— Hora de acordar — papai disse puxando as cortinas.
— Que luz é essa? — perguntei pegando os cobertores e passando por cima da minha cabeça.
— Chama-se sol. Ele é majestoso e você tem que ir tomar o seu banho para recarregar.
— Ah hippies e seus mantras sei lá o que — murmurei sentando-me na cama.
— Anda logo Alaska — papai disse e eu suspirei derrotada.
Levantei e fui ao banheiro. Tomei um banho bem demorado — tipo aqueles banhos de filmes em que o personagem relembra as desventuras da vida achando que a água vai acabar com todos os problemas — escovei os dentes e fui me vestir. Peguei meu jeans preto, uma blusa cinza e botinhas pretas.
Desci para a cozinha, mas papai não estava lá. Na porta da geladeira havia o seguinte recado:
Saí mais cedo para resolver assuntos da livracultura. Tem café pronto.
Beijos, papai.
Não bebi café e nem comi nada, pois já estava atrasada. Peguei a chave extra e tranquei a porta.
Já do lado de fora Josh estava me esperando. Com o Shawn? Ai universo, nós dois não nos falamos depois do incidente.
— Minha mendiga favorita — Josh anunciou.
— Olha se não é o desperdício de esperma — brinquei.
— Você é tão má. Dá vontade de pegar e colocar em um potinho — Josh disse segurando minhas bochechas.
— Vocês dois tem uma amizade estranha — Shawn disse finalmente.
— Eu era normal, aí eu comecei andar com a Alaska e olha o monstro que eu me tornei.
— Tanto faz. Vamos indo porque já estamos atrasados. Você vem com a gente Shawn? — falei erguendo a sobrancelha.
— Na verdade vou sim. E isso aqui é seu, não deu pra devolver ontem — Shawn respondeu tirando meu caderno da mochila.
— Caramba! Onde estava? — perguntei maravilhada.
— Depois a gente fala disso. Afinal estamos atrasados, certo?
Concordei e fomos nós três para a escola.
No caminho Josh ficou conversando com o Shawn sobre coisas aleatórias. Tipo: o que ele comeu no café, qual era a cor favorita dele, por que ele se mudou para New Orleans entre outras perguntas chatas. Eu fiquei na minha...
— Ei Al, por que você tá tão quieta hoje? — Josh disse me dando um cutucão.
— Nada. Por quê? — respondi olhando rapidamente para Shawn.
— Você, minha amiga, é muito estranha.
Depois disso chegamos logo na escola, Josh foi logo ate armário. Eu fui em direção ao meu, Shawn vinha logo atrás — ate achei que ele estava me seguindo, mas depois lembrei que o armário dele era ao lado do meu.
— Preciso aprender a abrir isso. Será que uma certa pessoa, muito especial, poderia me ajudar? — disse Shawn quebrando o silêncio.
— Eu mereço — disse abrindo o armário.
— Vem cá, você esta bem? É que ontem você parecia...
— Eu estou perfeitamente bem. E será que você poderia fazer o favor de deixar isso só entre nós dois? — interrompi.
— Claro.
***
As aulas passavam rápido, quase voando. Então vou resumir o que aconteceu desde o primeiro período ate agora — é claro que vocês não sabem QUANDO é agora, já que vocês ainda estão no passado. Linhas de tempo são confusas, mas retomando o nosso resumo—. Lá vamos nós.
Em literatura a professora me pediu para emprestar o livro, que ela usara nas aulas, para o Shawn, pois ela não havia conseguido outros. Na aula de matemática fiquei com um glorioso zero — não é nenhuma novidade que eu sou péssima em matemática — então o professor decidiu que para melhorar minha nota eu teria de fazer um trabalho em dupla. Adivinha com quem? Isso mesmo Shawn Mendes — o universo decidiu conspirar aparentemente — espero que ele seja bom em matemática. E o clima continua estranho em ciências, Hayes cerca Alaska novamente, mas ela dribla o adversário e da um gol maravilhoso fechando quase totalmente a nota da prova.
E cá estamos, o AGORA. Que por acaso sou eu no refeitório tentando fugir daquele rumo ao qual a conversa ia.
— Gente eu vou indo — disse me levantando.
— Por quê? — Hayes disse colocando a mão no meu braço.
— Nada, eu não quero ficar.
— É mentira. Você quer mesmo é cabular a aula de educação física. — Josh disse encarando-me.
A mesa inteira comeu enquanto diziam coisas tipo: os exercícios são bons para a saúde ou você não devia faltar às aulas de educação física, pois elas também contam no bimestre e outros clichês. Mas a verdade é que eu matava aula desde os primórdios da minha vida e não seria agora que eu iria parar.
***
Saí do refeitório como uma fugitiva em busca de um lugar seguro para me esconder.
— Vamos lá Alaska, não é a primeira vez que você foge da aula. Onde é que eu vou me esconder? Banheiro? Não! Óbvio demais. — falei para mim mesma.
Foi nesse meio tempo que eu me lembrei da sala de música. Era perfeita, era calma, quase inutilizada e ficava bem longe da quadra de esportes.
Marchei para a sala de música, passando cuidadosamente pelos corredores e subindo as escadas.
Passei pela porta e entrei na sala de música, onde comecei a rir de mim mesma.
— Eu sou a melhor ninja da história. — me gabei.
— Ou talvez a pior.
Sério isso?!
— Que você quer Hayes? — ergui a sobrancelha.
— Quero entender o que foi aquilo ontem no jantar.
— Foi apenas um problema que eu já resolvi. — falei sentando-me em cima da mesa.
— Vou fingir que acredito. Em todo caso o pessoal está chamando pra você ver o jogo.
— Eu não vou ver jogo nenhum! Esporte não é lá o meu hobby.
— Enfim, meu recado está dado. Quando eu fizer cesta será para você. — Hayes disse e fechou a porta atrás de si.
Insuportável, realmente insuportável.
Finalmente só!
Deitei no chão colocando meus devaneios em ordem.
Logo depois de um período pensante levantei e fui em busca de um violoncelo — adorava tocar, embora tivesse dado um tempo na música eu não sabia como ia ser.
Quando finalmente o encontrei, ele estava empoeirado, mas isso não tinha menor importância. Peguei um pano, dei uma limpada básica e comecei a tocar lentamente.
P.O.V. SHAWN
— E aí? Cadê ela? — Cam perguntou para Hayes.
— Ela não quer vir. E esta na sala de música. — respondeu.
— Ela é teimosa. Eu avisei vocês. — Josh falou.
— Sem essa de teimosa ou não. Ela vai vir sim! — Cam recrutou.
— Shawn e Josh podem busca-la. — Lox sugeriu.
— Eu conheço a Alaska, se ela não quiser vir ela vai vir. — Josh falou.
— Podemos tentar. — falei.
Josh me olhou e ficou um tempo em silêncio, mas logo cedeu.
Subimos as escadas correndo e quando finalmente chegamos a sala de música Josh parecia ter corrido uma maratona.
— Tá, o plano é o seguinte, USE chantagem emocional. Alaska tem empatia com as pessoas, se fizermos isso ela vai ceder. Pode demorar, mas vai. — Josh falou antes de entrarmos na sala.
Quando entramos ela estava concentrada em tocar o violoncelo. E como ela tocava, parecia que um pedaço da alma dela saía corpo a fora.
— Oi Alaska. — Josh disse alto desconcentrando-a.
Ela apenas levantou um pouco a cabeça e nos encarou. Depois voltou-se novamente para o violoncelo e disse.
— Eu já disse que não vou.
— Mas nós estamos te esperando. — falei.
— Eu não ligo.
— Alaska, você se importa comigo, certo? — Josh disse manhoso.
— Claro! — ela respondeu olhando novamente para nós dois.
— Então vem. — eu disse encarando-a.
— Vem. Se você não estiver lá não tem graça. — Josh falou fazendo biquinho.
— Não adianta. Eu NÃO vou. — disse Alaska seria.
— Al, se você se importa comigo e não quer me ver triste então vem. — ele falou fazendo uma cara de choro.
— AH PORRA CHATA, TA BOM. EU VOU. — ela disse se levantando e saindo.
Josh olhou para mim com um sorrisinho vitorioso.
— Eu te disse.
Saímos da sala e acompanhamos Alaska enquanto ela fechava cara.
— Odeio vocês dois.
— Não odeia. — falou Josh.
P.O.V. ALASKA
Aqueles dois chantagistas de meia merda conseguiram me arrastar para o ginásio.
Quando chegamos Cameron estava com as mãos na cintura e com uma expressão de anda logo no rosto. Eu apenas semicerrei os olhos e sentei na arquibancada.
— Aonde você vai minha filha? — Cam perguntou olhando para mim.
— Sentar. Ou você está cego?
— Acontece que você não vai sentar você vai jogar com a gente. — quando ele disse isso eu fiquei imóvel.
Comecei a dar pra trás, passo por passo, eu não sei jogar e eu não quero jogar.
— Vamos Al. Vai ser divertido. — Josh falou.
— Eu nem sei jogar. — falei tentando fugir daquilo tudo.
— Vem baixinha. — Jack J disse me pegando pelo braço e me levando ate a quadra.
Me chamou de baixinha. Que satanagem é essa?
Okay eu desisto. Eles vão me arrastar pra cá de um jeito ou de outro.
— Tá. Agora que estamos TODOS aqui podemos começar. — Cameron disse sorrindo.
Ele disse o que devíamos fazer. Basicamente, pegar a bola e jogar na cesta.
No começo do jogo eu estava meio travada, mas depois confesso ter ficado divertido.
A bola estava comigo, eu estava a alguns passos da cesta e tomando impulso para alcança-la. E quando pulei senti as mãos de alguém segurarem minha cintura, dando-me altura suficiente para jogar a bola na cesta.
Quando me colocaram no chão eu pude ver que era Shawn quem me segurava. Ele era realmente muito mais alto que eu.
— Isso é roubo. — Josh disse fazendo uma cara tão escrota que não pude deixar de rir.
Não foi um riso normal. Foi tipo: cair no chão e começar a ter um ataque.
Eu rolei para um lado e depois para o outro sem tirar as mãos da barriga. Depois, de um a um, estamos todos deitados no chão da quadra rindo e falando coisas estranhas.
— Então gente, o papo está ótimo, mas é que a Alaska e eu temos que ir. — Josh disse.
— Vou com vocês. — Shawn disse levantando-se também.
Levantamos e fomos para o corredor onde cada um foi para o seu armário.
— Ei. Eu passo na sua casa hoje pra fazer o trabalhou? — perguntei.
— Claro, umas três horas. Se estiver bom pra você. — Shawn me encarou.
— Três horas, está ótimo.
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