História Dangerous Turns - A drogada da Highland Terrace

-Merda  - falei baixo enquanto colocava o celular na cama  -

-Então?  - minha mãe disse com um pouco de esperança olhando discretamente para tela do aparelho -

-Adivinha, é obvio que não consegui.

-Quer saber de uma coisa? Não queria que você trabalhasse na biblioteca mesmo, é longe e cansativo, além de ficar em um bairro muito perigoso, você vai conseguir coisa melhor, já passei por isso quando tinha sua idade.

-Nem tente me animar porque não está dando certo – falei enquanto me segurava para não digitar um monte de palavrões como resposta – aquela filha da puta não gostou de mim desde começo.

-Não coloque isso na cabeça, você é uma garota esforçada e eu sei disso, pena que eles não sabem. –disse e sentou na poltrona delicadamente, enquanto puxava alguns fiapos do casaco fúcsia desbotado – temos vários lugares para ver ainda.

Já era a terceira mensagem me recusando na semana, e eu já estava sem esperanças.

Em um dia como outro qualquer, resolvi queimar aula e seguir meus antigos amigos até o laboratório, ficamos horas usando diversas drogas, o que resultou em uma overdose, ou seja, convulsões, suor, delírios. Depois disso larguei a escola... Você já sentiu um vazio na sua vida? Mesmo estando feliz, com roupas bacanas, um lugar legal, sempre tá faltando algo! As Drogas me enchiam por completo, pelo menos alguns minutos ...naquele dia eu estava acabada, me sentia sozinha, triste, enfurecida, queria que aqueles minutos durassem horas, então comecei a usar uma atrás da outra, e acabou acontecendo isso. O diretor conversou com minha mãe, ele falou “dependentes químicos devem ser encarados como doentes”, com isso, ela foi incentivada a me internar numa clínica para jovens usuários, e em uma das palestras falaram que os pais tinham que nos manter ocupados no mínimo 8 horas por dia. Minha mãe achou que arrumar um emprego seria uma ótima opção, então me convenci que estava fazendo isso por ela.

-Amanhã eu falo com o Tyler, aquele que trabalha no café da esquina. –falou com um sorriso imenso, antes de olhar para o relógio e ver que estava atrasada – eu sei que vai conseguir.

-Não quero que faça isso por mim, eu mesma vou lá amanhã, só preciso de um cochilo.

-Hoje você vai ficar com o seu pai, vou dar expediente no hospital até seis da manhã, deixarei seu irmão na casa de um amigo – disse e levantou apressada, cambaleando um pouco no processo – se for para algum lugar volte antes das nove, por favor.

-Pode deixar Andrea – gritei antes que ela fechasse a porta, tirei meus sapatos e me joguei na cama como de costume, escutei seus saltos batendo no piso de madeira da sala, seguido por Victor cantando alegremente porque ia dormir fora, depois que tudo se acalmou fechei os olhos por alguns segundos, meu sossego durou até o celular começar a vibrar loucamente -

Melanie Calling

-Isa, você tá ai? – Melanie falava chorosa ao telefone –

-Tô sim, aconteceu alguma coisa?

Melanie Adele Martinez era minha amiga mais próxima (inclusive, ela odeia seu nome do meio), nos conhecemos na famosa clínica de reabilitação, quando em uma tarde tediosa como outra qualquer, fizemos uma roda no imenso jardim com o objetivo de desabafar, foi quando ela confessou que sentia falta de tomar whisky em um copinho com canudo.

- Foi isso que aconteceu – concluiu aos prantos –

-Melanie, se acalma, seu coelho sempre faz isso não é?

 -É...

-Deixa eu te falar uma coisa, hoje à noite vai ter alguém na sua casa? – falei tentando mudar de assunto -

-Só o meu irmão – disse ainda soluçando – por quê?

-Junta o pessoal, eu levo a bebida, minha mãe vai fazer plantão no hospital, então eu posso sair – levantei e abri a janela, o dia estava quente, e uma ventania invadiu o quarto balançando as cortinas brancas de seda –

-Se o johnny voltar...

-Adele ele vai voltar! 

-Vai se lascar Clark. Tchau! – disse mudando de depressão profunda pra raiva em segundos -

-Tchau

Desliguei o telefone.

Coloquei os fones de ouvido e deitei de bruços voltando a fechar os olhos me forçando a dormir, pelo menos algumas horas. Quando acordei já estava escurecendo, então corri para tomar banho e colocar as garrafas na bolsa. Fiz tudo o mais rápido que consegui, até escutar meu celular, corri para o quarto e abri a porta brutalmente, tarde demais, ele já tinha parado de tocar.

-Três chamadas perdidas... – li baixinho enquanto digitava a senha – Justin?

Retornei a ligação com o coração acelerado, Justin é um garoto que mora no Crest Valley, seu pai é arrogante, medíocre e dono de uma fortuna inestimável. Diferente do pai, eu acho que ele é uma pessoa boa, não tenho tanta certeza, até hoje só nos falamos por mensagem.

-Tava ocupada?

 -E-eu estava - gaguejei -

-Liguei para saber se você vai para festa da Melanie, parece que ela convidou todo mundo da cidade. – ele riu e logo voltou a fazer aquele silêncio horrível -

-Melanie? Ela convidou você... tipo, não que eu me importe... – falei tentando quebrar o gelo, mas logo me arrependi -

-Não é para se importar mesmo, e sim ela me chamou você vai?

-Desculpa, não foi isso que eu quis falar... sim eu vou para festa, eu estou saindo agora

-Ok, te encontro lá...

Ele desligou o telefone antes que eu pudesse responder. Confesso que fiquei com medo da parte “ela convidou todo mundo da cidade “  mas não pensei muito nisso, abri a porta do quarto e olhei para ver se tinha alguém no corredor, corri até a saída silenciosamente e subi na moto, as ruas já estavam desertas, e assim que dobrei a esquina comecei a ouvir Purple Lamborghini no último volume. Ela sempre faz essas festas repentinas, mas nunca chama pessoas como o Justin... algo muito errado aconteceu.