(Pov Gustavo)
Gustavo abriu os olhos de forma preguiçosa e devagar. Assim que abriram totalmente, ele olhou para o teto. A noite de sono não havia melhorado em nada sua condição, sentia uma leve dor nas costas e continuava se sentindo cansado.
Passou as mãos pelo rosto e em seguida deu um longo bocejo. Sentou-se na cama e ficou olhando fixamente para o chão por vários segundos até a preguiça passar e ele ter vontade de levantar.
Tirou a coberta de cima do corpo, jogando-a para o lado e pós os pés no chão. Eles vagaram por alguns segundos para os lados e assim que encontraram os chinelos, Gustavo os calçou e se levantou.
Mesmo tendo acabado de acordar, Gustavo ainda se sentia sonolento. Bocejou outra vez e logo depois notou que sua bexiga latejava, pedindo para ser esvaziada. Então foi para o banheiro.
Após fazer sua higiêne, lavou as mãos e em seguida fez uma concha com as mesmas e lavou o rosto com a água fria, mandando embora todo o sono que ainda sentia. Depois se enxugou com uma toalha de rosto e fitou sua imagem no espelho a sua frente.
Seus olhos estavam meio avermelhados pelo fato de que ele estava dormindo, e havia um leve inchaço pouco acima do olho direito, na altura da sobrancelha. Não estava com dor, mas se tocasse na área, sentiria um desconforto.
Seu nariz estava levemente vermelho e irritado por uma alergia, e seus lábios corados como lembre, se contorcia em um leve sorriso.
Após verificar suas feições, Gustavo voltou para o quarto e decidiu descer para tomar café.
Pelo celular, viu que já havia passado das onze da manhã, e provavelmente todos já deviam ter tomado café, seria mais lógico se preparar para o almoço. Passou pelo corredor e logo estava descendo as escadas.
No meio do trajeto pôde ouvir vozes e risadas vindas da sala. Duas das vozes ele reconhecia, era de Luba e de Carminha, mas a outra era estranha e esganiçada, mas Gustavo já havia a ouvido antes, deveria ser da vizinha, Sandra.
Assim que chegou no pé da escada, Sandra e Carminha surgiram ao lado dele, vindas da sala.
- Tchau. - Falou Sandra com seu típico sorriso no rosto e se encaminhando para a saída.
- Tchau. - Gustavo respondeu com um sorriso um pouco forçado.
Carminha sorriu e arqueou as sobrancelhas para ele e seguiu com Sandra até a saída.
Gustavo se dirigiu para a sala, onde Lucas estava sentado no sofá, com uma caixa de tamanho mediano de isopor nas mãos e assistindo TV. Gustavo se aproximou e se sentou ao lado dele.
- O que é isso? - Pergunta indicando com a cabeça a caixa no colo do amigo.
- É um bolo. - Lucas olha para ele. - A Sangerine veio me fazer uma visita e trouxe ele de presente. Ela foi embora agora a pouco.
- É eu vi. - Gustavo responde. - E você acha que a visita dela tem haver com o que aconteceu?
- Claro, minha mãe tinha dito a ela que eu e o T3ddy não estamos mais juntos. - Lucas parece desconfortável ao falar essas últimas palavras.
- Sei. - Diz Gustavo notando o desconforto. - E como você tá se sentindo?
- Eu estou bem. - Ele responde e Gustavo franze a testa fitando-o. - Quer dizer, ainda é meio estranho pra mim, e as vezes, eu me sinto sozinho e deprimido de uma hora para outra, mas você sabe como é, está melhorando com o passar dos dias.
- Então você não está bem! - Gustavo protesta. - Lucas, você tem que parar de tentar iludir a si mesmo achando que está bem!
- É, talvez eu não esteja mesmo bem. - Lucas fala desanimado e volta a olhar para a TV.
Gustavo o encara como quem diz "Me ajuda a te ajudar!"
- E você tá animado para a consulta de hoje?
- Nenhum pouco. - Responde Lucas fazendo uma careta e suspirando em sinal de reprovação.
- Mas você vai não é? - Gustavo pergunta e Lucas olha para ele com cara de "Não!" - Lucas você tem que ir, é sério, você precisa de ajuda, e ficar em casa não vai te ajudar! - Diz levemente irritado e tentando convencê-lo. - E eu já desmarquei duas vezes semana passada, já tá ficando chato pra mim.
Lucas revira os olhos.
- Eu vou, mas só dessa vez.
*****
(Pov Lucas)
Assim que almoçou, pouco depois das uma da tarde, Lucas vestiu uma roupa qualquer que ele julgava ser "de sair" e foi para a porta de casa esperar por Gustavo, que ainda estava no banheiro se arrumando.
Poucos minutos depois ele apareceu e os dois foram para o carro. Gustavo dirigiu até o consultório no centro da cidade.
Naquele dia, estavam completando 18 dias desde o incidente na boate, e desde então, Lucas não tinha mais tido contato com T3ddy. Não havia ido atrás e nem ligado e/ou mandado mensagens para o ex namorado, e muito menos T3ddy tinha feito qualquer uma dessas coisas.
A briga na boate e T3ddy quase matando Gustavo havia sido a gota da'gua, um tapa na cara de Lucas para que ele finalmente percebesse que não podia ajudar quem não queria ser ajudado. E chegou a conclusão que mesmo sofrendo, o certo a se fazer era seguir em frente.
No dia seguinte após o incidente, Lucas havia levado Gustavo para o hospital, e a situação era mais grave do que eles imaginavam. Após limpar e exterelizar os ferimentos nos olhos e no nariz, o médico disse que uma grande quantidade de sangue havia entrado dentro do olho direito de Gustavo, e que na pior das hipóteses, ele poderia ficar cego por conta disso.
Nos quatro dia seguintes, Gustavo ficou no hospital, de repouso e tomando soro constantemente, além de fazer alguns exames de rotina e até mesmo exames de sangue. Foi no final da quarta noite que todo o pesadelo acabou e eles puderam respirar aliviados com a notícia de que o sangue no olho de Gustavo havia encontrado um pequeno espaço na lateral do globo ocular e havia descido para as bochechas, excluindo assim, qualquer possibilidade que ainda havia de Gustavo ficar cego. Ele foi liberado na manhã seguinte e Lucas o levou para sua casa, onde ele está morando até o atual momento.
Na primeira semana sem T3ddy, como Lucas estava focado e preocupado com Gustavo, isso acabou amenizando um pouco a dor. Porém, Lucas chorava constantemente e tinha dificuldades para comer e dormir.
No começo da segunda semana, Gustavo já estava bem e Lucas já estava em casa, e isso só piorou sua situação. Tudo em sua casa o lembrava de T3ddy, como se o cheiro dele estivesse impregnado nas paredes e na mobília. Além disso, a maioria dos pertences do ex namorado ainda estavam na casa, e Lucas não conseguia olhar para as roupas de T3ddy sem que se sentisse deprimido e começasse a chorar. Carminha precisou colocar as coisas em várias caixas e Gustavo as levou para sua casa, onde estão até então.
No final da segunda semana, Gustavo já estava quase que completamente curado de seus ferimentos, mas assim como Carminha, passou a se preocupar com Lucas, pois ele continuava com dificuldades para comer e dormir, e não queria sair de casa.
Resolveram então marcar uma consulta com um psicólogo para Lucas. Porém, ele já era um adulto, e se negou a ir às duas consultas que Gustavo havia marcado para ele, uma na quarta e outra na sexta.
Atualmente, Lucas estava na terceira semana sem T3ddy, mais precisamente quarta feira, o 18° dia depois do fim definitivo, e pouco tinha melhorado em relação aos primeiros dias, e só tinha aceitado ir ao psicólogo porque estava cansado de fugir dessa suposta "ajuda". E esperava que assim que fosse a consulta, Gustavo e sua mãe parassem de pegar no seu pé.
Fizeram o trajeto em silêncio e cerca de quinze minutos depois Gustavo estacionou o carro ao lado da calçada.
- Você se importa se eu não entrar e ficar aqui no carro te esperando? - Gustavo pergunta.
- Não, pode ficar.
Lucas abre a porta do carro e desce. Como o consultório é do outro lado da rua, ele a atravessa e assim que chega ao outro lado, passa pela porta com um grande letreiro em cima que dizia "Clínica Benny".
Passou por um pequeno corredor e chegou a recepção. Havia uma moça atrás do balcão e após ser questionado, Lucas disse seu nome.
Logo, a recepcionista pareceu verificar algo no computador e depois disse para Lucas ir para a sala de espera, que ficava logo a frente.
Lucas agradeceu e seguiu em frente. Assim que saiu da recepção, chegou a uma sala pequena e fria.
Haviam duas cadeiras de um lado, e outras duas de frente para elas, do outro lado. Havia também um bebedouro e uma pequena mesa de vidro com algumas revistas reviradas em cima. Era uma típica sala de espera.
Lucas se acomodou em uma das cadeiras e começou a esperar. Pelo celular, verificou que ainda faltavam dez minutos para a hora da consulta.
Cerca de cinco minutos depois, um homem entrou na sala e sentou a sua frente.
Era um homem bonito, levemente moreno e um pouco gordinho. Tinha uma barba rala e um cabelo encaracolado. Seus lábios eram pequeno e seus olhos castanhos escuros.
- Boa tarde. - Ele diz.
- Boa tarde. - Lucas responde evitando fazer contato visual.
- Você vai se consultar aqui?
- Vou. - Responde Lucas de forma vaga, estranhando o interesse do homem.
- Você é muito bonito sabia? - O homem sorri para ele. - Você tem namorado?
- Não. - Responde Lucas desconfortável e franzindo a testa.
- Eu adoraria ter você como namorado. - Diz o homem com um sorriso sugestivo.
QUE?!
Lucas tentava digerir o que tinha acabado de ouvir e tentava pensar em uma resposta a altura quando a porta mais ao fundo se abriu e o psicólogo apareceu.
- Lucas? - Ele olhou para os dois homens sentados e Lucas se levantou. - Vamos.
Ele sorri e toca levemente o ombro de Lucas quando este está perto o bastante. Então eles seguem para o consultório.
*****
Meia hora depois a porta do consultório voltou a se abrir e Lucas passou por ela. A consulta não havia sido lá muito interessante, mas foi uma boa distração para ele.
Percebeu que o homem ainda estava sentado na cadeira e enquanto andava, Lucas olhava para o chão, não queria contato visual com ele.
- Me passa teu telefone! - O homem pediu quando Lucas passou ao seu lado.
- Não. - Responde sem olhar para o homem.
Lucas apressa o passo e sai do consultório. Já na calçada, avista o carro de Gustavo do outro lado da rua. Espera os carros passarem para cruzar a rua e assim que o faz, entra no carro. Gustavo faz algumas perguntas e logo ambos voltam para casa.
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