História Dangerous - Celular

p.o.v Paola  

Eu permaneci quieta durante todo o percurso de volta para casa. Será que Jason desconfiava de Henrique ou algo assim? Mas porquê? Sempre fomos tão discretos...

Ou não fomos?

Que mierda!

Observava o semblante sério dele enquanto passava as últimas coordenadas a Ana Paula, ela ficaria comigo enquanto estivesse fora. Ele era MUITO idiota mesmo em acreditar que ela cumpriria todas as ordens dele à risca, algumas até que sim, mas as que se tratavam de mim, COMPLETAMENTE NÃO!

-Você sabe o que permito ou não, eu não tenho que ficar repetindo toda hora. – Disse ríspido como o ogro que era.

-Sim senhor. – Aninha respondeu totalmente profissional, as vezes eu achava que ela deveria ser atriz, não jornalista.

-Isso vale para você também, ouviu Paola? – Ele dirigiu a palavra a mim e eu apenas virei meus olhos a ele, sem me movimentar ou dar atenção alguma.

Ele era desprezível e eu não o suportava.

-E quanto tempo pretende ficar na Argentina Sr. Lowe? –Ana perguntou, aquela era uma pergunta realmente intrigante e eu também gostaria de saber.

Jason riu ironicamente.

-Não sei ao certo e se soubesse também não diria. – Me encarou.

- És psicótico, Jason! – Disse a ele abismada.

-Será que sou mesmo? – Ele respondeu erguendo as sobrancelhas.

Eu já havia entendido tudo. Estava fazendo suspense com as datas de sua viagem para eu ficar “atenta”. Ele era ridículo.

O resto do percurso se estendeu e quando finalmente chegamos eu me joguei no sofá da enorme sala de tv, não estava nem aí para aquela viagem ridícula dele, não estava nem um pouco afim de me despedir, aliás, era pecado desejar que o jatinho caísse? Talvez fosse. Ouvia os passos pesados de Jason seguidos pelos leves de Ana Paula pelo corredor e eu clamava para que aquilo tudo acabasse rapidamente.

-Paola, Jason está indo. – Ana apareceu se pendurando pelo batente de madeira maciça da entrada da sala e sorria para mim.

-GRACIAS DIOS! – Levantei minhas mãos para os céus e ela riu.

Levantei-me do sofá e caminhei até a sacada que ali havia, olhei para baixo e pude vê-lo entrando no Chrysler 300c preto. Meu olhar se cruzou com o dele que me olhava feito um demônio, entrou no carro e partiu pela noite, partiu para escuridão ou para o quinto dos infernos, na verdade eu não me importava. A única coisa que conseguia pensar agora é que por horas, dias, semAnas ou meses, eu estaria livre dele.

Respirei aliviada, como se minha vida tivesse voltado a mim novamente.

(...)

Só pelo fato de não haver Jason meu dia já era outro e outro fator positivo era que eu também havia migrado para o quarto em que eu apelidara carinhosamente como “meu quarto com Henrique”, mas isso era uma coisa somente minha, nem Ana sabia. O quarto de Jason me dava ânsia. Acordei aliviada no dia seguinte, meu humor estava ótimo, apesar do celular de Ana Paula não parar de apitar e eu me questionava se era mesmo Jason como ela me falava ou se era outra pessoa pelos sorrisinhos bestas que ela lançava cada vez que olhava praquela coisa.

Eu queria uma tecnologia daquelas.

Naquele dia eu era uma mulher livre, mas mesmo sendo uma mulher livre meu dia não foi nada diferente dos demais. Ana ainda teve que trabalhar em coisas ilícitas para meu marido imbecil e a casa ainda estava sendo monitorada, então eu decidi ficar por ali mesmo e cuidar de meus jardins como rezava o mandamento de minha vida patética. Mas apesar de tudo aquilo era adorável e não tardaria para eu ter que arranjar novas sementes, eu adorava flores e pensava em arrumar uma hortinha, Jason não notaria minhas plantas mesmo.

A noite chegou e junto com ela o tédio também. De que adiantava tudo aquilo? Mas, para quem tinha uma amiga como Ana Paula Padrão as coisas poderiam mudar de uma hora pra outra.

-Vamos, levanta desse sofá e vai se arrumar! – Ela me disse animada.

-huuun – murmurei desanimada. – Para qué?

-Lazara já foi. Eu to com fome e você também ta com fome, vamo! – Ela me disse sugestiva e então eu entendi tudo.

-SÉRIO!? –Fiquei animada.

-Você ta demorando! Anda, vai se arrumar. – Ana deu alguns pulinhos e batia palminhas, aquilo era típico dela quando estava tramando algo para nós duas.

Levantei e passei por ela que mexia no celular rindo.

-Eso no tiene nada a ver com você ter ficado o dia todo nesse celular, tiene?

Ela me lançou um olhar 43, realmente estava irritada com tantas perguntas.

-Eu vou te largar aqui. – Me jogou uma almofada do sofá e eu sai correndo rindo.

Ana era espetacular e eu sabia que independentemente de onde ela me levasse, embora eu já suspeitasse, eu iria me divertir. Tomei um banho rápido e entrei no closet. Embora fossem muitas corres, marcas e estilos tudo ali parecia tão igual a meus olhos, eu simplesmente não sabia o que vestir, talvez por não saber a onde iriamos. Peguei o primeiro vestido que vi a minha frente, era um branco de alças finas BEM JUSTO a meu corpo e com decote MUITO realçado, mas embora fosse de um aspecto mais “sensual” ele era mais recato, seu corte ia um pouco mais abaixo dos joelhos com uma pequena fenda. Eu e as fendas, uma história de amor melhor que a minha e a de Jason. Gostei. Exagerei nos cílios e passei um batom vermelho a fim de esconder o machucado nos lábios, já que as olheiras haviam sumido mesmo.

Estava ótima, estava linda, estava perfeita! Sem Jason ali eu era totalmente outra pessoa. Peguei o scarpin nude e fui até Ana que também estava pronta e maravilhosa num vestido vermelho provocante, ela nunca usava aquelas cores, porque agora? Algo estava errado ou certo demais, aquela baixinha não me enganava.

-Vamos? – Ela disse olhando algo dentro da bolsa.

-Ana, e o monitoramento? – Perguntei com um pouco de receio.

-Relaxa, eles estão nos vendo aqui agora e vão nos ver chegando certo? É só eu entrar no sistema e alterar a hora depois, nunca vão desconfiar, não checam fitas antigas. Babacas. – Ela disse como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Sorri. Ana Paula Padrão Hacker era sensacional.

Fomos até a garagem e entramos em “meu carro de fuga” o mesmo que eu costumava usar em minhas escapadas, obviamente que a tempos o rastreador que Jason insistia em colocar já não existia mais, fora pro espaço, assim como ele naquela noite.

-Faça as honras. – Ana me disse sorridente.

Sorri para ela enquanto pisava fundo no acelerador deixando minha casa para trás e partindo rumo ao desconhecido adorável que me aguardava.

p.o.v Henrique

Eu e o desgraçado do Vitor estávamos numa balada na Augusta, até que era maneira. Minha mente não desligava de jeito nenhum, o dia havia sido puxado. Estava putasso com Vitor hoje, o filho da puta não desgrudou um segundo do celular e pra completar eu estava em abstinência de Paola. De novo. Quando é que eu não ia estar em abstinência daquela mulher? CÉUS ME RESPONDAM, PORQUE É QUE JUSTAMENTE AQUELA MULHER ENTRARA EM MINHA VIDA? Eu estava fodido, sim eu estava. A música tocava altíssima e as luzes de neon roxas, rosas e caralhos a quatro me entorpeciam. Já havia virado o 5° copo de uísque e parecia não ter feito nem cócegas em minha garganta, eu precisava de mais, muito, muito, MUITO mais.

-Cara, o que é que ce tanto procura? – Ah, minhas gírias, até que fim eu podia voltar a falar normalmente sem me sentir um engomadinho filho da puta.

-Minha gata! – Vitor me respondeu alto devido à música.

-Sua gata? Então era isso que o garotão tava fazendo o dia inteiro nessa porra de celular? Marcando encontro, filho da puta! – Eu disse bravo, que ódio.

-Relaxa aí cara, ce ta muito estressado Fogaça! – Ele me disse enquanto bebia a porra do drink que eu nem me dignei a olhar o que era.

-Ce me deixou na mão o dia inteiro, filho da puta!

-Você é o chef, ou! – Ele socou meu braço rindo. Filho da puta.

-Ta, e porque é que eu to aqui? Não é um encontro, garanhão?

-Ela vai trazer uma amiga. – Ele bebeu o que notei ser uma caipirinha com catuaba.

-Ah filho da puta... Ce ta de sacAnagem né? – Eu REALMENTE estava bravo com aquela situação.

-Cara, ce ta tão estressado ultimamente, isso aí é falta de sexo! Depois que ce largou daquelazinha lá eu não te vi com mais ninguém então pensei, porque não? A ideia é eu ir pra um lado, você ir pro outro e pow! Noite maravilhosa.

-Não vai rolar. – Engoli a seco o copo de uísque. Porra eu não queria outra pessoa, caralho! Mas como contar pro meu melhor amigo que eu comia a esposa do chefe dele?

-Sabe que é isso? A idade Fogaça, você não dá mais no coro, tenho certeza! – Ele gargalhou.

Pergunta isso pra Paola Carosella, filho da putazinho.

-Pergunta pras gostosas lá do FOG, elas vão te dizer. – Sorri irônico, meia cozinha feminina do FOG eu já havia traçado, as vezes me orgulhava daquele fato.

A batida continuava envolvente e Vitor ainda continuava me enchendo o saco enquanto falava de minha virilidade. Eu não sabia se amava ou odiava aquelas luzes, acho que odiava. Algumas gostosas insistiam em querer flertar comigo e eu até que tentava dar bola, mas no fundo não conseguia, PORRA PORQUE NÃO CONSEGUIA, TINHA QUE CONSEGUIR CARALHO. Estava conversando com uma morena próxima ao balcão de onde estávamos e sinceramente? Não ouvia nada do que ela estava me falando.

-Mano, ela chegou! – Vitor batia em meu braço freneticamente.

Subitamente virei minha cabeça para onde ele me indicava e meu queixo caiu ao ver a cena

O QUE!?

Ana Paula MIB passando pelas pessoas vestida maravilhosamente com um vestido vermelho, mas isso não era o pior, sempre podia piorar quando se tratava de minha vida.

Sua suposta “amiga” era Paola Carosella que vinha logo atrás da baixinha, e eu passei a acreditar que ou eu era sortudo demais ou fodido demais ao vê-la naquele vestido branco que até Afrodite ficaria com inveja apenas em olha-la.

Suspirei fundo e bebi o uísque com tudo.

A noite seria longa.