Mellanie P.O.V
Acordo mas não abro os olhos, tenho esperança de tudo ter sido apenas um pesadelo, respiro fundo e abro um olho só, não, não foi um pesadelo, não consigo entender o que foi aquilo tudo, ela dizendo que a “minha mãe a prejudicou” mas ela é minha mãe, era ela quem devia estar aqui por que ela sim esta ficando louca. A mesma mulher de ontem entra no quarto e avisa que esta quase na hora do almoço então me manda seguir os outros pacientes para o refeitório, a comida tem um aspecto tão... tão... parece uma mistura do lixo que sobrou do almoço de alguns dias atrás, sento numa mesa vazia e começo a observar as pessoas desse lugar. É assustador, algumas pessoas estão tão magras que é possível ver seus ossos, outras tem um olhar tão vago que fazem com que eu me pergunte se elas tem noção de onde estão e há quanto tempo devem estar aqui, mas separado da área onde estou vejo algumas pessoas que comem enquanto são observadas de perto por enfermeiros, devem ser os pacientes com problemas mentais como ela comentou ontem, são um grupo menor mas me assusto em pensar do que essas pessoas inconscientemente são capazes de fazer.
Depois do café nos mandam para o pátio, e lá passo o resto do dia sentada num banco encolhida e chorando baixinho, como foi que eu vim parar aqui? Por que minha mãe me mandaria para um lugar desses?
A noite é a pior parte, não tem um segundo em que você tenha paz para fechar os olhos e pelo menos tentar dormir já que é possível escutar os gritos dos outros internos durante toda a madrugada. Então agora minha vida se resume em chorar e andar por aqui como um zumbi, tenho evitado ou pelo menos tentado evitar os remédios que me dão o que é muito difícil então as vezes acabo engolindo.
UM MÊS DEPOIS
Há mais ou menos um mês atrás eu fui mandada para o meu inferno particular pela minha própria mãe, e a um pouco menos de um mês tomei a pior decisão da minha estádia no inferno, desobedecer aqueles enfermeiros e não tomar os remédios, no começo eles riam de mim e fingiam não escutar os insultos mas quando descobriram que eu não estava tomando e sim cuspindo os comprimidos as coisas pioram e muito. Os medicamentos passaram a ser aplicados como injeções para que não houvesse riscos de eu não tomar. O pior é que eu nem sei o que estou tomando mas os efeitos colaterais são extremamente visíveis.
Woodbury – 6:19 AM
Saio da cama mais uma vez sentido meu corpo pesar uma tonelada apesar de ter certeza de que perdi no mínimo cinco quilos, pego uma troca de roupa na cômoda e sigo ate o banheiro coletivo que sou obrigada a dividir com mais seis mulheres toda manhã e toda noite, paro na frente do pequeno espelho em uma das paredes do banheiro e vejo meu reflexo mas é difícil de me reconhecer, os ossos do meu rosto estão mais visíveis, estou tão pálida como uma folha de papel e meus cabelos caem a todo momento. Depois do banho seguimos todas para o refeitório para o café da manhã, não sinto fome e não tenho a mínima vontade de me esforçar para comer só empurro o pão do café para dentro para continuar me mantendo em pé, mas as esperanças de sair daqui já não existem, depois das doses e doses de remédios sinto como se nem soubesse quem eu realmente sou é difícil ate manter uma linha de raciocínio, agora eu entendo essas aquelas pessoas de olhar vazio pois agora estou me tornando um deles. Sento no mesmo banco do primeiro e de todos os outros longos dias que passo aqui e encaro o vazio pelo resto da tarde ate ter de voltar para o quarto tomar mais remédios e deitar para ouvir o desespero dos outros. Você pode ser a pessoa mais sã do mundo mas se colocado em uma situação como essa logo começa a perder a razão e se perguntar se realmente ainda consegue cuidar de si mesmo.
Durmo por algum tempo ate ouvir a porta ser aperta e alguém me dizer que tenho visita, a primeira pessoa que me vem a cabeça é ele, mas logo essa idéia desaparece. Se ele realmente quisesse me ver já teria vindo, sigo o enfermeiro ate um pequeno escritório numa ala mais afastada de onde os pacientes ficam, lá vejo o advogado da minha família espalhando diversos papeis pela mesa de madeira escura no meio da sala, o enfermeiro me manda sentar de frente para o advogado, encosta em uma das paredes e aviso ao Doutor Patrick que não pode me deixar sozinha com ele por “Questões de segurança”.
-Mellanie querida, como você esta? Sua mãe contou do seu terrível vicio, fiquei muito preocupado com você. – Ele diz sorrindo.
-O senhor não acreditou nisso não é? Me conhece e sabe que nunca faria isso. – Digo sem nenhuma emoção na voz.
-As pessoas mudam Mellanie e você mudou, infelizmente para pior. Bom vamos direto ao ponto não quero ficar aqui mais tempo do que o necessário – Ele diz enquanto tira uma pequena pilha de papeis da pasta que sempre carrega – Assine esses papeis.
- O que é pego? – pego-os mas só de olhar para tantas letras minha cabeça lateja, efeitos colaterais e mais efeitos colaterais.
-Só assine, é o jeito mais fácil.
- Que porcaria é essa Patrick?
-Uma procuração que vai te interditar e passar seus bens para a sua mãe.
-Não vou assinar isso, você ficou maluco? Ela me trancou aqui sem motivo nenhum e agora quer me interditar. Essa mulher que disse ser minha mãe por dezessete anos falou na minha cara que não é nada minha então porque eu assinaria isso? – jogo os papeis de volta em cima da mesa.
-Se você não assinar encontraremos outro jeito, é só uma questão de tempo.
A raiva que eu guardei por todos esses dias explode grito com resto de força que me resta -Você esta junto com ela nisso? Como você pode? Você e meu pai eram amigos seu desgraçado – e não sei como mas me jogo em cima da mesa e tento alcançá-lo, minha vontade é grudar no pescoço dele ate sentir ele parar de respirar, é talvez eu esteja realmente ficando louca. Mas antes de conseguir o alcançar sinto meu corpo ser puxado para longe e começam a ma arrastar para fora da sala mas antes de sair grito para ele – Boa sorte em achar um médio que me declare louca por que só assim ela vai conseguir colocar as mãos no que é do meu pai.
Do lado de fora da sala mais dois homens estão esperando o enfermeiro que me carregava, quando chegamos no quarto eles me jogaram no chão e então senti um chute em meu estomago que me fez perder o ar. – Nunca mais invente de dar uma de adolescente revoltada quando estiver comigo – ele se aproxima do meu rosto - esta entendendo?
Mas acho que alem do louca fiquei mais idiota do que já era já que tomei a inteligente decisão de cuspir no rosto dele, o homem me olhou com tanto ódio que pensei que sua cabeça fosse explodir, então vi seu punho se aproxima do meu olho esquerdo e perdi os sentidos completamente.
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