História Dangerous - Giving Up

Fazia frio, o inverno se aproximava e o vento soprava alto, indicando que uma tempestade viria a qualquer momento e fazendo com que as árvores balançassem com força. O movimento delas causava sombras escuras pelas ruas da cidade naquela noite conturbada, deixando-as ainda mais sombrias do que o normal naquela área do bairro. A lua estava escondida entre as nuvens pretas e a única luz presente ali era a dos postes. Não iluminavam tão bem, no entanto.

O moço andava por aquele lugar sentindo o vento bater forte em seu rosto, deixando-o gelado, torcendo para que conseguisse chegar em casa antes que a chuva viesse. Era madrugada e a rua estava deserta. Todos já estavam dormindo provavelmente, e era o que ele deveria estar fazendo também, caso não deixasse que seu trabalho tomasse tanto tempo de si. Havia aberto mão de tudo apenas para poder constituir-se como médico. Não namorava, seus amigos já nem faziam muita questão de chamá-lo por saberem que ele jamais iria, mal falava com seus pais, não se lembrava mais de como era não viver trabalhando. Mas não era como se se arrependesse da vida que levava. Ele havia escolhido aquilo, e estava feliz. Ou era o que ele queria acreditar.

Já perto de seu prédio, ouviu um barulho estranho vindo de um ponto escuro do beco. Apressou-se, querendo atingir sua casa, mas antes que pudesse chegar lá, sentiu algo puxá-lo pelo braço e jogá-lo no chão, com uma força absurda, sentindo um corpo pesado sobre o seu. Olhou de relance para o homem que havia feito aquilo e o que viu foi assustador. A pele dele era branca como o leite, ele foi capaz de notar mesmo com a pouca luz do local, e os olhos eram vermelhos e brilhantes como uma joia rara. Era um vampiro. Um ser das trevas. Todos sabiam da existência deles, mas ele nunca havia visto um tão de perto. Sentiu o medo percorrer-lhe todo o corpo a medida em que notava a aproximação do ser, sabendo que aquele seria seu último momento de vida. Era incapaz de reagir, a força com que o outro lhe prendia era sobrenatural, então tudo que foi capaz de fazer foi fechar os olhos e esperar que acontecesse.

Mas não aconteceu.

De repente, a pressão que sentia em seu corpo acabou, ouviu um barulho de algo sendo jogado no chão e, ao abrir os olhos, viu outra pessoa ali. Outro vampiro. Ele era mais alto e mais magro que o outro, mas parecia mais forte. Os dois lutaram por um tempo que ele não foi capaz de contar, sentindo-se tonto demais pelo que estava acontecendo ali, mas não demorou muito até que aquele que o havia atacado fosse embora, claramente com medo do outro.

Foi então que os olhos dos dois se conectaram, por apenas alguns segundos. Sentiu uma onda elétrica percorrer todo seu corpo no momento em que olhou nos olhos daquele vampiro. Uma sensação diferente da que sentiu quando olhou para o outro. Porque, diferentemente do primeiro, este não parecia querer fazer mal a si. Pelo contrário. Ele notou uma certa dose de pesar naquele olhar, algo amigável e muito aconchegante, como se ele quisesse dizer que sentia muito pelo que havia acontecido. Mas o contato visual foi tão rápido que ele não foi capaz de decifrar toda a infinidade de sensações que aquele olhar parecia querer transmitir. Viu-o entrar na escuridão e escutou ao fundo uma voz grossa dizendo “Vá para casa o mais rápido que puder”.

E então Mingyu acordou afobado.

Um mês. Já fazia um mês desde que aquilo havia acontecido. E ele não conseguia se esquecer daquele olhar. Sonhava todas as noites com aquilo, repassava mentalmente o tempo inteiro o ocorrido, sentia que estava ficando louco. Toda noite era a mesma coisa. Sonhava com aquele ser, e depois não era mais capaz de dormir, apenas lembrando-se do poder que aquele olhar tinha tido sobre si.

Saiu na sacada de seu apartamento, olhando para o céu e observando as estrelas. Já havia virado rotina. Sempre sentia-se acolhido pela noite escura, como se algo estivesse ali pronto para defendê-lo a qualquer momento. Como se não estivesse sozinho.

E não estava.

Mingyu não sabia, mas toda noite, aquele vampiro o olhava de longe, em meio a escuridão.

Wonwoo se lembrava bem da primeira vez que havia visto o humano. Sozinho, em meio a rua vazia, a luz da lua refletindo em sua pele morena, fazendo com que ficasse ainda mais bonito do que era. E ele era tão bonito. Foi diferente de tudo que o jovem vampiro já havia experimentado em sua longa vida. Ele nunca havia sentido uma atração tão forte por ninguém. Foi imediato. Desde aquele dia, ele soube que estava apaixonado. Depois disso, passava suas noites solitárias observando o moço de longe, observando cada mínimo detalhe daquele rosto, cada ação que o outro fazia. Sem poder se aproximar, sabendo que não seria capaz de evitar sentir o cheiro que emanava dele. Desde aquele dia, Wonwoo tem protegido Mingyu, como se ele fosse um tesouro que deveria ser guardado. E, de fato, ele era. Mingyu era seu tesouro, que ficava no fim do arco-íris de sua vida e que ele jamais poderia alcançá-lo.

O dia em que ele o salvou fora, sem dúvida, a primeira vez que havia sentido medo depois de tanto tempo sentindo-se invencível. Teve medo de perder a única pessoa que ele considerava importante. E foi naquele dia que ele entendeu plenamente porque não poderia aproximar-se dele. Fora a primeira vez que havia ficado tão próximo dele, a primeira vez que havia olhado para aqueles olhos cor de madeira escura, e a força com que aquilo o atingiu foi algo que ele nunca havia sentido. O cheiro que vinha dele era como um ímã que o incitava a se aproximar, e ele precisou de todo seu autocontrole para poder se afastar e sair dali.

E ele tinha medo de machucá-lo. Tinha medo porque o amava mais que tudo. E era por isso que, exatamente um mês depois daquele dia, ele havia decidido ir embora. Ele não podia mais ficar ali. Não era mais capaz. Mesmo que tudo que ele quisesse era ficar com ele, sabia que, caso o fizesse, iria fazer com que ele se machucasse. Estava abrindo mão do amor que sentia por ele, porque não queria que ele deixasse de ter uma vida normal. Wonwoo mais do que ninguém sabia do valor que era viver como um humano.

Ele não sabia que tudo que Mingyu queria, naquele momento, era voltar a vê-lo. Não sabia que ele estaria disposto a enfrentar o que fosse para receber um amor como aquele. Ele não sabia que o humano queria uma vida diferente da que tinha. E por não saber, tudo que fez, depois de olhar uma última vez para o moço moreno que estava na sacada do apartamento do quinto andar, foi virar as costas para ele e fugir. Fugiu de tudo que sentia, deixando para trás aquele que poderia ser a causa da sua felicidade.