História Dangerous - Acidente

“Vá em frente e chore, garotinha. Ninguém faz como você faz.” – Daddy Issues, The Neighbourhood.

Um acidente. Allyson e Harry sofreram um acidente. Na estrada de Nova York para Boston, eles bateram contra um carro que estava bem acima do limite de velocidade permitido. Allyson estava na direção e ficou gravemente ferida. Era o que eu sabia até agora.

Meus pais foram informados do acidente na madrugada de sábado. Corremos para o hospital em que eles estavam no Brooklyn, e esperávamos por mais notícias, aflitos.

Minha mãe chorava desolada enquanto meu pai fazia de tudo para consolá-la. Mas ele também estava muito abalado. Queria ajudá-lo de alguma forma, mas eu estava perdida. Me pegava olhando para um ponto fixo pensando no que teria acontecido com os dois.

Depois de uma madrugada tensa sem notícias, o médico chegou pela manhã trazendo más notícias. Ele começou falando de Harry, que tinha fraturado a coluna e passava por uma cirurgia no momento. Respirava com a ajuda de aparelhos e também tinha uma fratura exposta na coxa direita.

Mas o que me fez desabar foi a notícia de que Allyson estava em coma. Minha doce irmã mais velha, sempre tão cheia de energia, não se encontrava mais entre nós. Caí em prantos. Minha mãe que estava muito abalada acabou desmaiando e alguns enfermeiros vieram ajuda-la. Meu desespero já não cabia dentro de mim e tudo o que eu desejava era morrer naquele momento, ou no mínimo, estar no lugar da minha irmã.

Meu choro só foi controlado quando Zayn, Jessie, Carly e Liam foram até o hospital. Tinha ligado para cada um deles e logo os quatro surgiram muito preocupados. Nós fomos para a cantina do hospital e o tempo todo eles tentavam me consolar. O clima estava um pouco pesado, porque meus amigos ainda não aceitavam muito bem a minha decisão de ficar com o Zayn. Inclusive Liam, que se mostrava muito incomodado com isso.

- As coisas acontecem de modos inesperados. Por favor, se acalme, nós estamos aqui com você e eu prometo que tudo vai ficar bem – Jessie dizia quando minha crise de choro atacou novamente.

Zayn me abraçou e passava as mãos em um dos meus braços lentamente. Carly ficava apenas observando, um pouco perdida assim como eu, por não saber o que dizer. Liam me olhava com uma expressão tão triste, mas vez ou outra, ele forçava um sorriso sem ânimo, como quem diz: a vida é um merda, mas tudo vai ficar bem.

Voltei para a recepção do quinto andar, onde Allyson e Harry estavam internados, e minha mãe cochilava no ombro do meu pai, que por sua vez, acariciava os cabelos dela, com uma face endurecida e preocupada.

Zayn foi o primeiro a ir embora. Liam disse que queria ficar mais um pouco e quando minhas amigas decidiram ir embora, Liam se despediu de Carly com um beijo estalado. Inapropriado para o local, devo dizer.

Nos sentamos nas poltronas confortáveis daquela sala de espera, um pouco afastado dos meus pais e começamos a conversar:

- Vic, eu realmente sinto muito por tudo isso, sério. Não sou tão bom com conselhos quanto a Jessie mas, quero que tenha em mente que vou estar sempre aqui.

Passei meu braço em suas costas e depositei minha mão em seu braço.

- Obrigada.

Ele se moveu em sua poltrona ficando de lado para mim e assim conseguindo me olhar de frente. Cruzei meus braços.

- Quando vi você naquela boate com Zayn – ele começou a dizer como se estivesse relembrando de tudo – Olhos pretos escorrendo, sem blusa, encolhida e assustada, tipo, pedindo por ajuda, senti que deveria cuidar de você. Eu sei, isso soa um pouco estranho, mas é verdade.

Sorri sem mostrar os dentes e me senti muito acolhida.

- Liam você é um anjo – disse – e me desculpe por estar com Zayn agora. Mas eu quero isso.

- Tudo bem, eu entendo. Na verdade não – ele riu – não entendo, mas tudo bem se é o que você quer.

Sorri para ele e o abracei. Um abraço longo, desses que fazem nossos músculos relaxarem de tão reconfortante.

Eu e Liam ficamos conversando por mais algumas horas e, quando já era bem tarde ele foi embora.

- Victoria, vou te levar em casa – meu pai disse se aproximando – não precisa dormir aqui. Na verdade nem eu e sua mãe, mas achamos melhor.

Eu queria relutar, mas estava muito cansada. Aquele tinha sido meu pior sábado; dentro de um hospital no Brooklyn com uma angústia enorme no peito.

Me despedi da minha mãe com um abraço forte e mais lágrimas derramadas.

No caminho de volta para a casa, permanecemos em silêncio com um clima péssimo no carro. Meu pai derramou algumas lágrimas silenciosas e eu também. Ele me deixou em nosso apartamento e rumou de volta para o hospital.

Chegando em casa tomei um banho de banheira quente e demorado. Tentei absorver tudo o que acontecera, mas isso só me fez chorar ainda mais. Era uma tristeza que não cabia em meu peito e o tempo todo se transbordava em forma de lágrimas. Dúvidas surgiam em minha mente, como: o que acontecerá a partir de agora? Eu sabia que minha irmã não estava morta; ela estava em um coma induzido por remédios, portanto ela ainda tinha grandes chances de acordar. Mas ainda sim, sentia como se fosse uma grande perda. E Harry? Será que ele ficaria bem?

Deitei-me na cama e fiquei pensando sobre isso por um longo tempo até conseguir dormir e minhas lágrimas finalmente cessarem.