História Danganronpa 0.5: Shinkibou - Capítulo 2: Altruísmo - Egoísmo (Ato 1)

  Alguns dias se passaram, e não conseguimos tirar aquelas imagens de nossas cabeças. Pelo menos não eu.
O corpo de Amata, a execução brutal de Daichi... havíamos perdido dois amigos em um período de uma semana!

-Aham! Com licença! O dia está começando! Vamos dar o nosso melhor para fazer do dia de hoje o melhor dia! (Monokuma)

Era o anúncio de Monokuma, indicando que estava começando um novo dia. Mas eu já estava acordado quando ele o fez. Eu não consegui dormir direito a noite, e no espelho do banheiro eu podia claramente ver que estava com olheiras. Eu lavei meu rosto com água gelada e dei dois tapas em meu próprio rosto, tentando deixar a mim mesmo disposto para encarar mais um dia naquela escola.

-Bom dia, Kenji. (Fumio)

A primeira pessoa que me cumprimentou quando saí do quarto, surpreendentemente, foi Fumio Manabu.

-B-bom dia, Fumio... (Kenji)

Isso é estranho. Ele geralmente acorda antes de todos.

-Aposto que está pensando “Isso é estranho. Ele geralmente acorda antes de todos. ”, Não é? (Fumio)

-Como sabia?! (Kenji)

-Eu hackeei sua mente. (Fumio)

-Er...eu tenho quase certeza de que a tecnologia moderna ainda não permite isso. (Kenji)

-Haha, estou brincando. Sua expressão confusa entrega tudo. Bem, é que eu custei a sair do quarto hoje... (Fumio)

Foi a primeira vez que vi ele rir, e também a primeira vez que vi alguém mudar de expressão tão rápido. Ele estava bem melancólico.

-Kenji! Fumio! Bom dia! (Izumi)

-Bom dia. (Fumio)

-Oi, Izumi. Bom dia. (Kenji)

-Por que estão tão pra baixo? (Izumi)

Fumio não respondeu. E por algum motivo, aquela pergunta retórica de Izumi me deu nos nervos. Eu nunca tinha me irritado com ela, mas naquela hora me descontrolei e soltei um grito.

-POR QUE VOCÊ ACHA QUE ESTAMOS PARA BAIXO?! DOIS AMIGOS NOSSOS MORRERAM AINDA HÁ POUCO, E VOCÊ QUERIA QUE ESTIVÉSSEMOS FELIZES?!! (Kenji)

-...eu... (Izumi)

Eu logo notei que havia cometido um erro. Fumio me olhava com um olhar ligeiramente decepcionado, e Izumi permanecia levemente em choque.

-Izumi...me descul- (Kenji)

-Não, não, está tudo bem. Você sabe...
Os fracos ao vento bradam
Os fortes apenas aguardam
Sorrir em frente ao desespero
Pode ser um ato de exagero... (Izumi)

Ela sorriu para mim, mas claramente não estava bem. Ela provavelmente estava irritada e magoada comigo...O poema que ela fez improvisadamente comprovava isso.

-Eu...estou indo para o refeitório, okay? (Izumi)

Ela não me esperou responder, e passou direto por nós. Eu olhei para trás, ainda arrependido...mas hesitei em chama-la de volta.

-Sabe, Kenji...algumas pessoas preferem encarar o desespero com um sorriso no rosto. Disfarçar o que realmente sentem. A Izumi é esse tipo de pessoa... (Fumio)

Fumio se retirou sem dizer mais nada. Eu não sou como a Izumi... eu sou do tipo que prefere demonstrar o que sente de forma que todo mundo perceba. Eu gosto de ser o centro das atenções de vez em quando, eu acho. É esse um dos motivos pelo qual eu faço jogos: Não é só para divertir os outros, é também para receber reconhecimento por fazer algo que eu gosto.

Será que eu sou ruim? Eu sou corrupto? Eu sou egoísta?

De qualquer forma,  eu a magoei. Eu preciso me desculpar.

Quando eu estava indo, Kazuki me interrompeu, e Ayaka chegou logo depois.

-Hey, Kennnnnnnji! Onde está nossa nobre princesa poeta? (Kazuki)

-... (Kenji)

-Kenji... aconteceu alguma coisa? Onde está Izumi? Ela ainda não acordou? (Ayaka)

-... (Kenji)

-Kenji, você parece meio perturbado. Você devia ir comer alguma coisa. (Haruka)

A voz de Haruka e sua mão no meu ombro me surpreenderam, e eu me virei para trás, assustado, para a olhar.

-S-sim...eu vou fazer isso... (Kenji)

Me esqueci completamente que Kazuki e Ayaka estavam atrás de mim, visivelmente preocupados. Eu fui para o refeitório a passos largos, ignorando o resto do mundo. Quando eu cheguei, todos estavam lá, exceto Raiden, Kimiko, Akio e os três que estavam ainda saindo de seus dormitórios. E, obviamente, Amata e Daichi... Fumio provavelmente estava na cozinha, como sempre.

Eu tentei me aproximar de Izumi, que estava dormindo em uma mesa usando os braços como travesseiro. Eu dei um toque nela, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela se levantou e foi embora, passando reto por mim. Não deu nem sequer um olhar.

-Izumi parece pra baixo... Vocês brigaram, foi, Kenji? (Chinatsu)

-Uh, uh! Uma briga de casal dá sempre uma matéria polêmica! (Madoka)

Assim que ela saiu do refeitório, cinco dos seis alunos que restavam chegaram. Haruka estava ausente.

-Esse lugar está bem mais quieto sem aqueles dois... (Raiden)

-Hey, o que está dizendo!? Eles eram nossos colegas! (Akio)

-Hmph. Agora só falta você morrer, garoto do futebol! (Raiden)

Raiden olhava para Hiroito, que recuou assustado.

-Pessoal, nossos amigos acabaram de morrer! Vamos ter mais... respeito! (Yoshie)

-Grr... (Raiden)

Parando para pensar, desde aquele Julgamento, Raiden tem implicado menos com Yoshie. No entanto, sua implicância com Hiroito não diminuiu.

Olhei para Kimiko, ela estava bem silenciosa, e se escondendo atrás de Akio, que recentemente havia sido identificado como seu primo. Apesar de que... a relação deles ainda parece meio suspeita.

-A mesa está molhada... (Kazuki)

-O quê? (Kenji)

Nem notei que Kazuki havia se aproximado. Ele observava a mesa em que Izumi estava dormindo há pouco.

-Izumi estava dormindo aqui. Ela provavelmente estava babando de novo. (Kenji)

Ele tocou na pequena poça, eu achei um pouco nojento.

-Não...isso não é saliva. Isso são...lágrimas. (Kazuki)

Aquela constatação acertou meu peito como uma flecha, e aumentou a culpa que eu sentia no mínimo dez vezes.

-Lágrimas...? (Kenji)

-Ela estava chorando... Kenji, o que aconteceu entre vocês? Vocês brigaram? (Kazuki)

-Sim... eu gritei com ela sem querer... (Kenji)

-Você devia pedir desculpas para ela... (Kazuki)

-Mas eu não tenho ideia de onde ela possa estar. (Kenji)

Haruka chegou animada no refeitório, interrompendo nossa conversa e todas as outras que podiam estar acontecendo no momento.

-Pessoal! Vocês viram?! (Haruka)

-O quê? O que aconteceu?! (Chinatsu)

-A-alguém mais morreu?! (Yoshie)

-Não, não, mas abriu um novo andar! (Haruka)

-O quê?! (Todos)

-Sim, sim, pessoal! A cada Julgamento que vocês sobreviverem, um novo andar da escola será aberto para vocês investigarem! Ou... para se tornarem cenas de crimes! Pupupu... (Monokuma)

Monokuma surgiu de repente na sala, mas logo que terminou esta fala, desapareceu sem deixar rastro, como sempre.

-Isso é bom! Devíamos explorar! Podem haver pistas lá de como podemos fugir daqui! (Madoka)

-Talvez não tenha placas de ferro nas janelas do segundo andar e eu possa quebrar elas! (Ayaka)

-Agora que estamos falando disso... Eu estou precisando de um novo chicote. O meu está bem velho. (Raiden)

-Eu acho que no depósito devem haver chicotes também... (Haruka)

-Um depósito cheio de armas... (Akio)

-Eu espero que ninguém pense em usar ele, nunca mais! (Kimiko)

Sim... sem mais mortes... eu realmente espero que isso se torne realidade.

Todos nós subimos ao segundo andar para investigar. Lá haviam algumas salas de aula, havia uma quadra de esportes (como se o ginásio não fosse o suficiente), uma piscina, os vestiários e uma biblioteca.

Mas, para nossa tristeza, haviam placas de ferro nas janelas deste andar, também. E não havia nenhuma brecha que nos pudesse dar esperança de sair.

Nos separamos em grupos, e eu, Kazuki, Haruka e Madoka estávamos checando os vestiários e a piscina.

-Hm...não tem chave nessa porta, como ela abre? (Haruka)

-Parece ter um scanner aqui... (Kenji)

-Será que ela não abre usando os ID’s Eletrônicos? (Madoka)

Kazuki tentou passar seu ID na frente do scanner do vestiário masculino, e a porta se abriu.

-Sim, o olho mágico reconheceu a minha autoridade! Ele abriu os portões sagrados graças ao meu poderoso nome! (Kazuki)

-Bem...é para isso que o scanner serve. (Monokuma)

-Ainda me pergunto de onde você aparece... (Kenji)

-É segredo!
Enfim, as portas dos vestiários possuem scanners, e para abri-las, vocês devem escanear seus ID’s. A porta do vestiário das meninas só abre com ID’s de meninas, e o dos meninos, só com ID’s de meninos! (Monokuma)

-Droga, então sem espionar... (Kazuki)

-Você estava pensando em fazer algo assim?! (Madoka)

-Mas e se alguém roubar ou pegar emprestado um ID de outra pessoa? (Kenji)

-É para isso que eu criei uma nova regra assim que esse andar foi liberado! Vocês não viram? Estão muito desatualizados... (Monokuma)

Pegamos nossos ID’s e demos uma olhada nas regras. Havia, de fato, uma nova regra.

Regra #7: É proibido emprestar seu ID ou roubar o ID de outra pessoa.

Quando tiramos nossos olhos dos ID’s, Monokuma já não estava mais entre nós. Não, não nesse sentido! Embora eu fosse gostar muito...

Entre as duas portas dos vestiários, havia uma porta branca, que não possuía um scanner. Resolvemos abri-la, e atrás dela, havia uma piscina. Era bem grande, já que era para todos nós.

-Uma piscina!! (Haruka)

-Eu vi que é uma piscina. (Madoka)

-Um poço de restauração!! (Kazuki)

-Mal posso esperar para nadarmos um pouco...aliviaria muito a tensão... (Kenji)

-Aposto que você quer ver a Izumi de biquíni, não é, Kenji? (Kazuki)

-Hã!? (Kenji)

-Kenji, seu pervertido degenerado! (Madoka)

-Isso é apenas normal para a idade. (Haruka)

-Não fique falando como se fosse mais velha do que eu! (Kenji)

Depois que olhamos o perímetro da piscina que parecia bem relaxante (embora houvessem câmeras para nos olhar. Monokuma era um pervertido?), eu e Kazuki fomos para a biblioteca. Chinatsu, Akio e Kimiko estavam lá, mas nenhum sinal de Izumi...

-Hum...hum...interessante... (Chinatsu)

-O que foi? (Kenji)

-Tem muitos livros bons aqui, e em diversos idiomas. (Chinatsu)

-Mas algum que possa nos ajudar a sair daqui? (Kenji)

-Nenhum... (Chinatsu)

-Vamos, Kenji, tente relaxar um pouco. Leia um livro. (Akio)

Enquanto eu passava meus olhos pelas diversas prateleiras cheias de livros empoeirados, os computadores que se encontravam alinhados na grande mesa retangular no centro me chamaram a atenção por uma variedade de motivos óbvios.

-Computadores!? (Kenji)

-Ora, ora, a maravilha da tecnologia! (Kazuki)

-Vocês não percebem, isso pode nos ajudar a ver como está o mundo lá fora e pedir ajuda! (Kenji)

-Esquece, Kenji. A maioria desses computadores nem ligam. E os que ligam, precisam de senhas. Ficamos uma meia hora tentando diversas senhas possíveis, sem sucesso. (Akio)

-Eu queria desenhar no computador... (Kimiko)

-Por que não desenha um pouco no seu caderno? (Akio)

-Eu vou fazer isso, obrigada! (Kimiko)

Kimiko realmente parecia uma criança às vezes. E embora Akio fosse seu primo, ele parecia um irmão mais velho. E às vezes um namorado, também...

-Hohoho! (Chinatsu)

-O que foi? (Akio)

-Achei um livro aqui sobre serial killers! (Chinatsu)

-Tem certeza que isso é algo bom para se ler, considerando nossa situação? (Kenji)

-Eu gosto muito dessas coisas! Acho bem interessante! Eu vou ler para vocês, esse idioma é fácil de traduzir! (Chinatsu)

Não tivemos nem tempo de nos opor, Chinatsu já começava a ler o livro em voz alta.

-Aqui, esse é um dos meus favoritos! O Carrasco! (Chinatsu)

-Carrasco? Ele mata as pessoas cortando suas cabeças? (Kazuki)

-Não...e eu entendo que isso possa parecer estranho, mas seu modus operandi é: matar as vítimas eletrocutadas e deixar um adesivo escrito “A sentença foi cumprida” colado na testa da vítima, cujo corpo geralmente é simplesmente jogado em algum lugar. (Chinatsu)

-Ele parece bem...excêntrico. (Kenji)

-E se...e se um de nós aqui for o Carrasco?! (Kimiko)

Kimiko estava se segurando a Akio e tremendo.

-Não tema. Se alguém aqui fosse um serial killer, acho que estaria bem óbvio... Não é? (Akio)

Akio não passou muita confiança, e o silêncio acompanhado de medo e reflexão se fez presente naquela biblioteca.

-Hey, Kenji. Você ainda está me devendo uma partida de xadrez, lembra? O que acha de jogarmos um pouco? (Akio)

-Ah...okay! Acho que estou precisando relaxar. (Kenji)

Akio possuía um tabuleiro de xadrez e peças em sua mochila. Ele a tirou das costas e montou nosso jogo na mesa onde estavam os computadores. Era um ângulo meio desconfortável, mas meh...
Kazuki e Kimiko ficaram nos assistindo, embora eu ache que Kimiko nem sabia como o jogo funcionava; enquanto isso, Chinatsu continuava lendo seu livro, fascinada.

-Às vezes eu acho que a vida é como um jogo de xadrez. E nesta escola, eu estou começando a ter mais certeza disso. (Akio)

Ele jogava com as peças brancas. Ele moveu um peão a frente, e eu, como gosto de variar, movi meu cavalo. Eu estava me perguntando o que ele queria dizer com aquilo. Continuamos a conversar enquanto jogávamos, e o jogo estava fluindo surpreendentemente rápido... a favor dele, claro.

-Primeiro, se movem as peças mais frágeis, os peões. Elas podem ser ameaçadoras, mas facilmente sucumbem perante as peças mais fortes. Claro, ainda há outros que resolvem mover o cavalo, como você, porque acreditam que ele é mais poderoso; mas assim também é a vida: as pessoas poderosas agem no impulso, confiando em suas habilidades, mas são igualmente impotentes perante o talento maior. (Akio)

Eu havia pegado poucas peças dele, e ele estava quase me zerando. Eu estava confiando em minha rainha.

-Na sociedade, cada um tem sua função, assim como nesse jogo. Cada um tem seu jeito de agir, de tentar subir, de tentar alcançar a vitória, e alguns até conseguem. Mas no fim, é tudo inútil.
Até aqueles mais fortes, aqueles que sobrevivem até o fim, uma hora encontram a derrota. (Akio)

Ele finalmente pegou minha rainha e me deu um xeque-mate.

-Chega uma hora em que você se vê sem escapatória, diante daqueles que são superiores. (Akio)

-Você é realmente muito bom...eu não esperaria menos do Jogador de Xadrez Nível Super Colegial..., mas qual foi a desse discurso todo durante o jogo? (Kenji)

-O que quero dizer é... Existem pessoas fracas, e existem pessoas fortes. Cada um tem sua utilidade, mas a única coisa que as pessoas com talento têm de diferente das pessoas sem talento...é que elas aguentam um pouco mais de tempo perante o desespero, antes de quebrar completamente. (Akio)

Aqueles dizeres mórbidos saídos da boca dele me surpreenderam. Não achei que alguém animado como ele pensasse daquele jeito...
Aquilo me levou a refletir.

Depois que saímos da biblioteca, fomos olhar a quadra de esportes, onde estavam Yoshie, Ayaka, Hiroito e Mieto.

-Essa quadra aqui tem de tudo! (Hiroito)

-Você diz isso mas só está olhando para as bolas de futebol. (Ayaka)

-Eu não sou muito boa com esportes, mas... as plantas da decoração são bem bonitas... (Yoshie)

-Quem liga para essas coisas chatas? Olha esse lugar! (Hiroito)

-Ele é bem espaçoso... me dá vontade de dançar aqui! (Mieto)

-Parece que Izumi não está aqui também... (Kenji)

-Vocês brigaram, não foi, Kenji? Kazuki me contou. (Ayaka)

-Você contou para ela?! (Kenji)

-Hehe, desculpe! (Kazuki)

-Ela não parece estar aqui pelo segundo andar. Ela deve ter descido quando soube que iríamos subir, talvez ela queira ficar sozinha... (Ayaka)

-O Tecnomago também não está entre nós. Será que os dois estão juntos? (Kazuki)

Foi aí que notei que Fumio também não estava naquele andar (Raiden também não estava, mas não liguei muito para isso). Comecei a imaginar ele e Izumi juntos...bem que ele disse que ele e Izumi tinham uma “relação”. Que tipo de relação era? Eu comecei a sentir...ciúmes.
Eu estou gostando da Izumi?!

-Eu vou lá procurar eles. (Kenji)

Não esperei ouvir o que tinham a dizer, e saí correndo em disparada em direção às escadas. Desci rapidamente ao primeiro andar, chamando Izumi aos gritos.

-IZUMI!! IZUMI!! (Kenji)

-Hey, fique quieto, você! (Raiden)

-Desculpe... (Kenji)

Toquei a campainha do quarto dela várias vezes, até que ela atendeu. Seus olhos estavam um pouco inchados. Estava chorando ainda?

-Ah, Kenji. (Izumi)

-Izumi, eu... (Kenji)

-Eu estou com sono, okay? Vou voltar a dormir. (Izumi)

-Espera, Izumi! Eu...queria pedir desculpas por ter gritado contigo. Eu me estressei, desculpa... sabe, eu estou muito tenso com... isso tudo.(Kenji)

Ela rapidamente mudou de seu estado melancólico para seu semblante feliz de sempre.

-Hehe, tudo bem! Eu também me senti assim...com nossos amigos morrendo...mas...
Eu estou tentando superar. Sabe, pelo menos eles finalmente estão livres daqui, assim como queriam. (Izumi)

-Olhando por esse lado... (Kenji)

-Enfim, eu acho que vou dar uma olhada no segundo andar. Parece ser bem legal. (Izumi)

Izumi então foi em direção ao recém-aberto segundo andar. Eu fiquei lá, sorrindo, até que Fumio interrompeu meu devaneio.

-Então, você conseguiu se desculpar. (Fumio)

-Fumio! Onde estava? Você soube do segundo andar? (Kenji)

-Sim, sim. Eu estava indo para lá agora. Eu só queria estar aqui para ver quando você viesse pedir desculpas. Parabéns, Kenji. (Fumio)

Depois de me dar uma tapinha no ombro, ele partiu também. Eu fiquei sozinho lá, então resolvi ficar no meu quarto. Até que, um tempo depois, ouvi a campainha tocando. Era Izumi.

-Hey, Kenji, Haruka pediu para nos reunirmos no refeitório. (Izumi)

-Ah, obrigado, eu já vou para lá. (Kenji)

-Vou estar esperando. (Izumi)

Ela deu aquele sorriso que eu adorava, e foi para o refeitório.
É...eu acho que realmente estou me apaixonando.

Fui o último a chegar naquela reunião.

-Kenji, você demorou! (Madoka)

-Desculpe... (Kenji)

-Agora que o Kenji está aqui, podemos começar. (Haruka)

Me sentei numa cadeira e olhei para todos, então Haruka limpou a garganta e começou.

-Esta reunião é para reunir as informações que conseguimos no segundo andar e decidir nosso próximo passo. Comecem. (Haruka)

-Bem, tem uma biblioteca. Tem computadores lá, mas não dá pra usar nenhum deles. (Akio)

-E tem vários livros, mas nenhum que nos ajude a sair daqui. (Chinatsu)

-E é muito empoeirada! (Kimiko)

-Também tem placas de ferro no segundo andar, além de câmeras e monitores. (Ayaka)

-Tem vestiários que só abrem com nossos ID’s. (Madoka)

-E também uma piscina! (Kazuki)

-Além disso, tem uma quadra com vários itens esportivos! (Hiroito)

-Mas não tem nada lá que possa nos ajudar. (Mieto)

-E tem...umas salas de aula. Mas nada diferente do normal nelas. (Yoshie)

-Okay, então é isso que temos no segundo andar... NADA! (Haruka)

-Parece que vamos ter que esperar mais alguém morrer para sair daqui, não é? (Raiden)

-Pessoal, pessoal, eu tive uma ideia. (Haruka)

-O quê? (Akio)

-Nós devíamos fazer uma confraternização. (Haruka)

-Uma confranertiçazão? (Kimiko)

-Não, uma contrafernização! (Yoshie)

-Uma confraternização! Tipo, uma festa, um banquete ou qualquer coisa assim, para nos ajudar a nos aproximarmos, para que confiemos uns nos outros. É algo de suma importância, principalmente agora que vimos que...nós realmente podemos chegar ao ponto de matar alguém. (Haruka)

-O que acha de fazermos uma festa na piscina? (Hiroito)

-Uma festa na piscina? (Ayaka)

-Uma festa na piscina! Eu quero! (Kimiko)

-Sim, temos uma piscina agora, temos que aproveitar! (Hiroito)

-Me parece uma ideia esplêndida! (Mieto)

Todos estavam animados, inclusive eu. Mas olhei para Izumi e ela parecia...corada.

-Izumi, o que foi? (Kenji)

-Eu...vou ter que...usar biquíni...? (Izumi)

Fumio, que estava sentado à sua frente, também parecia disfarçar que estava ruborizando também.

Tenho que admitir que imaginar Izumi de biquíni me fez ficar meio envergonhado, também.

-Então está decidido, faremos uma festa na piscina! Hoje à noite! (Haruka)

Fomos dispensados, mas antes que pudéssemos sair do refeitório, Monokuma apareceu nos monitores.

-Pessoal, um comunicado importante do diretor! Se reúnam imediatamente na sala de aula 1-C! (Monokuma)

-Sala de aula 1-C? O que tem lá? (Kenji)

-Tenho certeza de que não é coisa boa... (Izumi)

Eu me arrepiei todo, e passou um frio pela minha espinha, mas mesmo assim eu fui. Fomos para a sala de aula, e nos sentamos nas cadeiras. Monokuma apareceu logo depois, na mesa do professor.

-Olá de novo, pessoal! Sentiram minha falta? Não respondam, eu sei que vocês não conseguem viver sem mim! (Monokuma)

...

-Vá direto ao ponto, por que estamos aqui? (Haruka)

-Espero que não seja nada inútil... (Fumio)

-Eu chamei vocês aqui para dar seu próximo motivo! Sua próxima motivação para matar! (Monokuma)

-Você ainda quer continuar com isso...?! (Ayaka)

-E-Eu não quero que mais ninguém morra! (Yoshie)

-Bem, pessoal, vocês sabem quanto vale uma barra de ouro ou uma pérola? (Monokuma)

-Bem, vale...muito dinheiro. (Akio)

-Exatamente! Vale muito dinheiro! E várias pedras de ouro, pérolas e outras pedras preciosas? (Monokuma)

-Vale ainda mais dinheiros! (Kimiko)

-EXATAMENTE! CONTEMPLEM! (Monokuma)

Foi então que Monokuma puxou uma cordinha que caiu do teto, e um cofre gigante, como de desenho animado, caiu de uma escotilha que se abriu. Não sei como não quebrou o chão. Monokuma então abriu o cofre, e dentro...haviam várias barras de ouro e joias, aparentemente muito preciosas.

-A pessoa que se graduar, além de sair da escola, receberá tudo isso aqui! (Monokuma)

-Mas quem garante que isso não é falsificado? (Fumio)

-Eu garanto! Dou minha palavra de urso de que é tudo 100% legítimo! (Monokuma)

-É tão brilhante... (Mieto)

-Tão reluzente... (Hiroito)

-Não se deixem levar pelas riquezas materiais, companheiros! (Kazuki)

-Enfim, agora saiam, saiam! Eu sei que vocês têm uma festinha para preparar, não é? Pupupu... (Monokuma)

Obedecemos ao urso monocromático e saímos daquela sala, ainda meio embasbacados. Ele está tentando comprar a vida de outra pessoa? Subornar alguém para matar? Ele pensa que somos matadores de aluguel?

-Aquilo é provavelmente tudo falso. Não devemos acreditar nele. (Ayaka)

-Ninguém vai matar ninguém, certo...? (Yoshie)

-Não, ninguém vai matar ninguém! É para isso que vamos para essa confraternização, para nos unirmos e aprendermos a confiar uns nos outros! Não para duvidarmos mais ainda! (Haruka)

-Sábias palavras. (Kazuki)

Aplaudimos o pequeno discurso de Haruka.

-Temos que ter certeza de que essa festa vai ser segura. O urso sabe dela, então ele pode tentar sabotá-la. (Fumio)

-Eu vou tomar as devidas providências. Mas preciso de alguém para me ajudar. Que tal você, Mado- (Haruka)

-Eu, deixa eu! Eu ainda não vi a piscina de perto, e quero te ajudar a arrumar! (Hiroito)

-Não acredite nele, ele só quer te ver de biquíni! (Raiden)

Não duvido do que Raiden falou. Mas Hiroito parecia tão animado...acho que foi por isso que Haruka aceitou seu pedido.

O dia passou...procuramos roupas de banho no depósito, e quando a noite estava caindo, Haruka e Hiroito foram arrumar a piscina. Enquanto isso, nós nos encontrávamos espalhados pela escola, e eu estava no meu quarto, apenas olhando para o teto e pensando...em como vai ser quando sairmos daqui.

Nos reunimos no refeitório poucos minutos antes da festa.

-Então, pessoal, prontos? (Haruka)

-Sim! – Gritamos em coro.

-Er... (Chinatsu)

-Algo a incomoda, Chinatsu? (Haruka)

-Eu esqueci de pegar meu biquíni... (Chinatsu)

-Esqueceu? Está no seu quarto? (Madoka)

-Não, eu realmente esqueci de pegar um. Tenho que ir no depósito pegar. (Chinatsu)

-Ah, eu vou com você! Sei onde é o depósito! Pessoal, podem ir na frente, se quiserem! (Haruka)

Haruka e Chinatsu foram para o depósito. Aos poucos, fomos para o segundo andar. Perto da piscina, encontramos Haruka. Ela estava ainda com seu sobretudo, mas era claro que estava apenas com sua roupa de banho por baixo.

-Então, vamos? (Haruka)

Haruka abriu a porta da piscina. Os que ainda não a tinham visto estavam deslumbrados com a vista, e nós, que já estávamos habituados, estávamos apenas esperando a hora de pular naquela água.

Mas toda essa animação se esvaeceu rapidamente, quando olhamos para a piscina...

E encontramos, boiando, o corpo de Chinatsu Chieko, a Tradutora Nível Super Colegial...