhor disse que sua lealdade está com seus fornecedores, e, pelo que me lembro, Jean-Louis é o principal deles, e ele também é um patrocinador muito importante para mim; é por esse detalhe que eu gostaria que fôssemos parceiros de “negócios” – eu disse enquanto entregava o copo vazio de Soda ao garçom presente e pedia outro.

            – Que tipo de negócios seriam esses? – Hugo perguntou, ele agora parecia realmente interessado, pois seus olhos brilhavam.

            – Receio que os últimos acontecimentos não estejam sendo do agrado de ninguém. Não serei uma pessoa rancorosa e presumirei então que esses seguranças estão aqui para garantir que nada como o que aconteceu no jantar daquela noite possa vir a se repetir, e não que estejam aqui para me ameaçar – eu disse, sem conter as palavras afiadas. “Eu acho que estou exagerando, preciso ser menos afobada com esses caras!” pensei. Limpei a garganta e recebi o novo copo de Soda que outro garçom vinha trazendo, depois de beber um gole virei-me novamente para Hugo, com um sorriso mais confiante do que eu estava me sentindo – Em resumo, estou aqui para ajuda-los, meus senhores, em prol do nosso patrocinador. É claro que devem estar se perguntando o motivo pelo qual estou instalada na casa de Milo, mas vejam bem, meus motivos aqui são em benefício de todos; e assim como o senhor Hugo não tem apenas Jean-Louis como patrocinador, eu também não tenho.

            – Eu entendo, e me desculpo pelas minhas... Suspeitas indecorosas – Hugo falou. De soslaio vi que Conor guardou seu revolver, presumi que aquilo era um ato de confiança por parte dele. Suspirei de alívio, mas logo vi que meu relaxamento foi precipitado – Você me contou tanta coisa, senhorita Sophie... Sem temer a possibilidade de eu ser a pessoa por trás de tudo isso – ele me encarou com o mais sinistro dos olhares e exibiu os dentes num sorriso maquiavélico – O que a faz pensar que, nesse exato momento, não está correndo perigo?

            Hugo fez um sinal com os dedos e, imediatamente em seguida, seus treinados seguranças apontaram suas armas para mim.

            Demorou dois segundos para que meu cérebro pudesse compreender a situação, meu corpo não se moveu – tanto pela surpresa quanto pela pequena dúvida que surgira dentro de mim, junto a um medo – dei uma boa olhada ao meu redor e terminei o percurso dos meus olhos nos olhos de Hugo. Depois eu sorri.

            – Simples. Se Jean-Louis cair, você também cai, assim como Milo e os seus demais fornecedores que se encontram neste momento em Berlim – meu tom de voz era calmo e potente, assim como Kim me ensinou – Mais de 70% das suas ações se devem ao dinheiro do Mikhailov, fora a dívida que você tem com ele por ter sido salvo de uma pena de morte em 85 e o dinheiro sonegado que você recebe dele uma vez por bimestre em troca das suas armas ilegais. Sim, senhor Hugo Keller, eu fiz meu dever de casa.

            Todos permaneceram em silêncio, Hugo juntou as mãos na frente do rosto e apoiou a testa nos dedos entrelaçados, e então disparou a rir. O sorriso era ao mesmo tempo insano e incrédulo, como se jamais tivesse escutado tantas coisas absurdas ao mesmo tempo. Ele me encarou, ainda sorrindo, bebeu todo o álcool que ainda restara em seu copo e suspirou fundo, jogando a cabeça para trás.

            – Por que tudo que vem de Jean sempre me surpreende? – ele murmurou para si mesmo, depois mandou os seguranças baixarem suas armas e se virou para mim – Você venceu, mocinha. Ganhou um parceiro de negócios e, se quiser, um amigo. Sempre me perguntei que tipo de garota era você, a menina dos rumores, vejo agora que eles não fazem jus à sua pessoa... Mas são bem sinceros no que se referem ao romance entre você e o filho de Jean – eu congelei. Droga, essa conversa não! – Me pergunto se outras partes dos rumores também são verdadeiros.

            Ele estava se referindo ao casamento e à minha suposta gravidez.

            – Tudo que existe entre Castiel e eu está no passado – “Por favor, caia nessa!” – Os demais rumores não passam de mentiras.

            – No passado? – ele perguntou, os olhos fixos em algo atrás de mim – Por que eu não consigo acreditar muito nisso?

            Acompanhei seu olhar e encarei sobre o ombro aquele sujeito se aproximar de nossa mesa. Demorou um segundo para eu reconhece-lo por culpa da cor negra de seus cabelos que eu ainda não estava familiarizada por completo. Segurei o ar quando ele passou pelos seguranças e puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado.

            – Senhor Castiel, é bom vê-lo tão saudável depois de termos passado por uma noite tão movimentada – Hugo o cumprimentou, mas seus olhos não paravam de me encarar.

            Conor fez um movimento com a cabeça para Castiel.

            – O mesmo para os senhores, senhor Keller. Meu pai está convidando os dois para um jantar particular em nossa mansão, ele espera vê-los presentes esta noite – Castiel falou, ainda ignorando minha presença.

            – Veio até nós apenas para dar este convite? – Hugo perguntou, incrédulo.

            – Sinto muito, mas não. Aproveitei que teria assuntos a resolver aqui e vim fazer o convite pessoalmente – Castiel se levantou, apertou a mão de ambos e, para meu completo espanto, puxou minha mão – Se me derem licença, preciso que ela me acompanhe.

            – O que está fazendo? – falei entredentes.

            – Mas tão cedo? Não quer ficar para almoçar um ganso conosco? Foi o próprio Conor que abateu o animal – Hugo falou enquanto saboreava outro copo de Martine.

            – Obrigado, mas não poderei ficar para este almoço, prometo que recompensarei o convite no futuro. Agora, se puderem me dar licença... – Castiel mais uma vez puxou minha mão. Eu a puxei de volta, forçando-o a me soltar.

            – Desculpe-me senhor Mikhailov, mas não posso mal educada a ponto de sair no meio de uma conversa – meu maxilar estava trincado. O que Castiel estava fazendo?

            – Não se preocupe, senhorita, nossa conversa já acabou. Não será falta de educação se for agora – Hugo falou com um sorriso.

            Eu o encarei e depois encarei Castiel, por fim segurei uma revirada de olho e me despedi da dupla de empresários. Então segui Castiel.

            – O que pensa que está fazendo? – meus punhos estavam cerrados nas laterais do corpo – Então decidiu o que vai fazer comigo? Atrapalhar-me, é isso?

            – Bem que eu gostaria, mas não – Castiel resmungou, nós já havíamos saído de vista de Conor e de Hugo, mas ele ainda me segurava pelo pulso.

            – Para onde está me levando? – ele não respondeu, então eu puxei meu braço com mais força – Pare com isso!

            Algumas pessoas que jogavam ali perto nos encararam. Castiel finalmente soltou meu pulso e passou a mão no rosto, como se estivesse exausto.

            – Está bem, eu não vou entrar no seu caminho, mas você vai ter que me dizer o que veio fazer aqui, e por quê. O que meu pai lhe prometeu? – Castiel fixou aqueles olhos cinzentos nos meus, me instigando. De repente o calor daquele olhar me causou tonturas, ou era apenas o Sol? Eu não sabia direito, minha cabeça começou a doer e minha barriga embrulhou. Percebi que eu estava realmente ruim quando Castiel se mostrou preocupado – Sophie? O que aconteceu? O que você comeu?!

            Ah, ele deve pensar que fui envenenada.

            – Não é nada, é só... Já faz muito tempo desde minha última refeição, estou com muita fome – não era de todo mentira – Eu iria comer um ganso assado, muito obrigada por ter me tirado daquela mesa antes do almoço – fui sarcástica.

            Castiel me encarou um segundo em silêncio, depois suspirou fundo e segurou um riso.

            – Ah, então é isso... – ele parecia realmente aliviado, e saber disso mexeu na parte mais sensível do meu peito, foi impossível controlar a aceleração do meu coração.

            Castiel então puxou meu braço novamente e se dirigiu para fora do campo de golfe.

            – Para onde está me levando? – eu perguntei mais uma vez.

            – Vou alimentar você – ele finalmente respondeu – Vamos a um restaurante.

            Eu bufei – Apenas me leve para casa...

            Ele me ignorou e continuou me puxando. Já estávamos saindo do lugar e indo para o estacionamento, quando eu desisti de tentar fugir dele.

            – É bom que tenha ganso – eu resmunguei, minha boca fazia um bico.

            Castiel me encarou de soslaio e trincou o maxilar para evitar sorrir, ele abriu a porta do seu Lamborghini e esperou eu entrar naquela máquina – diferente do que tinha no Brasil, esse era mais elegante e menos chamativo.

            Não demorou muito para voltarmos para o centro movimentado de Berlim, pessoas andavam de um lado a outro, com suas elegantes roupas de frio. Eu não sabia se a repentina queda de temperatura se dava pelo fato do terreno de golfe se encontrar numa área afastada da cidade, o se era porque nuvens de nevasca se aproximavam. Abracei a mim mesma na tentativa de controlar o frio.

            Minutos depois Castiel estacionou de frente a uma loja de marca.

            – O que estamos fazendo aqui...? – eu perguntei.

            – Espere mais um pouco pelo ganso, primeiro vou tirar a sua roupa – ele disse, e novamente o encarei atônita. Castiel paralisou por um instante, revendo suas palavras, então novamente limpou a garganta e tentou se consertar – Vou trocar, não... Você vai trocar a sua roupa.

            – Qual o problema com o que estou vestindo? – olhei para minhas roupas de golfe, a calça e a blusa branca estavam um pouco sujas de grama, e devo admitir que aquela roupa apertava alguns pontos sensíveis do meu corpo, mas nada de muito horrível para que eu tivesse  que trocar minhas vestes.

            – Não sei o que está fazendo aqui em Berlim, mas reparei que está tentando se misturar. Se for isso mesmo, eu sugiro que entre naquela loja e escolha algumas roupas – ele falou.

            Fiquei parada uns instantes, antes de soltar o ar e revirar os olhos, derrotada. Por fim, entrei na bendita loja.

            E lá dentro tive um ataque interno. Vou ser sincera, sempre passei por lojas desse tipo e fiquei babando enquanto encarava a vitrine – apenas a vitrine, porque só entrar num estabelecimento luxuoso como aquele já doía o bolso. As atendentes encararam o carro de Castiel estacionado e logo admitiram que nós éramos ricos o suficiente para sermos bem tratados naquela loja, elas me mostraram vestidos, bolsas, calçados, calças, blusas, casacos... Cada peça era única e linda, e tinha uma qualidade inconfundível. Assim como o preço.

            Acabei aceitando que Castiel comprasse algumas peças de roupa para mim, para evitar possíveis discursões, e vesti duas peças das que escolhi: Uma saia lápis na cor bege que descia até um pouco abaixo do meu joelho e tinha uma fenda no lado esquerdo, uma camisa crepe branca com uma abertura na região entre meus seios e um casaco de pele no estilo cape coat, no mesmo tom bege da saia. Para completar, calcei um scarpin nude, sem plataforma, e saí do provador.

            Castiel esperava do lado de fora, ele segurava as sacolas com roupas. Assim que saí da loja, ele me observou dos pés à cabeça, analisando cada centímetro do meu corpo. Fiz um barulho alto com a garganta para que ele parasse de fazer aquilo antes que eu começasse a ficar vermelha.

            – Vamos logo, também estou com fome – Castiel falou enquanto afrouxava a gola da camisa.

            Entramos no carro e partimos para o destino que Castiel tinha em mente, meu estômago estava reclamando muito então foi complicado manter a calma quando entramos em alguns engarrafamentos – ainda mais agora que minhas emoções estavam um pouco descontroladas por culpa da gravidez – mas fiz um esforço para não aparentar o incômodo que eu sentia. Ora ou outra eu sentia os olhos de Castiel sobre mim, e isso só piorava o descontrole.

            Quando finalmente chegamos, reparei que o local não era extravagante – para o meu alívio – a fachada era rústica e bonita, com um letreiro elegante exibindo o nome do restaurante, Heising. Lá dentro fomos atendidos por um senhor com um sorriso gentil, ele nos levou até uma mesa próxima a uma lareira. O lugar, assim como a fachada, era cheio de detalhes rústicos, os móveis eram clássicos e antigos e os lustres brilhavam num tom amarelo que fazia o espaço se transportar para o século passado. Era aconchegante e quente.

            – Você parece ter gostado daqui – Castiel comentou, seus olhos me observavam. Havia um brilho sutil neles.

            – Sim... Eu gostei mesmo – murmurei, eu encarava os talheres sobre a mesa, a porcelana fina era decorada com detalhes dourados e com o símbolo de Heising, as taças idem. Eu me senti num palácio.

            Assim que Castiel e eu lemos o cardápio e fizemos nosso pedido – lambi os beiços ao ver Ganso assado entre os pratos principais do menu – ele fixou os olhos em mim novamente, seu rosto inexpressivo me deixava nervosa e constrangida, e ao mesmo tempo temerosa com os seus possíveis pensamentos.

            – Quando vai decidir me responder? – ele quebrou o silêncio.

            – Já disse que estou aqui a negócios com o seu pai... – desviei o olhar, eu estava cansada de discutir aquilo com Castiel. Até porque era a única coisa pelo qual conversamos desde o nosso reencontro.

            – Você viu o que aconteceu no jantar, você viu as armas, você viu...

            – As suas tatuagens? – eu o interrompi, meus olhos fixos nas caveiras em seus dedos.

            – Sabe o que elas significam? – ele me lançou um olhar inquisitivo.

            – Sei – senti uma pontada no peito, até aquele momento eu queria acreditar que aquelas tatuagens não passavam de ilusões da minha cabeça.

            – E então? Tem total confiança que vai conseguir terminar o seu “trabalho” em meio a tudo isso? Em meio a assassinos? – ele falou entredentes.

            – Você... É um assassino? – isso fez sua boca se fechar numa linha fina.

            – Sou desde muito antes de conhecer você.

            – Você gosta disso? Você se arrepende? – eu disparei.

            Castiel hesitou, seus dedos brincavam com a boca da taça de cristal.

            – Não, eu não gosto... E me arrependo – ele falou num suspiro.

            Eu também suspirei, de alívio. Ele ainda era o Castiel que conheci.

            – Eu só preciso saber disso – foi tudo o que falei.

            Castiel ficou sem palavras.

            Não tardou para os pratos serem trazidos à nossa mesa, o cheiro do ganso assado provocou um reboliço bom em meu estômago. Misturado ao molho e às verduras, a carne do pássaro me trouxe uma explosão de sabores temperados, foi uma das melhores refeições da minha vida.

            Enquanto eu saboreava uma coxa, Castiel fez uma ligação em russo, o que impossibilitou meu entendimento – e ele devia saber disso – depois que terminou, arregalou os olhos para mim e para o meu prato e assobiou.

            – Você está pior do que antigamente, come mais do que... – ele ia falar alguma coisa, mas se interrompeu quando viu meu olhar afiado. Castiel então limpou a garganta e desviou o olhar.

            – E então... Largou a escola sem mais nem menos? – ele mudou de assunto.

            – Você fez a mesma coisa – falei, concentrada no peito do ganso – Mas continuo estudando. Assim que eu voltar para o Brasil, vou retornar com o meu ritmo normal.

            – Estudando... Foi assim que você soube resolver o problema daquele veneno? – sua voz não era inquisitiva, apenas curiosa.

            – Você sabe que eu gosto de química.

            – Além de dançar? Sei sim, eu lembro... – ele apoiou a cabeça na palma da mão.

            Perguntei-me se ele estava se recordando dos dias em que o ajudei com estequiometria e equilíbrio químico. Castiel era bom em exatas e em ciências da natureza, mas química o destruía sempre.

            E pensar nisso me fez sorrir involuntariamente. Limpei a garganta e tentei me controlar.

            – Desculpe – minha voz saiu nervosa por causa do riso.

            Castiel não falou nada, ele manteve seus olhos no prato.

            Até que suspirou e sussurrou.

            – Você surpreendeu a todos – ele reconheceu – E a mim.

            Eu desviei o olhar na tentativa de não parecer envergonhada com aquele suposto elogio. Por que eu tinha que ficar vermelha toda vez que ele me dizia algo do tipo?!

            Quando nós dois terminamos de comer, uma senhora gentil – que parecia ser a proprietária do local – veio nos cumprimentar.

            – A comida estava do agrado de vocês? – seu sotaque alemão era evidente.

            – Muito boa, deliciosa – eu falei, sendo completamente sincera. Que ganso!

            Castiel também elogiou o almoço, o que fez a senhora sorrir de orelha a orelha.

            – É muito bom ver pessoas com bom apetite como sua namorada, normalmente jovens ricas nessa idade mal comem uma coxa inteira – a senhora comentou.

            Castiel e eu nos encaramos, e desviamos o olhar em seguida, pois ficamos incomodados com a definição “namorada” usada pela mulher.

            – E-eu não sou a namorada dele... – tentei explicar para a senhora. Ela nos observou, como se não estivesse acreditando no que eu estava dizendo, e pediu desculpas pela confusão.

            De repente Castiel se levantou da mesa e puxou meu braço.

            – Eu já paguei, vamos – ele falou com o maxilar tensionado.

            – Qual é o seu problema? – eu reclamei, puxando meu braço de volta.

            Castiel o soltou, contrariado, e bufou, resmungando um xingamento em russo, depois pisou forte até a saída do restaurante. Eu me virei para a senhora e pedi desculpas pela atitude grosseira dele, trinquei os dentes de raiva e fui atrás daquele garoto metido a gangster – se bem que ele era mesmo um gangster.

            Lá fora o encontrei encostado no seu Lamborghini, as mãos escondidas nos bolsos do casaco e a gola cobrindo metade do seu rosto lhe davam uma aparência sombria e perigosa.

            – Será que dá pra parar de me tirar dos lugares dessa forma? Puxando-me? – eu reclamei, me aproximando – E o que foi aquilo ali dentro? Voltou a ser aquele garoto mal educado do primeiro dia de aula? – continuei reclamando, dessa vez ele se desencostou do carro e começou a se aproximar de mim, os olhos fixos em meu rosto, sem nenhum sinal de hesitação. Eu recuei um passo – O que exatamente você quer fazer comigo aqui? Se não vai me atrapalhar e nem me ajudar... Então o quê...

            E então ele segurou meus ombros e me colocou contra o seu carro, seu corpo de frente para o meu, me pressionando e me impedindo de fugir. As mãos dele em meus ombros eram quentes e firmes, a proximidade do seu abdômen era tanta que eu conseguia sentir a superfície cheia de músculos de Castiel, e a pequena distância entre nossos rostos permitia que sua respiração condensada pelo frio alcançasse o meu rosto e nublasse minha visão. Aqueles olhos, nossa... Aqueles olhos! Tão profundos e intensos. Dois cinzeiros prontos para ganhar chamas e me incendiar.

            Se não bastasse isso, Castiel piorou minha situação quando inclinou sua cabeça para tocar meu pescoço com o nariz, e inspirou fundo, absorvendo meu cheiro e me deixando arrepiada com o calor de sua respiração. Logo eram seus lábios sobre minha pele sensível, beijando bem de leve os pontos um pouco abaixo da minha orelha e mandíbula, enquanto seu joelho se encaixava no meio de minhas pernas. Ignorei o fato de estarmos no meio da rua, com pessoas encarando, e virei meu rosto para trás de prazer. Há quanto tempo não venho sonhando com o toque de Castiel em minha pele, meu corpo sentia falta dele, eu ansiava por ele a cada instante. E ver – e sentir – o que ele estava fazendo comigo só me mostrava que ele queria o mesmo, e que também sentia falta do meu corpo. Talvez de mim.

            No entanto, ele afastou o rosto de repente e me encarou, ofegante.

            – Eu não sei... A resposta para a sua pergunta é: Eu não sei – ele sussurrou, me soltando após mais um segundo.

            Ele deu a volta no carro e se sentou no banco de motorista, enquanto que eu fiquei estática naquele mesmo lugar sem saber bem o que havia acontecido.

            – Senhorita? – um homem de terno, que parecia ser um segurança, me abordou – O senhor Castiel pediu para que eu a levasse para a casa do senhor Milo.

            Encarei Castiel dentro do carro, ele não olhava para mim, mas aguardava a minha partida.

            – Entendi, obrigada – falei ao segurança.

            Dei uma última olhada em Castiel antes de seguir o segurança, engoli em seco ao me dar conta de que aquela havia sido mais outra despedida fria entre ele e eu, mais uma para a minha lista. O problema era que agora meu coração parecia prestes a explodir de esperança renovada. Maldito Castiel.

 


Notas Finais


♬Música: https://www.youtube.com/watch?v=6peJhaKkTVg

E então, meus amores???????????? Suas cabeças explodiram com essa atitude do Castiel???????? O que acharam do papo com aqueles empresários????? Suas teorias continuam firmes e fortes???? Me digam tudo, quero saber >--<
Kissusssssssssssssss e até o próximo cap<3


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